A torcida do Palmeiras parece o Neymar

PorcoO Palmeiras venceu ontem e segue na caça à liderança do Brasileirão. A vitória quebrou algumas escritas recentes. Apesar de ser um grande freguês do Palmeiras, o Galo vinha de uma sequência inédita de 13 jogos, sete anos sem derrota para o Verdão. E o golaço de falta de Bruno Henrique foi o primeiro em três séculos em jogos “oficiais” – para a imprensa, o gol no amistoso na Costa Rica não contava.

Após três empates decepcionantes – mesmo sendo dois fora de casa e um contra o líder do campeonato – o Verdão chegou ao terceiro gol no último lance do jogo contra o Atlético Mineiro e levou a torcida a um estado de êxtase.

Pelo menos é o que poderia ter acontecido.

Mas o clima na torcida na arquibancada, nas redes e nos grupos era de descompasso total. Não foi nada diferente do que se vê nas derrotas. O claro desequilíbrio do time em campo, que remete à real possibilidade de terminar a temporada sem título algum, causa chiliques inacreditáveis na torcida. Num dos grupos de mensagens alguém acertou a mosca: “a torcida do Palmeiras parece o Neymar”.

Semelhança total

NeymarProvavelmente a tirada saiu espontaneamente, referindo-se apenas à tendência de exagerar nas reações de ambos. Mas se ampliarmos a comparação, tudo encaixa.

A torcida do Palmeiras sempre foi especial, diferenciada, e muitas vezes decidiu jogos, como Neymar; está na primeira prateleira. Assim como o camisa 10 da CBF, a torcida do Palmeiras viu-se rapidamente diante do estrelato total: líder de bilheteria e arrecadação e um dos maiores planos de sócio-torcedor.

A casa também mudou: saiu a humilde e já surrada, mas cheia de decência, casa de dois quartos, para uma suntuosa, moderna, ampla e iluminada nova residência. Os ganhos financeiros do menino Ney também cresceram bastante – os do Palmeiras, nem tanto, mas para a torcida, inflamada pelos reportes venenosos da imprensa, acredita torcer para o time do Tio Patinhas – na verdade, é só um bom patrocínio de camisa (que está virando outra coisa, mas isto é assunto para outro dia).

A chegada ao topo completa o cenário. As conquistas da Copa do Brasil de 2015 e do Brasileiro de 2016 deram a falsa impressão aos palmeirenses de que todo ano seria ano de conquista. Neymar foi alçado ao posto de estrela máxima do esporte brasileiro, paparicado, desfila com namorada global e atingiu a aura de invencível.

Não é bem assim

Neymar e CavaniOfuscado por uma estrela muito maior no Barcelona, Neymar decidiu ir a Paris, onde outros ótimos jogadores supostamente trabalhariam para que ele brilhasse sozinho. Não contava com a personalidade de Cavani e com estouro de Mbappé. Neymar teve dificuldades em lidar com a concorrência, o que o levou a chiliques e a reações absurdamente exageradas durante os jogos na Rússia, virando piada em todo o mundo. Seu rosto quando leva uma pancada parece o de quem levou uma facada – assim como a torcida do Palmeiras, diante da possibilidade de não erguer um troféu ao final de uma temporada.

Neymar é um jogador extra-classe, absurdamente talentoso. Mas precisa entender que não é invencível, que no esporte existem as vitórias e as derrotas; do outro lado existem adversários que também se esforçam muito para chegar à vitória. Como na Copa do Mundo, onde existem sete ou oito seleções que podem brigar pelo título, no cenário brasileiro há muito mais concorrentes aos principais títulos. Nos campeonatos europeus apenas dois ou três clubes se revezam no alto do pódio, sempre com mais de 80 pontos, muitas vezes passando de 90. Um clube brasileiro dificilmente terá a mesma frequência de conquistas da Juventus, do Real Madrid, do Barcelona ou do Bayern. Nossa torcida precisa entender isso melhor e lidar com mais dignidade com uma ou duas temporadas sem conquistas.

Problemas evidentes

O Palmeiras atual tem problemas claríssimos em seu plano de jogo. O desempenho final fica abaixo do que a escalação sugere. Roger Machado está evoluindo de forma mais lenta do que gostaríamos e parece ter problemas de leitura nos jogos.

Mesmo assim, o time está a sete pontos do líder, com 24 rodadas pela frente e uma tabela favorável até o fim do turno. Nas duas copas, está bem posicionado nas chaves e ninguém diria que não é time para chegar pelo menos às semifinais – até lá, muitos acertos ainda podem ser feitos. Talvez não vençamos nada, mas temos chances bem interessantes. Nada justifica o ambiente tóxico visto ontem no Allianz Parque e nas redes sociais.

Objetivo maior

BeicinhoO objetivo maior do Palmeiras não deve ser simplesmente se posicionar entre sete ou oito clubes para tentar ganhar um campeonato por ano. O Palmeiras precisa buscar se destacar de vez no futebol brasileiro, se tornando um dos times a revezar com apenas mais um ou dois na supremacia doméstica e até continental. Para isso, antes de tudo, precisa consolidar sua identidade de jogo, tendo em seus quadros uma figura, um diretor de bola, que se torne a cara do futebol palmeirense e a quem o técnico – seja quem for – precisa se reportar. É nessa direção que a torcida tem que pressionar.

