Dirigentes rivais se reduzem a torcedores para explicar o sucesso do Verdão

Borja, Tchê Tchê e Lucas Lima
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Na semana passada, o Verdazzo publicou um post no qual o foco eram os outros grandes times do Brasil, projetando as dificuldades que cada um atravessava e escancarando o otimismo em relação a esta temporada. De forma análoga, os adversários também espiam os outros times; quando o papo chega no Palmeiras, um suposto otimismo dá lugar a uma indisfarçável tensão.

A função de cartola, entre outras coisas, tem um componente político muito forte. Dependendo do estilo pessoal do dirigente, as declarações à imprensa podem vir com mais ou menos tempero,mas sempre estarão jogando para a torcida.

Diante de tantas vantagens competitivas que o Palmeiras alcançou, legitimamente, restou aos falastrões usar frases de efeito em seus pronunciamentos públicos para manter elevado o moral de seus comandados e da torcida, bem como marcar pontos na sempre mesquinha política interna dos clubes de futebol profissional.

Neste Carnaval, talvez contagiados pelo clima descontraído que cobre o país, dois dirigentes faziam seus discursos de como seus clubes eram lindos e maravilhosos, até que o Palmeiras apareceu na conversa. Chega a ser engraçado ver como eles se saíram.

A conta vai chegar!

Marcelo Medeiros
Reprodução

O presidente do Inter, Marcelo Medeiros, respondia às perguntas de um jornalista gaúcho em um programa de rádio local. Entre outras tergiversações, explicava por que o Inter não tinha auferido receitas significativas com vendas de jogadores em 2017. Saiu-se com um “a vitrine não era boa”, como se os craques Rodrigo Dourado e Edenílson só não estivessem sendo disputados pelo Barcelona e Juventus porque seu time não estava na Série A.

O papo chegou inevitavelmente ao Palmeiras, e a evasiva foi a mesma que vemos na boca de milhões de torcedores de outros times: tudo passa pela Crefisa, mas “uma hora essa conta chega. Ela chega.”

O tom chega a ser quase de oração. Nossos adversários estão desesperados para ver essa tal conta chegando. Esquecem, ou convenientemente ignoram, que o Palmeiras vem há alguns anos pagando contas em dia, sem contrair novas dívidas e sem fazer adiantamento de receitas. As dívidas estão escalonadas e o clube não gasta mais que arrecada. Quando as contas chegam – e elas não param de chegar – pagamos os boletos à vista.

Recentemente, por intervenção da Receita Federal, a relação entre Palmeiras e Crefisa sofreu uma alteração: o Palmeiras passou a assumir o risco de arcar com os custos dos jogadores que chegaram graças ao aporte financeiro da empresa, caso eles saiam de graça ao fim do contrato.

Mas os ativos continuam a ser do clube e temos a nosso serviço um homem que parece ser o mais eficiente do mercado nessa função de comprar e vender jogadores. Se todos os jogadores com o apoio da Crefisa saírem de graça, o Palmeiras terá uma dívida que corresponde a um terço de seu faturamento anual – algo relativamente tranqüilo de se resolver, principalmente para quem enche os estádios e não adianta receitas futuras.

E quando a Crefisa deixar o Palmeiras, o clube tende a estar devidamente calçado – as receitas vindas do patrocínio, se não forem inteiramente repostas pelo patrocinador seguinte, representam cerca de 20% do orçamento do clube hoje – algo perfeitamente administrável.

Uma baleia no aquário

Luís Paulo Rosenberg
Reprodução/ESPN

Luís Paulo Rosenberg, de volta à pasta de marketing do SCCP, é tradicionalmente um fanfarrão – já demonstrou essa faceta por vários anos em que ocupou esse cargo em gestões anteriores. Neste feriadão, num programa de televisão, desses de conversa infinita para preencher a grade, usava em sua argumentação que o Itaquerão é o melhor estádio do Brasil, quando foi interrompido por um dos entrevistadores, que perguntou se ele achava mesmo que era o melhor, e usou o Allianz Parque para instigá-lo.

