Raphael Veiga, sobre os erros coletivos: “difícil falar se é falta de atenção”

Raphael Veiga comemora seu gol pelo Palmeiras contra o Red Bull Bragantino, durante partida válida pela vigésima quinta rodada do Brasileirão 2021, no Allianz Parque.
Cesar Greco

Artilheiro do Palmeiras na temporada, Raphael Veiga anotou seu 13º gol de pênalti pelo clube

No último sábado, o Palmeiras recebeu o Red Bull Bragantino no Allianz Parque, em jogo que marcou o reencontro da torcida com o time no estádio, e saiu derrotado por 4 a 2. Com isso, o Verdão chegou a seu quarto jogo sem vitória no Campeonato Brasileiro e viu a distância para o líder, Atlético-MG, aumentar.

Para o meia Raphael Veiga, que fez o segundo gol da equipe na partida, a má fase coletiva é difícil de explicar. Nos jogos anteriores, o técnico Abel Ferreira chegou a cobrar mais concentração dos atletas.

“É difícil falar se é falta de atenção ou não. São lances pontuais. Ninguém entra com vontade de falhar, mas realmente estamos cometendo erros que não podem acontecer, que estão terminando em gols dos adversários. E também, quando conseguimos chegar bem no ataque, temos que ser mais decisivos. Jogaremos uma final de Libertadores nas próximas semanas e não podemos deixar que algo externo nos influencie em campo. Temos que resolver”, disse o camisa 23.

“Sabemos que não estamos no máximo e não estamos mostrando em campo o que a gente já desempenhou. A gente sabe o tanto de bons jogos que já fizemos e nós somos cobrados para manter isso. A má fase não é nada intencional. Tem coisas que não estão acontecendo. Agora é trabalhar, não tem outro jeito de sair dessa situação”, completou.

Na busca pela reabilitação no Brasileirão, o Palmeiras terá pela frente o Bahia, nesta terça-feira, na Arena Fonte Nova. No retrospecto geral, as duas equipes já se enfrentaram 58 vezes e o Verdão tem ampla vantagem: 30 vitórias, 19 empates e 9 derrotas.

Raphael Veiga mantém artilharia e 100% de aproveitamento nos pênaltis

Raphael Veiga comemora seu gol pelo Palmeiras contra o Red Bull Bragantino, durante partida válida pela vigésima quinta rodada do Brasileirão 2021, no Allianz Parque.
Cesar Greco

Com o gol marcado no sábado, Raphael Veiga chegou ao 12º na temporada e segue na liderança isolada da artilharia; Rony e Willian, ambos com 10 bolas na rede, completam o top-3. A fase goleadora do meio-campista vem desde a temporada passada, quando anotou 18 gols e foi o vice-artilheiro do time, atrás apenas de Luiz Adriano com 20 tentos.

Com o contrato renovado recentemente até o final de 2024, Veiga manteve também o aproveitamento impecável nas cobranças de pênaltis. Seja no tempo regulamentar ou nas disputas eliminatórias, o camisa 23 nunca desperdiçou uma cobrança pelo Palmeiras. Foram 13 chutes e 13 gols.

Confira a lista com todos os pênaltis convertidos:

  • Palmeiras 1 x 0 Athletico-PR – Campeonato Brasileiro (2019)
  • Palmeiras 4 x 0 Godoy Cruz (ARG) – Copa Libertadores (2019)
  • Palmeiras 1 x 1 SCCP – Campeonato Paulista – (disputa – 2020)
  • Palmeiras 2 x 0 Fluminense – Campeonato Brasileiro (2020)
  • Ceará 2 x 2 Palmeiras – Copa do Brasil (2020)
  • Santos 2 x 2 Palmeiras – Campeonato Brasileiro (2020)
  • Palmeiras 3 x 0 Bahia – Campeonato Brasileiro (2020)
  • Palmeiras 2 x 2 Flamengo – Supercopa do Brasil (2021)
  • Palmeiras 2 x 2 Flamengo – Supercopa do Brasil (disputa -2021)
  • Palmeiras 1 x 2 Defensa Y Justicia (ARG) – Recopa Sul-Americana (2021)
  • Independiente Del Valle (ECU) 0 x 1 Palmeiras – Copa Libertadores (2021)
  • Universidad Católica (CHI) 0 x 1 Palmeiras – Copa Libertadores (2021)

É pênalti para o Palmeiras! Correu… Bateu… Errou!!!

JeanÉ pênalti para o Palmeiras! Correu… Bateu… Errou!!!

Esta tem sido a tendência nas últimas quatro cobranças do Verdão. Felipe Melo fez graça e chutou para fora contra o Novorizontino. Keno bateu mal e Magrão defendeu, contra o Sport. Bruno Henrique bateu forte, no travessão, contra o Bahia. E Jean recuou para João Ricardo, do América.

