Depois de cinco partidas, como está a prancheta de Felipão?

Felipão
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Foram apenas cinco jogos até agora. A tabela foi marotamente montada pela FPF para que o Derby fosse disputado com os times ainda em estágios iniciais de desenvolvimento e assim diminuir a diferença entre as equipes – mesmo assim, a superioridade do Palmeiras foi flagrante. O placar desfavorável, no entanto, produto de ineficiência nas finalizações, acelera a discussão sobre os caminhos que o time está tomando para a temporada.

Felipão e Paulo Turra até agora insistiram em apenas um modelo de ataque. Um dos volantes, normalmente Bruno Henrique, eventualmente preenche os espaços dando opção de passe, mas ainda de forma bem mais tímida que em 2018. Os laterais apoiam com muita parcimônia. Isso faz com que quase todo o poderia ofensivo fique a cargo dos quatro homens de frente.

O posicionamento dessas peças foi invariavelmente com um meia central, normalmente Lucas Lima, que precisa fazer o pêndulo para se aproximar dos companheiros, exigindo-lhe um esforço extra. Dudu fica de um lado, ora indo pra cima do lateral, ora afunilando e se tornando mais uma opção de passe. Do outro lado, Felipe Pires e Carlos Eduardo agridem o lateral adversário de forma mais aguda, cada um com sua característica: o segundo é mais rabiscador, o primeiro é mais veloz.

Diante deste primeiro pacote de partidas, permanecem como opções táticas Gustavo Scarpa, Zé Rafael, Raphael Veiga, Ricardo Goulart, Guerra e Hyoran.

O modelo em uso

Este modelo pode ser muito útil em uma série de partidas, em cenários bastante frequentes. Quando o Palmeiras estiver em vantagem no placar, em situações onde o adversário é obrigado a ceder espaços, o desenho proposto pela comissão técnica é o mais indicado para matar o jogo, usando a velocidade pelos flancos.

Quando o Palmeiras enfrenta esquemas mais fechados, como o que se desenhou no último Derby, esse sistema ainda pode funcionar, mas apenas nas jogadas de bola aérea. A penetração por baixo, seja por dentro, seja pelas extremas, fica seriamente prejudicada com uma manobra simples do adversário: marcar o meia central com intensidade.

Lucas Lima, que nesta proposta já tem uma função bastante sacrificada tendo que percorrer o campo lateralmente em todas as jogadas, ao receber uma marcação personalizada acaba sendo anulado.

Com essa marcação, o Palmeiras perde uma peça fundamental para envolver o adversário e precisa recorrer apenas aos chuveirinhos, ou ao talento individual – e de quebra, Lucas Lima acaba sendo culpado pela parte da torcida que assiste aos jogos olhando só a bola, pelo baixo rendimento – algo que, também nas mãos de Felipão, Alex também sofria muito.

Até agora, nota 6

Dudu
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Ofensivamente, os dois jogadores contratados para desempenhar uma função fundamental ficaram devendo. Nem Felipe Pires, nem Carlos Eduardo, conseguiram atuações que chamasse atenção de forma positiva – no Derby, as jogadas de ponta mais produtivas aconteceram quando Dudu inverteu com Carlos Eduardo; a bola chegou à área em condições de finalização mais facilmente e o próprio camisa 37, em função invertida, chegando na área afunilando, perdeu gols incríveis.

Defensivamente, o time ainda mostra alguns problemas na recomposição defensiva; alguns buracos foram notados à frente da zaga mesmo nos jogos contra os pequenos. Aparentemente não é nada crônico, apenas resultado da falta de ritmo de jogo; com o tempo os espaços tendem a ser vedados naturalmente. Tanto que a defesa do Verdão já desponta como uma das mais sólidas do país, mesmo nesta base de jogos ainda tão estreita.

O fato da defesa estar razoavelmente bem encaminhada segue os preceitos básicos do desenvolvimento tático de um time: começar pela defesa. Isso é o que nos dá uma certa esperança de que muita coisa ainda pode ser mostrada por esse time, assim que a comissão técnica tiver tempo livre para implementar novos conceitos. Não é à toa que Felipão reclamou, mais de uma vez, do calendário de partidas neste início de temporada, marcando jogos seguidos em janeiro e na primeira semana de fevereiro, para depois espaçá-los.

Um modelo alternativo

É com uma derrota no Derby que Felipão e Paulo Turra precisam começar a desenvolver um sistema mais indicado para romper retrancas e que valorize mais a posse de bola, um modelo que seja capaz de prevalecer mesmo contra marcações mais severas sobre as peças-chave do time.

