Jornalismo-fofoca acirra tensão entre público e imprensa

No final da atividade de ontem, na Academia de Futebol, atletas e a comissão técnica disputaram o famoso rachão. Como todos sabem, é quando todos se soltam, se divertem e o profissionalismo fica um tanto de lado, e muitas vezes é quando acontecem as maiores discussões – exatamente como nas peladas que eu e você disputamos, por diversão.

Houve um desentendimento, já quando se dirigiam ao vestiário. Numa das imagens, aparece Felipe Melo, aparentemente de um lado do entrevero – ou não, depende de como se quer ver o registro – imagens frisadas dificilmente revelam a verdade nessas situações. Foi o suficiente para que as primeiras manchetes estampassem que “Felipe Melo e Osmar Feitosa discutiram de forma áspera”.

Discussão no rachão do Palmeiras alimenta o jornalismo-fofoca
BRUNO ULIVIERI/RAW IMAGE/GAZETA PRESS

Como se pode ver em vídeo capturado pela equipe do Esporte Interativo, a discussão foi entre Cuca e Omar Feitosa. Não se sabe o que houve antes, pode até ser que o Felipe Melo tenha mesmo batido boca com alguém. O fato é que o treinador gesticula, irritado, e depois chama o preparador físico para que o acompanhe para a parte interna. Fim da história.

Quem fez as matérias sabe que o ocorrido não foi nada sério. Mas faz parte da atividade do jornalista registrar os fatos. O material chega às redações, onde sempre existe alguém que faz a maquiagem antes da publicação, para render mais audiência e cliques.
– Apareceu o Felipe Melo numa das fotos? Valoriza!

Efeito colateral

Essa é a regra vigente. O jornalismo-fofoca é um efeito colateral da expansão das TVs a cabo e da internet, fruto da enorme competição entre os próprios veículos. Na televisão, os caras ficam naqueles sofás e mesas o dia inteiro, e precisam de assunto. Na internet, os números são frios e a cobrança pelo número de cliques é bruta.

Nossa torcida (e a dos outros times também) enche o saco dos jornalistas que dão as caras nas redes sociais, mas muitas vezes a culpa é de quem fica escondidinho nas redações. Sabemos que existem os repórteres maldosos, useiros e vezeiros em fomentar as confusões e plantar crises; mas não podemos colocá-los no mesmo balaio dos que estão lá honestamente fazendo seus trabalhos e relatando o ocorrido. Queiram ou não, teve uma tretinha, e isso tem que ser noticiado – desde que com as tintas corretas.

Cobrança deve ser interna

A informação sensacionalizada virou regra. Está cabendo ao público identificar os exageros dos profissionais que transformam copos d’água em tempestades. Temos que acessar o noticiário com o filtro ligado o tempo todo e isso cansa.

Isso sem mencionar o pessoal que usa a camisa do clube por baixo do uniforme da emissora. Conhecemos vários comentaristas que, se a mesma cena acontecesse no treino de outros clubes, diriam entre risos que é apenas a gana do elenco, que é tão grande que eles não admitem nem perder rachão.

Isso só reforça a tese defendida pelo Verdazzo há tempos: a relação entre imprensa e público só vai melhorar quando os próprios jornalistas se policiarem, quando os próprios repórteres cobrarem internamente o pessoal da maquiagem, a turma que aumenta, mas não inventa, e os clubistas disfarçados. Esses são os caras que, no final das contas, causam toda a revolta no público e jogam seus colegas no fogo.

Vamos melhorar?


O Verdazzo é patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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O Cartola FC, o futebol e a inversão de valores

É começar o Brasileirão que a praga vem junto. A globo.com traz pelo décimo-terceiro ano consecutivo o fantasy game Cartola FC, que mais uma vez bateu recordes de inscrições. Mais de 4 milhões de times foram escalados na primeira rodada do Brasileirão, segundo a empresa.

O game é razoavelmente fácil de entender: com dinheiro fictício, o competidor vai a um mercado fictício e escala seu time fictício, mas tudo baseado nos jogadores reais.