Antes dessas, Dudu acertou as duas que cobrou, contra Mirassol e Novorizontino, perfazendo dois acertos em seis batidas em 2018 – isso sem contar a decisão do Paulistão, na qual o Palmeiras também saiu derrotado.

Em 2017, o retrospecto também não foi bom: foram nove pênaltis, com cinco acertos e quatro erros, mais a eliminação da Libertadores para o Barcelona de Guayaquil. Tem coisa errada aí.

Lance livre

O pênalti é o lance menos futebolístico do futebol, um esporte em que a bola está sempre viva e a aleatoriedade dos acontecimentos prevalece. A bola está parada e a conclusão do lance é instantânea, basta um toque na bola. Assemelha-se muito ao lance livre do basquete.

Grandes arremessadores de lance livre têm seus pequenos rituais antes de arremessar a bola. Hortência batia a bola várias vezes e respirava fundo antes de mandar para dentro. Stephen Curry mastiga o protetor bucal enquanto se concentra. Do outro lado, se a torcida é contra, a arquibancada do ginásio faz de tudo para desconcentrar o rival, desde a trivial agitação de bastões até simulação de partos na arquibancadas – o vídeo abaixo é hilário.

De forma análoga no futebol, desconcentrar o batedor é uma excelente maneira de aumentar as chances de erro. Nem sempre existe a proximidade entre a arquibancada e o gol para que os torcedores façam suas performances e quem acaba exercendo esse papel é sempre o goleiro. Quem não se lembra de Fernando Prass apontando um canto nas decisões por pênaltis da Copa do Brasil? Ou do famoso “acabou, Petros”?

A primeira decisão por pênaltis que me recordo de assistir foi a decisão do Brasileirão de 1977, quando o goleiro Waldir Peres do SPFC infernizou a vida dos batedores do Galo, revertendo uma decisão em que os atletas de seu time haviam errado as duas primeiras cobranças – os jogadores do Atlético cobraram TRÊS pênaltis por cima do gol.

EvairPoucos gênios têm a capacidade e a frieza de esperar a decisão do goleiro e decidir no último instante em qual canto vai bater. E acabam manjados, fazendo com que muitos goleiros acabem esperando no meio e obrigando o batedor a improvisar o chute num dos cantos – a chance de defesa aumenta se o pênalti não for muito bem batido.

Por isso, se o batedor não for um abençoado como Evair ou o Ceifador, só existe uma maneira de bater pênaltis: ignorar completamente o goleiro e bater onde treinou exaustivamente. Não importa que o goleiro saiba onde vai a bola: se o pênalti for fora de sua área de alcance, pode telegrafar, mandar fax ou whatsapp, que o goleiro não pega.

Treino mecânico e mental

Treinar, treinar e treinar. Como os arremessadores do basquete, batida de pênalti é treino constante. O batedor deve ensaiar exaustivamente dois lugares para bater, e mandar sempre num deles á sua escolha. Nos cantos, de preferência alta – em qualquer área da zona indefensável da figura abaixo serve. Dosar a força da batida é importante para que o chute não saia por cima. E isso é T-R-E-I-N-O.

Pênalti

Bem treinado mecanicamente, o atleta terá mais confiança na hora de bater. E então só vai faltar executar a outra parte: o isolamento mental. Ao ajeitar a bola na cal, o jogador já deve decidir onde vai bater. Não deve olhar para a torcida, muito menos para o goleiro. Deve fechar os ouvidos, e se concentrar no que fez nos treinos. E ainda precisa esquecer todo o contexto, entrar numa bolha, e só focar em acertar o gol. O atacante precisa virar uma espécie de robô. Não é simples, mas bem treinado, qualquer atleta pode chegar a 90% de eficiência nos pênaltis, o que pode fazer com que seu time dificilmente seja batido numa decisão.

Ciência

Altamiro BottinoPara atingir esse nível de efetividade, é necessário que a comissão técnica entenda como cada jogador responde a essas situações de pressão e identifique o melhor método para que ele consiga entrar na tal bolha.

O Palmeiras demitiu em 2017 o coordenador científico Altamiro Bottino, que rapidamente foi contratado pelo SPFC, e não contratou ninguém em seu lugar. Uma de suas atribuições poderia ser introduzir no clube esse tipo de treinamento, identificando a melhor forma de trabalhar cada atleta para que se transformassem em máquinas de bater pênaltis e tornasse o Palmeiras imbatível nesse tipo de lance.

Apenas dinheiro não resolve nada. É preciso ser um clube de futebol. Enquanto a atual diretoria pensar que apenas contratar jogadores caros basta para o Palmeiras ganhar títulos, e que fazer pizzadas políticas no clube social é mais importante, continuaremos jogando títulos fora. Perdemos o Paulista, em casa. Já jogamos três pontos fora no Brasileiro e a classificação na Copa do Brasil já poderia estar bem encaminhada. Vão esperar sermos eliminados mais uma vez da Libertadores?


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