Temporada 2024 – Análise da Comissão Técnica e Diretoria

Na última postagem desta série, vamos abordar a atuação da comissão técnica e da diretoria no ano de 2024, que foi o menos vencedor desde a chegada de Abel Ferreira e sua equipe ao clube.

O tricampeonato paulista nos deu a ilusão de que a temporada seria mais uma dentro da rotina de sucessos do Palmeiras. Mas a máquina emperrou, o que, de certa forma, pode ter servido para que alguns métodos e processos saturados sejam revistos.

Abel segue com sua cartilha pessoal e se apoia em bons números, considerando apenas o conjunto de partidas disputadas. Mas a falta de conquistas certamente o incomoda e não é algo que lhe deva passar despercebido.

Já a diretoria fez movimentos um pouco mais contundentes do que o normal, mas seguindo uma tendência que vem acumulando muito mais erros que acertos. O resultado foi um elenco desequilibrado na mão do treinador. A postura arrojada que estamos verificando nesta janela de dezembro/janeiro pode já estar refletindo um cenário de lições aprendidas.

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Comissão técnica e Diretoria

Comissão Técnica

Abel Ferreira em jogo do Palmeiras contra o Criciúma, durante partida válida pela vigésima sexta rodada do Brasileirão 2024, no Allianz Parque.
Cesar Greco/Palmeiras/by Canon

Os números não mentem, mas precisam ser bem interpretados. A temporada de 2024, segundo o Almanaque do Verdazzo, foi a que teve o segundo melhor aproveitamento em pontos nesta década: 66,2%, perdendo apenas para a temporada de 2022.

Mas alguns números, aos quais Abel frequentemente recorre para explicar e justificar suas escolhas, precisam ser esmiuçados, a começar pelo baixo aproveitamento ofensivo. O Palmeiras marcou “apenas” 108 gols nesta temporada, o segundo menor número absoluto na Era Allianz Parque. E talvez isso explique por que a palavra “eficácia” foi ouvida tantas vezes nas coletivas do treinador.

Abel apoia-se no número de finalizações erradas e recorre à lógica: se as chances são criadas, logo a falta de gols não se deve ao esquema tático ou às escolhas do treinador, mas sim à falta de pontaria e/ou à falta de sorte, isso sem mencionar outros fatores como gramados e arbitragens ruins.

Faz sentido, mas existe um fator que essa estatística não contempla: será que a qualidade das chances criadas não influencia neste baixo índice de conversão? É verdade que temos guardados na retina alguns gols perdidos inacreditáveis, que poderiam ter mudado o rumo de alguns troféus em 2024, mas quantas finalizações não foram forçadas, feitas com a defesa adversária fechada, com chutes de fora nos quais nossos jogadores praticamente se livram da bola por não conseguirem achar o espaço para vencer a marcação?

Esse problema passa diretamente pelo sistema tático proposto. Abel, em 2022, conseguiu um encaixe sensacional usando Rony (!) como centroavante. De alguma forma, ele fez funcionar. Já nas duas últimas temporadas, o time tem encontrado dificuldades para dar fluência aos ataques, mesmo contando com jogadores de qualidade inquestionável como Endrick e Estêvão.

Preso a suas convicções, Abel jamais conseguiu adaptar o estilo de jogo de Endrick ao coletivo. E ao colocar Estêvão no flanco direito, precisou que Felipe Anderson jogasse do lado esquerdo. A contratação mais importante do time na temporada, num setor do campo que não é seu preferido e sem um trabalho completo de adaptação ao futebol brasileiro, não conseguiu corresponder às expectativas.

A defesa encerrou a temporada com um número aceitável de gols sofridos (56), mas não foi um desempenho uniforme. Se dividirmos a temporada em duas partes, verificaremos um bom índice no início (21 gols sofridos em 34 jogos – média de 0,61) e uma queda brusca na parte final (35 gols sofridos em 33 jogos – média de 1,06), quando tivemos os jogos mais importantes e fomos eliminados das três maiores competições, em nossa casa.

É verdade que lesões importantes também determinaram as dificuldades por que passou o treinador, que ainda teve que lidar com o baixo rendimento individual de alguns jogadores.  

