Declarações desastradas de Leila Pereira induzem diversos pequenos e fragmentados grupos de conselheiros a se unirem para articular uma oposição mais coesa
O voo de Leila Pereira que culminou em sua chegada à presidência do Palmeiras, no final de 2021, é mais um capítulo tumultuado da História do clube. Começou errado e, ao que parece, vai terminar errado.
Sua falta de palestrinidade sempre saltou aos olhos. Não foi o suficiente, entretanto, para impedir o êxito de sua escalada, na opinião dos que a apoiaram e elegeram. Por isso, podemos tristemente concluir que estamos colhendo o que plantamos – mesmo os que fomos contrários.
Leila Pereira não conhece nada da História do Palmeiras, não conhece nada de futebol, nem dentro, nem fora das quatro linhas, e conhece muito pouco de como lidar com pessoas. De seu escritório luxuoso no Jardim América, acostumou-se a impor suas vontades apoiada em seu poder financeiro, que lhe concede uma autoridade infinita. Ao assumir a cadeira mais importante de nossa Sociedade Esportiva, importou o estilo, que em nosso ambiente claramente está fadado ao fracasso.
O autoritarismo é uma face de uma moeda que tem do outro lado a bananice. Arnaldo Tirone, presidente do Palmeiras entre 2011 e 2012, não tinha a menor vocação para liderar; era pouco inteligente e não tinha nenhuma convicção. Tentou agradar a todos e não agradou a ninguém. Foi um dos piores presidentes de nossa História.
Leila Pereira vai no sentido oposto. Cheia de convicções, impõe ao melhor estilo “dona da bola” suas vontades; pergunta muito pouco e não dá ouvidos a ninguém. Ameaça e pune quem a contesta. Usa e abusa de seu poder econômico. E vem sendo uma das piores presidentes de nossa História.
Um clube do tamanho do Palmeiras precisa de uma liderança forte. E um dos maiores atributos de um líder é saber caminhar sobre a linha que separa a bananice do autoritarismo. Ponderar seus pensamentos, corrigir trajetórias, e ter firmeza para tomar decisões. Ouvir bastante, e saber quando dizer “sim” ou “não”.
Os últimos atos da presidente, ao que parece, eclodiram uma onda de insatisfação em sua própria base de apoio. Dezenas de conselheiros, além dos já conhecidos 26 que a vêm questionando regularmente, já admitem que optaram por um caminho errado e mostram disposição para corrigir essa escolha.
O poder econômico de Leila Pereira segue muito forte, mas suas palavras, pessimamente escolhidas, despertaram em muitos conselheiros o sentimento primal de palestrinidade que parecia adormecido. Figuras que praticaram por anos o pragmatismo e a dissimulação sentiram novamente pulsando dentro de si o sentimento que fez com que nossos ancestrais se entrincheirassem e expulsassem da rua Turiassu, há 81 anos, os invasores que tentaram se apossar de nosso território.
Assim, o jogo pode estar começando a virar. A partir de agora, até a eleição, daqui a cerca de um ano, a presidente precisará fazer muito mais que distribuir afagos aos conselheiros: se quiser se manter no cargo por mais três anos, vai precisar conter essa revolta, e para isso terá que se converter numa verdadeira líder.
Alguém aqui imagina Leila Pereira ouvindo, ponderando, sendo estratégica, tomando decisões e dando declarações como alguém com a mais legítima alma palestrina? Ela tem um ano para mostrar que pode mudar sua atitude em relação à centenária coletividade que a elegeu presidente e ser a líder que todos precisamos.
Por enquanto, esta antologia de frases de nossa atual presidente não aponta exatamente para essa direção.
- “Para continuar assim, eu largo o Palmeiras e vou para o Flamengo, que dá muito mais visibilidade” (nov/2015)
- “Vocês têm que ter em mente que demos para o Palmeiras seis jogadores. Eles não pertencem à Crefisa, pertencem ao Palmeiras. Compramos e demos para o Palmeiras. Não emprestamos dinheiro, nós doamos.” (fev/2017)
- “Eu pago cerca de R$ 100 milhões por ano ao Palmeiras, com patrocínio, auxílio no pagamento de salário de jogador e premiação. Levando em conta a grandeza do Palmeiras, um patrocínio comum seria de uns R$ 30 milhões. Eu pago R$ 70 milhões a mais. Então, se o Palmeiras tiver algum prejuízo com esses jogadores, isso já está pago por todo esse dinheiro que ponho lá acima do patrocínio. O lucro do Palmeiras já está mais do que garantido. Em três anos, eu coloquei cerca de meio bilhão de reais no Palmeiras. O Palmeiras já está no lucro. Se não fosse com o aporte da Crefisa, nós não teríamos o time que temos hoje. Se chegar lá na frente e der algum tipo de problema, o presidente vai sentar com a gente e eu não vou deixar o Palmeiras ter prejuízo com essa operação. É impossível, com esse dinheiro todo que já botei dentro do clube, o Palmeiras vislumbrar algum prejuízo. Isso é ridículo” (mai/2018)
- “Esta foi a homenagem que recebemos da Escola de Samba Mancha Verde! Nossos nomes estão gravados na parede da entidade e farei o possível para que também fique gravado no coração de cada componente da escola e de nossa torcida! Muito obrigada, Paulo Serdan e a todos da comunidade Mancha Verde!” (fev/2019)
- “Essas torcidas organizadas não construíram nada. Eles são caso de polícia. Essas pessoas são o grande câncer do futebol brasileiro” (out/2023)
- “No dia que eu sair do Palmeiras, se entrar outro presidente que não siga esse mesmo caminho, eu não tenho dúvida nenhuma que o Palmeiras vai voltar a ser o que era em 2014. O Palmeiras volta para a segunda divisão, gente.” (out/2023)
BÔNUS – MEMES
- “O gol é muito grande! Como é que pode perder pênalti? Não dá hein! (…) YES!!!” (abr/2021)
- “Estão mais calmos?” (ago/2023)
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