Episódio ‘BlackStar’ deve se encerrar nas próximas horas; veja como fica o saldo de cada envolvido

BlackStarA aproximação da BlackStar, conglomerado de empresas misterioso que fez uma proposta de patrocínio astronômica ao Palmeiras, agitou a política do clube na última semana. A postura das duas partes, contudo, conduziu a situação para um descarte definitivo nas próximas horas.

Ninguém fez muita questão de fazer o negócio andar. Sob a influência fortíssima da conselheira/patrocinadora Leila Pereira, o Palmeiras jogou com o tempo. Em vez de iniciar o processo de Due Dilligence de forma objetiva, o clube elaborou, depois de uma reunião presencial, uma sabatina para que o interlocutor, um certo Rubnei Quicoli, respondesse por e-mail.

O movimento irritou o representante da empresa, que abocanhou o anzol com todas as forças ao responder de forma grosseira a mensagem do Palmeiras, que, entre dezenove perguntas, continha de fato quatro ou cinco questões relevantes – todas poderiam perfeitamente ser elucidadas pelo processo formal devido. Tudo foi acompanhado de perto pela imprensa, que teve amplo acesso ao nada amistoso diálogo.

O tiroteio através dos veículos de comunicação prosseguiu durante o fim-de-semana, tornando o clima muito difícil de ser contornado. A tendência é que não haja avanço e que o Palmeiras renove o patrocínio com a Crefisa.

Proposta incomum

Não pelo momento em que a primeira informação chegou, mas pelo volume de dinheiro e por todo o mistério que envolve a holding, a proposta naturalmente suscitou desconfiança de conselheiros, associados e torcedores. A falta de informações nos documentos preliminares reforçou a nebulosidade do cenário.

Todas as dúvidas, entretanto, poderiam ser dissipadas, com um mínimo de boa vontade das partes. O Palmeiras colocou obstáculos. E o representante da holding teve o comportamento que lembra tudo, menos o de um homem que está decidindo o destino de R$ 1 bilhão.

O Palmeiras, se não estivesse sob influência política tão forte, poderia ter sido mais receptivo à proposta e facilitado o caminho para o esclarecimento. E o senhor Quicoli poderia ter lidado melhor com o joguete proposto pelo clube. Teriam sido atitudes que preservariam intacto o clima respeitoso e profissional que uma negociação que envolve tantos recursos e interesses envolve.

Da forma como tudo aconteceu, parece que ninguém estava muito a fim mesmo de que o negócio saísse.

Saldo do episódio

Maurício Galiotte e Genaro MarinoEm vez de elucidar, os contatos contribuíram apenas para que o episódio entre para o folclore palmeirense. É bastante possível que o nome da holding se transforme num vocábulo para descrever algo duvidoso. Aquele ponta-esquerda que virá a peso de ouro e não vingar será um “BlackStar”. Aquele agente de atletas com postura duvidosa também poderá ser classificado com o nome do conglomerado. Até árbitros podem passar a ser chamados de “BlackStar”. Isso só não acontecerá se Quicoli cumprir sua ameaça de procurar outro clube e ele realmente despejar num rival o caminhão de dinheiro que quis originalmente aportar aqui. O tempo dirá.

A diretoria do clube reforçou sua lealdade à patrocinadora. A Crefisa, por sua vez, manteve-se apenas observando, com declarações furtivas, e não se desgastou – ao contrário: mesmo sem fazer nada, saiu fortalecida, com a imagem mais sólida ainda após ser comparada com uma alternativa que não passou confiança.

A oposição, mesmo tendo feito sua obrigação, saiu com a imagem arranhada. Apesar dos cuidados para manter a oferta em pé mesmo se perdesse a eleição, caracterizando o trabalho em favor do clube e não de uma condição política, o grupo encabeçado por Genaro Marino será lembrado por algum tempo como os responsáveis pela BlackStar – algo que, como vimos, terá sempre uma conotação negativa.

O Palmeiras não perde nada, mas talvez deixe de ganhar. A condição de pagamento à vista por um patrocínio de dez anos vai sempre projetar uma sombra sobre a atual gestão. As incertezas sobre o negócio jamais deixarão de ser comparadas com uma oferta de transferência imediata de uma quantia que seria mais de 60% superior ao que atualmente oferece a Crefisa. Sempre alguém poderá lembrar que o clube não se esforçou para, ao menos, ter certeza que a BlackStar seria uma jogada equivocada.

Reajuste: nada mais correto

Leila PereiraNossa diretoria, apesar de toda lealdade à atual patrocinadora, poderá usar o episódio na hora de definir o novo valor a ser pago pela Crefisa nos próximos três anos. A própria Leila já deixou a possibilidade em aberto, ao dizer que avaliaria se teria condições de cobrir a eventual proposta da BlackStar.

Ora, se a Crefisa deixou claro que poderia subir a proposta para competir com a BlackStar, e se a parceira tem sido tão boa assim para a empresa, que teve um retorno absurdo em forma de faturamento e evidência na mídia, nada mais correto do que um bom reajuste nos termos do patrocínio.

Afinal, o Palmeiras já se mostrou atrativo a empresas dispostas a pagar bem mais, mesmo com dados que acabaram não sendo dissecados. Como vimos, isso aconteceu por atitudes que passam não apenas pela grosseria do interlocutor, mas também por pressão política da própria Crefisa.

Então é hora de subir a régua.

Atualização – 14h59

O presidente Maurício Galiotte divulgou na imprensa agora há pouco que consultou o banco HSBC a respeito da carta de garantia apresentada por Rubinei Quicoli, e o banco afirmou que o documento é falsificado.

A revelação é o fato concreto que era necessário para que o assunto fosse encerrado sem que a dúvida de rasgar R$ 1 bilhão pairasse sobre a diretoria. Dispensa até o processo de Due Dilligence. A diretoria, desta forma, agiu com o profissionalismo que uma cifra de dez dígitos exige.

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O papel da mídia palestrina isenta é defender os interesses do clube acima de tudo. E a única coisa a defender neste caso era a apuração rigorosa dos fatos. Foi o que o Verdazzo defendeu do início ao fim do episódio.

Mas muita gente, involuntariamente, acabou se revelando. Não há credibilidade para quem tomou partido antes da prova concreta surgir. Só duas coisas explicam tal irresponsabilidade: ou é a fanfarronice típica dos botecos, ou é gente que defende demais os interesses de particulares – colocando-os acima até dos do clube. E pode haver uma série de razões para isso.


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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