O ano de 1999 na História do Palmeiras
O calendário, muito mal coordenado entre Conmebol e CBF, era cruel – 27 dias depois de levantar a Mercosul, o Palmeiras era obrigado a voltar a campo para a disputa do Rio-São Paulo, que no primeiro semestre se espremia junto ao estadual, às rodadas iniciais da Libertadores e da Copa do Brasil.
Com vários titulares ainda em férias, o Palmeiras entrou em campo no final de janeiro com um mistão que envolvia vários reservas e os reforços para a temporada – para cobrir as saídas de Almir, Arílson, Darci e Magrão o elenco se reforçou, e muito bem: chegaram Jackson e Rivarola, além dos retornos de Euller, depois de uma temporada no Japão; do grande César Sampaio; e do mítico Evair, que estava de volta ao Verdão depois de quatro anos.
O Rio-São Paulo foi de fato usado com pré-temporada e o Palmeiras foi eliminado ainda na disputa da primeira fase – aqueles seis jogos não chegaram a cruzar com o início da Libertadores.
Cerca de 12 mil palmeirenses foram ao Palestra e viram o Cerro Porteño sair na frente, mas o Verdão, com gols de Júnior Baiano e Arce, virou o jogo e segurou a classificação. Na Copa do Brasil, o time avançava, usando o time misto para passar por São Raimundo e Gama, para ainda conseguir um bom empate fora de casa contra o Vitória, já pelas oitavas-de-final.
Em abril, o Palmeiras entrou no mata-mata da Libertadores e caiu na chave do campeão, o Vasco da Gama, e decidiria fora de casa. A situação não parecia nada promissora depois do empate em casa na partida de ida, por 1 a 1. Mas a partir do jogo da volta aquele time realmente engrenou e proporcionou grandes e inesquecíveis espetáculos.
No feriado de Tiradentes, o Verdão foi a São Januário e eliminou o Vasco com categóricos 4 a 2, numa noite infernal de Alex, que juntamente com Paulo Nunes e Arce trituraram o time cruzmaltino. Depois de avançar na Copa do Brasil ao vencer o Vitória em casa com o mistão, o Palmeiras se preparou para dois derbies de matar, no Morumbi, valendo pelas quartas-de-final da Libertadores.
Implacável, o calendário mandou o time de volta a campo no Maracanã no dia 14, para jogar a ida das quartas-de-final da Copa do Brasil contra o Flamengo. O time segurava um 0 a 1 até que, perto do fim, o Flamengo fez o segundo gol, tornando a situação delicada. Mas Paulo Nunes marcou nos acréscimos, o que deu um novo alento ao time na competição, já que prevalecia a regra do gol qualificado e uma vitória por placar mínimo nos seria favorável na volta.
Antes disso, o Palmeiras tinha que jogar pelo estadual e depois ir à Argentina, enfrentar o River Plate. Numa terça à noite, dia 19 de maio, o continente conheceu São Marcos, que em noite fantástica impediu que o fortíssimo ataque dos argentinos abrisse uma vantagem muito larga no Monumental de Nuñez. O placar de 0 a 1 foi muito comemorado, mas não havia tempo: dois dias depois, o Verdão voltaria a campo para decidir a vaga nas semis da Copa do Brasil.
Um gol de Rodrigo Mendes com menos de um minuto obrigou o Palmeiras a buscar a vitória sobre o Flamengo por dois gols de diferença. Oséas só empatou aos 12 do segundo tempo, mas ainda havia tempo para dois gols. Mas Rodrigo Mendes, de novo, colocou os cariocas na frente aos 14. De novo eram necessários três gols, com pouco mais de meia hora pela frente.
Mas logo na saída, Júnior acertou um belo chute de longe e empatou o jogo de novo. Faltavam dois gols. E o Palmeiras pressionou, martelou. Felipão mandou a campo Evair e Euller, abrindo a defesa. E o milagre aconteceu com dois gols antológicos de Euller, os dois após os 40 do segundo tempo, com a bola viva dentro da pequena área sendo empurrada à força para dentro do gol rubro-negro. Um momento catártico em nossa História.
O mistão fazia o que podia. Pelas semifinais da Copa do Brasil, empate com o Botafogo (1 a 1) em casa. Pelo estadual, o time fazia o suficiente para seguir avançando até as semifinais, contra o Santos.
