Reeleito, Mauricio Galiotte tem novos desafios nos próximos três anos

Maurício Galiotte e Genaro MarinoNo último sábado, os associados do Palmeiras decidiram em Assembleia Geral que Mauricio Galiotte continuará sendo presidente do Palmeiras, pela primeira vez num triênio – de 2019 a 2021.

O atual presidente foi reeleito com 1843 votos, contra 1176 de Genaro Marino, candidato da oposição e vice-presidente na atual gestão. Presidente e vice romperam logo nos primeiros dias da gestão, após o fim do segundo mandato de Paulo Nobre.

Contexto da disputa

Lamacchia, Mustafá e Leila PereiraO racha na atual gestão deu-se logo na primeira semana de trabalho. A questionável manobra arquitetada por Mustafá Contursi para tornar Leila Pereira, dona da Crefisa e patrocinadora do clube, elegível ao Conselho Deliberativo, desagradou a Paulo Nobre, que rompeu definitivamente com o casal Lamacchia. Galiotte teve então que optar: ou mantinha em torno de si o grupo com quem trabalhou por quatro anos, ou se apoiava numa base política tradicional, comandada por Mustafá, somada ao apoio financeiro da Crefisa, que por sua vez condicionava o vultoso patrocínio ao afastamento das pessoas ligadas a Nobre.

Galiotte optou pela dupla Mustafá/Leila. Três vice-presidentes foram imediatamente isolados de todos os passos da gestão, inclusive fisicamente, realocados em salas distantes da presidência. Tais atitudes geraram um enorme desapontamento dos ex-companheiros de trabalho, que imediatamente se tornaram oposição ao presidente, que mesmo assim se sentia satisfeito com a base política e financeira que havia construído, a despeito das consequências de cunho político e pessoal.

Mustafá e Leila rompem

Leila Pereira em campanha
Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Leila Pereira se tornou uma espécie de celebridade, bastante ativa nas redes sociais e aclamada no clube social e nos entornos dos estádios. As novas contratações do elenco eram sempre associadas ao aporte financeiro da Crefisa, transformando-a numa popstar palmeirense.

Enquanto isso, Mustafá Contursi seguia em sua rotina política, fazendo agrados à sua base, apoiado na distribuição de ingressos que conseguia de uma cota fornecida por Leila. Até que uma denúncia de desvio dessas cotas para cambistas foi a deixa para que Leila rompesse com Mustafá – algo que, aparentemente, sempre esteve em seus planos e ela só esperava o motivo.

Livre de Mustafá, Leila Pereira passou a ser a única influência sobre Mauricio Galiotte, o que foi muito importante quando a Receita Federal autuou a Crefisa por irregularidades na declaração no que dizia respeito ao repasse de verbas para a aquisição de jogadores. Foi necessário fazer um ajuste por questões fiscais e o Palmeiras acabou se tornando devedor de R$ 120 milhões da noite para o dia, com a anuência do presidente.

O COF, comandado por Mustafá, reprovou as contas da gestão – coberto de razões técnicas para tal. O que não significa, caso fossem aliados políticos, que fossem feitas vistas grossas. Foi o preço pago pela dupla Galiotte/Leila por romper com o velho cacique.

Caminho livre

Pizza!A escalada política de Leila Pereira prosseguiu com a alteração estatutária que ampliou o mandato do presidente para três anos. O tema era um justo anseio dos palmeirenses durante décadas, já que o mandato de apenas dois anos tornava o ambiente no clube excessivamente carregado de tensões políticas.

Ocorre que a mudança só foi colocada em pauta porque beneficiava exatamente a Leila Pereira, que por isso terá condições de concorrer à presidência ao final de 2021. Se o mandato permanecesse em dois anos, ela teria que esperar até 2022.

Para que a alteração, casuísta, fosse aprovada, Leila não mediu esforços. Rodízios e mais rodízios de pizza foram promovidos no clube social; presentinhos baratos como bolas de plástico para crianças e selfies e beijinhos distribuídos sem parcimônia, tudo para que os associados fossem favoráveis à mudança, usando a “modernidade” como retórica.

Leila PereiraEnquanto escalava rapidamente a política palmeirense, Leila via a importância da Crefisa nas contas do clube crescerem cada vez mais, com a queda ininterrupta do número de associados do Avanti, num processo de “unimedização” de um modelo de receita que antes era tremendamente equilibrado.

