Base da reestruturação do Palmeiras, Allianz Parque completa cinco anos de funcionamento

Allianz Parque em construção

O Palmeiras saiu da condição de clube pré-falimentar no início de 2013 para uma das maiores potências econômicas do futebol brasileiro atual com um plano de recuperação que envolveu algumas operações financeiras.

Tudo correu muito bem, sobretudo, porque dois importantíssimos pilares dessa reestruturação estavam apoiados num colosso: o Allianz Parque, que ao ser inaugurado em 19 de novembro de 2014, proporcionou ao clube bilheterias formidáveis e alavancou o Avanti, o vitorioso plano de sócio-torcedor.

Allianz Parque

Construído pela WTorre, que arcou com os custos da obra em troca da exploração do direito de superfície por 30 anos, o Allianz Parque é hoje um cartão postal da cidade de São Paulo. Além de ser o palco dos jogos do Palmeiras, o estádio recebe as maiores atrações musicais do mundo – com parte das receitas, ao menos teoricamente, sendo repassadas de forma crescente ao clube.

O quinto aniversário representa uma mudança na relação entre o Palmeiras e a WTorre. Pelo contrato, até hoje, 5% das receitas de eventos deveriam ser repassados da construtora para o clube. A partir de hoje, a fatia do Palmeiras será de 10% – e o próximo reajuste será daqui a cinco anos, quando passará para 15%, e assim sucessivamente, até atingir 30% em 2039. Em 2044, encerrar-se-á o período de exploração da superfície e o estádio estará disponível para o Palmeiras em 100% do tempo.

WTorre no lucro

The Who

É claro que a WTorre já recuperou o investimento da construção e está no lucro. Nestes cinco anos, mais de 80 shows foram realizados, entre a configuração “estádio” e “anfiteatro”, quase sempre com lotação completa. Mas além da receita com apresentações de artistas do quilate de Paul McCartney, David Gilmour, Iron Maiden, Roger Waters, Aerosmith, Guns N’ Roses, Elton John, Sting, Judas Priest, Phil Collins, Foo Fighters, Ozzy Osbourne e The Who, a administração do Allianz Parque lucra diariamente com microeventos e ações recorrentes, como o Allianz Parque Tour.

Infelizmente, uma redação confusa do contrato fez com que houvesse sérias divergências entre o Palmeiras e a WTorre. Após várias rodadas frustradas de negociação, as partes precisaram recorrer à Câmara de Arbitragem e Conciliação da Fundação Getúlio Vargas para esclarecer vários pontos do acordo, sendo que o principal deles, já decidido, determinava o destino da arrecadação das bilheterias – ficou definido que a WTorre tem direito a comercializar 10 mil lugares.

Não bastassem as receitas de grandes e pequenos eventos, mais exploração de lanchonetes, estacionamentos e outros comércios, mais a venda de camarotes, mais uma parte dos assentos nos nossos jogos, a WTorre já recuperou R$ 300 milhões só na venda dos naming rights à seguradora Allianz, que batiza o estádio até 2034.

Todo esse rio de dinheiro deveria ser suficiente para que a construtora já tivesse viabilizado nosso memorial, um museu multimídia com nossas glórias para serem expostos ao mundo. Há quase dez anos, nossos troféus seguem encaixotados num depósito, num verdadeiro descaso com um ponto tão sensível da História do clube, parceiro no empreendimento.

Um novo público e a necessidade de ajustes

Torcida Allianz Parque

O Allianz Parque foi base da reconstrução financeira do Palmeiras devido a um novo público que passou a frequentar os jogos do Palmeiras. Tomando por base apenas os jogos do século 21, o velho Palestra abrigava em média 14,4 mil pessoas por jogo. Na década de 90, época de futebol raiz, com um time estrelado e ingressos relativamente mais baratos, a média de público era de meros 11.700 espectadores – cifra parecida com a média histórica de todo o século 20.

O menor público do Allianz Parque é maior que a média da década anterior: 15.037 pessoas assistiram ao jogo contra o Coritiba, na reta final do Brasileirão de 2015 – a partida não tinha o menor apelo, já que o Verdão, totalmente focado na Copa do Brasil, escalaria o time reserva. Nos 149 jogos disputados até agora no novo estádio, o público foi menor que 20 mil em apenas sete oportunidades. A média nestes cinco anos é de mais de 31 mil pagantes por jogo.