Um projeto de futebol bem sucedido não precisa necessariamente ter títulos logo nos primeiros anos. O Palmeiras recomeçou do zero em 2015 e os dois troféus levantados no Allianz Parque foram resultado de tiros bem dados, não de um planejamento a longo prazo. O crescimento sofreu rupturas graves com as constantes trocas de técnico, o que atrasou ainda mais o sucesso.

Roger Machado, assim como Eduardo Baptista, tem muito potencial teórico, e ainda tem a vantagem de ter sido um atleta vencedor. Quanto mais permanecer no comando do clube, mais chance terá de fazer uma leitura melhor do jogo e de tomar melhores decisões, no tempo certo – e mais importante: de criar a identidade do time.

Messi e Cristiano RonaldoTrazer outro treinador agora não é garantia de nada, é apenas desespero. Os títulos não virão se a torcida fizer carinha de Neymar e xingar muito nas redes sociais exigindo cabeças. E mesmo que troque-se o técnico e um título venha, em mais um golpe de sorte, a implantação de um projeto de identidade vai sofrer mais um atraso – e o ano que vem mais uma vez dependerá de tiros certeiros.

Nossa torcida precisa ser madura, como éramos há algumas décadas, mesmo em tempos de anos e anos sem títulos. Aprendemos a perder, depois aprendemos a ganhar. Ser Neymar deve ser bom. Mas ser Messi ou Cristiano Ronaldo deve ser muito melhor.


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Deslumbre e contatos: a Seleção Brasileira na Academia

Mauricio Galiotte e Tite
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

Em mais uma semana sem jogos pelo Brasileirão por causa das Eliminatórias da Copa do Mundo, o assunto nos grupos e fóruns de palmeirenses sempre acaba desviando um pouco – e há quem não veja nenhum problema nisso, mas há também que fique bem incomodado. A CBF conseguiu destruir o carinho de parte da população por sua seleção e a rejeição de parte do público é uma consequência natural.

Nesta passagem específica, entretanto, a presença da Seleção Brasileira como assunto principal entre os palmeirenses tornou-se inevitável: além da partida contra o Chile, que fecha as Eliminatórias para a Copa de 2018, estar marcada para o Allianz Parque, o grupo está usando as dependências da Academia de Futebol para os treinamentos.

Dupla de ataque

Gabriel Jesus e Neymar
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

Duas personalidades em especial chamam muito a atenção: Gabriel Jesus e Neymar. O jogador brasileiro em maior evidência no mundo, acompanhado de seu staff, conheceu a Academia de Futebol e deixou-se fotografar usando a camisa do Palmeiras visível por baixo do material da CBF. Já nosso menino de ouro, destaque na Premier League, não escondeu a emoção por voltar ao lugar “onde tudo começou”.

Gabriel Jesus é o passado e o futuro do Palmeiras. Um dos maiores símbolos das conquistas recentes, nosso camisa 33 é o jogador extra-classe com maior probabilidade de jogar pelo Verdão no futuro – mas por sua idade, isso só deve acontecer no final da próxima década. Até lá, ele deve trilhar uma carreira monstruosa na Europa e desenvolver por completo todo seu potencial. Certamente voltará melhor do que saiu.

NeymarJá Neymar vive seu auge físico e técnico. Badalado, com um trabalho de assessoria de imprensa que chega a ser irritante, vira notícia em tudo o que faz. Sua presença na Academia de Futebol, no entanto, despertou a curiosidade geral por sua relação com o Palmeiras, revelada em fotografia dos tempos da base, mas só recentemente levada a sério – se é que o trivial fato justifica tanta atenção.

Contatos

Mauricio Galiotte e Neymar
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

A presença da delegação da CBF na Academia de Futebol proporciona ao Palmeiras mais do que as embaraçosas, porém inevitáveis, cenas de tietagem e deslumbre. A excepcional estrutura física chama a atenção da imprensa que não está habituada a frequentar o local. Mais importante que isso é a boa impressão causada nos atletas.

O Palmeiras vem se destacando dos demais clubes brasileiros junto aos agentes de atletas por seu poderio financeiro e da consequente capacidade de pagamento. Mas para jogadores de nível internacional, nada melhor para sentir de perto um ambiente onde pode ser a futura casa quando a carreira no exterior se encerrar do que um ciclo de treinamentos como este.

A maioria dos atletas que atuam na Europa tende a jogar seus últimos anos de carreira sobrando tecnicamente em clubes brasileiros. Esta visita deixa claro para os convocados por Tite que, se aceitarem eventuais convites do Palmeiras, poderão jogar num local onde é possível manter o nível de trabalho e conforto que estão acostumados nos clubes europeus, além de firmar bons contratos e saber que vão receber em dia, com fortes possibilidades de continuar conquistando títulos.

Protagonista; o time de todos os anos

Mesmo num ano que tende a terminar sem conquistas, o Palmeiras segue sendo o clube onde dez entre dez atletas querem estar, desde as jovens promessas do futebol nacional, até os principais atletas que atuam no futebol europeu, visando o retorno ao Brasil. Este protagonismo, é sempre necessário mencionar, deve-se ao brilhante trabalho de reconstrução por que passou o clube nos últimos cinco anos.

Para que o clube mantenha esse nível de excelência e continue sendo o time de todos os anos, a comunidade palmeirense precisa se manter atenta e cobrar desta e das próximas diretorias para que mantenham o atual nível de excelência profissional, blindando o trabalho das nefastas e históricas influências políticas que sempre surgem como ameaça. VAMOS PALMEIRAS!


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