O Palmeiras conquistou o Campeonato Paulista em cima do SCCP no último sábado e fez a alegria de toda a torcida.
Não importa se jogou bem ou mal, não importa se mereceu ou não, o que importava era ganhar. E ganhamos. Deles.
Por isso, era necessário fechar uma espécie de pacto na torcida para apoiar incondicionalmente o grupo, mesmo com as claras demonstrações de baixo desempenho desde o primeiro jogo contra o rival no Itaquerão.
Com a conquista, no entanto, esse cenário agora muda um pouco. Agora é hora de cobrança por evolução. Para que isso seja feito de forma justa, é preciso tentar enxergar com clareza todo o cenário.
O cenário corriqueiro
Luxa recebeu um elenco em dezembro, ganhou seus reforços, fez suas dispensas e promoveu alguns ótimos meninos para o time de cima. Perdeu a maior referência técnica do time, Dudu, e ganhou em troca Rony, que parecia jogar muito mais do que vem mostrando com nossa camisa.
Gabriel Veron, em quem (justamente) se deposita muita esperança, se recupera de lesão. Bruno Henrique, Willian, Lucas Lima, Raphael Veiga e Gustavo Scarpa estão jogando, juntos, menos que 10% do que o Hyoran sozinho no Atlético.
E nada indica que se o Hyoran ainda estivesse aqui estaria muito melhor que os que ficaram. Ao contrário: imaginamos que qualquer um dos mencionados acima, em outros times, estariam voando.
Tudo isso faz parte das variáveis comuns do futebol: transferências, perda de ritmo, oscilações; dificuldades que qualquer treinador precisa superar.
Novo contexto
Existe, no entanto, um contexto com muitas nuances que não pode ser deixado de lado: a paralisação do futebol pela pandemia.
Um conceito de trabalho começou a ser desenvolvido em janeiro. Após 14 jogos, o time começava a mostrar sinais de que estava engrenando, sobretudo pelas duas vitórias na Libertadores, com atuações realmente convincentes. A memória curta da torcida, comumente com viés negativo, tende a sublimar as lembranças.
É verdade que entre essas partidas houve jogos muito fracos, como os empates com a Ferroviária e Inter de Limeira. Mas pareciam oscilações normais de início de trabalho.
De repente tudo parou e os jogadores ficam inacreditáveis quatro meses correndo por suas amplas salas e varandas para tentar manter o preparo físico. Reclamamos da forma que os jogadores voltam nas usuais férias de dezembro, que somam 30 dias. Imaginem quatro meses. Tudo o que foi feito taticamente entre janeiro e março foi perdido.
E isso está sendo visto em todo o futebol brasileiro. Não tem nenhum time jogando o fino. O favoritão está na lanterna. Tudo ainda é uma grande bagunça e a parte final dos estaduais foi apenas uma espécie de nova pré-temporada para todos.
O calendário é o mais cruel da história do esporte e não há tempo para que os treinadores façam treinos mais elaborados. São dois jogos por semana direto, sem aquela folguinha que deixa uma janela aberta para focar em soluções táticas. Todas as experiências são feitas durante os jogos.
Isto posto, é preciso deixar claro que, após sete partidas, o Palmeiras está muito longe de apresentar um bom futebol, e que há razões para isso.
Então, está tudo bem?
Podemos até tentar entender os motivos para que o desempenho esteja tão ruim. Mas isso não nos livra da apreensão de ver o time jogar um futebol tão desnorteado, vivendo de lampejos de talento individual.
O ritmo de desenvolver um conjunto de planos táticos para esta temporada é diferente da que os técnicos estavam habituados no calendário estável, o que faz deste Brasileirão uma grande loteria. As diferenças de elencos são niveladas por baixo.
A maioria dos times está com a defesa acertada, porque armar a defesa é sempre a primeira coisa a ser feita e é mais fácil. Precisamos então de jogadas coordenadas para quebrar linhas defensivas. E rápido. Tudo isso, lidando com as inevitáveis perdas por lesões.
Quem sair antes do caos, vai colher os frutos lá na frente. Quem der a sorte – ou tiver a perspicácia – de encaixar rápido um plano de jogo vencedor, vai somar pontos nas rodadas iniciais e esse acúmulo pode ser decisivo.
Então, não está tudo bem. Precisamos dessa resposta rápida de nossa comissão técnica.
Luxemburgo já se mostrou ao longo de sua trajetória ser um treinador extremamente inteligente. Mas terá ele a capacidade de vencer também neste atípico cenário de urgência?
Porque é neste contexto que ele deverá, justamente, ser cobrado.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.
Conheça mais clicando aqui: https://www.catarse.me/verdazzo.