Foi sob o comando de Galiotte e Leila que o Palmeiras, apesar do elenco fortíssimo, patinou em sete campeonatos no biênio 2017/2018, conseguindo conquistar o brasileiro graças à mudança desesperada de comando técnico em julho, num golpe que acabou se mostrando certeiro.

Os desafios da próxima gestão

Mauricio GaliotteNo curto prazo, o futebol do Palmeiras seguirá forte. Seguiremos surfando na onda atual, já que temos um elenco fortíssimo que precisa apenas de ajustes pontuais para seguir protagonizando o futebol nacional. Alguns contratos importantes precisam ser renovados – sobretudo o de Dudu. Caso não obtenha sucesso, Galiotte terá recursos para uma reposição à altura – até porque, haverá a receita da saída do camisa 7.

O Avanti vive uma crise gravíssima. O programa que deveria ser a principal base de sustentação da economia palmeirense está deteriorando. Produtos pouco atraentes e falhas constantes no sistema de venda de ingressos impelem o palmeirense a desistir de fazer parte do quadro de associados, recorrendo cada vez mais às cadeiras da WTorre como alternativa para ter garantia de acesso aos jogos.

O enfraquecimento do Avanti traz na esteira a enorme deficiência do processo de precificação dos ingressos. Os constantes clarões vistos no estádio evidenciam o problema; as faixas de preço parecem definidas “no chute” e não obedecem a um modelo técnico.

Enquanto isso, o time desfruta da proteção restabelecida na Academia de Futebol após a chegada de Felipão – a blindagem fazia muita falta nos tempos de Eduardo Baptista, de Cuca em sua segunda passagem e de Roger Machado, que tinham que conviver com um entra-e-sai incessante de pessoas sem nenhuma relação com o dia-a-dia do futebol, fruto de concessões políticas a conselheiros e patrocinadores. Essa proteção deve permanecer com ou sem Felipão, a diretoria precisa respaldar a condição da Academia como “lugar sagrado”.

ArbitragemAo mesmo tempo em que protege o elenco de influências externas, a diretoria precisa, de uma vez por todas, estancar os danos causados pelas arbitragens. Este ano, o Palmeiras teve forças suficientes para vencer o Brasileirão, nos pontos corridos, apesar das sucessivas interferências dos árbitros. Mas por absoluta inoperância nos bastidores, acabamos alijados das disputas do Paulista e da Copa do Brasil, decididos em mata-matas – sem mencionar o próprio Brasileirão do ano passado.

Por fim, Galiotte precisa colocar o Palmeiras acima dos interesses políticos e/ou pessoais de qualquer personagem, inclusive os de Leila Pereira. Se houver a possibilidade de um contrato de patrocínio maior que o da Crefisa, ela deve ser tratada com a devida atenção, nem que isso signifique um realinhamento da relação com Leila. O Palmeiras deve vir sempre em primeiro lugar.

Boa sorte

Que o presidente reeleito Mauricio Galiotte tenha boa sorte neste triênio à frente do clube. Que o Palmeiras siga trilhando o caminho das conquistas, protagonizando o futebol brasileiro. Que nosso clube siga subindo o sarrafo e puxando a fila, sem regredir. Que o modelo de receita seja reequilibrado, que as arbitragens voltem a nos respeitar. E que a Política volte a ser praticada de forma altiva, com “P” maiúsculo, com “P” de Palmeiras.

Mesmo apoiando o grupo derrotado na eleição, o Verdazzo seguirá torcendo sempre pelo sucesso do Palmeiras, seja quem for o mandatário, mantendo a lealdade como padrão. Mas sempre atento e vigilante.


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Rompimento entre Crefisa e Mustafá Contursi redesenha o panorama político do Palmeiras

Lamacchia, Mustafá e Leila PereiraLeila Pereira, presidente da Crefisa, patrocinadora e conselheira do Palmeiras, declarou em entrevista publicada hoje na Folha de S.Paulo algo que já circulava à boca pequena pelas alamedas: rompeu relações com Mustafá Contursi após o episódio de revenda de ingressos que veio à tona há algumas semanas.

A empresária, segundo o acordo de patrocínio, tem direito a uma cota de ingressos a cada jogo do Palmeiras no Allianz Parque, e repassava 70 deles a Mustafá como cortesia, num gesto político para que ele distribuísse entre sua base política. Mustafá foi o responsável pela manobra que deu a Leila a condição estatutária para poder concorrer ao cargo de conselheira.

