A lesão de Moisés: perguntas e respostas

Moisés e Zé Antônio

César Greco / Ag.Palmeiras / Divulgação

Passados quase três dias da deprimente lesão sofrida por Moisés, após as suspeitas criadas durante o jogo terem infelizmente se confirmado – o meio-campista rompeu os ligamentos do joelho esquerdo, será operado nesta quarta-feira e tem previsão de volta entre agosto e outubro – algumas perguntas ficaram no ar, feitas por leitores e padrinhos do Verdazzo. Vamos a elas:

Quem entra no lugar de Moisés?

Borja será inscrito no Paulistão em seu lugar e pode fazer sua estreia já neste sábado, contra a Ferroviária, ou contra o Red Bull, na sexta-feira da semana que vem. Não deverá haver contratações. Eduardo Baptista tem à sua disposição um elenco numeroso e tem que achar uma solução para fazer o time funcionar, mesmo não havendo ninguém no grupo com características similares. Se formos pensar bem, não existe no futebol brasileiro jogador algum parecido com nosso Profeta.

Nosso treinador está vendo Dudu iniciar uma fase magnífica. Tchê Tchê, o insaível, logo estará inteiro. Guerra é talentosíssimo e ainda está pegando o jeito. Keno está cheio de apetite para jogar pelas pontas – ele se garante dos dois lados. Raphael Veiga está mostrando muita personalidade. E Michel Bastos parece estar no mesmo nível de seus melhores momentos desde que voltou do exterior, em 2014. Mesmo sem Moisés, temos seis jogadores de alto nível para as quatro vagas. Mattos fez a lição de casa direitinho.

E quem vai tratar de Moisés, já que nossos três médicos foram demitidos e não houve reposição?

Esta é uma ótima pergunta. Em princípio, o corpo médico das categorias de base deu a primeira assistência e Moisés será operado por um especialista. Mas já é a quarta lesão do ano no elenco (Arouca, Tchê Tchê e Fabiano também estão em recuperação) e não há notícia alguma sobre os substitutos dos doutores Rubens Sampaio, Vinicius Martins e Otávio Vilhena, demitidos em janeiro. Não cabe aqui entrar no mérito dessas demissões, já que a avaliação do desempenho do departamento médico vai muito além do que nossa observação como torcedores permite. Mas a reposição não pode demorar tanto, sobretudo com este caso tão delicado.

O Palmeiras deve pedir uma punição para Zé Antônio, o causador da lesão?

Zé Antônio é um jogador limitado, por isso joga apenas no Linense. Ele tem raras chances de disputar partidas grandes na vida, e quando as tem, tenta se destacar dentro do que sua limitação permite. Não vi vontade de quebrar o Moisés no lance; mas também não vi nenhuma preocupação com a integridade do companheiro de profissão. Zé Antônio é daqueles que entra forte em todos os lances e não se importa com as possíveis consequências. Quebrou Moisés pelo segundo ano consecutivo, e Wendell Lira, aquele do gol Puskas, mencionou que também já precisou ser operado após um contato com o sujeito.

Não cabe pedir punição ao jogador porque foi mais um acidente de trabalho. Não é possível caracterizar a intenção de causar a lesão. Só não me venham com conversinha que o Zé Antônio acabou sendo é vítima nessa história toda por causa da revolta de nossa torcida nas redes sociais. Vamos parar com essa palhaçada.

Então o que o Palmeiras poderia fazer para diminuir os riscos de prejuízos como este aconteçam de novo?

Não expor os jogadores mais valiosos no Paulistão. Inscrever para esta primeira fase os oito ou dez jogadores menos importantes do elenco e completar com jogadores da base. O período entre janeiro e março serve apenas para entrosar o elenco para as disputas mais importantes do ano. Se o Palmeiras vencer qualquer outro campeonato no ano, o troféu do campeonato paulista se torna secundário, quase dispensável. Alguém aqui entrou em dezembro de 2015 e 2016 lamentando a perda do Paulista? Amargaremos alguns resultados ruins em clássicos – o que não é pouco. Mas parece ser um sacrifício válido por um bem maior.

Para entrosar o time principal, o Palmeiras pode promover torneios amistosos com times de outros estados e/ou sul-americanos, nos moldes dos Torneos de Verano argentinos. Imaginem triangulares contra Olímpia e Atlético-PR, Bahia e Peñarol, Chapecoense e Colo-Colo, Independiente e Goiás, por exemplo. Deixa-se claro que o convite não se repetirá se machucarem nossos jogadores, vende-se as transmissões para a ESPN, Fox e Esporte Interativo e ainda é possível ganhar uns trocados, enquanto o time alternativo disputa a fase preliminar do estadual. Na fase final, caso o time se classifique, inscrevemos o time principal e vamos em busca do caneco.

