O fantasma do desmanche, quase 30 anos depois, volta a assombrar nossa torcida

A data Fifa nos impõe mais um período de abstinência de Palmeiras. Mesmo sendo uma parada para os jogos de Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, cresce o descontentamento do público com a ausência de jogos de clubes. Partidas de seleções sensibilizam cada vez menos o público do futebol.

O lado bom é que os clubes conseguem um tempo para recuperar alguns jogadores mais desgastados. Os jogadores se desgastam mais porque o ritmo é muito intenso e os intervalos entre os jogos é curto; isso ocorre no Brasil em especial por causa dos estaduais – mas também por causa das datas Fifa. Ou seja, os jogos de seleções amenizam um problema que eles mesmos criam.

As paradas criam também outra discussão entre os torcedores mais ligados aos clubes, relacionadas às formações dos elencos. Especulações sobre contratações e barcas ganham força. No Palmeiras, mais uma onda foi criada, desta vez sobre um centroavante argentino que acabou fechando com a Udinese. Boa parte da torcida, como nunca vai deixar de ser, segue embarcando nesse tipo de maré, e sofre com o desfecho frustrante. Como sofrem!

Rumores sobre barcas também são explorados, com base no (ou na falta de) gosto por determinados jogadores, bem como no vencimento dos contratos dos principais atletas – e claro, nas especulações que pipocam na mídia, muitas vezes apenas lançadas pelos próprios agentes que buscam valorização de seus clientes.

Desmanche precisa ser evitado a qualquer custo

Girar o elenco no início de cada temporada é algo quase inevitável para qualquer clube. As trocas de jogadores são impulsionadas pelos empresários, que sempre conseguem movimentar boas quantias negociando o pagamento de luvas. Os clubes precautelam, estabelecendo multas, mas quando os contratos estão em vias de se encerrar, as extensões acabam sendo mais difíceis e as mudanças ocorrem.

Em dezembro de 1994, depois de viverem um ciclo extremamente vitorioso, três jogadores deixaram o Palmeiras para jogarem pelo Yokohama Flügels: Evair, César Sampaio e Zinho. Considerando que Mazinho havia rumado para o Valencia 5 meses antes, o Palmeiras perdia num espaço muito curto de tempo quatro jogadores de sua espinha dorsal, além do comandante: Vanderlei Luxemburgo voltava ao comando do Flamengo. Claramente um desmanche.

Quando algo assim acontece, as reposições precisam ser certeiras e ainda é necessário que o treinador acerte na química entre os substitutos e o elenco remanescente. Para 1995, o encarregado de estabelecer tal alquimia foi Valdir Espinosa, que recebeu como reforços Mancuso, Lozano e Válber e que fracassou gloriosamente ao tentar montar uma dupla de ataque com Edmundo e Rivaldo, sem um centroavante de ofício. Apesar da qualidade dos dois jogadores, não havia elementos para que desse a necessária “liga”.

No outro lado da mesma gangorra está a recente saída de Gustavo Scarpa, no final de 2022. O Palmeiras teve uma temporada fabulosa com Dudu, Veiga, Scarpa e Rony infernizando as defesas adversárias e só não ganhou tudo o que disputou porque foi removido criminosamente pelas arbitragens na Libertadores e na Copa do Brasil.

Quando Gustavo Scarpa, após cinco temporadas, decidiu tentar a sorte na Inglaterra, um aceitável pânico tomou conta da torcida, receosa de ver o ataque do time desmoronar. Scarpa era insubstituível e o esquema precisou mudar. Mas quando 90% da base é mantida e o ajuste necessário é apenas em uma peça, as virtudes mantidas superam as dificuldades. Em princípio com Endrick, depois com a chegada de Artur, o ataque do Verdão continuou entre os principais do país e conquistando títulos.

Desmanches só podem ser considerados em duas situações: quando o elenco não corresponde, seja por falta de qualidade, seja por falta de motivação; ou quando a situação financeira foge do controle e a venda de ativos acaba sendo o último remédio possível. Em ambos os casos, a responsável pelo desastre é a diretoria, que interrompe um ciclo esportivo por incompetência ou inaptidão.

Palmeiras precisa evitar o desmanche do elenco atual
Cesar Greco/Palmeiras/by Canon

O Palmeiras tem apenas Jailson, Marcelo Lomba e Marcos Rocha com contratos vencendo no fim de 2023. Mas os desempenhos de Rony (28), com contrato até 2025, e Zé Rafael (30), Raphael Veiga (28) e Gustavo Gómez (30), com contratos até 2026, atraem o interesse de clubes do exterior. Se os atletas virem esta janela como última chance da carreira para jogarem em outras ligas, mesmo com multa, é difícil de segurar. Jogador, quando quer mesmo sair, é como fogo morro acima.

Mais do que nunca, precisaremos da habilidade de nosso diretor de futebol para convencer pelo menos dois desses quatro atletas a permanecerem no Palmeiras. Obviamente isso tende a ter um peso a mais na folha de pagamento, mas é um ajuste com o qual o clube precisa arcar para não descaracterizar brutalmente a química que este grupo estabeleceu. Perder uma ou duas peças é normal, quase inevitável, e nosso treinador, minimamente reabastecido, tem condições de manter a chama acesa.

Mas se a barca tiver muitas peças da espinha dorsal do time e o Palmeiras sofrer mesmo um desmanche, é possível que nem Abel Ferreira dê jeito, a exemplo do que aconteceu em 1995. A diretoria pode não ter a História do Palmeiras como referência, mas nós, torcedores, temos.


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Um comentário em “O fantasma do desmanche, quase 30 anos depois, volta a assombrar nossa torcida

  1. Enquanto a dondoca não for minimamente contestada, vai ser pior do que nos anos 90. Onde já se viu o Palmeiras pagar 80% do patrocínio de volta em 2022 ??? Zero conflito de interesse ? E o pior, já tá reeleita!

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