Série sem sofrer gols já atinge 7 partidas, melhor marca do Palmeiras desde a chegada de Abel Ferreira
Em números, o sistema defensivo do Palmeiras vive seu melhor momento desde a chegada de Abel Ferreira ao clube. Com o empate em 0 a 0 frente o SCCP no último domingo, fora de casa, o Verdão completou sete jogos seguidos sem ser vazado.
A sequência de sete partidas de baliza a zero é a melhor do time sob o comando de Abel – o recorde anterior era de cinco jogos, alcançado em duas oportunidades (2021 e 2022), e iguala o feito alcançado pelo Palmeiras de Felipão, em maio de 2019.
“A defesa tem muito a ver com a nossa organização enquanto time, é a nossa base de tudo”, disse Abel após o empate no Derby. No Brasileirão, o Verdão tem a segunda melhor defesa, com 17 gols sofridos, atrás apenas do Botafogo, que foi vazado 13 vezes.
Olhando para a História do clube, esta é a 11ª vez que o Palmeiras chega a sete jogos sem ser vazado, sendo a terceira nos últimos cinco anos.
Relembre a atual sequência de jogos de baliza a zero do Palmeiras
Enquanto defensivamente o Palmeiras está em grande fase e consolidado, na parte ofensiva há dúvidas. Sem Dudu para o restante da temporada, Abel busca alternativas dentro do elenco. Contra o Deportivo Pereira, o comandante optou por uma escalação com dois atacantes lado a lado, Rony e Flaco, e três zagueiros de origem atrás. No Derby, Mayke foi escalado na ponta direita e Artur foi deslocado para o lado esquerdo.
Por conta da data Fifa, o Palmeiras só volta a jogar no próximo dia 15, contra o Goiás pelo Campeonato Brasileiro. Assim, a comissão técnica terá mais de uma semana para preparar a equipe. Além do time goiano, o Verdão enfrentará o Grêmio também pela competição nacional, antes do primeiro jogo da semifinal da Libertadores, diante do Boca Juniors.
O setor ofensivo do Palmeiras parece ter resolvido o
problema da pontaria. Depois de ter ficado atrás de Santos e Ituano no
estadual, o ataque palmeirense engatou uma boa sequência e neste momento é o
mais positivo tanto na Libertadores quanto no Brasileirão.
A entrada de Ricardo Goulart, em princípio, fez bem ao ataque
e o camisa 11 segue sendo um dos jogadores com mais participações em gols, seja
convertendo-os, seja dando assistências. O setor sofreu uma pequena, mas fatal,
oscilação nas semifinais do estadual; Goulart então saiu do time e Zé Rafael encaixou
muito bem – antes do jogo contra o CSA, com o time reserva, o Palmeiras havia
marcado 11 gols em três jogos.
Mas se a linha ofensiva com Dudu, Gustavo Scarpa e Zé Rafael
está dando conta do recado, o desempenho do comando do ataque em 2019, até
agora, tem inegavelmente deixado a desejar.
Borja e Deyverson estão com desempenho sofrível; Arthur Cabral teve poucas chances até agora e o Palmeiras deixa de fazer alguns gols – e de somar alguns pontos, como aconteceu em Maceió – pela falta de eficácia do jogador mais avançado do time. Essa deficiência pode custar campeonatos.
Borja e Deyverson
Miguel Borja, a contratação mais cara da História do
Palmeiras, até fez um ou outro bom jogo em 2019, mas sucumbiu à má fase. Os
gols estão cada vez mais raros. Erros em lances fáceis fizeram a pressão da
torcida aumentar. Sua personalidade retraída, a despeito de seu enorme coração,
tornou sua situação ainda pior.
O colombiano nunca teve o nome tão especulado para deixar o clube; vendê-lo abaixo do preço investido já não é um pensamento tão absurdo diante do aparentemente irreversível prejuízo técnico. Em doze jogos, o colombiano marcou apenas três gols e deu uma assistência, em 866 minutos em campo.
Com o chip eternamente solto, Deyverson foi suspenso após um lance deplorável no Derby do estadual, mas recebeu nova chance após o gancho diante da fase ruim de Borja. Taticamente, o camisa 16 se mostra mais útil que o colombiano, mas sua limitação técnica faz com que os ataques muitas vezes terminem quando a bola chega a seus pés.
Apesar de não ser mais tão perseguido pela torcida quanto Borja, os números de Deyverson na temporada são até piores que os do colombiano: foram 13 jogos, 1060 minutos em campo, com os mesmos três gols e uma assistência. Os detalhes dos números podem ser conferidos na página de estatísticas do Verdazzo.