Segundo acusações de uma intermediária, no entanto, os ingressos dados a Mustafá eram revendidos, caracterizando cambismo numa operação que pode ter movimentado mais de R$ 500 mil numa temporada – a revelação teria desapontado demais a conselheira, que assim decidiu por se afastar de seu criador político.

O movimento redesenha o cenário político do clube. Mustafá tinha em Leila um grande ponto de apoio para revitalizar suas bases políticas, cada vez mais carcomidas pelos minutos de silêncio. Foi por causa do apoio de Leila que o velho cacique conseguiu atrair novos apoiadores – entre eles um grupo que historicamente sempre foi seu inimigo: desde o ano passado, a UVB passou a rezar pela cartilha do homem que amaldiçoou por mais de uma década. Com esta reviravolta, o grupo tende a acompanhar o poder financeiro de Leila Pereira e abandonar Mustafá.

Mauricio Galliote e Leila PereiraMaurício Galiotte, que estava isolado politicamente, ganhou uma sobrevida importante com o episódio. Os dois passaram a disputar um cabo-de-guerra para ter Leila como aliada após Mustafá romper com o atual presidente por não atender a suas pressões para demitir Alexandre Mattos – com todas as vantagens para Mustafá.

O episódio dos ingressos, no entanto, virou o jogo. Maurício, até outro dia cercado apenas por alguns poucos e leais conselheiros, volta a ter força política, já que a Crefisa trará consigo uma série de bajuladores que finalmente veem alguém por quem vale a pena abandonar Mustafá.

Leila Pereira vai conseguindo se embrenhar na política do clube apoiada por seu poderio financeiro. Na mesma entrevista, deixou claríssimas suas intenções de concorrer à presidência do clube na eleição de novembro de 2022 – isso se os vários episódios desgastantes que ainda estão por vir não a demoverem dessa ambição. A cada imbróglio Leila tem condições de provar um pouco mais do que existe de pior na natureza humana. A política do Palmeiras não é para iniciantes.

Rascunho da eleição do ano que vem

Paulo Nobre e Mauricio GaliotteEm novembro de 2018 teremos novas eleições para a presidência do clube e Maurício Galiotte, com o suporte da Crefisa, voltou a ser um nome forte para concorrer à reeleição. Mustafá Contursi, acuado, volta a conviver com o mesmo problema que já o incomoda há alguns anos: seu grupo de apoiadores é formado apenas por puxa-sacos, cada vez mais ultrapassados e incapazes de gerir sequer uma banca de jornal – foi isso que o fez apelar para Arnaldo Tirone em 2011. E foi isso que o fez topar uma aliança com Paulo Nobre em 2013.

Maurício Galiotte tem o apoio de Leila Pereira, que nutre ódio mortal por Paulo Nobre, o que é recíproco. Os resultados esportivos de 2018 terão um peso importante. Se o Palmeiras voltar a conquistar troféus, a reeleição é quase certa e talvez Nobre nem saia de seu bunker político e continue a correr rally pelo mundo. Em caso de mais turbulência, a disputa pode ocorrer, e deve ser acirrada.

Tudo o que esperamos é que essas pessoas pratiquem Política, com “P” maiúsculo, de Palmeiras. Podem continuar se odiando, ou podem se reconciliar, isso realmente não importa – desde que a disputa seja leal, o profissionalismo continue prevalecendo e o time siga com o protagonismo que já exerce há três temporadas. Com Maurício, Leila, ou Paulo, seja quem estiver à frente do clube.


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Sem transparência, reforma estatutária será votada no dia 31

Maurício Galiotte
César Greco / Ag.Palmeiras

O Conselho Deliberativo do Palmeiras vai votar, no próximo dia 31, propostas para mais uma reforma estatutária no clube. O edital de convocação foi publicado no último domingo e pegou de surpresa boa parte dos conselheiros progressistas do clube.

Os itens da nova proposta foram reescritos em meio a um histórico conturbado. Em 2013, Paulo Nobre formou uma comissão com 30 conselheiros, contemplando todas as alas políticas do clube.