É claro; o perfil sócio-econômico do frequentador do estádio mudou. O torcedor “raiz”, hoje, precisa recorrer ao Avanti para continuar tendo condições de frequentar os jogos do Verdão. Os torcedores com menos posses precisaram se contentar em ir a poucos e menos importantes jogos. E ainda não se consegue lotar o estádio em muitas partidas.

O Palmeiras permite que essa lacuna se estabeleça entre o time e boa parte da torcida e com isso desperdiça oportunidades. É possível preencher os lugares que permanecem vazios no estádio com ações criativas de marketing, sem afetar as receitas das bilheterias. É preciso direcionar energia para essa questão.

Frustrações e títulos: forjando uma nova identidade

O Allianz Parque, aos poucos, foi se estabelecendo como a nova casa da torcida palmeirense. Os primeiros jogos, desastradamente antecipados, foram melancólicos: derrota para o Sport e empate com o Atlético-PR, na reta final do brasileirão de 2014, quando escapamos milagrosamente de mais um rebaixamento.

Mas o que se seguiu foi uma belíssima história de crescimento e conquistas. O amistoso contra os chineses do Shandong Luneng, com vários novos reforços, abriu a sequência de espetáculos. Importantes goleadas em clássicos contra o SPFC, com gols por cobertura, aumentaram a alegria e foram tornando nossa casa cada vez mais com nossa cara.

O primeiro título, contra o Santos, veio numa épica decisão por pênaltis decidida na cobrança de Fernando Prass. A conquista veio após classificações renhidas contra Inter e Fluminense e a atmosfera construída antes da grande final ainda não foi igualada – e foi importantíssima para a forja da atual identidade do estádio.

Vieram ainda os títulos brasileiros de 2016, na inesquecível campanha do time comandado por Cuca e sua calça vinho, com Jailson, Zé Roberto, Mina, Vitor Hugo, Moisés, Dudu e Gabriel Jesus brilhando – a conquista veio contra a Chapecoense, em jogo que marcou a despedida dos campos do heroico time que dois dias depois seria vítima de um trágico acidente aéreo.

Eliminações doídas também fizeram parte dessa trajetória, como a cobrança de pênaltis contra o Barcelona, na Libertadores de 2017, e a operação de Héber Roberto Lopes em partida contra o Cruzeiro, que nos tirou da briga pelo Brasileirão de 2017. Mas nada se compara à final do campeonato paulista de 2018, uma armação hedionda da qual jamais nos esqueceremos.

O decacampeonato brasileiro em 2018, sob o comando do general Scolari – embora o jogo da conquista tenha sido fora de casa – reafirmou a vocação de papa-títulos do Verdão em sua nova casa – a taça foi erguida numa festa gigantesca na partida seguinte, contra o Vitória. Parabéns para quem pôde comparecer. Hoje o Allianz Parque é sinônimo de conquistas e de orgulho para a torcida palmeirense.

Palmeiras Campeão Brasileiro 2018

Neste dia 19 de novembro, um palácio encravado numa zona privilegiada da maior metrópole da América Latina completa cinco anos de uma história que ainda promete novos e emocionantes capítulos, por anos a fio. Quem venham mais e mais espetáculos!


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

Conheça mais clicando aqui: https://www.catarse.me/verdazzo.

O mistério dos jogadores do Palmeiras com a camisa manchada

No exercício diário de coleta de imagens que comporão o Almanaque do Verdazzo, notamos uma particularidade curiosa.

Nas imagens capturadas quando os jogadores estavam ainda se preparando para iniciar a partida, dentro do campo, vários deles aparecem com o lado esquerdo do peito manchado.

Não parece ser suor, já que essa marca fica sempre do lado esquerdo, especificamente sobre o escudo do clube. Parece mais um líquido espirrado deliberadamente.

Não há padrão: são estádios diferentes, em épocas diferentes. Acontece com os piores bagres e com craques consagrados. Confira a galeria:

Sabemos que o futebol é um esporte cercado de mandingas. Nos anos 70 e 80, muito mais do que hoje.

