O ano de 1969 na História do Palmeiras
O Palmeiras começou o ano ainda reconstruindo o time, que já havia perdido peças fundamentais da Academia de Futebol no ano anterior, como Valdir, Djalma Santos, Zequinha, Servílio e Tupãzinho.
O mês de janeiro foi marcado por duas disputas paralelas: o time principal comandado por Filpo Nuñez foi à Argentina disputar a “Copa de Oro”, foi vice-campeão numa disputa em pontos corridos com mais 6 times que teve o Boca Juniors como campeão.
Enquanto isso, um time alternativo comandado por Julinho Botelho disputou e venceu o Torneio Início, marcado pela despedida do lateral Ferrari do clube. Zeca, vindo do Grêmio, e Dé, do SPFC, passaram a disputar a lateral esquerda.
O estadual começou em fevereiro, com um regulamento que pela primeira vez previa uma fase decisiva após os pontos corridos. Os 14 clubes foram divididos em dois grupos, e após as 26 rodadas de praxe, os dois melhores de cada grupo disputaram um quadrangular em turno único para decidir o campeão. O calendário ainda era uma bagunça, a exemplo do ano anterior.
Na fase de classificação, o Palmeiras avançou de forma tranquila, em segundo lugar em seu grupo, com 36 pontos – um atrás do Santos e sete à frente da Portuguesa. O Verdão venceu quatro clássicos e perdeu dois, com destaque para um 3 a 0 sobre o SPFC, com dois gols de Artime, o grande nome do elenco no campeonato. O período ficou marcado pela ascensão do jovem goleiro Leão, de apenas 20 anos, ganhando a posição de Chicão e Neuri.
A fase final, que ainda tinha SCCP, SPFC e Santos, foi disputada em junho e o Palmeiras começou bem, vencendo o SPFC, enquanto o Santos vencia o SCCP. Na segunda rodada, sem Leão, lesionado, e em grande noite de Pelé, o Palmeiras foi derrotado pelo Santos por 3 a 0.
O time praiano ficou com o título ao segurar um empate na rodada decisiva, contra o SPFC. No esvaziado Derby da rodada final, que já não valia nada, o Palmeiras chegou a abrir 3 a 0, mas acabou sofrendo dois e venceu por apenas 3 a 2, testemunhado por 5702 pagantes, e ficou com o vice-campeonato.
O Palmeiras que trocou Filpo Nuñez por Rubens Minelli, então fez mais uma série de amistosos e embarcou pela primeira vez para a África, onde realizou sete amistosos no Congo, Gana e Nigéria.
Após rápidas escalas na Romênia e na Itália, o Verdão desembarcou na Espanha, onde conquistou seu primeiro Ramón de Carranza ao vencer na final o Real Madrid, por 2 a 0. Depois, mais uma vitória em gramados espanhóis, em amistoso com o Barcelona: 2 a 1 no Camp Nou.
De volta da excursão, o Verdão iniciou a disputa de mais um Robertão. Sentindo demais a perda do craque Artime para o Nacional-URU, o Palmeiras começou de forma assustadora a fase de classificação, conquistando apenas um ponto em cinco rodadas. Mas o novo treinador aos poucos foi encaixando o ataque, que tinha como reforços o ponta Edu, da Portuguesa, e o meia Jaime, do Bangu.
De Edu, Jaime, César e Serginho, a formação ofensiva passou para César, Jaime, Cardoso e Edu, até chegar na vencedora: Edu, Jaime, César e Pio – este último, contratado junto à Ferroviária já durante o Robertão. Nessa passagem, o time conquistou 9 vitórias e sofreu apenas duas derrotas e se classificou em primeiro lugar de seu grupo.
No quadrangular final, disputado em turno único, os adversários foram o SCCP, o Cruzeiro e o Botafogo. Na primeira partida, empate sem gols no Derby – mas como Botafogo e Cruzeiro também empataram no Maracanã, o ponto perdido não pesou tanto.
No segundo jogo, no Mineirão, César deixou o Palmeiras na frente, mas Palhinha empatou no segundo tempo. Com o 1 a 1 no placar e a vitória do SCCP sobre o Botafogo, o Palmeiras passou a precisar de uma vitória sobre os cariocas somada a um empate entre SCCP e Cruzeiro, ou vitória mineira – neste caso, o Palmeiras precisaria fazer mais saldo de gols.
Na partida final o Verdão atropelou o Botafogo, que já estava eliminado; no primeiro tempo o placar já apontava 3 a 0 (dois gols de Ademir e um de César). Ferretti ainda diminuiu no segundo tempo, mas o Palmeiras acabou vencendo por 3 a 1. Após o apito final, não houve festa, porque o jogo no Mineirão entre Cruzeiro e SCCP havia começado mais tarde.
Houve várias concentrações de palmeirenses em torno dos aparelhos de rádio nos arredores do Morumbi. Ainda havia cerca de 30 minutos para o jogo acabar e o SCCP, que saiu atrás, havia acabado de empatar com Rivelino. Para piorar, o zagueiro cruzeirense Darci Menezes foi expulso. Mais um gol e o troféu iria para o outro Parque, interrompendo um jejum que já chegava a 15 anos.
O SCCP já jogava melhor, mas surpreendentemente, Dirceu Lopes acabou marcando o segundo gol cruzeirense. A agonia palmeirense continuava, já que se os mineiros fizessem mais dois gols, seria os campeões. O SCCP partiu com tudo para o ataque e perdeu uma sequência enorme de gols, até bola na trave mandou. E Palhinha, num contragolpe mortal, quase fez o terceiro dos mineiros.
Felizmente o placar em Minas ficou em 2 a 1 para o Cruzeiro e nossa torcida pôde comemorar o quarto título nacional. O vestiário do Palmeiras permanecia aberto e os torcedores o invadiram, em festa. Quando os todos os jogadores subiram no ônibus, formou-se uma enorme carreata em direção à rua Turiaçu, onde milhares de palmeirenses esperavam pelos campeões. A comemoração seguiu noite adentro aos gritos de “Um, dois, três, o C*rintians é freguês!” e “Um, dois, três, já vai pra dezesseis!”.