Através de um processo cuidadoso, o novo estatuto seria refeito por completo e a meta inicial era que fosse enviado para votação até agosto de 2014, por ocasião do centenário do clube. O texto final demorou demais para sair, diante da complexidade do projeto, mas enfim passou pela consultoria de um renomado escritório de advocacia. Por “defeitos técnicos” o texto final foi misteriosamente rejeitado e a comissão, dissolvida. O trabalho foi totalmente descartado; tempo e dinheiro foram jogados no lixo. A demora no processo e a incapacidade em concluí-lo pode ser considerada o maior fracasso da gestão Paulo Nobre.

Vitalícios: uma praga eterna

Mustafá Contursi
Keiny Andrade/Folhapress

Uma segunda comissão foi formada em meados deste ano com apenas oito conselheiros, em sua maioria leais a Mustafá Contursi. O novo texto, entre várias mudanças, suprimiu um item fundamental da proposta anterior: a redução do número de conselheiros vitalícios, dos 148 atuais para “apenas” 100.

A figura do conselheiro vitalício é uma instituição que visa manter no Conselho personalidades importantes no clube, com conhecimento profundo da História e valores palmeirenses; pessoas que devem ser consultadas sempre que assuntos sensíveis venham à tona. Qualquer clube necessita ter essas referências. Mas em qualquer análise, 148 cadeiras vitalícias é claramente um exagero que torna o Conselho um órgão enviesado.

A proposta anterior, que reduzia o número de vitalícios para 100, ainda não chegava a um número razoável, mas é o que fazia com que a proposta fosse considerada politicamente viável. Só que a eleição de vitalícios, que substituem os que vêm a falecer, é um dos maiores instrumentos políticos de Mustafá Contursi, que melhor consegue manter sua enorme influência no Conselho e consolidar seu poder quanto maior for esse número.

Transparência zero

A proposta anterior, que foi inutilizada, na prática diminuía a influência de Mustafá no clube, limitando o poder do COF, onde ele reina soberano, e reesquematizando a estrutura organizacional, tornando-a muito mais enxuta com a redução do número de diretorias. O número de diretores é outra moeda de troca importante no jogo de poder de Mustafá, e enxugar a estrutura seria um golpe duro em seu modus operandi.

A nova proposta é considerada um golpe pela ala progressista do clube. O processo anterior foi lento e cauteloso para que as novas propostas fossem exaustivamente debatidas entre os conselheiros, que se reuniam com a comissão do estatuto em grupos de 50 para debater todos os pontos – as chamadas “reuniões setoriais”.

A nova proposta foi redigida a toque de caixa, sem que nenhuma setorial fosse feita, o que caracteriza o que popularmente se chama de “empurrar goela abaixo”. O processo, ao contrário do anterior, foi conduzido a portas fechadas, sem nenhuma transparência.

Emendas, para tentar reverter a situação

Um grupo de conselheiros, descontentes com a situação, deve apresentar uma proposta de emendas, na inglória tarefa de tentar reverter a manobra.

Para que aconteça uma alteração no estatuto, um novo texto deve ser aprovado ou reprovado por inteiro, os conselheiros votam “sim” ou “não”. A estratégia que resta é tentar mudar o texto que será votado, e para isso uma comissão paralela deve se reunir em regime de urgência para tentar reescrever a proposta.

As emendas então serão avaliadas; os itens que entram em conflito com a proposta atual serão votados sob o comando do presidente da casa, Seraphim Del Grande, o que deve fazer da sessão do dia 31 uma das mais tumultuadas dos últimos tempos. Del Grande, que em outros tempos foi um feroz opositor de Mustafá, hoje lhe é absolutamente leal e deve conduzir a sessão de forma a garantir os desejos de seu comandante.

Grande derrotado: Maurício Galiotte

Parte da base de apoio a Maurício Galiotte está nessa ala progressista que não concorda com a manobra de Mustafá e deve acontecer uma pressão para que o presidente se mantenha firme em favor das mudanças propostas originalmente, que devem voltar nas propostas de emendas. Se atender aos insatisfeitos, pode perder o apoio de Mustafá, pelo qual comprou tantas brigas em nome da governabilidade. Se pender para o lado de Mustafá, pode assistir parte de seus apoiadores migrarem de vez para uma  coalizão política que já desponta como nova oposição, e que tende a apoiar a volta de Paulo Nobre.

Além do Palmeiras, o grande derrotado desse novo episódio político do Palmeiras é Maurício Galiotte, que ficou vendido em mais uma manobra daquele que faz do Palmeiras seu grande playground político.