O desempenho dos jogadores nas partidas do Brasileirão, medido pelas estatísticas, são convertidos em pontos, e cada competidor pontua de acordo com os jogadores que escalou naquela rodada. Os jogadores têm seus passes valorizados ou desvalorizados conforme um algoritmo ultrassecreto e os competidores, que ficam mais ou menos “ricos” a cada rodada, alteram seus times para a rodada seguinte com esses recursos.

Parece bem legal, até o momento em que você percebe que os jogadores que pontuaram bem não necessariamente jogaram bem, e vice-versa. O fantasy game, que em tese deveria desafiar os jogadores a buscarem a escalação do time dos sonhos de cada rodada do campeonato, é na verdade uma grande loteria.

Mas o pior não é isso. Começou como uma febre, mas virou endemia: o game conseguiu penetrar de tal forma no público brasileiro (como tudo que a RGT quer que a massa consuma) que hoje é comum ouvir frases no dia a dia relacionadas ao jogo – normalmente pessoas comentando o desempenho de “seus” times.

Já ficou chato. Além do fato de que quem não joga Cartola não está nem aí pro time que alguém escalou, começa a haver uma inversão de valores e o game passa a ficar mais importante do que o esporte. Em vez de comentar os três gols que o jogador fez na rodada, o assunto é quantos pontos ele rendeu para quem o escalou.

Nas arquibancadas do Allianz Parque, o cara um degrau acima do seu comenta que o cartão que o Felipe Melo levou “ferrou o Cartola” dele. Aqui, nos comentários do Verdazzo, já começou a virar assunto. E a comunidade de “cartoleiros” passa a ficar cada vez mais chata.

Até aqui, você, que joga Cartola, deve estar pensando que este é apenas mais um texto reclamão e mal-humorado do Verdazzo. Não que não seja, mas gostaria de chamar atenção para mais alguns detalhes relacionados a esse game.

Big Data

Cartola FCNão é à toa que a globo.com está investindo pesado na massificação do jogo, alimentando o quanto pode sua base de dados e mapeando cada vez mais os padrões de comportamento de cada indivíduo.

O Cartola é a nova mina de ouro da RGT. Notem que as placas de publicidade nos gramados agora exibem a logo do game em vez das tradicionais novelas. O segundo item no menu do portal é “cartola fc”, abaixo apenas de “futebol” – por enquanto. Na TV, você nunca tinha visto o Galvão Bueno, o Cleber Machado e tantos outros apresentadores falarem tanto no jogo.

Reparem no noticiário do globoesporte.com, entre em qualquer índice de notícias de qualquer time da Série A e vai notar que cerca de uma a cada três manchetes se relacionam com o game. É assustador.

Implicância?

Alguém pode contemporizar, mencionando que outras gigantes como Google, Netflix, Facebook e Amazon, entre outras, também estão mapeando nossos comportamentos e que isso não arranca pedaço de ninguém.

Mas ao fazer isso através de um fantasy game que está subvertendo a forma de se acompanhar futebol do brasileiro, a globo.com está, mais uma vez, como vem fazendo há tantas décadas através de suas novelas emburrecedoras e alienantes, moldando o comportamento da massa, de uma forma deprimente.

Instagram WillianE se você ainda acha tudo isto um exagero, leia os comentários deixados num post do Instagram do Willian Bigode, após o jogo de sábado contra a Chapecoense.

Mesmo sem refletir exatamente o desempenho técnico dos jogadores reais, é possível se divertir jogando o Cartola, para quem tem paciência para tal. E dá pra fazer isso sem perturbar ninguém.

A moda seria apenas mais uma inofensiva mania brasileira se não houvesse a inaceitável inversão de valores que faz com que o game se sobreponha ao futebol real. É desesperador testemunhar pessoas assistindo a um jogo de futebol, que pagaram caro pelo ingresso e que estão ali, a poucos metros do verdadeiro espetáculo, com o celular em punho fazendo comentários sobre o quanto determinado lance lhe rendeu num game armazenado num servidor a quilômetros de distância.

Nosso jogador JAMAIS poderia ser cobrado dessa forma, em sua página pessoal, por causa de sua pontuação no Cartola. Este excerto do Instagram do Willian pode parecer uma coisinha boba e sem importância. Mas o monstro está tomando proporções incontroláveis enquanto a RGT sorri de orelha a orelha. Depois não reclamem.

