Em nova entrevista desastrada, Leila Pereira “equilibra” eleição

Patrocínio, Barros e torcida organizada: Leila Pereira concede entrevista na Academia de Futebol.
Alexandre Guariglia/Lance!

A pouco mais de um mês das eleições presidenciais no Palmeiras, a presidente do clube, Leila Pereira, candidata à reeleição, concedeu uma entrevista ao Estadão.

A seu estilo, a mandatária acionou sua metralhadora giratória e não poupou a oposição de críticas. Como sempre, exagerou ao atribuir todos os méritos da atual fase do clube a si própria, desprezando a grandeza do clube. Um erro recorrente.

“Se meu opositor ganhar as eleições tudo que construímos ele vai destruir. Ele já foi diretor de futebol durante quatro anos (entre 2007 e 2010) e conquistou um título, eu conquistei sete, é o autêntico 7 a 1”, disparou, fazendo uma comparação assimétrica que beira a discussão de bar.

Quem conhece mesmo a História do Palmeiras – e não estamos falando de épocas remotas – sabe que os primeiros seis anos deste século foram terríveis, com quatro anos de administração de Mustafá Contursi, mais dois de Affonso Della Monica. Neste período, que sucedeu a saída da Parmalat, o Palmeiras caiu para a Série B (em 2002) e colecionou campanhas decepcionantes. Em 2006, quase repetiu o vexame.

Foi quando Della Monica decidiu romper com Mustafá para disputar a reeleição, no começo de 2007, e trouxe o núcleo de Luiz Gonzaga Belluzzo para as diretorias de planejamento e de futebol. O diretor principal era Gilberto Cipullo, que já havia exercido a função com sucesso durante a cogestão com a Parmalat. Ainda muito jovem, Saverio Orlandi foi diretor adjunto no período mencionado e fez parte de um projeto de reconstrução do futebol do clube.

O Palmeiras reformou o elenco e confiou o comando ao técnico Caio Júnior, que havia liderado a ótima campanha do Paraná Clube no ano anterior – com ele, vieram vários jogadores do clube de Curitiba. Foi o embrião do time do ano seguinte, que já sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, voltaria a erguer um troféu – o mencionado Paulistão de 2008. Um projeto de sucesso.

Ainda em 2008, o Palmeiras disputou o título brasileiro até as rodadas finais, e repetiu a dose em 2009, já no mandato de Belluzzo. Uma convergência de infelicidades tirou o Verdão da rota do título naquele ano, o que levou o presidente Belluzzo a cometer vários erros em 2010, em tentativas precipitadas de conquistar títulos em seu mandato. Saverio teve responsabilidade reduzida nesses erros, e nenhuma nos que foram cometidos em profusão no mandato seguinte, de Arnaldo Tirone, o grande autor do segundo rebaixamento.

Leila prossegue: “Grande parte desses jogadores foram contratados em minha gestão, tive a humildade de continuar um trabalho bem feito pelo meu antecessor, o Maurício Galiotte. O Palmeiras, em 110 anos, nunca esteve tão bem. O mérito não é só meu, é um conjunto de trabalho de todos nós que demoram-se anos para construir, mas para destruir é em um ano. Volto a dizer: se meu opositor e a turma que está com ele conseguirem vencer as eleições, o Palmeiras volta ao que era quando ele foi diretor de futebol, não ganhou nada, só um Paulista, e preparou o Palmeiras para cair para a Série B em 2012. Nós não vamos deixar isso acontecer. Aliás, quem apoia esse candidato são os que derrubaram o Palmeiras em 2002 e 2012.”

Leila Pereira equilibrou a eleição

Obviamente uma candidata a um cargo eletivo, ao conversar com a imprensa, vai enaltecer seus feitos, nada mais natural. Mas Leila distorce os fatos, um pouco por desconhecimento, um tanto por egolatria.

Seus muitos méritos foram, sobretudo, por saber manter o que estava funcionando e eventualmente aperfeiçoar os processos implementados na gestão de Paulo Nobre, o grande artífice desta retomada alviverde, que soube usar o fator Allianz Parque muito bem – e o acordo para a construção de nosso estádio foi costurado, ora vejam, no segundo mandato de Della Monica, sob a diretoria de planejamento encabeçada por Belluzzo. Se tudo é “conjunto de trabalho de todos nós que demoram-se anos para construir”, o ponto de partida não é 2017.

Com um tom ameaçador, Leila afirmou que o Palmeiras ficará muito fraco se ela não for reeleita. Uma declaração deselegante, de desrespeito a seus opositores, no mínimo, e que dá brecha a insinuações de que o Palmeiras só tem força graças a ela. Algo que, mais uma vez, pega no brio dos palmeirenses de alma verde e que ela, ao que parece, jamais compreenderá.

Após um começo de mandato ruim, em que se preocupou muito mais em calar opositores dentro do clube, Leila Pereira acertou a mão; vem fazendo um trabalho bastante satisfatório à frente do Palmeiras e continua sendo favorita à reeleição, a despeito da fraqueza do clube nos bastidores e da facilidade que as arbitragens têm em nos prejudicar e de nos eliminar de competições importantes.

O que mais importa, que é o futebol, ainda assim segue forte e competitivo, conquistando títulos. Mas as manutenções de João Paulo Sampaio na base e de Abel Ferreira no comando técnico do time principal é que são indiscutivelmente os pilares deste protagonismo e nada indica que a oposição pretenda mexer nisto; as mudanças de rota propostas por Saverio residem, principalmente, na governança do clube, que de fato precisa ser discutida.

Ao fazer declarações carregadas de egocentrismo e que, por extensão, desmerecem a grandeza do clube que preside, Leila Pereira deu um tiro no pé e ajudou a diminuir a diferença que existe entre ela e Saverio na preferência dos associados que comparecerão às urnas no próximo dia 24 de novembro. A ver.

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