Apoiar na boa é fácil. E quando o time oscilar de novo?

Comemoração
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Após 26 jogos, o Palmeiras atravessa, inegavelmente, a melhor fase técnica desde o início do ano. A sequência invicta atual, coroada com a quebra de um recorde histórico da Academia de 72-73, ostenta 8 jogos, com seis vitórias e dois empates, 16 gols marcados e apenas um sofrido.

E essa contagem poderia ser bem maior. A última derrota foi na Argentina, contra o fraco San Lorenzo, num jogo atípico em que foi usada uma escalação alternativa, já que o foco da equipe estava desajustado tendo em vista a semifinal do estadual. Já poderiam ser 21 jogos sem ser batido.

Desde que Felipão reassumiu o comando da equipe, foram apenas cinco derrotas. As sequências invictas anteriores foram de 8, 3, 9, 13 e 12 jogos. Na média, uma derrota após 9 jogos.

Os números altamente positivos da sequência atual traduzem o equilíbrio impressionante alcançado entre ataque e defesa. O Palmeiras tem os melhores índices de gols marcados e sofridos no Brasileirão e na Libertadores. Não é coincidência. Resta saber se a torcida terá o mesmo equilíbrio quando o time entrar em novos períodos de oscilação.

Ápice no Mineirão?

Atlético-MG 0x2 Palmeiras
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O jogo de ontem diante do Atlético-MG foi mais impressionante ainda pela tranquilidade com que o resultado foi conquistado. O adversário liderava a tabela com 100% de aproveitamento, vinha embalado e completo, tendo poupado o elenco no meio da semana visando exatamente o confronto contra o Palmeiras. Foi jogo grande.

O volume de jogo apresentado pelo Verdão, que dominou a partida do início ao fim, não permitindo ao adversário ameaçar o gol de Weverton e ainda proporcionando uma chuva de finalizações contra Victor em jogadas construídas das mais variadas formas, evidenciam o grau de evolução alcançado por esse grupo.

É importante salientar que o Palmeiras tomou a liderança do campeonato do Atlético, na casa do adversário, sem poder contar com Gustavo Scarpa, Ricardo Goulart e Willian, três dos principais jogadores do elenco. Borja nem viajou por opção do treinador.

Felipão, em coletiva, atribuiu o ótimo desempenho da equipe ao elevado grau de consciência tática dos atletas, que sabem exatamente para onde correr e o que fazer com e sem a bola, em cada situação. Foi uma partida quase perfeita. Este é o limite deste time ou ainda é possível crescer mais?

Apanhamos para chegar neste ponto

Felipe Pires
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

As oscilações verificadas no início da temporada refletem a trajetória desta evolução. Nas primeiras semanas tivemos experiências com ponteiros, usando Felipe Pires e Carlos Eduardo insistentemente, relegando Raphael Veiga e Zé Rafael a meros hóspedes da Academia de Futebol, já que muitas vezes não eram nem relacionados para o banco.

Posteriormente, com a recuperação de Ricardo Goulart, vimos um time bastante eficiente enquanto um esquema que abria mão dos ponteiros ainda era novidade. Mas no momento em que o uso de Goulart quase que como um segundo atacante foi manjado, o time voltou a ter problemas e oscilou, resultando na eliminação do estadual.

A nova lesão de Goulart, somada ao recente desfalque de Gustavo Scarpa, obrigou Felipão a rodar o elenco e rearranjar o esquema mais uma vez. Zé Rafael e Veiga ganharam espaço; Bruno Henrique voltou a ocupar o campo ofensivo. Os laterais e os volantes conseguiram uma sintonia excelente, a recomposição defensiva se manteve impecável e o time deu um encaixe melhor ainda, mesmo sem acertar totalmente o centroavante.

Diante dessa curva de crescimento e do variado leque de opções à disposição, é quase impossível não projetar o Palmeiras, neste momento, como protagonista do Brasileirão, sendo mais uma vez o time a ser batido. E é essa empolgação que nossa torcida precisa tentar conter.

Na boa e na ruim

Torcida
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A ilusão de início de campeonato nos conduz à euforia, ainda mais ao verificar que nossos potenciais adversários já patinaram e que, se continuarem desperdiçando pontos, terão dificuldades em acompanhar nosso ritmo.

Jamais podemos, no entanto, nos esquecer que o campeonato é bastante longo e que fotografias de momento, ou recortes de 4 ou 5 rodadas, pouco significam num universo de 38. As oscilações voltarão a acontecer e existe sempre o risco de nosso esquema ficar manjado, mais uma vez.

A vantagem de Felipão é que ele usou cada semana desta temporada para desenvolver sistemas diferentes, que seguem na “memória tática” da equipe. Cada um desses sistemas pode ser reativado a qualquer momento, dependendo do jogo, o que torna o Palmeiras um time cada vez mais imprevisível e difícil de ser neutralizado.

A conclusão disso tudo é que o Palmeiras segue como principal favorito ao título, mas jamais podemos entrar no espírito suicida do já-ganhou – até porque, é essa empolgação que rapidamente se converte em pressão negativa na primeira oscilação – e elas vão acontecer, sobretudo quando Felipão decidir poupar os principais jogadores nos jogos que antecedem partidas decisivas pelos mata-matas.

Nossa torcida tem que buscar o mesmo equilíbrio alcançado pelo time: sem euforia, mantendo a confiança e o apoio em alta – na boa e na ruim; mostrando maturidade para estimular o elenco quando os resultados negativos aparecerem, sobretudo em eventuais e doloridas eliminações nas copas, competições que não dão margem para erros e nas quais uma partida desencaixada ou mesmo um lance infeliz podem colocar tudo a perder.

