O dia em que o Palmeiras ganhou três centroavantes

Henrique Ceifador

O Palmeiras anunciou na tarde de ontem a contratação de dois centroavantes: Henrique Dourado, que já circulava pela Academia de Futebol havia alguns dias, e Luiz Adriano, cuja negociação permaneceu oculta até o dia da assinatura do contrato. Com isso, a equipe ganhou mais opções de ataque e Felipão pode testar novas fórmulas para criar jogadas, adaptadas às características dos novos atletas.

Henrique Dourado já teve uma boa passagem pelo Palmeiras em 2014 e chegou por empréstimo até o final do ano. Suas passagens por Fluminense e Flamengo também foram, no mínimo, satisfatórias. O Ceifador consegue manter uma boa média de gols jogando por camisas importantes, que impõem pressão. É o típico caneludo que coloca pra dentro.

Já Luiz Adriano será uma opção mais eclética, já que, segundo o próprio Felipão, pode jogar como referência no ataque ou fazendo as beiradas. Nosso treinador pode mudar a tática de ataque sem precisar fazer uma substituição. É mais um jogador que manteve a média de gols por partida sempre alta nos dez anos que jogou no futebol europeu. Chega ao Palmeiras com 32 anos e tem a chance de cair nas graças de nossa torcida se mantiver essa média nos quatro anos de contrato.

Mas a grande notícia mesmo foi o terceiro centroavante, “anunciado” durante a noite: Borja parece ter recuperado a confiança, repetiu a ótima atuação da semana passada, na Argentina, provocou um pênalti, fez um gol de puro oportunismo, e voltou a ser aplaudido por nossa torcida.

A primeira volta na roda

Borja
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O colombiano precisava dar a primeira volta na roda: gols levam ao incentivo da arquibancada, que lhe devolve a confiança, o que é fundamental para que tenha boas atuações, que o levam a marcar gols, e assim por diante. Borja viveu emperrado no meio desse ciclo durante muito tempo, até reiniciá-lo a partir da semana passada em Mendoza.

A excelente atuação ontem no Allianz Parque nos faz lembrar por que Borja, dois anos depois, segue sendo a contratação mais vultosa de nossa História. O potencial permanece lá. Borja pode não ser um Evair, mas é um centroavante de respeito, cujo maior defeito não é a suposta falta de habilidade com a bola, mas sim com os nervos.  A chance de alguém errar um movimento que exige total coordenação motora em momentos de nervosismo, como se sabe, é enorme.

Borja chegou a onze gols na Libertadores pelo Palmeiras e está a apenas um gol de igualar a marca de Alex, que ponteia a lista. Não há como não respeitar esse feito.

Quando será que nossa torcida vai compreender essa característica de nosso atacante e dar o tratamento que ele precisa para render o máximo com nossa camisa? Quando será que nossa torcida vai pensar mais no que é melhor para o Palmeiras e não em extravasar suas angústias pessoais em cima de um jogador que notadamente sente mais que a maioria?

Claro que o ideal é que nosso centroavante não precise de tantos cuidados por parte de uma massa humana, normalmente descontrolada sobretudo em momentos de emoção como uma partida de futebol. Esse aspecto da personalidade de Borja, sem dúvida, é uma deficiência. Por que não tratá-lo como ele precisa, em nome do rendimento que todos nós esperamos? Se ele funciona melhor se tiver paz, por que não lhe dar essa paz? Uma massa é composta por milhares de indivíduos. Se cada um fizesse sua parte, funcionaria.

Felipão que se vire

Paulo Turra e Felipão

A ressureição de Borja vem em excelente momento. Felipão ganhou mais uma opção para imaginar novas soluções a serem aplicadas em cada situação de jogo, num ponto da temporada em que a falta de criatividade do setor ofensivo ficou latente. Mais do que nunca, a arrancada para os títulos em 2019 está em suas mãos.