O pensamento vivo de Mustafá

Mustafá Contursi
Keiny Andrade/Folhapress

Mustafá Contursi concedeu uma longa entrevista publicada ontem na Folha de S.Paulo. Nela, com a mesma habilidade com que manipulou o Conselho e reescreveu o estatuto do clube, o que lhe confere poder eterno no clube, nega tal influência. Crê piamente em seus conceitos claramente ultrapassados e atua fortemente para reimplantá-los no Palmeiras. O material completo pode ser lido aqui.

A entrevista começa com uma grande pérola. Perguntado sobre o que o clube precisa fazer nos próximos anos, crava: redução de 20% das despesas em todos os setores. Mustafá tem a percepção de que o clube está gastando muito sem ponderar que, pela primeira vez em décadas, o clube consegue ser superavitário ao mesmo tempo que consegue resultados expressivos. Em seu pensamento, não importa ter as contas equilibradas; o que não pode é gastar – mesmo que esse investimento seja o combustível para as receitas extraordinárias que o Palmeiras alcançou. Mustafá confunde austeridade com avareza.

A recomendação de cortar 20% em cada área é patética. Mustafá defende uma medida que não pode se aplicar nem em orçamento doméstico. Provavelmente deve achar que o investimento na implantação do SAP no clube foi dinheiro jogado fora. O papel de pão ainda deve lhe ser de grande valia.

Mustafá bombardeia o departamento de marketing e justifica, criticando uma suposta deficiência na força de vendas. Para isso, usa o fato da Crefisa ter batido na porta do Palmeiras para fechar o patrocínio, e não o contrário. Segundo Mustafá, os profissionais que desenvolveram dezenas de contratos de licenciamento e fizeram do Avanti um sucesso estrondoso usam o Palmeiras como cabide de emprego. Para ele, marketing é apenas sinônimo de “departamento comercial”.

Com todos esses conceitos, não é à toa que, quando o futebol do Palmeiras esteve de fato sob seu controle, tivemos um desempenho digno de uma Portuguesa. Não compreende que o futebol mudou, que novas metodologias foram desenvolvidas, que o mercado está muito mais dinâmico e que para se ter um elenco com 30 jogadores dignos de vestir nossa camisa, é necessário ter bem mais que isso sob contrato, pois jamais alguém acerta 100% das contratações. Hoje, jogador que não dá certo é realocado por empréstimo, e a fila anda. O que não pode é ter um monte de atleta disputando Bobinho Open em Guarulhos – ou colocá-los no Palmeiras B, uma de sua invenções que sangrou os cofres do clube por anos.

Alexandre Mattos é uma máquina de fechar contratos, seja para reforçar o Palmeiras, seja para aliviar nossa folha de pagamento com os jogadores que ficam fora dos planos. Para Mustafá, hoje no Palmeiras há muitos profissionais que trabalham apenas em interesse próprio. Incomoda demais ao velho cartola perceber que o setor mais importante do clube esteja nas mãos de um “forasteiro”.

Poder

Mustafá Contursi age nas sombras. Como um mestre da manipulação, construiu durante anos sua fortaleza de poder. Trilhou o caminho da presidência nos anos 70 e 80, para alcançá-la no início dos anos 90, no melhor momento possível: quando a Parmalat havia acabado de entrar no clube e exercia a co-gestão do futebol. Dinheiro não era problema, e os títulos mascaravam todo o resto.

Por resto, entenda-se uma enorme puxada de tapete: seguindo a sucessão de arranjos políticos da casta que comanda o clube há seis ou sete décadas, Seraphim Del Grande era o próximo da fila para assumir a presidência do clube após os dois mandatos de Mustafá. Mas aquela cadeira parece ter mel. Mustafá usou a influência que pode ter um presidente do Palmeiras para solidificar a lealdade eterna de dezenas de conselheiros. Deixou Seraphim na mão, passou por cima do estatuto e ficou na presidência o quanto quis – o tempo necessário para moldar o clube à sua imagem e semelhança. Todos os departamentos do clube social foram controlados por alguém indicado ou abençoado por ele. Os votos nas eleições eram direcionados nesses pequenos feudos aos candidatos de sua chapa.