Podcast: Periscazzo (19/05/2017)

Mais um Periscazzo foi ao ar nesta sexta-feira. A cretinice da Conmebol, a evolução do time nas mãos de Cuca e a eliminação do Flamengo na Libertadores foram abordadas.

Participe dos programas, ao vivo, no Facebook: https://www.facebook.com/groups/1056738361038326

Aqui, o feed para os agregadores: https://verdazzo.com.br/feed/podcast/

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Cuca poupará oito titulares em Chapecó e roda o elenco

A escolha de Cuca por um time alternativo para enfrentar a Chapecoense amanhã em Chapecó, divulgada há pouco pela imprensa, repete a metodologia usada em 2016, quando o treinador usou e abusou da qualidade do elenco para administrar a condição física dos jogadores.

O jogo se mostrava propício para esse recurso: é fora de casa, antecede uma partida fundamental da temporada e o adversário já sinalizou que vai recorrer a reservas, já que também terá um jogo decisivo pela Libertadores – a Chape enfrenta o Zulia na terça-feira, em casa, às 19h30 – um dia a menos de descanso que nossos jogadores, portanto. Nossos titulares serão poupados da partida em si e da viagem, sempre desgastante.

As escolhas de Cuca

Cuca comanda treino na chuva na Academia de Futebol
César Greco / Ag.Palmeiras

Jean, Mina, Edu Dracena, Zé Roberto, Felipe Melo, Guerra, Dudu e Borja ficarão na capital paulista, recobrando as forças. Cuca divulgou o time com Fernando Prass; Fabiano, Antônio Carlos, Juninho e Michel Bastos; Thiago Santos e Tchê Tchê; Róger Guedes, Raphael Veiga e Keno; Willian Bigode.

No gol, o treinador manteve Fernando Prass, priorizando o ritmo de jogo, fundamental para a posição. Já a dupla de zaga titular foi toda poupada; Edu Dracena fez 19 dos 25 jogos desta temporada até agora e Mina, embora tenha jogado menos – o colombiano fez um intenso trabalho de fortalecimento no início da temporada – vem numa sequência de nove jogos seguidos. Foi a deixa para recorrer a Antônio Carlos e a Juninho, que fará sua estreia.

Jean também fez 19 jogos, vem de seis partidas seguidas e dá lugar a Fabiano, que correspondeu todas as vezes em que foi solicitado. Já do lado esquerdo, a escalação de Michel Bastos (19 jogos) parece ter muito mais a ver com decisão técnica: Zé Roberto tem razoáveis 17 jogos e Egídio tem 12; nenhum deles vem de uma larga sequência.

No meio campo, a escolha de Thiago Santos provavelmente tem a ver com a suspensão de Felipe Melo na Libertadores – Cuca deve estar pensando em dar ritmo de jogo ao substituto, que entrou em campo em apenas uma das últimas seis partidas. Tchê Tchê vem de nove partidas seguidas mas foi mantido – com apenas 16 jogos em 2017, o insaível tem lenha para queimar ainda.

Na linha de três, a juventude de Roger Guedes o escalou – mesmo com 20 jogos na temporada, segue prestigiado – Erik teria sido a escolha mais coerente. Raphael Veiga ocupa a vaga de Guerra, que vem de oito partidas seguidas, e Keno, que também tem 20 jogos na temporada, fará o lado esquerdo no lugar de Dudu, que tem 22 – o tempo total de Keno em campo é menor, já que tem começado no banco.

Na frente, Willian Bigode fará sua 25ª partida no ano, todas seguidas – ele só ficou de fora da estreia na temporada, justamente contra a Chape, no amistoso em janeiro. Para poupá-lo, o único que poderia jogar seria Borja, que vem de nove jogos seguidos. A situação escancara, mais uma vez, a necessidade de um reforço na posição. Willian, embora tenha um físico apropriado, leve, já tem 30 anos e sua presença pode ser um risco, além de não ser um centroavante nato.