Um possível desenho contemplaria a valorização dos laterais no ataque; a escalação de dois meias de beirada com habilidade e chegada ao gol, e a atuação fundamental do segundo volante, que completaria as funções ofensivas ao mesmo tempo que teria a obrigação de recompor rápido quando o time perdesse a bola no ataque. Peças para montar algo neste sentido, Felipão tem de sobra.

Com laterais mais soltos, as triangulações serão facilitadas. O centroavante pode sair mais da área, tanto para os lados, como voltando para a intermediária. Se marcarem o meia central, o meia do lado oposto, mais afunilado, participa da jogada e completa o desenho.

A recomposição defensiva precisa ser feita rapidamente, de acordo com o lado onde estava sendo feito o ataque desarmado. Felipe Melo vai precisar, mais do que nunca, de muita mobilidade para ocupar os espaços. Quem corre pra onde, quem fecha qual espaço, é uma tarefa que vai demandar muita coordenação e ensaio.

Cinco de oitenta

O Palmeiras pode realizar até oitenta partidas oficiais no ano, se chegar às finais de todas as competições. Até agora, apenas cinco jogos foram disputados e não há motivo para grandes preocupações com relação à sequência da temporada.

Estamos diante de apenas um plano de jogo. É claríssima a necessidade de se desenvolver alternativas e a comissão técnica certamente tem planos a serem colocados em prática. Cabe a nós lidar com a ansiedade de ver essas novas propostas em campo, e logo – o campeonato paulista está aí para isso mesmo.

Alguns ajustes no elenco ainda podem ser necessários, mas é cedo bater o martelo neste momento. Discutir dispensas em fevereiro não faz o menor sentido. Seguimos apoiando e confiando em Felipão. Se nós, daqui, conseguimos enxergar vários ajustes que precisam ser feitos, ele certamente também já viu esses e outros que nós ainda nem imaginamos. VAMOS PALMEIRAS!


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

Conheça mais clicando aqui: https://www.verdazzo.com.br/padrinho

O chip irremediavelmente solto de Deyverson

Deyverson
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Baixada a poeira, é possível tratar um assunto delicado que emergiu durante o fim-de-semana, mais precisamente aos 42 minutos do segundo tempo do Derby em que o Palmeiras saiu derrotado, em casa.

Naquele momento, depois de um lance bastante enrolado em que sofreu falta e foi atingido propositalmente na cabeça enquanto estava no solo, pela passada de Richard, Deyverson acabou cuspindo no adversário e recebeu o cartão vermelho. A falta era uma de nossas últimas chances de tentar ao menos empatar o jogo e Deyverson foi mandado a campo exatamente para melhorar o aproveitamento nas jogadas de bola aérea.

As reações da torcida no estádio e nas redes sociais, logo após o fim do jogo, foram de desaprovação completa. As discussões passaram por vários aspectos, desde o profissionalismo até o caráter do jogador – e as palavras que surgiram não foram nada suaves.

Felipão, num primeiro momento da coletiva, tentou passar ao largo da polêmica, alegando não saber a razão da expulsão. Os repórteres, entretanto, trouxeram o motivo à tona e nosso treinador foi obrigado a reprovar publicamente a atitude.

Um bom menino com o “chip solto”

Deyverson
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Deyverson chegou ao Palmeiras em 2017, a pedido de Cuca. Desde sua chegada, participou de 66 partidas e marcou 18 gols – uma marca interessante, sobretudo para quem frequentemente participa de apenas parte dos jogos, seja sendo substituído, seja saindo do banco.

Seu gol mais notável, claro, foi o marcado em São Januário, que definiu a conquista do decacampeonato brasileiro. O feito já lhe garante um lugar eterno no imaginário da torcida e uma espécie de gratidão infinita.

Deyverson é um rapaz que aparenta ter um coração de ouro. Um bom menino. Já na coletiva de apresentação causou impacto ao se juntar ao pai e chorarem juntos, tocados pela realização profissional enfim alcançada. No dia-a-dia, com atitudes simples, cativa a todos na Academia de Futebol. É muito querido, o chamado “bom de grupo”.

Na saída do jogo contra o Oeste, na quarta-feira, questionado sobre um lance em que havia levado uma cotovelada, declarou orgulhosamente que não reagiu porque estava mais focado em ajudar o Palmeiras – um discurso talvez preparado para ser usado na primeira oportunidade, em resposta à fama de ter o “chip solto”, termo ingenuamente cunhado por ele mesmo após mais um lance enrolado na campanha do Brasileirão.