Não havia democracia. O grupo que se insurgiu contra ele, o Muda Palmeiras, capitaneado por Seraphim Del Grande e Luiz Gonzaga Belluzzo, não podia nem usar camisetas de ordem pelo clube: quem ousasse protestar, tinha o adereço retirado e era expulso do quadro associativo. Uma lista negra foi construída por seus pequenos passarinhos, que espionavam os fóruns de internet e anotavam os nomes de torcedores que representavam um potencial perigo. Quando estes palmeirenses tentavam ficar sócios do clube, eram barrados. Marcos Kleine, guitarrista do Ultraje a Rigor, é o exemplo mais famoso – mas há dezenas de casos.

Na base do terror, Mustafá cravou suas garras no clube, e só perdeu o poder quando provou de seu próprio veneno, quando Affonso Della Monica o surpreendeu e se aliou à oposição para conseguir seu segundo mandato. As portas para o Muda Palmeiras se abriram, e o Palmeiras finalmente  conseguiu montar bons times entre 2008 e 2009. Mas passou rápido e foi infrutífero.

Apesar de palmeirenses legítimos com grande preocupação com o futebol, a Muda Palmeiras, que deu origem à chapa UVB, tem quadros também muito fracos; o máximo que conseguiram foi um Paulistão. Pior: no mandato seguinte, Belluzzo não conseguiu recuperar os investimentos pesadíssimos, não os converteu em mais títulos e teve um seriíssimo problema de saúde, deixando o clube com um enorme vácuo de poder. Como resultado de tudo isso, Mustafá voltou com tudo, recuperou facilmente o apoio dos conselheiros que o haviam traído e conseguiu colocar na cadeira o presidente mais incapaz possível: Arnaldo Tirone, também conhecido como Pituca, o Loiro.

“O MEU clube”

Mesmo com todo esse histórico, Mustafá teve a desfaçatez de declarar à Folha que não tem apego à política do clube. Diz que se deixou envolver e que agora tem responsabilidades, como se não tivesse escolha. Quem circulou por muitos anos pelas alamedas e mais de uma vez o ouviu se referir ao Palmeiras como “o MEU clube”, em discursos que transbordavam ostentação de poder, tem sérias dúvidas sobre essa declarada falta de apego.

A última demonstração de poder foi a mudança de data de associação de Leila Pereira, dona da Crefisa. Mustafá usou o gosto pela publicidade de Leila para acolhê-la em sua chapa – com o marido, José Roberto Lamacchia, na aba. Os dois emplacaram suas eleições e puxaram mais de dez conselheiros para a chapa de Mustafá, que assim ampliou consideravelmente sua base de poder, que diminuía eleição após eleição.

Mustafá só respeita o dinheiro. Foi assim que Paulo Nobre conseguiu habilmente impor o profissionalismo no clube – na hora da discussão, as operações financeiras propostas pela equipe de Nobre, e conseguidas com seu prestígio financeiro, eram irrefutáveis.

Maurício Galiotte não tem esse prestígio financeiro e parece não ter envergadura política para manter a roda girando. Mustafá, com sua meta de 20%, já está manipulando a troca da competente diretoria que nos levou ao topo do futebol brasileiro pela turma do papel de pão. Inclua nesse bolo, quem diria, a UVB, aquela que lhe jurou ódio eterno em nome do amor ao Palmeiras. Como vemos, o amor era mesmo ao poder.

Coragem

Os frutos que colhemos em campo hoje foram plantados na gestão passada. Os ótimos resultados, como nos anos 90, cegam os associados e a torcida para o que acontece nos bastidores.

Toda uma estrutura está prestes a ser desmontada e a tendência é voltarmos ao estágio de 15 anos atrás – com a diferença que as receitas continuarão a ser enormes, mas não serão direcionadas ao futebol. Afinal, Mustafá defende claramente o fortalecimento do “quadro associativo” – seu grande curral eleitoral. Para sustentar esse enorme elefante, nada melhor que o dinheiro que mantém a hoje magnífica estrutura do futebol. Mas para Mustafá, é simples: “é só mandar gente embora”.

Pelo bem do Palmeiras nos próximos anos, precisamos que Maurício Galiotte encontre um jeito de manter a máquina funcionando. Além de habilidade política para compensar a falta de estofo financeiro, vai precisar de bastante coragem. Terá?

