Com o final do primeiro turno do Brasileirão, podemos ver muita gente na mídia “especializada” fazendo as mais variadas contas. Muito se comenta sobre o quanto gastaram os principais times do país, especialmente o Palmeiras e o SCCP, para então fazer uma comparação de seus resultados em campo.
A surpreendente campanha que o rival faz no Brasileirão impele os mais variados escribas, honestos e desonestos, clubistas e imparciais, a discorrer sobre as qualidades do time de Carille, decretando a competência da diretoria do rival e a incompetência de Alexandre Mattos.
Diante de tanta coisa que se lê por aí, faz-se necessário organizar alguns pontos.
O rival tem mesmo resultados melhores?
Não necessariamente, a despeito do título paulista e dos sete ou oito dedos já colocados na taça do Brasileirão. A esta altura, se você não for palmeirense ou for muito impaciente, já deixou de ler o texto, achando que lá vem mais uma besteira que esses blogueiros clubistas costumam escrever. Mas se você teve paciência para continuar, obrigado, e vamos em frente.
Três fatores explicam as diferenças entre os resultados entre os dois rivais, a despeito do elenco claramente superior do Palmeiras:
- “Liga” – com muita competência de sua comissão técnica, o SCCP montou um time consistente com um elenco tecnicamente um pouco acima da média, mas que conseguiram a tal da liga, o ingrediente mágico do futebol que fez até um Leicester da vida vencer uma Premier League. O Palmeiras parece estar chegando perto desse estágio, mas com muito atraso, resultado da já exaustivamente debatida sequência de duas trocas de treinador;
- Sorte – o mata-mata do Paulistão, que não influencia no calendário das outras competições, teve aqueles 30 minutos aleatórios que mudam o rumo de qualquer campeonato – quando o Palmeiras foi dominado pela Ponte em Campinas, levou três gols que deram ao time de Carille o adversário dos sonhos em qualquer final – o troféu do estadual deu ao SCCP confiança para seguir o trabalho com o time-base que, incrivelmente, tem poucas baixas físicas na campanha – o que também pode ser competência da comissão técnica além de sorte.
- Eliminações convenientes – ironicamente, o SCCP foi recompensado por dois fracassos, algo que, desta vez, não tem nada de competência: a não classificação para a Libertadores e a queda prematura na Copa do Brasil, o que os ajudou ainda mais a direcionar todas as forças no Brasileirão, um campeonato que premia a regularidade e perdoa apagões de meia hora. O Palmeiras perdeu preciosas semanas de entrosamento e sacrificou partidas com times mistos para lutar pela Copa do Brasil, da qual acabou eliminado por outros 30 minutos ruins; e pela Libertadores, pela qual ainda está na briga – e forte.
E é exatamente nesta luta que permanece viva que o Palmeiras ainda pode ter um resultado melhor na temporada que o rival. Diante das circunstâncias, o Palmeiras deu all in. Arriscou o Brasileiro pela América e provavelmente já está fora da luta pelo deca, mas se vencer a Libertadores, ao fim do ano o resultado terá sido melhor que o de qualquer clube brasileiro. O jogo ainda não acabou, ao contrário do que fazem as análises publicadas nos últimos dias. É absolutamente prematuro decretar em agosto que os resultados do rival são melhores. Quem faz isso usa de desonestidade intelectual para atender a interesses que podem variar do clubismo tosco ao fanatismo político.
E o planejamento?
Fábio Carille foi efetivado como técnico do SCCP após o clube colecionar recusas de técnicos medalhões. Jô voltou ao time que o projetou como o centroavante que sobrou no mercado, desacreditado, enquanto Guerrero, Pratto, Ricardo Oliveira, Fred, Ábila (??!?!) e claro, Borja, dividiam os palpites de quem seria o melhor centroavante do futebol brasileiro de 2017 dentre a mídia especializada. Rodriguinho era apenas mais uma opção de elenco para a meia, tão desacreditado quanto Guilherme, atrás de Marlone, Giovanni Augusto e Marquinhos Gabriel. Cássio aparentava estar em plena decadência, mas seguiu como titular.
O SCCP não optou por soluções incrivelmente funcionais e econômicas. Se pudesse, teria gasto tanto quanto Palmeiras, Flamengo e todos os times que investiram muito mais para 2017, exatamente porque estavam classificados para a Libertadores e já tinham garantidos premiações e direitos de transmissão da Conmebol. As eliminações convenientes forçaram nosso rival a gastar pouco. Com uma boa dose de sorte, e muita competência para fazer o time dar liga, está nadando de braçada no Brasileiro.
Mattos cometeu alguns erros no planejamento do elenco no início do ano – mas nunca se pode perder de vista que o clube foi obrigado a mudar de técnico duas vezes e o preço disto é ter um time com o desenvolvimento atrasado. Usou o orçamento incrivelmente superior para montar um elenco indiscutivelmente forte, que caminha para se tornar o time mais poderoso do país, mas que neste momento, diante da tabela de classificação do Brasileirão, parece ser um fracasso – e essa aparência pode se confirmar em caso de eliminação na Libertadores. Um risco que o Palmeiras se viu obrigado a correr.
O planejamento do futebol do Palmeiras para 2017, a montagem do elenco, o atraso no desenvolvimento, o all-in na Libertadores e todas as devidas ponderações serão objeto de um post específico a ser publicado ainda nesta terça-feira. Fiquem atentos.