“CHICO LANG, VIADO!”

Fosso Palestra Italia
George de Barros

A imagem que abre este post foi captada pelo leitor e padrinho do Verdazzo George Barros, no último jogo do velho Palestra, no dia 9 de julho de 2010. Ela rodou em um grupo de Whatsapp e a publiquei no Twitter, mencionando que só havia uma legenda possível para a foto.

Nas respostas, a palavra que mais foi postada foi “saudade”, e a legenda, claro, é a trilha sonora desse momento, que todo palmeirense que frequentou o Palestra a partir do início da década de 90 que deixava o estádio pelo portão da Turiaçu sabe e adora: “CHICO LAAAAANG, VIAAAADO!!!!”

Era um ritual que acontecia à tarde ou à noite; na chuva ou no seco; nas vitórias, empates ou derrotas. Não importava o que estivesse acontecendo: ao passar pelo fosso em direção à saída do estádio, na região sob as numeradas (e tribunas de imprensa), o canto saía automaticamente. Uma tradição de quase 20 anos, que foi interrompida com a demolição do querido Palestra para a construção do Allianz Parque.

Em primeiro lugar, em tempos bicudos como os de agora, antes que a patrulha apareça, é necessário fazer uma ressalva importante: ao chamar o jornalista Chico Lang, que até hoje ocupa seu lugar no programa Mesa Redonda da TV Gazeta, de “viado”, a torcida do Palmeiras está apenas praticando um costume milenar do mundo do futebol: chamar de viado. A prática, como todos sabem, pode ocorrer numa camaradagem entre amigos ou mesmo para xingar – um xingamento leve, sem o peso de um “filha da puta”, por exemplo, e não tem absolutamente nenhuma menção à sexualidade do xingado. E é incrivelmente chato ter que fazer um parágrafo só para fazer esta ressalva.

Mesa Redonda
Reprodução

Chico Lang é um jornalista que assumiu em frente às câmeras a torcida pelo SCCP, e o fazia como contraponto ao apresentador principal do Mesa, Roberto Avallone, palmeirense até a medula. Avallone tentava, mas não conseguia esconder sua palestrinidade, mesmo invocando que, na mesa, defendia o “Jornalismo Futebol Clube, exclamação”. O remédio foi surgir um “personagem” torcedor do SCCP, para equilibrar as coisas. A química deu muito certo, os dois faziam um programa bastante leve e divertido, mesmo com recursos escassos até mesmo para a época. Era tosco do início ao fim, mas era honesto e gostoso de assistir. Dava de dez a zero em qualquer mesa atual. E todo mundo na capital paulista que gostava de futebol assistia ao Mesa, aos domingos à noite – ainda mais nos tempos em que a TV por assinatura ainda era um privilégio para poucos.

A imagem que abre o post traz à tona lembranças de um lugar mágico, que emociona a qualquer palmeirense que o tenha frequentado, e ainda evoca um comportamento que simbolizava essa época tão gostosa. Xingar o Chico Lang (que muitos dos que passaram a frequentar o Palestra em meados dos anos 2000 talvez nem soubessem quem era, mas cantava mesmo assim) de viado não denotava nenhum sentimento ruim. O jornalista acabou se tornando uma espécie de projeção daquele amigo que você gosta muito, mas que torce pelo SCCP. No fundo, o canto não era direcionado especificamente ao Chico Lang, era um puro exercício de rivalidade. E pobre de quem não é capaz de entender isso.

Hoje as mesas redondas são como uma praga pelos canais esportivos e viraram picadeiros. Nenhum desses jornalistas-palhaços de hoje conseguem emular a fórmula do velho Mesa Redonda, nem o próprio Mesa, que perdura sob o comando de Flávio Prado, que torce para o SPFC, não assume, e inventou que torce pela Ponte Preta sabe-se lá para que. Chico Lang torce, assume, e não corre nenhum risco quando anda nas ruas. Ao contrário, é querido e saudado por quase todos que o veem. Os palmeirenses com menos espírito esportivo podem até fazer um muxoxo, mas duvido que sintam raiva ou vontade de xingá-lo de verdade, como ocorre com a maioria dos jornalistas dos programas mais populares de hoje.

O Velho Palestra não existe mais. Hoje temos o Allianz Parque, que com pouco mais de dois anos de existência já foi palco de dois títulos espetaculares, vem sendo um fator fundamental para a retomada das conquistas do Verdão e que vai pouco a pouco adquirindo sua própria identidade no imaginário dos palmeirenses, com suas próprias tradições, como o hino nacional adaptado.

Mas seria muito legal de a torcida, ao passar pelos corredores que levam aos portões de saída, em qualquer setor, entoasse o velho “CHICO LANG, VIADO!” ao final das partidas, como nos velhos tempos. Seria uma forma de, ao mesmo tempo, exercitar a rivalidade com o SCCP, de lembrar do tempo em que o jornalismo conseguia ser leve e divertido sem deixar ninguém com raiva, e de reviver uma tradição divertidíssima daquele mesmo pedaço de chão.

No dia 29, contra a Ponte Preta, vou arriscar puxar um “CHICO LANG, VIADO”. Será que vai pegar?

Um grande abraço ao Chico, ao Avallone e a todos os que fizeram parte daquela sensacional Mesa.

Padrinho

Seja você também um padrinho do Verdazzo, junte-se a mais de 130 palmeirenses neste projeto. Acesse www.padrim.com.br/verdazzo.

Deixe uma resposta