Nova ordem do futebol tem vaga na fase de grupos da Libertadores como sarrafo

Chupa Gambá

Que campeonato estadual não é um parâmetro muito seguro para prever o desempenho final de um clube numa temporada, todos estão cansados de saber, embora boa parcela da torcida ainda se deixe levar pelas tentações de pedir cabeça de treinador e de exigir reformulação total no elenco em caso de uma eliminação precoce. Aliás, para isso, basta perder um jogo.

Se um treinador não é mantido ao fim da temporada, bem como a base do elenco, é porque um novo ciclo está começando e os resultados não tenderão a chegar de imediato. É claro que existem os casos em que a química se estabelece rapidamente, mas são as exceções que consagram a regra. Para esses clubes, os primeiros meses do ano são de testes e experiências.

Nosso calendário é apertado e prevê fogueiras chatas de serem puladas para os times que não conseguem garantir uma vaga direta na fase de grupos da Libertadores. As eliminatórias iniciais – chamadas por aqui de “pré-Libertadores” – já andaram fazendo suas vítimas nas últimas disputas. O ano de 2020 consagrou o primeiro bieliminado brasileiro nestas fases iniciais e o SCCP já virou freguês do Guaraní da capital paraguaia.

Pior ainda é a situação de quem não consegue vaga nem para essas chaves preliminares da Libertadores. Paralelamente aos estaduais, times de camisas tradicionais se veem obrigados a jogar ainda nas primeiras semanas do ano mata-matas pela Copa do Brasil e pela Sul-Americana, colocando em altíssimo risco os planejamentos esportivo e financeiro da temporada – e comprometendo até o ano seguinte em caso de fracasso precoce.

Vexames em profusão

Nem vamos mencionar o Cruzeiro, cuja torcida arrotou por anos a condição de “incaível” e hoje está afundado nos problemas causados por seus dirigentes corruptos, tornando-se um candidato fortíssimo a ser o primeiro clube grande a não subir para a Série A após uma queda.

O Inter suou, mas conseguiu vencer as fases preliminares e caiu no grupo do rival Grêmio, como quarta força da chave. Se tivesse se garantido direto na chave, pelo menos teria a chance de estar num grupo mais ameno.

O futebol carioca, com a óbvia exceção do Flamengo, vai dançando miudinho neste início de temporada. O Vasco vai avançando com apertos: empate com o Altos do Piauí na primeira fase da Copa e vitória magrinha em casa sobre o Oriente Petrolero, para garantir com um 0 a 0 a vaga na segunda fase. O Botafogo só tem a Copa do Brasil, já que não pegou nem Sul-Americana, e avançou nas duas primeiras fases com empates suados contra Caxias e Náutico – na segunda fase, passou nos pênaltis. O Fluminense já foi eliminado na Sul-Americana pelo inexpressivo La Calera do Chile e passou pelo Moto Club quando chegou a estar perdendo por 2 a 0. É muito sufoco.

E o grande vexame destas primeiras semanas de 2020 é o Atlético-MG, que conseguiu no espaço de uma semana ser eliminado das duas competições: tomou um sacode do pequeno Unión Santa Fé na ida e não conseguiu reverter na volta, para uma semana depois ser eliminado nos pênaltis pelo modestíssimo Afogados da Ingazeira na segunda fase da Copa do Brasil. Trabalhos em início colocados à prova muito cedo fracassam e comprometem demais o resto do ano.

Premiação aumenta o degrau

Flamengo 1x1 Palmeiras
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Enquanto esses clubes contabilizam os prejuízos esportivos e financeiros de ficarem de fora das fases agudas das copas, Palmeiras, Flamengo, Santos, Grêmio, SPFC e Athletico-PR se preocupam sem muita pressão em desenvolver seus times para os próximos meses. Um eventual fracasso nos estaduais não será nenhum desastre para esses clubes, já que este tempo tende a ser muito mais bem aproveitado para acertos no time. Sobretudo para os clubes que trocaram de treinador, casos de Palmeiras, Athletico e Santos, esse período sem tanta pressão vale ouro.

A premiação por estar nas fases mais adiantadas estão garantidas – pelo menos até um certo ponto, já que esses clubes, além da vaga direta na Libertadores, já entram direto nas oitavas da Copa do Brasil – se derem sorte, podem ainda pegar um confronto fraco e ter o caminho até as quartas bem facilitado. Sucesso financeiro e esportivo à vista.

O aumento súbito das premiações nos últimos anos cria um degrau financeiro entre os clubes. Quem está na parte de cima, tende a continuar; quem está na de baixo, tende a descer mais. É muito difícil imaginar como um time endividado, com orçamento apertado, consiga montar um time competitivo para ficar entre os oito primeiros e reverter a tendência para os anos seguintes sem as premiações gordas que deixam de alcançar. De todos, o que tem mais chance disso é o SCCP, porque ganha muito dinheiro das televisões.

Eis o sarrafo

Palmeiras 1x2 Grêmio
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O melhor caminho para se estabilizar na elite nesta nova ordem do futebol brasileiro, que não comporta mais doze clubes grandes mais as surpresas e ficará restrito a seis ou sete clubes se revezando nas conquistas, é conseguir a vaga direta na Libertadores todos os anos. E Palmeiras e Grêmio têm sido os clubes mais bem sucedidos nessa tarefa nos últimos cinco anos – são os únicos clubes que entraram direto na fase de grupos desde 2016. O Flamengo vem conseguindo alcançar esta meta nas últimas quatro temporadas.