Colocando tudo na balança…

Deyverson
Reuters

Deyverson está longe de figurar no rol dos maiores atacantes da História do Palmeiras – bem longe. Mas seu estilo de jogo pode ser bastante útil, sobretudo em partidas com determinadas características. Não poderia haver momento mais específico para ilustrar essa possibilidade que os 5 minutos finais do último Derby.

Seu comportamento em campo é errático e pouco confiável. Alguém um dia pode lhe ter dito que ele irrita os adversários e que isso poderia lhes render expulsões, e assim ele ajudaria seu time. Deyverson parece ter gostado da ideia de ser o “bom malandro”. Mas exercer esse papel é uma arte que exige absoluto auto-controle, o chip tem que estar absolutamente preso. Deyverson não pode fazer esse papel enquanto não isso não acontecer.

Deyverson
Reprodução

Quem não adorou o lance da piscadinha, no Derby anterior, em que ele foi substituído exatamente porque Felipão percebeu que o camisa 16 tinha saído completamente de controle? São os dois lados da mesma moeda que, agora sem sombra de dúvida, não vale a pena.

Seu comportamento amalucado não é novidade: jogando pelo Alavés, já havia acertado uma cusparada em Godín, do Atlético de Madrid, e deixou todo o time colchonero absolutamente pistola, numa partida pelo campeonato espanhol.

Por essa cuspida, deve ter sido muito questionado; certamente percebeu que a atitude é inaceitável e se conscientizou de que aquilo jamais poderia se repetir. Como se repetiu, deixa margem até para perigosos julgamentos de caráter. Numa análise menos raivosa, no mínimo, fica em aberto a completa incapacidade de se controlar para não repetir atos deploráveis de forma impensada.

Hora da sabedoria

Deyverson
Fernando Dantas/Gazeta Press

Deyverson foi contratado pelo que faz com a bola, mesmo com suas limitações, e não por suas atuações como desestabilizador de adversários. O lance no Derby pode ter sido a prova definitiva de que, mesmo mostrando consciência disso, Deyverson carece demais de maturidade, não é confiável e seu ciclo no Palmeiras precisa ser encerrado. O chip está irremediavelmente solto, não há o que fazer.

É preciso executar a decisão com sabedoria. Ninguém quer prejudicar sua carreira mais do que ele mesmo já o faz. E ninguém quer rasgar dinheiro, desvalorizando um ativo do clube. A saída de Deyverson precisa ser conduzida da forma mais discreta possível, e o Palmeiras tem um enorme trunfo na Academia de Futebol para ajudar nesse processo: Arthur Cabral.

O camisa 39, que se recupera de uma lesão no púbis e está fazendo um trabalho específico de fortalecimento para não sentir o problema durante a temporada, reúne mais recursos técnicos e físicos que Deyverson. É bem possível que, mesmo se seu comportamento fosse exemplar, Deyverson perdesse espaço no elenco naturalmente com a ascensão do centroavante que veio do Ceará. Episódios como o do último sábado apenas aceleram o processo, e de forma ruidosa.

É esse ruído que o Palmeiras precisa evitar. O tempo vai passar e os assuntos mudam. Deyverson aos poucos vai saindo da pauta até que Alexandre Mattos consiga uma boa resolução para o problema. Infelizmente, essa será a impressão final que, ao que parece, o garoto vai deixar.


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

Conheça mais clicando aqui: https://www.verdazzo.com.br/padrinho

As maluquices que o povo fala depois de um Derby

Dudu
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Toda a mitologia que se cria em torno dos Derbies fica mais aflorada, claro, quando um confronto é disputado. No último sábado, o Palmeiras recebeu o SCCP no Allianz Parque como franco favorito e acabou derrotado por 1 a 0.

Como todos vimos, foi uma partida extremamente desequilibrada, na qual o Palmeiras sofreu um gol de bola parada aos sete minutos e amassou a defesa adversária nos 91 minutos seguintes sem sucesso.

Nos grandes mistérios da vida, em que o homem não consegue através da ciência explicar o porquê de determinadas coisas, o expediente mais comum é recorrer a explicações místico-religiosas – algo que, de alguma forma, dê algum conforto a uma mente perturbada pela incompreensão.

No futebol, a sabedoria de boteco com suas frases de efeito faz esse papel. Perder clássicos leva o torcedor às raias do desespero – que, por sua vez, é pródigo em cunhar frases. Algumas estão em alta desde o apito final de Luiz Flávio de Oliveira. Vamos tentar entendê-las para desconstrui-las.

Base de dados: marcar primeiro; e o fator casa

Para começar este exercício, usaremos um levantamento de todas as partidas disputadas entre 2015 e este início de 2019 – as últimas quatro temporadas em que os dois times tiveram seus novos estádios como aliados e que com ajuda deles ganharam, cada um, dois Brasileiros.