A torcida se irritou com o anúncio de Henrique, ganhou na sequência Luiz Adriano e ainda no mesmo dia, o velho Borja. Ainda existem aqueles que permanecem insatisfeitos, dizendo que “os cinco centroavantes, juntos, não somam um”. Faz parte. Essa minoria, ainda que barulhenta, não representa a massa esperançosa que compõe a torcida do Palmeiras. VAMOS!


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Que diabos aconteceu com o Palmeiras na parada para a Copa América?

Palmeiras 4x0 Santos
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Antes da parada para a Copa América o Palmeiras era líder absoluto. O Verdão ostentava os melhores números em tudo, trazia um recorde de invencibilidade e era tido como “invencível” pela ala sensacionalista da imprensa – teve até um que falou em marcar o churrasco do título. A torcida não comprou essa pecha; mas mesmo assim o Palmeiras caiu de rendimento nos jogos que vieram após a pausa.

Caiu, e não foi pouco. A defesa tinha tomado apenas 9 gols em 33 jogos. Contando o amistoso contra o Guarani, aconteceram sete jogos após a pausa e a defesa tomou, igualmente, 9 gols.

O ataque havia feito 53 gols nos primeiros 33 jogos do ano, perfazendo uma média de 1,61 gols por duelo; nos últimos sete jogos, foram apenas seis gols marcados, resultando na ridícula média de 0,86 gols por partida.

Esses números não são a causa, e sim a consequência. É preciso tentar entender o que está acontecendo com o time para atacar as reais causas dessa brusca queda de desempenho que está afetando os números, já custou uma classificação na Copa do Brasil e a liderança do Brasileirão.

Faltam informações

Felipão
Everton Pereira/Ofotografico/Lancepress!

É automático: quando o time começa a ratear, surgem as teorias das conspirações. Isso é consequência da falta de informações, já que os setoristas não podem acompanhar os treinamentos táticos – somente lhes são permitidos dez minutos por treino para acompanhar a movimentação dos jogadores, normalmente na fase de aquecimento.

As coletivas dos atletas, controladas pela assessoria de imprensa, são curtas e superficiais. As entrevistas de Felipão após os jogos não dizem nada, já que proteger o elenco, na lista de prioridades de nosso treinador, está bem acima de passar informações para a imprensa. É por isso que muitas vezes surgem as frases de efeito, como a infeliz “ninguém morreu”.

Roger Machado tinha uma postura semelhante, e uma das razões de sua queda foi a pressão causada por suas coletivas, nas quais por vezes transparecia indiferença ao desempenho abaixo do esperado, quando na verdade estava tentando minimizar os danos. A maior parte de nossa torcida não suporta ver alguém calmo após uma atuação ruim. Quer sangue, quer culpados, quer pendurar alguém num poste.

Daí surgem as tais teorias conspiratórias ou os judas de ocasião. Um lance mal calculado pode deixar a impressão de chinelagem; estar na hora errada no local errado pode custar uma perseguição injusta. E mesmo quando o atleta está de fato rendendo abaixo do esperado, as reações são, normalmente, desproporcionais.

O Palmeiras está correto em se proteger, não é preciso abrir detalhes táticos para a imprensa e dar de bandeja informações preciosas aos adversários, não se queima atletas que estão de fato cometendo erros apontando dedos para eles, mas uma comunicação mais efetiva, levando em conta as características emocionais de nossa torcida, precisa ser melhor desenvolvida, para conter danos causados por fogo amigo.

O que mudou, afinal?

Ricardo Goulart
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A despeito da falta de informações, vamos aos fatos. O clube perdeu cinco jogadores que estavam no elenco do primeiro semestre: Ricardo Goulart, Moisés, Felipe Pires, Guerra e Juninho. Apenas os dois primeiros parecem ser relevantes, já que o ponteiro que foi reemprestado ao Fortaleza não fincou pé no time e os dois últimos sequer entraram em campo em 2019. Moisés foi substituído por Ramires, que ainda está em processo de adaptação.