Seria essa mancha algum tipo de água benta espirrada sobre o peito dos jogadores? Quem seria o autor desse ritual?

Isso também acontecia em outros clubes ou era só no Palmeiras?

Quem souber essa, pode esclarecer nos comentários. Vale perguntar para os mais velhos!

O caminho para o milagre está aqui (somente para loucos e iludidos)

O empate maluco entre Vasco e Flamengo ontem no Maracanã manteve ainda abertas as possibilidades do Palmeiras tentar virar a dificílima situação na tabela. Uma improvável, mas não impossível combinação de resultados pode reservar uma agradável surpresa ao mundo do futebol.

Tudo passa, antes de mais nada, por uma campanha perfeita do Verdão nos seis jogos que faltam. Esta condição é mandatória para qualquer exercício de tortura nas probabilidades que faremos a partir de agora.

O Flamengo tem cinco jogos pela frente e pode fazer, no máximo, seis pontos para que a virada aconteça. Ou seja, do nosso ponto de vista, ser-lhes-á permitido apenas vencer duas partidas.

A tabela deles ainda tem as seguintes partidas: GRE (F), CEA (C), PAL (F), AVA (C) e SAN (F). Perder para o Palmeiras no Allianz Parque é um dos princípios de todo este raciocínio. E vencer o Avaí no Maracanã na penúltima rodada será como bater pênalti sem goleiro.

Assim, restam três partidas a serem analisadas, nas quais eles poderão fazer, no máximo, três pontos.

Vamos considerar que eles perderão para o Grêmio na próxima partida. Esta possibilidade não é tão remota: eles já estarão com a cabeça muito na Libertadores e as divididas tendem a não acontecer com a mesma intensidade. O Grêmio está com o Flamengo atravessado e a vontade de tirar aquela casquinha do provável campeão é enorme. A missão deles, de fazer quatro pontos, passa a ser em dois jogos: CEA (C) e SAN (F).

O Vozão deve vir desesperado para fugir do rebaixamento e essas partidas costumam ser mais difíceis do que as posições na tabela sugerem. Mas o jogo contra o Santos, na rodada final, acontecerá num cenário desconhecido e é possível que o time santista já esteja de férias. Só um estímulo muito forte para fazer o elenco praiano causar um tropeço.

Pois é. Em qualquer projeção, mesmo as mais otimistas, as possibilidades são remotas. Mesmo com tudo dando certo (Palmeiras vencendo todas e Flamengo perdendo para o Grêmio), a chance deles marcarem quatro pontos contra Ceará e Santos não é pequena. Mas se as condições para esta projeção se confirmarem, a pressão sobre eles nessas partidas também será grande.

Os sites estatísticos avaliam nossas chances entre 0,3% e 1%. Mas essas cifras podem ainda virar 100% e aqui está o caminho para acreditar e seguir sonhando. Somos torcedores; vivemos de esperança. Impossível, não é.

Se você é daqueles que tem receio de se decepcionar, daqueles que não arrisca muito, ou se você vive preocupado com o que dirão de você por ter acreditado nestas remotas chances, este caminho não é para você.

Mas aqui vai uma dica: você pode seguir acreditando, secretamente, sem contar para ninguém. No seu grupo de zap e nas redes sociais, diga que este texto é um absurdo e que quem escreveu é um louco iludido. Mas volte aqui a cada vez que um dos resultados previstos para o milagre acontecer se confirmar.

Se o Palmeiras seguir fazendo sua parte e o Flamengo começar a tropeçar, garanto, ainda será divertido – mesmo que o final ainda não nos seja favorável. VAMOS PALMEIRAS!

Analistas Passport: um olhar etílico sobre nossa imprensa esportiva

Passport

Na década de 70, a economia brasileira não era aberta como hoje. Havia uma enorme preocupação do governo federal em estimular a indústria nacional e artigos importados eram caríssimos por causa dos impostos.

Nossas indústrias, sem a competição do mercado externo, lançavam produtos de qualidade extremamente baixa, cortando custos de desenvolvimento e de matéria-prima. Assim, a palavra “importado” ganhou um significado mais prolongado e passou a ser quase um sinônimo de “produto de qualidade superior”.