Foram 16 partidas, com 6 vitórias do Palmeiras, 2 empates e 8 vitórias deles. É preciso lembrar que num dos empates, em abril de 2015, a decisão foi para os pênaltis e o Palmeiras saiu vencedor: “acabou, Petros”.

Em todos os jogos em que houve vencedor, quem saiu na frente, ganhou. Isso mostra o quanto o fator emocional é presente no confronto. Levar um gol num Derby traz aos atletas do time que está atrás uma dose de pressão imediata que faz com que a reação se torne algo muito complicado.

O fator casa vale muito menos que a pressão de sair atrás no placar. Neste período, foram sete vitórias dos visitantes, sete dos mandantes, além dos dois empates. O que conta mesmo é o fator emocional – tanto o estrago que sofre quem leva o gol, quanto o estímulo de confiança de quem marcou.

Freguês é o caramba

Borja

Os 103 anos de confronto já tiveram sequências e tabus para os dois lados, e o ciclo está sempre virando. O saldo final ainda é nosso, com duas vitórias de margem.

Nos últimos cinco jogos, o placar é de 3×2. O último confronto antes da partida de sábado havia sido uma vitória do Palmeiras.

O torcedor palmeirense fica tão descompensado quando perde um Derby que, para poder pedir ajuda às entidades místicas que regem o mundo do futebol, aceita pechas que sequer tem base real.

Não tem nada de freguês. Para que isso aconteça, o sertão vai ter que virar mar e a vaca vai ter que tossir três vezes antes do galo cantar.

Fogo contra fogo

Outra teoria maluca que surgiu foi a de que “o Carille sabe como jogar contra o Palmeiras”. Nossa torcida está fazendo um enorme favor ao adversário ao criar esses mitos, que absolutamente não correspondem à verdade.

O placar nos confrontos induz a essa conclusão – um sonoro 7 a 1. Só que quatro delas, a vitória foi apertada, equilibrada, pelo magro 1 a 0 e sob a maldição dos nervos destruídos – que também trabalhou a nosso favor na nossa única vitória, na ida da final de 2018, gol do Borja. O placar de 1 a 0 sempre tem como componente o acaso. Sorte também ganha clássico.

Não podemos esquecer que entra nesse saldo a operação de Anderson Daronco forjada para lhes garantir o Brasileiro de 2017 e, claro, a fatídica final de 8 de abril. Juiz também ganha clássico – e até campeonato.

Na real, o Palmeiras perdeu o jogo realmente dominado em apenas duas oportunidades: 0 a 2 no Allianz Parque em 2017, turno do Brasileiro, e 2 a 0 em Itaquera, turno do Paulista em 2018.

Na partida deste final de semana, Fábio Carille não mostrou nada sobre “saber jogar contra o Palmeiras” – afinal, seu time sofreu 25 finalizações e só não perdeu por erros de execução de nossos jogadores. Para derrubar essa frase botequeira, é só combater fogo com fogo e apelar para a velha condicional: “SE o Palmeiras fizesse pelo menos uma das 25 chances que criou…”

Uma engrenagem que precisa ser azeitada

Deyverson
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Tentar recorrer a verdades instantâneas é uma forma pouco inteligente de buscar alívio por derrotas doídas como esta última – sobretudo quando elas alimentam mitos que, além de tudo, fortalecem o inimigo.

O que aconteceu no sábado foi simplesmente uma convergência de fatos em que mais uma vez um gol no começo, fruto de uma bola parada, influenciou todo o andamento do resto da partida.

O Palmeiras precisa usar este enorme fracasso para corrigir um ponto que já nos atrapalhou no ano passado: a parte emocional, que é tão científica quanto todos os métodos desenvolvidos dentro das quatro linhas por Felipão, Paulo Turra e toda a equipe de apoio. É mais uma engrenagem que precisa funcionar bem, mas ao que parece, está emperrando toda a máquina.

O campeonato paulista realmente não vale nada para nós, a classificação não ficou em risco, muito menos os objetivos da temporada. Mas perdemos o clássico, e isso importa muito. Ninguém pode minimizar a derrota por causa do contexto do campeonato ou da temporada; vencer o SCCP é uma das razões de nossa existência e perder para eles nos deixa tristes e/ou com raiva.

Cabe a nós digerir e superar. Há quem use frases de efeito ou verdade de bar para amenizar. Quem não gosta de se enganar, ao menos que use frases que sejam verdadeiras; não essas maluquices que o povo fala na internet.


O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

Conheça mais clicando aqui: https://www.verdazzo.com.br/padrinho