A passagem de Goulart foi rápida, mas bagunçou o projeto tático de Felipão. Sua entrada no time foi, no princípio, avassaladora, com gols e assistências. Bruno Henrique teve que conter seus apoios, tão comuns em 2018, por conta das características do camisa 11, incluindo seu estado físico. O Palmeiras modificava o esquema em relação ao time vencedor do ano passado, mas parecia que a mudança era para melhor. A queda física de Goulart, no entanto, interrompeu esse processo até que os chineses pediram sua reintegração.

A saída de Ricardo Goulart obrigou Felipão a resetar o esquema e Bruno Henrique voltou a ser o mesmo do ano passado, subindo mais ao ataque e voltando a fazer gols. O Palmeiras viveu a melhor fase no ano, os últimos 14 jogos (entre 10 de abril e 13 de junho), com 13 vitórias e um empate, com essa configuração. O time lembrou de como jogava em 2018 e tudo fluiu muito bem.

A defesa estava absurdamente bem protegida, a coordenação entre volantes e laterais para fazer a recomposição funcionava como um relógio suíço. Mas após a parada, buracos enormes passaram a aparecer na frente de nossa zaga. Os jogadores, com exceção de Moisés, são os mesmos. O que mudou?

Erros incomuns levam à especulação

Outro problema gritante que vemos em nosso time nos últimos jogos são as falhas na execução. Os atletas estão errando passes e finalizações de forma grosseira. Erros técnicos estão afetando os resultados.  

O que está causando tais erros? Os jogadores perderam o foco? O físico está deixando a desejar? Falta confiança? Ou entraram no oba-oba da imprensa e de parte da torcida? Ou o grupo está rachado e Felipão perdeu o vestiário?

Sem o trabalho da imprensa para relatar o dia-a-dia dos atletas na Academia de Futebol, tudo o que resta à torcida é especular – inclusive as maiores besteiras possíveis.

O que é visível e dá pra trabalhar

Gustavo Scarpa
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A despeito de todas essas possibilidades, a construção de nossas jogadas de ataque precisa de ajustes, que envolvem todo o sistema de recomposição defensiva. Lucas Lima reconquistou a confiança de Felipão, mas não aproveitou a sequência como armador central. Gustavo Scarpa e Raphael Veiga, quando entram, não vêm fazendo muito melhor que o camisa 20 jogando por dentro. O time muda demais seu armador central e não define a identidade do ataque.

O trio de meias precisa de mais apoio, que tanto pode ser feito pelo segundo volante – Bruno Henrique – quanto por um dos laterais. E a cada vez que um deles sobe ao ataque, a cobertura precisa ser feita de forma coordenada. Isso precisa ser reativado. O preenchimento dos espaços, seja na preparação dos ataques, seja na recomposição defensiva, precisa melhorar. Os buracos têm que sumir.

Deyverson
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O centroavante é peça fundamental nisso tudo. Deyverson teve uma fase iluminada e o time funcionou bem entre abril e junho, mas foi só o camisa 16 voltar ao normal e parece que tudo desandou, já que seus pés passaram a ser cemitério de jogadas. Arthur Cabral e Borja voltaram a receber chances e são esperanças de dias melhores, assim como o Ceifador, nove-nove clássico que chegou agora e que ainda precisa de adaptação tática ao sistema de Felipão.

O desempenho nestes cinco jogos preocupa. A eliminação na Copa foi um golpe duro. A perda da liderança dá uma sensação ruim.

O time precisa reagir e tem um cenário perfeito para isso nos próximos dias: um mata-mata bem encaminhado pela Libertadores e um Derby fora de casa, que ganha ares épicos. Se conseguir bons resultados, a calmaria estará de volta e o índice de lances errados tende a voltar a níveis aceitáveis. Mas isso passa por um trabalho muito delicado de Felipão e da comissão técnica com o elenco, seja para acertar problemas de foco, de confiança, físico ou tático. Esquecer como joga bola, eles não esqueceram.

Nossa parte, podemos fazer: incentivar mais durante os jogos, cantar e vibrar empurrando o Palmeiras pra cima do Godoy Cruz, e dar tranquilidade e confiança para nossos jogadores, seja nas redes sociais, seja nos deslocamentos, nos hotéis e aeroportos. VAMOS PALMEIRAS!


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