O mata-mata do estadual é uma disputa traiçoeira, ainda mais com as arbitragens da FPF. Não podemos cair nas armadilhas de uma eventual eliminação. A imprensa tecerá suas artimanhas e parte da nossa torcida vai embarcar. Que seja uma parcela pequena, que o grosso da torcida palmeirense saiba avaliar a temporada olhando para o quadro completo e não focando num pequeno torneio de 20% da temporada e de prestígio duvidoso, que sobrevive apenas devido às grandes rivalidades construídas no passado.

Nosso foco precisa estar nas grandes conquistas, e para isso, o objetivo neste momento é desenvolver o time para chegar forte na briga pelos três troféus mais importantes da temporada. E assim como no ano passado, se tudo der errado, na pior das hipóteses é absolutamente necessário chegar na vaga direta da Libertadores. Falhar nesta meta é que significa o fracasso total da temporada. Não à toa, os times que não alcançaram este objetivo mínimo em 2019 parecem bem pouco cotados para conquistar o Brasileirão de 2020.

VAMOS PALMEIRAS!


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14 comentários em “Nova ordem do futebol tem vaga na fase de grupos da Libertadores como sarrafo

  1. Ótimo texto, leitura muito agradável.

    Acho que temos perfeitas condições de vencer o paulista , o gambá está indo muito mal nesse início de temporada sorte deles que nas quartas e semi é jogo único , então pode fazer um joguinho meia boca e vencer ou empatar, o bambi é praticamente o mesmo time do ano passado nada demais e o santos na minha opinião é o mais fraco, sobre as copas acho que dá pra chegar nas cabeças da libertadores, precisa ainda de algumas contratações, com um bom meia e um camisa 9 acho que dá pra ser campeão, e na copa do Brasil com ctz somos um dos favoritos assim como no Brasileiro

  2. O texto é legal, interessante e tudo mais, mas tem uma omissão muito importante: o Palmeiras ainda não escalou a vala geral do futebol brasileiro!

    Desde 2014, o técnico que começa o ano não termina! Somos igualmente vítimas do calendário, falta de profissionalismo e pressão de mídia e torcida organizada ou de rede social.

    Vejo pouca diferença entre trocar técnico durante Estadual ou esperar uma sequência periclitante de Brasileiro, Libertadores ou Copa do Brasil em julho ou agosto.

    O sarrafo subiu mais do que esperávamos, inclusive no resto do continente!

  3. Olha, infelizmente a parcela da torcida que dará xilique se não ganharmos o estadual não é minoria não. Ainda mais com os gambás sem perspectiva de ganhar algo grande, novamente a RGT e FPF vão fazer de tudo para eles ganharem o paulistinha na mão grande, para evitar o desinteresse da torcida e redução nas receitas da RGT do ano. Pode anotar, vai ter falcatrua de novo, e infelizmente vão tentar instalar a nuvem negra em cima da gente, é só isso que restou aos rivais.
    Parabens pelo texto.

  4. Excelente texto Conrado. A única ressalva que faço, do meu ponto de vista é claro, é que não se pode desvalorizar o campeonato paulista, explico: Sabemos que os estaduais perderam força, porém, eventual título do Palmeiras, ainda mais em cima dos rivais da capital, faria com que o time readquirisse a confiança perdida no ano passado e, consequentemente, tiraria um pouco o peso dos jogadores para o restante da temporada e dos demais campeonatos. Quem já jogou futebol sabe, confiança é fundamental. Abs.

  5. Caramba Conrado, rapaz, seus textos estão cada dia melhores, que que isso meu irmão! Cara, você matou a pau!

  6. Texto perfeito, só acho que no caso do Verdão o estadual poderia ser utilizado para aproximar a torcida do time, com ingressos mais acessíveis. Ter o Allianz lotado traria mais confiança, além de propiciar que os pais levassem os filhos para ver o time de coração sem gastar uma fortuna.

  7. Excelente texto. Realmente esses dias de sossego dão um fôlego a mais, até para aproveitar a base. Não vejo o time do Palmeiras pronto ainda. Ainda estamos na busca do meio de campo ideal e apesar da liberta começar em menos de um semana, uma derrota agora não será o fim do mundo. Tal qual aconteceu com todos esses exemplos citados. Com o nosso elenco e investimento devemos estar fortes sempre dentro da liberta, ano passado trocamos 2 vezes de técnico, apresentamos um futebol “medíocre” e ainda sim foi umas das melhores campanhas de pontos corridos da história. Apesar dos percalços que enfrentamos….. Avanti Palestra

  8. De fato, é fundamental estar sempre nas primeiras posições dos campeonatos. Isto garantirá boas receitas no ano subsequente.

    Estadual para técnicos sem história no clube, causam estragos irreversíveis.

    Para Scolari e Luxemburgo, por exemplo, causam apenas marolinhas…

  9. Como sempre digo, esse calendário brasileiro é uma piada, onde estadual derruba técnico em início de ciclo no clube, limita pré temporada, aumenta a pressão sobre técnicos que não encaixaram o time corretamente ainda, seja por troca de jogadores ou por troca de perfil, times grandes que já entram nas fases mais avançadas da copa do brasil, etc etc

  10. Saudade dos artigos do Conrado, sempre bem fundamentados. Bem colocado este novo patamar para times grandes. Aqui no Rio a própria torcida já se considera da segunda prateleira – Bota e Flu mais especificamente. O Vasco, pela torcida, ainda não, mas pelo andar da carruagem vai chegar lá também.

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