O “grande orçamento” do Palmeiras: cada centavo contou

Willian e David Braz
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras venceu o Santos nos pênaltis na noite de terça-feira, depois de ter sido derrotado no tempo normal por 2 a 1 numa noite muito ruim de quase todo o time. A classificação para as finais veio com muita emoção – muito mais do que gostaríamos.

O Palmeiras tem muito mais time que o Santos, apesar dos desfalques de Borja e Gustavo Scarpa. O Palmeiras vinha de uma sequência muito boa, com cinco vitórias sem sequer levar gols, ao passo que o Santos vinha numa maré oposta, com apenas uma vitória nos oito jogos anteriores. O Palmeiras tem um orçamento compatível com suas ambições, um dos maiores, senão o maior, do Brasil, muito superior ao do Santos.

Nada disso valeu quando os times entraram em campo. O gramado encharcado diminuiu logo de cara a diferença técnica entre os times. Mesmo assim, o Palmeiras dominava a partida e, mesmo após levar o primeiro gol, chegou ao empate e continuou dando as cartas. O Santos jogava por bolas esticadas a seus rápidos atacantes e torcia para algo extraordinário, contra todas as probabilidades, acontecer antes que o Palmeiras fizesse o segundo.

Mas nosso time não estava numa noite exatamente inspirada e o extraordinário aconteceu, exatamente como planejou o técnico santista Jair Ventura: explorando a velocidade de seus atacantes, o time conseguiu chegar em nossa área; mesmo com nossa defesa ocupando a área o Santos conseguiu o segundo gol numa jogada de pinball, em que a bola rebateu várias vezes e sempre ficou em boas condições para os atacantes alvinegros. Para o adversário, não poderia haver melhor momento para sair esse gol: no fim do primeiro tempo, para não dar tempo do Palmeiras reagir em seguida e permitindo ao treinador refazer o plano de jogo no vestiário.

Com 45 minutos pela frente, as diferenças técnicas foram para o espaço, dando lugar às emoções. Nossos jogadores não trabalharam bem a possibilidade real de eliminação, depois de abrir 500 pontos, ter o melhor ataque e defesa e 35 jogadores na seleção do campeonato. O controle da bola, o balanço do jogo, todas nossas maiores qualidades simplesmente desapareceram e o Palmeiras virou um time comum.

Isso é mata-mata. Os melhores times do mundo têm direito a uma jornada ruim e de perder pontos para times bem piores que o Santos nos pontos corridos. Mas numa fase eliminatória isso é fatal e o Palmeiras mostrou que ainda não tem confiança total em seu futebol para reverter uma situação em que tinha totais condições para tal. É a maior lição que nosso grupo, ainda em evolução, precisa tirar desse jogo.

O jogo terminou e a vaga ficou para os penais. Os dez minutos que separaram o jogo da disputa no gol do tobogã foram fundamentais para que nossos jogadores esfriassem a cabeça e virassem a página. Com a bola parada, a capacidade de foco voltou. Todo o treinamento de cobranças feito na véspera, sem a presença da imprensa, foi executado com perfeição.

Depois de vencer a Copa do Brasil em 2015, o Palmeiras tinha perdido as três disputas de que participou – para o Nacional, na Copa Antel, em janeiro de 2016; no Paulista de 2016 para o Santos; e na Libertadores de 2017, para o Barcelona. Desta vez, nossos jogadores, com cobranças perfeitas, não deram chances a Vanderlei, um dos melhores goleiros do país. Jailson, por sua vez, defendeu uma das quatro cobranças do Santos e garantiu nossa vantagem.

Olha o orçamento aí

Jailson
Djalma Vassão/Gazeta Press

A virada mental protagonizada pelo Palmeiras tem tudo a ver com o tal orçamento que nossos adversários usam como arma motivacional. Esse poder financeiro é o que faz com que o Palmeiras tenha uma estrutura física tão superior à da maioria dos clubes brasileiros. E essa estrutura é cercada pelos melhores profissionais. Tudo isso dá confiança aos jogadores. E confiança, numa disputa de pênaltis, é tudo.

Com a bola parada na cal, o jogador tem a possibilidade de realizar um movimento, um ato mecânico simples que só precisa de treino e foco para ser bem executado. O Palmeiras só precisou de um tempinho para respirar, focar e voltar a exercer sua superioridade.

O treinamento bem executado, a confiança, a excelência nas cobranças e a própria chance de disputar a vaga mesmo depois de uma derrota (pelo placar do primeiro jogo), tudo isso também é resultado do “grande orçamento” que temos. É também por causa dessa condição que não precisamos mandar um moleque de 19 anos bater pênalti.

Todas as vezes que alguém mencionar o poder econômico do Palmeiras, no fundo, está respeitando ou temendo esta capacidade de reação demonstrada ontem depois de um jogo muito ruim.

Em mata-mata, o que vale é a classificação

Comemoração
Djalma Vassão/Gazeta Press

O adversário eliminado se auto-elogia usando nosso orçamento na argumentação. A imprensa desdenha da classificação cobrando um avanço menos sofrido dado o poder econômico. Tudo besteira. Em mata-mata, o que vale é a classificação.

O grande orçamento tem muito mais peso no Brasileirão. E o Palmeiras é o maior favorito para o campeonato que começa daqui a 17 dias, que é o campeonato em que temos que colocar as maiores esperanças. Uma derrota destas, no Brasileirão, se dilui em meio a uma série de ótimas vitórias, como as que vínhamos tendo e não pesa tanto. Num mata-mata, como o de ontem, e como na Copa do Brasil e na Libertadores, pode ser fatal e nem sempre conseguiremos ainda a chance de avançar nos penais.

E por causa desse poder é que o Palmeiras, numa das piores noites do ano, mesmo assim saiu vencedor. Não podemos cair na pilha da imprensa e dos adversários: cada centavo contou.


Fran VituzzoEste post é dedicado ao meu amigo Fran Vituzzo, conselheiro do Palmeiras, dos bons, dos melhores, daqueles que todos deveriam ser iguais, que nos deixou na noite de ontem, após o jogo. Vai assistir do camarote do céu à próxima conquista do Verdão. VALEU FRAN!

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