João Paulo Sampaio explicou ainda alguns processos na formação dos jovens palmeirense
Após anos de investimento e restruturação nas categorias inferiores, o Palmeiras começou a colher os frutos de forma mais consistentes no começo do ano passado, quando os talentosos Patrick de Paula, Wesley, Gabriel Menino e Gabriel Veron se juntaram ao elenco profissional.
Multicampeão na base e referência em todo o Brasil, o sucesso do Verdão na base se deve muito ao trabalho realizado por João Paulo Sampaio. O coordenador chegou ao clube para substituir Erasmo Damiani, em 2015. Em entrevista ao canal Insper Sports Business, Sampaio explicou por que é tão importante um clube investir em seus jogadores vindo da base, principalmente na questão financeira.
“Quando você traz um jogador, utilizando o Palmeiras como exemplo, este atleta chega ganhando de 200 a 400 mil reais. Agora, o Palmeiras mudou a chave na base. Antes o clube não era referência e eu fui contratado para que esse passo fosse dado”, pontuou.
“Hoje, 40% do elenco do time, que é enxuto, tem 28 jogadores efetivos, é formado por garotos. Tem 12, 14 atletas que são da base, e quando você faz uma comparação do salário deles e o que eles jogaram no profissional, é muito pouco em relação a 12 atletas contratados de fora, que são destaques em outro time. Um exemplo é o Danilo, que jogou três jogos como titular no profissional ganhando 2,5 mil reais. Hoje, depois de ser campeão e titular, ele ganha 40, 50 mil reais, que é a média desses meninos. Se fosse trazer 12 atletas, no mínimo pagaria 300 mil cada”, prosseguiu Sampaio
“Desde o ano passado, com o aproveitamento maior dos garotos, o clube economizou 5 milhões de reais em folha salarial. Saíram Bruno Henrique, Dudu, Deyverson, entre outros, e os meninos foram tomando espaço. A folha já diminui bem com isso. Quando você contrata jogador, você paga um mês de hotel, passagens para um monte de gente, tem muitos custos evolvidos. Tem ainda 8% de custo do salário só para registrar na Federação. Então isso é o investimento da base dando retorno financeiro, depois é o técnico”, explicou.
“Além disso, tem o que não é quantificado. Por exemplo: na Copa de 2014, quando o Brasil tinha David Luiz e Hulk, que cresceram no Vitória [time que João coordenou antes do Palmeiras], vieram TVs de vários países falar comigo. Tudo isso traz visibilidade internacional”, acrescentou.
Questionado sobre uma possível venda de alguns dos garotos do Palmeiras para o exterior, João comentou que, mesmo o clube realizando essas economias, é inevitável vender.
“Os scouters dos times europeus nos perseguem, não tem jeito. Apesar de hoje ser referência, o Palmeiras ainda não se solidificou neste mercado, como um Grêmio por exemplo, que não vende um garoto por 8 ou 10 milhões, lá o sarrafo é mais alto. Mas acredito que a partir desta geração as vendas vão começar e isto é inevitável. Todos os clubes fecharam o ano passado no vermelho e este irá depender destas vendas”, apontou Sampaio.
O coordenador explicou ainda sobre a dinâmica da contratação de um jovem talento pelos clubes europeus: “Os scouters vêm aqui procurar atletas e querem o mais jovem possível; quando já tem 21, 22 anos, começa a ficar ruim até para uma revenda. Eles compram e também já pensam em revender, e com contratos de 5 anos, fazer essa venda com 27 anos tem que estar em um nível muito alto para recompensar o investimento financeiramente, não só na parte técnica”.
Processo de formação dos atletas no Palmeiras
Sampaio ainda explicou alguns processos que o clube utiliza na formação de seus jovens atletas e algumas estratégias para que o garoto suba o mais preparado possível ao profissional.
“Temos isto aqui como uma escola. Nós não formamos um jogador, mas também uma pessoa. Porém, futebolisticamente falando, a gente tenta formar um atleta como um todo. Quem disse que alguém já tem que ser lateral-esquerdo com 14 anos? Quando a gente entende isso, que precisamos formá-lo para o mundo, sabemos que temos que dar o máximo possível para esses atletas, tática e tecnicamente. A gente também sabe que nossa equipe tem troca de treinadores. Alguns gostam mais de transição; outros posicionais, posse de bola… então levamos tudo isso em consideração”, exemplificou.
“No Palmeiras, é obrigatório o atleta jogar em três, quatro posições, não só treinar. Danilo e Patrick por exemplo chegaram como meias, aquele camisa 10. Depois, o Patrick jogou semifinal de Brasileiro Sub-20 como zagueiro, já jogou de lateral-esquerdo. Gabriel Menino só não atuou no gol. Fazemos isso para que eles tenham mais riquezas em seus conteúdos e também para que o treinador, no profissional, explore. Então, isso está no nosso case da base. Quando um técnico novo chega, tudo é explicado”, concluiu.