Papagaio e a velha discussão sobre segurar ou vender os talentos da base

Papagaio e DuduPouco mais de um ano depois de suas primeiras aparições para o grande público, o atacante da base Rafael Elias, o Papagaio, é o maior destaque do ótimo time sub-20 do Palmeiras. Capitão e referência técnica, está próximo de atingir a marca de 40 gols no ano.

Papagaio vem fazendo um ano de 2018 brilhante. Depois de surgir no final do ano passado no Campeonato Paulista e na Copa Ipiranga como reserva de Léo Passos, vindo do futsal, o garoto de 19 anos mostrou uma evolução impressionante e já pode ser considerado uma realidade vinda do nosso cada vez mais frutífero departamento de futebol de base.

Sua performance excepcional parece já despertar o interesse de clubes do exterior, conforme noticiado na grande mídia. Com contrato até o final de 2020, a multa rescisória é de € 30 milhões.

A possibilidade de se desfazer de mais um jovem talento, alguns meses após a venda de Fernando para o futebol ucraniano, reabre a discussão de como o Palmeiras deve aproveitar os frutos das categorias de base, as chamadas Crias da Academia.

Vários pesos para colocar na balança

Fernando e PapagaioO lugar comum entre torcida e imprensa é vaticinar: o clube não pode se desfazer tão cedo de suas maiores promessas; mesmo havendo a necessidade de fazer caixa, é importante que o garoto passe uma ou duas temporadas no time de cima antes de ser vendido para outros mercados. Mas a decisão de vender ou não um menino de 18, 19 ou 20 anos deve ser objeto de uma reflexão profunda, levando em conta mais variáveis.

A primeira delas é o conhecimento mais aprofundado do atleta, adquirido durante todo o período de formação. Essas vendas precoces são caracterizadas por jogadas de risco por parte de quem compra – com poucas aparições, o talento potencial é comprado rapidamente, antes que um concorrente o faça. E por vezes as qualidades vistas em poucos jogos, que seduzem eventuais interessados, escondem deficiências que só são detectadas nos treinos – podem ser técnicas ou disciplinares. Nesses casos, a opção pela venda se torna mais fácil.

Se o jogador for “de verdade”, um talento com uma carreira rica pela frente, e aparecer uma oferta tentadora, a pergunta a ser feita é: qual a chance desse garoto ser promovido, render esportivamente ao clube, e seguir recebendo ofertas iguais ou melhores que a atual?

No caso de uma oferta polpuda por Papagaio, mesmo que não sejam os € 30 milhões da multa, antes de decidir pela venda há que se pensar se não é o caso de mantê-lo no sub-20, onde ainda poderá jogar por mais uma temporada, ou de encaixá-lo no time principal imediatamente – em ambos os casos, ainda terá tempo de maturar e se valorizar mais ainda.

Arthur CabralCaso a opção seja por promovê-lo ao time de cima, a tendência é que faça poucos jogos, já que vai concorrer com Borja, Deyverson e Arthur Cabral. Isso pode escondê-lo e fazer com que as chances de um bom negócio se reduzam. Mesmo que Borja ou Deyverson acabem sendo negociados e fiquem sem reposição, a tendência é que Papagaio seja a terceira opção – a não ser que arrebente nos treinos e conquiste mais espaço. Quais as chances?

Por fim, existe a vontade do atleta, que costuma ser bastante influenciada por seu agente. Se o desejo for de partir para o exterior o quanto antes, a única forma de segurar é oferecendo um bom pacote que envolva aumento substancial de salário e perspectivas reais de jogar. Fernando mostrou muita vontade de sair e foi para o Shaktar. Ninguém pode afirmar com propriedade se teria sido melhor segurá-lo.

É fácil palpitar no microfone ou nas redes sociais, simplificando as coisas com frases de efeito, baseando-se em conceitos rasos e ignorando uma série de variáveis. Mas uma decisão de vender ou não um garoto da base diante de uma oferta generosa é bem mais complicado do que parece.

Se pagarem a multa, não há como recusar

DinheiroUma oferta de € 30 milhões (mais de R$ 132 milhões) por Papagaio, no atual estágio econômico do clube, não pode sequer suscitar dúvidas. Seria muito dinheiro por um menino que tem apenas 183 minutos em sete partidas como profissional, com um gol marcado.

Esse montante é quase 65% maior do que o valor pago pela Crefisa anualmente ao clube. Sozinha, esta negociação certamente supera, de longe, a receita projetada para o ano todo com venda de jogadores. É suficiente para quitar a dívida contraída com a patrocinadora pelas aquisições dos dois centroavantes do time principal, Borja e Deyverson, e mais Dudu, Bruno Henrique, Luan e Guerra.

No futuro, no entanto, esperamos que o Palmeiras possa exigir mais, muito mais, para liberar os talentos que, ao que parece, não vão parar de brotar tão cedo da Academia de Futebol II, em Guarulhos.

Em ação

Papagaio estará em campo novamente amanhã, a partir das 15h20, quando o Palmeiras enfrentará o Inter, pela semifinal da Copa Ipiranga Sub-20, com transmissão pelo SporTV. O Palmeiras chegou às semis com uma campanha irretocável: 5 vitórias em 5 jogos, com 20 gols marcados e 6 sofridos. A outra semi acontecerá em seguida: o SPFC enfrentará o Vasco.

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