Para se beber uísque no Brasil, se você não fosse um sujeito abastado que pudesse trazer de suas andanças pelo mundo garrafas legítimas de Scotch e não quisesse se arriscar com produtos duvidosos contrabandeados pela fronteira com o Paraguai, era preciso escolher entre Old Eight, Drury’s e Natu Nobilis.

Até que surgiu o Passport, que se apresentou como um produto de qualidade superior, embora ainda fosse ruim. Afinal, mesmo engarrafado no Brasil, era “produto importado”. O marketing bem feito causou euforia entre os tiozões da época. Com sua garrafa verde, o Passport conseguia ser visto como classudo, respeitado. Iludiu muita gente, por muito tempo.

A imprensa esportiva nasceu nos jornais e cresceu nas ondas do rádio. Dentro da classe jornalística, a redação de esportes sempre foi vista como o quintal. Quem não tinha preparo para escrever sobre economia, sagacidade para escrever sobre política ou classe para ser colunista social, acabava cobrindo corridas de cavalos ou boxe. Se tivesse sorte ou persistência, acabava conseguindo um lugar para cobrir o futebol.

E por muito tempo a História do esporte mais popular do mundo foi contada pelo que saía de pior das faculdades de jornalismo. Muitos, com sérios problemas com o uso correto do idioma.

Não havia muito compromisso ou responsabilidade nas análises, afinal, as palavras ditas nas ondas no rádio perdiam-se no vento e o que era escrito nos jornais acabava embrulhando peixe. Não havia redes sociais, não havia prints. O público não tinha como questionar. Era muito fácil.

No início dos anos 90, quando as emissoras de televisão descobriram o potencial econômico da cobertura de futebol, apareceram nas redações de esporte alguns sujeitos diferenciados. Espertos, perceberam que podiam falar para multidões e serem famosos falando sobre um tema bem fácil. Mais fluentes que a média, exibindo raciocínio com começo, meio e fim, impressionaram o público. Até hoje sobrevivem dessa fama de inteligentes, articulados e esclarecidos, embora não sejam envelhecidos e engarrafados na Escócia. São os analistas Passport.


Com a redução dos impostos sobre importação, o brasileiro hoje já tem mais acesso a uísques de qualidade superior. A própria indústria nacional teve que caprichar mais. Hoje, sabemos, o Passport é um uísque bem inferior.

A participação de Mano Menezes ontem no “Bem Amigos” do SporTV escancarou o que é a imprensa esportiva do nosso país: um amontoado de garrafas de Passport, rodeadas de Drury’s, Natu Nobilis e Old Eight.

Reclamam da qualidade do nosso futebol, mas não fazem o básico para melhorar a discussão sobre o esporte. Insistem em colocar tarja na testa dos jogadores, analisam o atleta por posição e não por função. Insistem em fazer comparativos posição-por-posição antes de um jogo importante.

Olham só a bola e esquecem do preenchimento de espaços. Analisam os dados estatísticos das partidas como um enfermeiro comenta a atividade de um cirurgião. No auge da limitação de raciocínio, concluíram que quantidade de posse de bola define a qualidade do jogo.

Ignoram solenemente as atividades que dão suporte aos clubes profissionais. Administração financeira, medicina, fisioterapia, análise de desempenho são temas que recebem, no máximo, um olhar superficial.

Mas se fosse apenas a preguiça e a falta de conhecimento, vá lá. Teria conserto, bastaria uma reciclagem. O problema maior é que nossos jornalistas não conseguem tirar a camisa do time que torcem por baixo. São desonestos. Vendem a imagem de imparciais, mas são clubistas e enganam o torcedor que espera uma análise imparcial.

E os analistas Passport fazem tudo isso e ainda conseguem vender uma imagem de serem diferenciados.

Talvez esteja mesmo na hora de importarem comentaristas de outros países, como sugeriu Mano Menezes.

Ou, quem sabe, o público se liberta de uma vez desses produtos de qualidade inferior dentro de garrafas verdes, e descobre que existe a alternativa proporcionada pelo desenvolvimento da Internet: canais de torcedores, declaradamente parciais, que não o enganarão.

Na Internet, tem de tudo. Cabe ao público garimpar os sites e canais que lhe agradam e torcer para que eles cresçam e ganhem espaço dos velhos Passport.


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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