Crise do coronavírus joga uma grande oportunidade no colo do futebol brasileiro

A pandemia do coronavírus que assola o planeta já forçou as autoridades esportivas a cancelarem a realização de diversos eventos, de futebol a Fórmula 1, de NBA ao Circuito Mundial de Surfe.

A pandemia, que teve os primeiros casos registrados na China e se espalhou pela Europa predominantemente através da Itália e da Espanha, está atingindo números preocupantes no Velho Continente.

Aqui no Brasil, a disseminação ainda está em estágios iniciais, mas as projeções não deixam dúvida de que é apenas questão de tempo, sobretudo porque as medidas de suspensão de eventos onde há aglomeração de pessoas demoraram a ser tomadas. É bastante provável que o número de pessoas infectadas seja muito maior do que se supõe e que o ciclo de alastramento atinja em algumas semanas os mesmos níveis que já se verificam na Europa.

Nosso futebol, como não poderia deixar de ser, já foi afetado. A FPF finalmente anunciou na manhã desta segunda-feira a paralisação do estadual. Outras federações já fizeram o mesmo. A CBF já anunciou a suspensão dos jogos dos campeonatos sob sua organização direta, sem data definida para a retomada. O Brasileirão, se já tivesse começado, também estaria paralisado. A competição está agendada para ter início no dia 3 de maio, com as 38 rodadas costumeiras.

A peça mais importante do quebra-cabeças

É impossível planejar com exatidão qualquer alteração no calendário do futebol neste momento. A peça mais importante do quebra-cabeças é a data em que a pandemia será decretada sob controle e que o mundo pode voltar ao normal.

Somente depois desse anúncio é que o planejamento poderá ser oficializado. Mas isso não nos impede de projetar algumas soluções.

Os estaduais são os problemas menos importantes. Se necessário, decreta-se o fim da disputa e as edições de 2020 ficam sem campeão. Pouca gente relevante vai ficar insatisfeita.

A Libertadores, a Copa do Brasil e o Brasileirão precisarão ser encaixados nas já escassas datas disponíveis, sobretudo porque as competições entre seleções estrangulam ainda mais a grade. Será necessária uma grande coordenação entre as confederações nacionais, continentais, e a FIFA, para vencer o desafio.

Identificar oportunidades na crise

Sede da CBF

Não é de hoje que enfrentamos problemas no calendário. A falta de sincronia entre os calendários do Brasil com o da Europa é um problema que afeta bastante o planejamento de nossos clubes.

Culturalmente, temos enraizado o conceito de “campeão do ano” em nosso país. Esse é um dos fatores que sempre serviram como justificativa para evitar que a ideia de ajustar o calendário brasileiro ao europeu fosse levada adiante. Mas com a popularização cada vez maior das ligas europeias nas grades da TV brasileira, isso já deixou de ser um empecilho.

A favor da medida, temos vários fatores:

  • competições entre seleções, como Copa América, Euro e Copa do Mundo, que acontecem em julho (não por acaso), não interromperão mais nossas temporadas. Jamais esqueceremos do “efeito Copa América” no Palmeiras em 2019;
  • jogadores que voltam da Europa no meio do ano poderão tirar férias ao mesmo tempo que os jogadores no Brasil e não haverá problema de defasagem ou de sobrecarga física;
  • o mercado fica muito mais claro, com a janela do meio do ano se tornando muito mais importante e a do fim do ano dedicada apenas a pequenos ajustes. Isso tende a diminuir a aleatoriedade e premiar o planejamento. Mais uma vez, o ano de 2019 se encaixa no exemplo.

Caiu no colo

A chance está aí, se atirando em nossos braços. A hora de lançar a primeira temporada do futebol brasileiro começando em agosto e terminando em junho caiu no colo dos clubes e da CBF. O tempo que se “perderia”, outra desculpa usada para rejeitar a medida, está sendo forçado a ser jogado fora pela pandemia.

