Conselho aprova “Emenda Leila” e mandato do presidente será de três anos

Leila PereiraO Conselho Deliberativo do Palmeiras votou ontem textos para mais uma mudança estatutária. O ponto mais importante foi a alteração da duração do mandato do presidente, que passa de dois para três anos.

Como já vem sendo dito aqui nos posts do Verdazzo há anos, essa é uma das alterações mais importantes que era necessário fazer em nosso estatuto. O mandato curto, de dois anos, exige que o toma-lá-dá-cá prevaleça na vida do clube quase que constantemente, para que quem concentra capital político sustente seu poder.

Exatamente por isso, enquanto Mustafá Contursi deu as cartas no clube, esse ponto do estatuto jamais foi tocado. Agora, que ele encontrou uma adversária política do mesmo calibre, as coisas mudaram. A emenda, que precisava de 141 votos, teve 143 e foi aprovada. Uma derrota monstruosa de Mustafá; e uma demonstração de força imensa de Leila Pereira, que assim abreviou em mais um ano seu tempo de espera para se candidatar à presidência do clube.

Mustafá Contursi definha no Conselho Deliberativo, mas ainda tem força no COF. Grandes operações econômicas ainda podem ser contestadas e barradas por ele. Mas com a saúde financeira que o clube se encontra, a tendência é de que o velho manda-chuva finalmente vista seus pijamas e calce suas pantufas. E isso é muito bom.

Virada nos acréscimos

Informalmente, os grupos políticos do Palmeiras mantêm mapas em suas pranchetas com a tendência das votações mais importantes. Os placares ao final da última semana apontavam para a barração da alteração estatutária com alguma margem – de cinco a dez votos de folga.

No final de semana, provavelmente diante de todo o poder de persuasão de Leila Pereira, o jogo virou. Interessante notar que um grupo tido como progressista, que havia anunciado que votaria contra a mudança, teve quatro de seus cinco conselheiros repentinamente votando a favor da alteração. Democracia é isso.

Rei morto; rei posto

A ascensão de Leila Pereira é impressionante. Rapidamente, a empresária saiu do completo anonimato, em janeiro de 2015, para favorita à cadeira da presidência em 2021, para provavelmente assumir o cargo em janeiro de 2022 – Maurício Galiotte deve concorrer à reeleição em novembro próximo, já contemplando os três anos de mandato.

A conselheira tem muitos méritos. É conhecida como “trator”, expressão bastante comum no meio corporativo para designar profissionais que passam por cima das dificuldades para conseguir o que precisam, nas empresas que comanda. É muito bem sucedida e não precisa se apropriar do dinheiro do Palmeiras para ser feliz – ao contrário, direciona boa parte da verba publicitária de suas empresas para o clube. É verdade que consegue ótimos abatimentos em suas obrigações tributárias com essa prática, mas isso não diminui o bem que faz ao clube.

#sejasocioavantiMas Leila tem características pessoais que torna temerário o acúmulo de poder – presidente e patrocinadora – em suas mãos. Basta lembrar que, por promover o Avanti no lugar do nome dos jogadores em março de 2016, o Palmeiras sofreu represálias da patrocinadora, que deixou de fazer os pagamentos mensais, prejudicando o fluxo de caixa do clube que diz amar. O Avanti é a fonte de renda mais importante do Palmeiras, mas ela não abriu mão do que achava ter direito. O contrato foi ajustado e a situação se normalizou, mas o trator colocou uma roda em cima do clube.

O estatuto do clube prevê a trajetória que uma pessoa qualquer precisa, a partir do momento em que fica sócia, percorrer para chegar a presidência. Até a década passada, eram necessários pelo menos onze anos de clube para aspirar ao cargo máximo. Um tempo exagerado, mas que era imposto por quem mantinha o poder no clube. Com sucessivas manobras, Leila triturou essas carências e abreviou o tempo com um cacife político inédito. O estatuto do Palmeiras permitiu que uma milionária chegasse do nada e rapidamente tomasse o clube para si. Os conselheiros, que ainda poderiam ser a defesa final do clube para essa temeridade, baixaram a ponte levadiça. Leila, como uma conquistadora, entrou com tudo.

Os vitalícios permanecem

Mustafá Contursi
Keiny Andrade/Folhapress

Outro ponto delicado da reforma estatutária foi a diminuição do peso dos conselheiros vitalícios na estrutura do Conselho Deliberativo. Havia uma proposta para diminuir de 148 para 100 cadeiras dessa categoria, o que faria que o número de conselheiros eleitos a cada quatro anos subisse dos atuais 152 para 200. A proposta foi rejeitada e tudo segue como antes.

Mustafá, afinal, ainda respira por aparelhos.

É hora de pensar em precauções

A Assembleia Geral de sócios ainda pode barrar as decisões do Conselho, mas para isso são necessários 2/3 do quórum e a chance disso acontecer é bem pequena. Serão três anos e meio até que a candidatura de Leila vá às urnas, e o Palmeiras precisa se precaver ao máximo das consequências que uma administração possivelmente centralizadora pode ter.

É hora de discutir, por exemplo, a instituição de um limite na fatia do patrocínio dentro do orçamento. Não se trata de recusar dinheiro; ao contrário, é uma forma de estimular os esforços para que as outras receitas cresçam. Eleita ou não presidente, um dia Leila Pereira vai retirar o patrocínio da Crefisa.

É para evitar que um movimento abrupto desse leve o Palmeiras a uma situação semelhante à do Fluminense pós-Unimed que algum mecanismo de defesa tem que ser criado. O clube precisa incrementar ainda mais as receitas do Avanti; as bilheterias precisam continuar vultosas e outras iniciativas de marketing precisam ser exploradas para que não se estabeleça uma perigosa e indesejável dependência da Crefisa.

Leila Pereira, para ser uma grande presidente, deve fazer uma gestão baseada em ações inovadoras, não em política apoiada em seu poderio econômico, para manter o Palmeiras forte dentro e fora de campo. Caso eleita, ao final de seus três (ou seis) anos, precisa deixar o clube saudável financeiramente e estruturado para a saída de suas empresas, se assim desejar. Patrocinador forte só funciona num clube forte.

O Verdazzo e toda a mídia palestrina torcem para que a eleição deste ano seja limpa e justa; assim como a de 2021 e de 2024; permaneceremos atentos, trazendo à luz todos os movimentos, para que a torcida do Palmeiras esteja sempre ciente da situação e dos eventuais perigos que se avizinhem.


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