A Federação Paulista não poderia fazer algo para proteger os atletas?

Esqueçam a FPF. Aquele prédio na Barra Funda deve ser a maior concentração de incompetentes por metro quadrado do planeta. Não são capazes de marcar um Derby para um domingo. Não conseguem formar árbitros que apitem as regras mais básicas, quanto mais que saibam coibir a violência que extrapola a virilidade natural do jogo.

A FPF faz um campeonato cujo regulamento permite que um time com ZERO PONTOS na fase preliminar se classifique para a fase seguinte e seja campeão. E não consegue valorizar esse campeonato sem impor uma regra que limite o número de atletas, impedindo que jogadores como Borja sejam inscritos a não ser por uma enorme infelicidade, como a que aconteceu. E ainda mantém uma entidade como o TJD, que suspendeu Alecsandro de forma preventiva por doping sem ter elementos suficientes para tal – o que se mostrou injusto posteriormente, com Alecsandro provando sua inocência.

E a FPF, mesmo com tudo isso, não é pior que nenhuma outra federação estadual. Vejam o que está fazendo a federação carioca, que não consegue nem marcar um Flamengo x Vasco, enquanto rouba seus clubes que têm prejuízo na bilheteria para disputar os jogos do Cariocão por causa das taxas absurdas. Vejam o que fez a federação paranaense, mandando a arbitragem cancelar um clássico com estádio cheio só para mostrar quem manda. Vejam se existe algum time do interior do Rio Grande do Sul, Minas, Goiás ou Pernambuco com alguma chance de se destacar no cenário nacional? Pra que servem essas federações?

Mas se os estaduais são tão ruins, por que eles ainda existem?

Por dois motivos: grana e poder. A RGT precisa de datas, precisa transmitir dois jogos por semana durante o ano todo com exceção do período de férias – é isso que ela vende em suas seis cotas de patrocínio. Quanto mais jogos no contrato, maior o valor dessas cotas. E os estaduais são parte fundamental para se atingir os números desejados.

A CBF tem sua diretoria eleita pelos clubes das duas divisões principais e pelas Federações Estaduais. Os presidentes dessas federações ganham mesadinhas da CBF para permanecerem contentes. E para justificar a existência dessas federações, é preciso haver campeonatos. Junte essa vontade política com o interesse financeiro da maior emissora de TV do país, e está explicado por que ainda temos essas aberrações esportivas.

Mas não é legal grandes jogando contra pequenos? Não são dos pequenos que aparecem os grandes nomes do futebol nacional?

Sim e não. Os clubes grandes não podem expor seus atletas a tantas partidas contra esses nanicos, mas isso não quer dizer que não possa haver um ou outro jogo. Na Inglaterra existe a FA Cup, um gigantesco mata-mata onde mais de 120 equipes de sete divisões disputam o troféu. Não que isto seja uma saída perfeita para ser aplicada no Brasil – nem sempre uma solução que funciona na Europa pode ser aplicada aqui – mas não deve ser impossível equacionar esse problema para que os times pequenos enfrentem esporadicamente os grandes, se mantenham em atividade durante todo o ano revelando talentos, sem que haja tantos jogos com tamanha disparidade técnica, algo que acaba promovendo vários encontros semelhantes com Zé Antônio x Moisés.

Pensem aí numa solução. Se virem.

E o encontro com o Moisés naquele jantar? Ainda vai rolar?

Calma. A ideia da organização do evento beneficente ainda é a de remarcar o evento, mas tudo vai depender do resultado da cirurgia. O jantar deveria ter acontecido na noite de segunda-feira no restaurante Quattrino, nos Jardins, mas obviamente não se realizou.

Ainda havia alguns lugares disponíveis – em caso de confirmação da remarcação, é uma chance gigantesca para não apenas ter contato com um grande jogador do Palmeiras, mas também de passar muito carinho e energia positiva para que sua recuperação aconteça da melhor forma possível. Fiquem atentos.

Um comentário em “A lesão de Moisés: perguntas e respostas

  1. Ótimo artigo, praticamente um periscazzo escrito. Uma pena que a esmagadora maioria tem preguiça de ler e raciocinar sobre time, campeonatos e diversos outros fatores que o time está englobado (somos mais de 16 milhões, seria lindo se 1/4 disso acessasse a página e pudesse ler artigos como esse para entenderem certos aspectos em vez de darem ibope para Renata Fan e Netos da vida).

    Ainda assim existem o que apreciam seu trabalho. Juntos vamos crescendo. Valeu Conrado!

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