Eis que chegou o mês de junho e no dia 2 o Palmeiras foi a Cali, enfrentar o Deportivo. A derrota por 1 a 0 não fugia dos planos de Felipão, que tinha convicção no poder do time no Palestra, onde o título seria definido, duas semanas depois. O foco se voltou para o Paulista: no sábado e na terça seguintes, o Palmeiras passou pelo Santos. Na sexta, a missão era a Copa do Brasil e, com alguns reservas em campo, novo empate por 1 a 1 e a vaga foi para os pênaltis, quando o time da casa levou a melhor.
O foco seguia na Libertadores e o Palmeiras foi a campo no domingo, pelo primeiro jogo da final do estadual, num Derby, com um time completamente reserva – algo inimaginável alguns anos antes. E o time segurava um bravo 0 a 1 até os 45 do segundo tempo, quando Oscar Roberto Godoy deu um pênalti para o SCCP, convertido. E aos 50 minutos, após os 4 minutos de acréscimo prometidos pelo juiz, o adversário marcou o terceiro, complicando muito o jogo da volta.
Mas o que nos interessava era a Libertadores. E chegou o dia 16 de junho. O velho Palestra, forrado de bandeirinhas palmeirenses, virou um caldeirão ensurdecedor. O título inédito, que nos havia escapado duas vezes na década de 60, estava muito ao nosso alcance.
Nem precisou de tudo isso: aos 30, Júnior foi ao fundo e cruzou por baixo para Oséas recolocar o Palmeiras na frente. Com 15 minutos pela frente, no entanto, o Palmeiras tentou chegar à vitória sem correr mais riscos. Evair foi injustamente expulso e nos contentamos mesmo em decidir a taça nos pênaltis.
Zinho errou o primeiro. Frios, os colombianos iam marcando os seus, e o Palmeiras empatava – sempre com uma cobrança a mais. Na quarta cobrança, Bedoya tinha a chance de fazer 4 a 3, mas bateu na trave, após um leve desvio de Marcos – na volta, a bola passou raspando o corpo de nosso goleiro; se batesse nele, teria entrado no gol. E a igualdade estava de volta.
O quinto pênalti coube a Euller, que bateu com muita categoria, rasteirinho, no canto direito de Dudamel. Aí foi Zapata para a cobrança – ele, que havia convertido a cobrança no tempo normal. O Palestra gritava “fora, fora, fora!”, mas nada parecia abalar o colombiano. Eram apenas aparências: Zapata correu, bateu e a bola obedeceu à torcida, saindo à direita de Marcos, que saiu em correria comemorando o primeiro título da Libertadores do Palmeiras. Uma noite gloriosa, um capítulo de ouro em nossa História.
O time do Palmeiras não aceitou a cafajestagem e um grande quebra-pau aconteceu em campo. Os jogadores do SCCP tiveram que fugir e comemoraram o título no vestiário, já que a partida foi declarada encerrada. Enquanto isso, no campo, Paulo Nunes declarava em entrevista: “A Libertadores é nossa, eles que fiquem com o Paulistinha”.
Num grupo com River Plate, Racing e Cruzeiro, o campeão da América avançou com grandes goleadas; no Brasileiro, o mistão seguia no meio da tabela – quando jogava com o time titular, triturava os adversários, como as vitórias por 6 a 0 sobre Grêmio e Botafogo.
No mata-mata das quartas, novo confronto contra o Cruzeiro e uma avalanche de 7 a 3 no Palestra praticamente definiu a vaga. Nas semifinais, o avanço seria à la Libertadores: derrota por 1 a 0 para o San Lorenzo em Buenos Aires. Até que o time embarcou para o Japão.
A vida seguiu e o Palmeiras avançou às finais da Mercosul ao reverter o placar da ida com um categórico 3 a 0 sobre o San Lorenzo. As finais foram jogadas nos dias 16 e 20 de dezembro. Na ida, no Maracanã, o Palmeiras chegou a estar vencendo por 3 a 2, mas o Flamengo virou no final e trouxe o 4 a 3 para o Palestra.
O cansaço falou mais alto. De novo o Palmeiras chegou a ter o 3 a 2 no placar, mas o Flamengo encaixou um contra-ataque aos 38 do segundo tempo e chegou ao empate, que segurou até o fim. O Palmeiras perdeu dois campeonatos em dezembro, mas encerrou a temporada de 1999, após inacreditáveis 88 jogos, com o inédito título da Libertadores.