Mais que um craque, Gustavo Scarpa é exemplo para a base do Palmeiras

Gustavo Scarpa está prestes a deixar o Palmeiras, rumo ao Nottingham Forest, da Inglaterra. O jogador vai em busca do sonho pessoal de disputar a liga mais importante do planeta, depois de ganhar tudo em seu país.

O meio-campista deve deixar o clube com cerca de 230 jogos disputados e mais de 40 gols marcados; já tem seis títulos conquistados e está muito perto do sétimo. Em seu último semestre no Verdão, atinge o auge de sua performance, jogando finalmente no setor de campo onde se sente mais à vontade.

Talvez seja esta a característica pela qual devemos nos lembrar de Gustavo Scarpa com mais carinho. Porque nos cinco anos em que esteve no Palmeiras, muitas vezes colocou a equipe acima de seus interesses pessoais, sacrificando seu melhor desempenho e abrindo mão de suas vaidades.

Seria mais fácil para ele permanecer na mediocridade quando escalado para jogar aberto, forçando uma disputa com Veiga pela faixa central. Ou um, ou outro; se ganhasse, ótimo; se perdesse, forçaria uma transferência – como fazem dez entre dez boleiros, normalmente orientados por seus agentes.

Scarpa preferiu dar o máximo de si jogando aberto, e por vezes até como lateral. Em seu livro Cabeça Fria Coração Quente, Abel Ferreira descreveu uma dinâmica logo em sua primeira atividade com o elenco, quando tentava conhecer melhor os jogadores, quando pediu que os jogadores indicassem em que posição se sentiam mais à vontade. Ao perceber que apenas Viña se posicionara na lateral esquerda, Abel perguntou aos atletas se alguém mais se interessava por aquela faixa, e Scarpa se prontificou a dar uma força.

Essa postura ganha ainda mais relevância quando comparamos com a de outro atleta que teve a mesma chance, praticamente no mesmo momento. Lucas Lima também gosta de atuar mais por dentro. É tão ou mais talentoso que Veiga e Scarpa, mas não conseguiu convencer a nenhum treinador que podia ser “o 10”. Mesmo assim, por sua capacidade, ganhou muitas vezes a chance de ajudar o time jogando mais pelos flancos. Sabemos qual foi sua postura.

Gustavo Scarpa é um cara diferente no meio do futebol. Toca violão, gosta de rock and roll, anda de skate, resolve cubos mágicos e devora livros. Tem uma personalidade fácil e usa sua sociabilidade para ajudar na integração dos companheiros que chegam ao clube, sobretudo os estrangeiros, esbanjando empatia. Colhe o que planta: é um dos atletas mais queridos do elenco.

Sua batida na bola é diferenciada. Com a canhota, coloca um veneno incrível nas cobranças de escanteio ou de faltas no setor ofensivo; de seus pés, direta ou indiretamente, o Palmeiras já deve ter feito certamente mais de cem gols. E bate bem com a direita também.

Chegou ao clube depois de uma desgastante disputa judicial com o Fluminense, magrinho, num plantel cheio de astros renomados. Sofreu com lesões. Buscou seu espaço, se converteu num dos atletas mais importantes do país, forte mental e fisicamente.

Por tamanha honestidade e dedicação, o clube optou por contar com Gustavo Scarpa até o último dia de seu contrato, mesmo sem ganhar nada por sua transferência, em vez de abreviar sua passagem no meio do ano para ganhar alguns milhões de reais. No cálculo da diretoria, o retorno final, contando os aspectos financeiro e esportivo, seria maior. Cálculo: correto!

Gustavo Scarpa é um atleta raro cujos exemplos o clube precisa aproveitar na educação dos meninos da base. Que sua passagem pelo Palmeiras deixe mais que os gols marcados, os cruzamentos precisos, os títulos conquistados e as divertidas passagens na TV Palmeiras: que sirva como modelo de comportamento para as próximas gerações de atletas palmeirenses.

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