Em vez de arroubos de cólera, evocando argumentos torpes como o salário dos jogadores, o apoio será essencial para que o time consiga sair de uma eventual sequência negativa. Os jogadores e a comissão técnica, até o momento, vêm fazendo um trabalho muito bom. Resta saber se a torcida, quando for exigida, vai fazer seu papel no mesmo nível.


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Na era Allianz Parque, Palmeiras sobra no Brasileirão

Depois de quase amargar mais um rebaixamento em 2014, ano em que, em novembro, o Allianz Parque foi inaugurado, o Palmeiras vem desenhando uma trajetória ascendente bastante sólida.

Após um 2015 de reformulação e crescimento, premiado no final com a conquista da Copa do Brasil, o Palmeiras atingiu em 2016 um patamar de excelência, que se repetiu nos anos seguintes – com direito a oscilações, como todo time de ponta.

É comum na história recente do futebol brasileiro um time impor um curto período de dominação – algo que dura de dois a três anos – para depois voltar para o “bolo” e dar vez a outro. Normalmente isso acontece às custas de algum sacrifício financeiro, e é exatamente isso que faz com que após algumas conquistas o cetro de time dominante mude de mãos. SCCP, Cruzeiro, Fluminense e SPFC são os últimos exemplos.

Com o Allianz Parque a pleno funcionamento, além do ótimo patrocínio da Crefisa, o Palmeiras conseguiu subverter essa regra e inaugurou uma era de desempenho sustentado, sem recorrer a adiantamentos que condenam os clubes a se retrair após um período de títulos. Podemos constatar isso nos desempenhos nas últimas edições do Brasileirão.

Números incontestáveis

Nos últimos quatro anos, com o Allianz Parque a pleno funcionamento, o Palmeiras se consolidou como o clube a ser batido no país. Mesmo com oscilações, o Verdão conquistou dois campeonatos e ficou com um vice. Nenhum outro clube tem campanhas tão consistentes – os que mais se aproximam são SCCP, Grêmio e Flamengo.

O Palmeiras iniciou o ressurgimento em 2015, após uma reformulação radical no elenco. Os resultados no Brasileirão foram discretos, sobretudo porque, na reta final, todas as atenções foram voltadas para a Copa do Brasil. Os 53 pontos ficaram até abaixo do que aquele time poderia ter produzido.

Em 2016, sob o comando de Cuca, o Verdão foi dominante e conquistou o Brasileirão com 80 pontos. Mas uma interrupção forçada no trabalho do treinador atrapalhou bastante o planejamento para 2017, ano em que o Palmeiras, apesar da força do elenco, não encontrou um padrão de jogo suficiente para manter o domínio, ficando com o vice-campeonato – sempre é bom lembrar, com interferências decisivas das arbitragens.

No ano passado, após mais um começo irregular, o Verdão se firmou com Felipão e sobrou no segundo semestre, ganhando o Brasileirão com folga. Ao manter a comissão técnica em 2019, o time se coloca mais uma vez como forte candidato à conquista.

As ameaças à hegemonia

Outros clubes começaram a seguir nosso exemplo para buscar a sustentação financeira sem depender de adiantamentos e podem, em alguns anos, equiparar suas forças no mercado à que o Palmeiras exibe hoje. Flamengo, Grêmio e Inter tentam trilhar esse caminho, também apoiados em ótimos estádios. Mesmo assim, com exceção do time carioca, que tem uma ajuda desigual vinda dos contratos da televisão, nenhum clube parece ter o mesmo fôlego nas receitas.

Nos balanços de 2018 divulgados pelos clubes, o montante final do Palmeiras foi de R$ 653,9 milhões – uma cifra um tanto turbinada por vendas vultosas. É possível que esse montante não se repita em 2019, mas mesmo assim deve orbitar em torno dos R$ 600 milhões. O segundo colocado em 2018, o Flamengo, registrou a entrada de R$ 542,8 milhões em seus cofres, mais de R$ 100 milhões atrás do Verdão. Os outros clubes sequer atingiram a marca de R$ 470 milhões.

O Palmeiras tem tudo para seguir auferindo receitas superiores e tendo o principal combustível para manter times competitivos nos próximos anos, fazendo a hegemonia perdurar bem mais que os tradicionais dois ou três anos.

Mas cofres cheios, sabemos, não obrigatoriamente fazem um time campeão – a história é pródiga em supertimes recheados de medalhões que naufragam clamorosamente.

Só grana não basta

Os recursos financeiros precisam satisfazer a um modelo de administração esportiva complexo, a ser seguido de forma rígida. O Palmeiras construiu seu conjunto de diretrizes a partir de 2013 e o vem aperfeiçoando ao longo dos anos.

A fórmula para se manter no topo passa pelos detalhes. Além de seguir o atual modelo e mantê-lo em constante evolução, conciliar as vicissitudes da política do clube com a blindagem ao elenco e ao local de trabalho é fundamental. Tornar e manter o clube forte politicamente para não ser prejudicado pelas arbitragens podem ser os diferenciais sobretudo nas Copas, que não conquistamos há já incômodos três anos e meio.

Com tudo isso fluindo, o resto se resolve dentro das quatro linhas. Há quem diga até que houve algum retrocesso de gestão nos últimos dois anos, mas por enquanto isso não se refletiu no campo.

O que nos mantém em constante apreensão é não saber o que está sendo feito para que nossos próximos dirigentes estejam aptos a receber a caneta sem deixar que tudo o que foi construído com tanto esforço se esvaia pelo ralo. Futebol não é um negócio como outro qualquer e para ser um bom dirigente são necessários anos de vivência e um preparo específico. Saberemos nos manter no topo?


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