O início do Paulistão de 1993 e a chegada de Edmundo ao Palmeiras

Por Thell de Castro

Depois de fechar o contrato de cogestão com a Parmalat e passar a nadar em dinheiro para grandes contratações, o Palmeiras montou um supertime em 1993 e iniciou o ano como favorito para as competições que disputaria. Mas ainda tinha que vencer a desconfiança da mídia, em virtude de que, nem sempre, o que é um esquadrão no papel vira um campeão em campo.

Após falar em Taffarel e Renato Gaúcho, entre outros, o Palmeiras contratou Edmundo, do Vasco, e nomes como Roberto Carlos, jovem relevação do União São João; Edilson, meia-atacante do Guarani; o zagueiro Antônio Carlos, do Albacete, da Espanha, entre outros.

A Folha de S. Paulo de 24 de janeiro de 1993 trouxe um guia sobre o Campeonato Paulista de 1993. Vou retratar aqui como time do Palmeiras foi visto para a competição e também alguns dias após a estreia. A primeira matéria é “Desafio às superpotências marca início do Paulistão”. No subtítulo: “SPFC mantém time campeão do mundo e Palmeiras investe US$ 5,2 mi; SCCP enfrenta o Bragantino no principal jogo do primeiro domingo”.

De cara, o Campeonato Paulista de 93 parece ser um segundo round da luta entre as duas superpotências do futebol brasileiro, o SPFC e o Palmeiras. O primeiro, vencedor do primeiro round, em 92, manteve a equipe campeã do mundo e sonha com um título inédito: o tricampeonato paulista. O segundo, vice em 92, quer a vingança e armou um megatime de US$ 7 milhões, US$ 5,2 mi só em 93.

Diante de SPFC e Palmeiras, com seus 14 jogadores de seleção e um punhado de promessas, os outros 28 times surgem como os índios de um faroeste. Só por SPFC e Palmeiras, esta edição tem tudo para ser a melhor em anos; mas há o ‘plus’ do desafio aos coadjuvantes. Se estes resolverem lutar pelo Oscar, será um evento seguramente antológico.

Na mesma edição especial, na página 2, um acontecimento histórico para nós. A nota, sem grande destaque, é “Edmundo quer um troféu”.

Repare que, naquela época, ninguém falava muito em SCCP e Santos. O primeiro estava em uma fase ruim depois do Brasileiro de 1990; o segundo, então, vivia uma draga desde os anos 1980. O grande adversário era o SPFC. Mas, como sabemos, a final daquele ano foi entre Palmeiras e SCCP. Melhor, impossível.

Em “Telê mantém time; Otacílio vai montar nova equipe”, o duelo tático de Palmeiras e SPFC.

Os técnicos dos grandes clubes da Capital travam, a partir de hoje, uma batalha tática. Telê Santana, do SPFC, Otacílio Gonçalves, do Palmeiras, e Nelsinho, do SCCP, enfrentam desafios diversos.

Otacílio Gonçalves segue por um terreno mais desconhecido. Com o time reforçado por seis contratações, o técnico terá a missão de montar a equipe com diversas estrelas que atuam na mesma função. Disposto a tirar Mazinho da lateral e escalá-lo no meio campo, Otacílio terá que acertar a função tática de Edílson, Zinho, Edmundo e César Sampaio. Devem ir para a reserva Jean Carlo e Daniel.

O desafio do técnico palmeirense é conseguir o entrosamento ideal para que Evair não fique sozinho na frente. As melhores alternativas são as descidas pelas pontas de Zinho e Edmundo.

Edmundo, Zinho e EvairNa página 5, uma matéria somente para os investimentos palmeirenses: “Parmalat investe para enfrentar SPFC”.

Entre os vários objetivos traçados pela Parmalat para este ano, um se destaca: a conquista do campeonato paulista pelo Palmeiras. Para atingir o objetivo, o time tem como principal rival o SPFC, campeão paulista, sul-americano e mundial interclubes.