Conselho deve escrever amanhã mais uma página vergonhosa na História do Palmeiras

Lamacchia, Mustafá e Leila PereiraO Conselho Deliberativo escreverá na noite desta segunda-feira mais uma página que tem tudo para ser vergonhosa na História do clube.  Se as projeções se confirmarem, a candidatura de Leila Pereira, autorizada após uma canetada que se baseou numa memória obscura do ex-presidente Mustafá Contursi, não será impugnada e a dona da Crefisa, patrocinadora do futebol profissional, poderá seguir sua caminhada rumo à presidência do clube.

Como é sabido, Leila Pereira admitiu em entrevista ao jornal Diário de São Paulo, em 2015, que havia ficado sócia há poucos anos e negou ter planos políticos no clube. Repentinamente, lançou sua candidatura, na chapa de Mustafá. Investiu bastante na campanha, com montagem de comitê na rua Palestra e jantares com Uber pago para quem quisesse. Diante de tanta popularidade, recebeu uma votação expressiva, a maior da História, e carregou consigo mais oito ou dez conselheiros que não se elegeriam não fosse o quociente eleitoral que a chapa conseguiu graças ao peso de sua eleição. O chamado efeito Tiririca.

Para que sua candidatura obedecesse ao que determina o estatuto do clube, o tempo de associação de Leila ao clube foi acrescido de quase 20 anos – segundo uma lembrança de Mustafá, ele havia concedido o título de sócia benemérita a Leila em 1996, quando era presidente, embora não haja nenhum documento atestando o fato.

Com o patrocínio sem a certeza de renovação e precisando do apoio de Mustafá para conseguir governabilidade, o presidente Maurício Galiotte ficou com a faca no pescoço e autorizou a candidatura mesmo sem a documentação apropriada. Dias depois da homologação, a Crefisa anunciou a permanência do patrocínio.

Vários associados, entretanto, entraram com o pedido de impugnação da candidatura, o que será julgado na noite desta segunda-feira. A principal batalha deve ser pela forma de votação: voto aberto no microfone, ou na urna. Por transparência, a comunidade palmeirense exige voto aberto. Se os conselheiros tiverem mesmo a coragem de compactuar com essa mácula a nosso estatuto, que tenham também a hombridade de terem seus nomes expostos pela eternidade.

Presidência do Conselho

Na sequência acontecerá uma nova reunião, já com os novos conselheiros eleitos exercendo seus direitos de voto pela primeira vez, com a missão de eleger o presidente do Conselho Deliberativo. O favorito é Seraphim Del Grande, fundador da UVB, aliada de Mustafá.

Vice-presidente do clube na década de 90, Seraphim foi traído por Mustafá, que não permitiu que ele fosse o candidato a presidente após seus dois primeiros mandatos, permanecendo no cargo após uma sequência de manobras políticas e de alterações no estatuto. Seraphim então fundou a UVB, cuja bandeira principal sempre foi fazer oposição a Mustafá. Hoje, o grupo se curva ao velho cardeal.

Concorrem com Seraphim dois candidatos: José Apparecido, da Confraria Palestrina, e Sylvio Mukai, da UVB. Mukai é inexpressivo e sua candidatura serve apenas para escamotear a subserviência da UVB a Mustafá. Como Seraphim não precisará dos votos da legenda para se eleger, Mukai foi lançado. Já Apparecido, do grupo Confraria Palestrina, representa os anseios de renovação no Conselho, que precisa de alguém livre de amarras para comandar os ritos das reuniões.

Também será escolhido o vice-presidente: Concorrem o mustafista Carlos Faedo, o UVBista Tarso Gouveia e Guilherme Pereira, da Chapa Palestra. Este último, pelos mesmos motivos que o Verdazzo declara apoio a José Apparecido à presidência, é merecedor de toda nossa torcida – e ao contrário da eleição principal, as cartas para o vice-presidente não estão tão marcadas e pode haver surpresa.

Acordões

Acordos feitos entre as principais lideranças políticas do clube indicam que o mandato de Leila Pereira não corre perigo algum e que a chapa de Mustafá manterá todos os seus recém-eleitos. Seraphim Del Grande deve ser facilmente eleito. A noite desta segunda-feira tem tudo para ser uma das mais vergonhosas da História do clube.

Resta a esperança de que os votos sejam abertos, e que quem optar por subscrever a vergonhosa candidatura, forjada por uma conveniente lembrança, tenha seu nome exposto a toda a comunidade palmeirense.