Rosenberg então disse que o Allianz Parque é muito bom para shows para 40 ou 50 mil pessoas, imbatível, segundo suas palavras. Mas disse que o Itaquerão tem muitas outras vantagens. Entre elas, algo que ele chamou de “monumentalidade” – segundo o dirigente, quando se passa no entorno do Itaquerão você diz “oh!”, ao contrário do que acontece nas avenidas que cercam nosso estádio, que não seria sequer notado.  Mas só sendo cego para não enxergar o Allianz Parque. E o pior cego é aquele que não quer ver.

O estádio é indiscutivelmente um dos pilares da potência em que o Palmeiras se transformou. Ser “uma baleia num aquário” – alusão feita por Rosenberg à região da cidade de São Paulo em que o Allianz Parque se encontra – é exatamente o que faz do estádio o maior ponto de megashows do Brasil e uma grande fonte de receita para o clube; e foi  também o que tornou possível o estádio sair do chão sem que o Palmeiras pusesse a mão nos bolsos – nem nos próprios, nem do da população.

Aí o dirigente rival atacou o fato do Palmeiras ter que sair do Allianz Parque em 4 ou 5 jogos por ano, segundo ele, porque tem que dar espaço para shows de “rebolado”. Foi aqui, quando usou o termo pejorativo, que escancarou toda sua dor de cotovelo. Rosenberg pode ser dissimulado, mas não é burro. Ele sabe que o modelo de negócio do Allianz Parque, que seguirá em comodato por mais 26 anos e meio, é muito superior ao do Itaquerão.

Basta fazer as contas: os 4 ou 5 jogos por ano que o Palmeiras usa o Pacaembu como parte do acordo para que a WTorre tivesse construído o estádio com seus recursos saem muito mais baratos que uma dívida impagável que já está batendo na casa dos R$ 2 bilhões, que faz com que o SCCP não veja um tostão das arrecadações de seus jogos para tapar um buraco que só aumenta. Estão enxugando gelo e só sairão dessa penúria com mais uma falcatrua envolvendo dinheiro público.

Continuem assim!

Borja, Lucas Lima e Dudu
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Os dirigentes adversários parecem se recusar a admitir que o Palmeiras encontrou uma fórmula vencedora, consistente e longeva. Por muito tempo, o futebol brasileiro teve vencedores que se apoiaram em situações passageiras e surfaram na onda para alcançar os troféus – algo que sempre tinha um preço no final, a tal da conta que eles torcem que um dia irá chegar a nossa porta.

O Fluminense, por exemplo, vivia da Unimed e não se preocupou nem um pouco em se calçar para uma eventual saída da empresa – hoje precisa escalar a molecada de Xerém e não consegue ficar nem entre os quatro melhores do campeonato carioca.

Já o clube do senhor Rosenberg vive de manobras eticamente reprováveis – no mesmo programa, ele é quem teve que rebolar para explicar o que achava do SCCP ter ficado quatro anos deliberadamente sem pagar impostos no início desta década para manter o time forte e assim ter vantagens competitivas que o levaram a levantar os troféus mais importantes de sua história.

Se depender de nós, não tem problema: continuem assim! Se querem agir como torcedores e usar frases de efeito para justificar por que estão ficando cada vez mais para trás, que usem. Nós não nos esquecemos que, no final, futebol se decide é dentro de campo e que não ganhamos nada ainda este ano. O que estamos fazendo é tratar de aumentar as chances disso acontecer.

O Palmeiras segue fazendo seu trabalho, enquanto os dirigentes adversários falam em conta que vai chegar e em baleias em aquários. Daqui a pouco vão chegar no patético “não tem mundial” – como qualquer torcedor impotente que precisa, de alguma forma, dar um jeito de não admitir que o futebol está cada vez mais verde. Se eu fosse um deles, em vez de perder tempo com essas bobagens, tentaria de alguma forma copiar o modelo do Palmeiras para não deixar a diferença aumentar ainda mais.


Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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