Doentes da arquibancada e comunicadores do culto ao ódio conduzem o futebol a um destino sombrio

Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

Na última quarta-feira, feriado no estado de São Paulo, a base movimentou o Pacaembu com 3 finais estaduais sendo disputadas ao longo do dia. Logo cedo, o Sub-15 conquistou o terceiro título em quatro anos ao bater o Santos por 5 a 0, depois de empatar o jogo de ida na Vila Belmiro por 0 a 0.

A jornada teve sequência pouco depois e o time Sub-17 tinha uma dura missão: reverter o placar de 0 a 2 que o SPFC construiu na primeira partida, no Morumbi. Gabriel Veron, grande destaque da Copa do Mundo da categoria, estava em campo envergando a 10 e com a braçadeira de capitão; Henri, Garcia e Renan, companheiros de Veron na seleção, também jogaram.

Fabio Menotti /Ag.Palmeiras

A desvantagem foi anulada ainda no primeiro tempo, com dois gols de Gabriel Silva. Marcelinho fez o terceiro aos 22 do segundo tempo e a taça parecia estar chegando, mas Mineirinho diminuiu para o SPFC aos 31, levando a decisão novamente para os penais. Três minutos depois, Gabriel Silva fez o quarto gol, o terceiro dele, e tudo estava se encaminhando para um desfecho positivo, mas a arbitragem validou um gol ilegal do SPFC já nos acréscimos.

O título foi decidido na marca de tiros livres e o visitante levou a melhor. Atletas do SPFC então provocaram nossos jogadores e a torcida, composta unicamente por palmeirenses. Um legítimo quebra-pau teve início, sendo rapidamente controlado sem maiores consequências.

À tarde, o Sub-20

Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

Envolvido também na disputa do Brasileirão da categoria, do qual é finalista e enfrentará o Flamengo, nosso time Sub-20 encarou o Red Bull, sensação do torneio, dono da melhor campanha e do melhor ataque, disparado.

O Palmeiras não inscreveu Angulo na competição e ainda se ressente muito da perda de Vitão para o futebol do exterior. Com falhas na defesa, o time acabou derrotado por 2 a 0 e terá uma difícil missão no jogo de volta, marcado para domingo às 10h em Bragança Paulista.

De forma inacreditável, algumas centenas de torcedores que se prestaram a sair de casa num feriado para assistir aos jogos da base, de graça, passaram a hostilizar nossos meninos do Sub-20:

– Ô Sub-20, vai se foder, o Sub-15 é melhor do que você!

Doença

Parte da torcida está gravemente doente. Temos visto diversas demonstrações de estupidez extrema da torcida em relação aos profissionais nos últimos anos – desde a agressão a Vágner Love em 2009, o cerco a João Vítor em 2011, passando pela “xicarada” que feriu a orelha de Fernando Prass em Buenos Aires, até os recentes episódios de apedrejamento do ônibus da delegação em dia de jogo da Libertadores e de ameaça de morte a Felipão.

Bruno Henrique teve que ouvir bobagens de um torcedor ávido por “representar a torcida” – pelo menos na cabeça dele. O incauto levou uma invertida da esposa do atleta, que foi filmada e viralizou. Pois outros torcedores inacreditavelmente cercaram e intimidaram a moça, dias depois, na Arena da Baixada, indignados com sua reação.

O desejo intenso, nocivo e irracional pela vitória é motivado, aparentemente, por alguns fatores – um deles é o que está sendo chamado de “zueirofobia”. As pessoas se apegam a seus times como bandeira para “zuar”, futebol está perdendo a essência e virando o determinante para quem vai “zuar” e quem vai “ser zuado”. E ai do time se perder e fizer com que o doente “seja zuado”.

Existe também a política do clube, claro, que desde 1914 tumultua o ambiente e é nosso pior inimigo, sempre que praticada com “p” minúsculo.

Mas no caso específico deste episódio do Pacaembu, só muita frustração pessoal para fazer com que o torcedor se revolte a ponto de xingar ferozmente atletas da base. Os doentes veem a vitória do time como vitória deles próprios – talvez a única vitória possível em suas vidas miseráveis. Mesmo que sejam apenas meninos.

No limite, não parece tão absurdo imaginar que o comportamento desses lunáticos seja inconscientemente calculado, para estragar mesmo a carreira desses jovens que, caso se tornem atletas profissionais, certamente serão muito mais bem-sucedidos financeiramente que o frustrado e invejoso cidadão que está vociferando enlouquecido no alambrado.

É tudo culpa da emoção

Esse ciclo é renovado por comunicadores – profissionais e amadores – que estimulam o culto à “zoeira” ou ao ódio diante das derrotas. Hipocritamente, usam a emoção inerente ao futebol como justificativa para atitudes hediondas.

O futebol está mudando, em várias frentes. Mas o comportamento doentio da torcida, que sempre foi a razão da existência de todo o espetáculo, está direcionando o pacote para um destino cada vez mais sombrio. Está difícil se divertir no futebol, mesmo torcendo por um dos times dominantes.

Nossa equipe Sub-20 tem uma geração sensacional. Magrão, Esteves, Patrick de Paula, Gabriel Menino, Alan e Angulo têm condições de, no mínimo, serem testados no time de cima no ano que vem. A torcida clama por chances à base – mas não hesitam em detoná-los no primeiro tropeço, mesmo às vésperas de decidir o Brasileirão da categoria, e justo diante do Flamengo.

Precisamos de atitudes firmes das entidades que regulam o esporte e a sociedade. O incremento no nível da educação fundamental e da educação de torcedores parece ser o único caminho, de longo prazo, para que comunicadores e torcedores nos ajudem a desviar desse abismo para onde nos encaminhamos. O problema maior é que mudanças de longo prazo não reelegem ninguém.


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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