Arthur Cabral e a
regra de Mattos
A aposta de longo prazo da diretoria para o comando de ataque
é Arthur Cabral. Contratado em agosto junto ao Ceará, então com 19 anos, o
atacante teve até agora apenas duas chances de mostrar jogo – e em uma delas
foi muito bem, marcando o gol de empate numa partida complicada em Novo
Horizonte, no mata-mata do estadual. Questões físicas, no entanto, seguem
atrapalhando o jogador.
Mesmo que seja logo liberado por completo, seu desempenho
segue sendo uma incógnita. Afinal, poucos meninos de 20 anos conseguiram
carregar o fardo de assumir a camisa 9 do Palmeiras sem sucumbir à pressão. Arthur
Cabral tem condições para isso: é forte, tem todos os fundamentos e um time
muito bom à sua volta.
Mas mesmo que consiga, ainda ficamos sujeitos a uma
temporada desgastante e seguiríamos reféns de uma eventual lesão do camisa 39,
retornando ao looping infinito de Deyverson/Borja. O Palmeiras precisa urgentemente
rever a posição de centroavante na janela do meio do ano.
E para achar um atleta que forme com Arthur Cabral uma dupla
de centroavantes para atender ao rodízio de Felipão, Mattos precisa quebrar uma
regra imposta por ele mesmo: a de investir somente em jogadores com grande
potencial de revenda, visando lucro financeiro em paralelo ao ganho técnico.
Os velhos cascudos
Os maiores centroavantes do Brasileirão, hoje, são veteraníssimos – e todos seguem marcando muitos gols. Ricardo Oliveira (38), Fred (35) e Guerrero (35) conhecem muito bem o futebol brasileiro e seguem dando ótimo retorno a seus clubes, deixando as torcidas bastante satisfeitas. Além deles, apenas o jovem Pedro (21), do Fluminense, vem tendo uma performance de destaque.
Talvez seja o momento do Palmeiras repensar a estratégia de
contratação de atletas, ao menos em determinadas posições. Nem todo reforço
precisa dar resultado financeiro positivo; o que importa, é o balanço final. Se
o clube decidir investir num jogador com idade avançada e com pouco ou nenhum
valor de revenda, mas ele responder marcando os gols que podem fazer a
diferença num jogo decisivo – sobretudo nos mata-matas que começam pra valer em
agosto – terá valido a pena.
Neste momento, poucos centroavantes têm esse perfil – goleadores,
vencedores, experientes e habituados ao futebol brasileiro. Abaixo, algumas
possibilidades:
Jonas
(34), depois de uma espetacular temporada no Benfica em 17/18, teve duas lesões
na temporada atual e vem figurando na reserva – mesmo assim, tem 13 gols em 31
jogos, muitos deles vindo do banco. Resta saber se ainda tem disposição de sair
da Europa para jogar no Brasil.
Lucas Pratto
(30) vem fazendo uma temporada discreta no River Plate: 5 gols em 19 jogos. Por
já ter atuado nesta Libertadores, é uma opção com pouco apelo neste momento.
Jonathan Calleri
(25) nem é tão experiente, tampouco faz uma temporada exuberante (8 gols em 33
jogos), mas tem o atenuante de estar num time fraco, o Alavés –
coincidentemente, o último time de Deyverson.
Gustavo
Bou (29) vive na ponte Racing/Tijuana. Desde que voltou ao clube mexicano,
no início do ano, fez 8 gols em 16 jogos, mesmo não sendo exatamente um
NOVE-NOVE. E não sabemos sequer se teria boa adaptação ao Brasil.
Dario
Benedetto (28), pela mesma razão de Lucas Pratto, não tem força para esta
janela. Seus números pelo Boca Juniors também não empolgam: 5 gols em 17
partidas. É outro que não sabemos como se adaptaria ao país.
Notem que nenhum dos atacantes aventados teria todos os
predicados para preencher a lacuna em nosso elenco na próxima janela. Mas provavelmente
há no mercado algum atleta que pode atender a nossas demandas – e é exatamente por
esse motivo que Alexandre Mattos é muito bem remunerado: para prospectar o
mercado e encontrar reforços que atendam ao que precisa o Palmeiras
E para isso, por vezes, pode ser melhor recorrer a um atleta
com baixo ou nenhum valor de revenda, mas que resolva uma necessidade premente,
a se manter preso a uma filosofia que envolve ganhos financeiros e que limita
os resultados.
Um centroavante realmente cascudo e matador talvez seja a diferença entre um time com meias talentosíssimos, protagonista de todos os campeonatos, e um time copeiro e campeão de tudo.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.