Não sabemos ainda quando o mundo voltará a girar normalmente, mas fazer planejamento de forma antecipada é sempre uma boa prática. Que nossos dirigentes aproveitem a oportunidade e reorganizem a grade de jogos. E se der tempo, que se joguem as partidas finais dos estaduais.

Mas só se der tempo.


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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Após dez jogos, Luxa ainda parece estar avaliando o elenco

Vanderlei Luxemburgo
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Numa dessas entrevistas pós-jogo, Vanderlei Luxemburgo mencionou que pretende definir uma formação básica com onze jogadores, seus titulares, e fazer eventuais enxertos nesse time usando mais seis ou sete jogadores, que seriam o grupo principal de trabalho. Depois de dez partidas, ainda não temos uma pista concreta de como Luxa pretende montar essa formação, já que várias formações e esquemas táticos diferentes foram testados.

Na verdade, não sabemos nem se esse conceito de ter um onze definido é verdadeiro ou se é um despiste. Nas três primeiras partidas de 2020, o time reviveu a cara do 4-2-3-1 do ano passado, com um volante mais pegador e outro que sai para o jogo; uma linha de três preparando a jogada para o centroavante, com um ponta, um meia centralizado e um meia jogando pela beirada.

No jogo contra o Oeste o time teve mais uma cara de 4-4-2, com um volante postado (Ramires), uma composição de três meias (Zé Rafael, Scarpa e Lucas Lima) e dois atacantes (Veron e Willian). Já contra o Bragantino, o time ficou mais parecido com um 4-3-3, com dois volantes, um meia e dois pontas abertos.

A partir do jogo contra a Ponte Preta, o esquema foi um 4-3-3 mais ofensivo, com volantes bastante móveis e pontas abertos. Por fim, no segundo tempo contra o Santos, vimos algo bem próximo de um 4-2-4, com um enorme espaço entre o meio e o ataque e com o time excessivamente postado e experimentando as descidas só em contra-ataque.

Santos 0x0 Palmeiras
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras faz uma boa campanha no Paulista, mas o fato do Santo André estar dois pontos à frente no mesmo grupo, somado à falta de vitórias nos jogos contra clubes da Série A (Santos, Bragantino e SPFC) desperta a desconfiança de boa parte da torcida.

É compreensível. Por mais que o estadual seja, hoje, um campeonato nada relevante em termos esportivos; por mais que seja quase um consenso que esse tipo de torneio, que desgraçadamente sobrevive em nosso calendário, deva ser usado para testes e acerto do time, os resultados continuam falando alto. Tivesse o árbitro marcado o pênalti de Pará no segundo tempo no último sábado, as cornetas estariam bem mais amenas.

A variedade de esquemas desenhados por Luxa neste início de temporada sugere que nosso treinador ainda está estudando o elenco. Junto com a comissão técnica, ele parece estar avaliando como os jogadores respondem, isoladamente e em conjunto, em determinadas situações. Com tudo mapeado, ele terá condições de desenvolver melhor cada situação ao longo dos treinos para escolher uma solução tática para cada situação de jogo que o time enfrentar quando a temporada estiver a pleno vapor.

Não sabemos se Luxemburgo está fazendo esses testes de forma sistematizada, com essas variações e modelos previstos num cronograma, ou se está simplesmente chutando, na velha base da tentativa e erro. Mas que parece bem pouco inteligente cobrar, a esta altura do resultado, uma evolução consistente e um padrão de jogo definido, isso parece.

Pior ainda os que põem as mãos na cintura e exigem resultado. Afinal, além de estarmos disputando um campeonato bem pouco importante, estamos na vice-liderança, a apenas dois pontos do líder, à frente dos principais rivais e com o melhor ataque e a melhor defesa. Vamos com calma. Luxa não é nenhum estagiário e é bem improvável que ele esteja completamente perdido, como sugerem alguns desesperados de plantão.

Amanhã teremos Libertadores e não será mais jogo para testes. Luxa escolherá uma entre as diversas variações que experimentou nestes dois meses de trabalho. Será, de fato, o primeiro grande vestibular do Verdão de 2020. VAMOS PALMEIRAS!


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