Tudo isso, em conjunto, pode ajudar a explicar melhor por que o Palmeiras conseguiu fazer seu papel diante de equipes mais fracas, mas que teve sérios problemas em praticamente todos os jogos grandes na temporada e por isso tenha ficado sem os títulos almejados. Dificuldades, no entanto, se apresentam para que o treinador as supere. Abel Ferreira não esteve em seu melhor ano.

Diretoria

A atuação de nossa diretoria influenciou, obviamente, nos resultados obtidos. A montagem do elenco, mais uma vez, deixou buracos que dificultou a tarefa da comissão técnica.

Alguns movimentos são questionáveis. A saída de Luan, que era o zagueiro que entrava no time sem deixar o nível cair sempre que Gómez ou Murilo eram desfalques, foi “reposta” por um menino de 18 anos. Vitor Reis tem um potencial absurdo e pode vir a ser um jogador extra-classe em nível mundial. Mas sua falta de experiência nos custou alguns gols sofridos em partidas decisivas. Parece que a urgência em valorizá-lo diante do mercado queimou algumas etapas importantes.

Dudu entrou na temporada lesionado e a aposta em Bruno Rodrigues e Lázaro para suprir o setor se mostrou equivocada. O segundo jamais justificou a confiança depositada, nem antes, nem depois de ser contratado. O modelo de contratação de jogadores jovens com potencial de revenda deu sinais evidentes de desgaste – felizmente, no caso de Lázaro, o empréstimo não evoluiu para uma contratação definitiva. Já no caso de Bruno, a falta de sorte esbarra na especulação de que sua condição física teria sido mal avaliada e isso é algo que só saberemos observando a sequência de sua carreira.

O lado esquerdo ainda sofreu com a lesão de Piquerez, mas o reforço do setor, Caio Paulista, foi um fiasco completo. Sua contratação foi festejada muito mais pelas circunstâncias de tirá-lo de um rival do que pelo potencial de jogo. Algo que, infelizmente, se confirmou. Um movimento inexplicável.

O que também parece não ter uma explicação convincente foi a escolha por Barueri como estádio alternativo para o Verdão mandar os jogos por ocasião de shows no Allianz Parque. A diretoria contrariou a própria comissão técnica e os pontos perdidos nos jogos disputados na Arena da cidade vizinha se mostraram decisivos para a perda de um título importante.

A montagem do elenco teve falhas grosseiras, algumas escolhas administrativas foram ridículas, mas nada parece tão grave quanto um problema crônico que afeta o Palmeiras há pelo menos oito temporadas: a facilidade com que os árbitros cometem erros capitais que nos lesam em jogos eliminatórios.

Toda temporada temos um grande vilão. Depois de Paulo César, Daronco, Bráulio, Vuaden, Wilton, o ano de 2024 teve como grande “astro” da arbitragem Wagner Reway, o VAR que nos prejudicou de maneira inacreditável nos jogos mais importantes do ano. Mesmo com o conforto da sala de controle, com toda a tecnologia à sua mercê, tomou decisões inadmissíveis, sem nenhum respeito ou preocupação.

A falta de representatividade do Palmeiras na CBF, na Conmebol e até na FPF piora a cada ano. O Palmeiras é absolutamente nulo nos bastidores. Torcer pelo Verdão, por isto, consegue ser uma experiência altamente decepcionante, apesar de todos os feitos alcançados pelos atletas e pela comissão técnica, em comunhão com a torcida. Sair de campeonatos importantes porque, a despeito de falhas dos jogadores e de escolhas equivocadas do treinador, árbitros não têm o devido respeito ao maior campeão deste país, é frustrante demais.


Futebol não é ciência exata e apontar problemas depois que aconteceram é bem mais fácil que tomar as melhores decisões nos inícios de temporada. Futebol é feito de riscos.

Os resultados, no entanto, precisam servir para que essa análise do risco seja melhorada para o ano seguinte. Tanto Abel quanto a diretoria precisam usar os dados deste fim de 2024 para corrigir algumas tendências que pareciam certas mas que parecem ter se desviado.

Administração da folha, montagem do elenco, modelo de jogo – tudo é uma cadeia de decisões e cada passo precisa ser muito bem calculado. Se isso for alcançado, e com uma presença forte nos bastidores, a chance de sucesso voltará a ser enorme.

FELIZ 2025 E VAMOS PALMEIRAS!

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