Ranking

Abaixo, a lista completa de jogos disputados pelos atletas do Palmeiras este ano:

Fernando Prass – 24
Willian Bigode – 24
Dudu – 23
Felipe Melo – 21
Roger Guedes – 20
Jean – 19
Edu Dracena – 19
Michel Bastos – 19
Keno – 19
Zé Roberto – 17
Tche Tche – 16
Thiago Santos – 15
Guerra – 15
Borja – 15
Yerry Mina – 14
Vitor Hugo – 14
Fabiano – 12
Egídio – 12
Raphael Veiga – 10
Alecsandro – 8
Erik – 7
Antonio Carlos – 4
Vitinho – 4
Jailson – 3
Thiago Martins – 2
Moisés – 2
Hyoran – 2
Rafael Marques – 2
Barrios – 2
Mailton – 1
Arouca – 1
Juninho – 0
Mayke – 0
Vinicius Silvestre – 0
Daniel Fuzato – 0
Luan – 0

Levante contra a Conmebol é a saída para os clubes brasileiros

Em meio à repercussão da vitória sobre o Inter e da eliminação da turma do cheirinho da Libertadores, o Palmeiras ainda lida com o parecer do Comitê Disciplinar da Conmebol, que determinou que, pelos próximos três jogos como visitante, não poderá haver torcedores do Verdão nas arquibancadas, além do pagamento de uma multa de US$80 mil.

A decisão, diante das perspectivas, pode até ser considerada positiva, apesar da injustiça ter prevalecido. O Palmeiras se livrou de ter que jogar com o estádio vazio na próxima quarta-feira, contra o Atlético Tucumán, o que representaria enorme perda financeira e técnica, aumentando o risco de uma surpresa. Com a casa cheia, as chances de um desastre diminuem bastante – e o caixa do clube agradece.

Tá bom, mas tá ruim

Confrontamento no UruguaiA proibição da presença da torcida palmeirense nos próximos três jogos fora de casa, no entanto, fará com que apenas numa eventual final o Palmeiras tenha o precioso incentivo na condição de visitante. Nas oitavas, quartas e semis, nossos atletas terão contra si estádios completamente hostis.

A decisão, provavelmente, deu-se por consequência das imagens onde nossa torcida foi filmada trespassando os limites a ela estabelecidos, desprezando que o movimento foi fundamental justamente para evitar que nosso espaço fosse invadido pelos uruguaios, que além de terem atirado pelo menos três bombas durante o jogo, também tentavam cercar nossos torcedores pelo portão de acesso à rua. Assim como Felipe Melo, condenado a seis jogos de suspensão, nossa torcida foi vítima da covardia uruguaia, agiu em legítima defesa e acabou punida.

A saída é um levante

Infelizmente não podemos esperar justiça de uma entidade como a Conmebol, que ontem aprontou mais uma – suspendeu o zagueiro Luís Otávio, da Chapecoense, por três jogos durante a tarde, e avisou a delegação brasileira da punição apenas no vestiário do estádio do Lanús, gerando revolta na equipe brasileira, que não acatou a orientação e mandou o atleta a campo – foi exatamente ele quem anotou o gol da vitória, que recolocou a Chape na luta pela vaga em seu grupo.

Comissão de arbitragem da Conmebol
A Comissão de Arbitragem da Conmebol conta com toda a honestidade de Ubaldo Aquino (esq)

A Conmebol, que segundo parecer do senador Romário após ter acesso a uma série de documentos comprometedores é “mais corrupta que a CBF e que a FIFA”, vem ano após ano prejudicando os clubes brasileiros em suas disputas. Depois do grande roubo de 2001 protagonizado por Ubaldo Aquino (que é membro da comissão de arbitragem da entidade), o Palmeiras volta a sofrer com decisões arbitrárias e claramente injustas e passou da hora de haver um levante brasileiro contra a entidade, exigindo mais transparência, justiça e organização.

Só não podemos esperar que isso parta da CBF. Será necessário que os clubes, numa iniciativa inédita, deixem de lado suas diferenças e formem um bloco sólido, cujo poderio financeiro represente realmente uma ameaça aos planos financeiros da entidade, num movimento que inevitavelmente passará por tratativas com a RGT, elo fundamental nesse cabo-de-guerra. Quem dará o primeiro passo?