A equipe investiu cerca de US$ 5,2 milhões nesta temporada em contratações. Somados aos US$ 1,8 milhão injetado no ano passado, a Parmalat gastou o que pretendia investir na contratação de Diego Maradona. Enquanto o título não é conquistado, a empresa apresentou um crescimento de 20% nas vendas, depois de assinar o acordo com o Palmeiras.

“O SPFC compete contra uma grande empresa”, analisou o presidente do clube, José Eduardo Mesquita Pimenta. No final do ano passado, antes de o Palmeiras perder o título para o SPFC, a Parmalat acertou a contratação do zagueiro Antônio Carlos, do Albacete espanhol, por US$ 1,5 milhão, e o lateral esquerdo Roberto Carlos, do União São João, por US$ 500 mil.

Enquanto o SPFC acertava a permanência de Raí por mais seis meses, a Parmalat investia em mais contratações. Depois de dois insucessos (Ricardo Rocha e Gerônimo), a empresa partiu para mais uma contratação de impacto: o meia Edmundo, do Vasco.

Com a demora do acerto, a Parmalat acertou outros três negócios. Contratou por empréstimo os pontas Marquinhos e Naná, do Andradina, por US$ 30 mil cada, e o meia Edílson, do Guarani, por US$ 1,3 milhão. Edmundo foi oficialmente contratado na sexta passada, por US$ 1,85 milhão. “Com ele, paramos durante um tempo de fazer negócios”, disse José Carlos Brunoro, diretor de esportes da empresa.

Edmundo é o sexto jogador da equipe que faz parte das convocações da seleção brasileira – os outros são Antônio Carlos, Roberto Carlos, César Sampaio, Evair e Zinho.

Na segunda, dia 25 de janeiro de 1993, além da derrota do SCCP na estreia para o Bragantino por 1 a 0, a Folha destacava na capa do caderno de esportes a contratação de Edmundo.

O meia Edmundo, 21, apresentou-se ao Palmeiras decidido a impressionar. O jogador despertou também a maior recepção entre os novos contratados: cerca de 100 pessoas esperaram por ele na tarde de sábado.

Inicialmente impressionado, Edmundo logo tentou desfazer dois conceitos que acompanham sua carreira: a fama de jogador temperamental e uma certa arrogância ao seu declarar sempre vencedor em todo time em que joga. Mas, à medida em que procurava derrubar a fama, Edmundo só conseguiu fortalecê-la, para alegria dos torcedores que o cercavam.

Destaque para a resposta para a pergunta “você acredita que o Palmeiras já consegue atingir o mesmo nível técnico do SPFC?”

– “É difícil ainda dizer isso. Na teoria, sim. Boa parte da seleção brasileira está agora no Palmeiras e no SPFC. Mas sei que vamos chegar na frente do São Paulo nesse ano. A equipe é excelente e já podemos nos preocupar com a comemoração na avenida Paulista”. Dito e feito!

Na quarta, dia 27 de janeiro, o Palmeiras estrearia contra o Marília, às 20h30, no Palestra Itália.

O time não decepcionou. Para 27.516 pagantes, com renda de Cr$ 1.506.465.000,00, e Edmundo Lima Filho como árbitro, o time saiu perdendo, mas buscou a virada ainda no primeiro tempo e venceu por 2 a 1 jogando com Veloso, João Luís (Maurílio), Antônio Carlos, Edinho Baiano e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho, Edmundo (Jean Carlo) e Zinho; Edílson e Evair. O Marília perdeu com Júlio César; Amauri, Miranda (que foi expulso aos quatro minutos do primeiro tempo), Cavalcanti e Ailton; Tozin, Edilson, Guilherme e Nei (Cássio); Catatau e Vladimir (Paulo César), técnico José Carlos Serrão. Catatau fez aos 2 minutos, enquanto Evair marcou aos 23 e César Sampaio fez o segundo aos 26.

Dessa forma, iniciamos nossa trajetória vitoriosa no Campeonato Paulista de 1993, que culminou no jogo de 12 de junho, quando vencemos o SCCP por 4 a 0 e fomos campeões após 16 anos sem conquistas.


Thell de Castro é palmeirense, jornalista e editor do site TV História

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