Carta aberta ao presidente Maurício Galiotte

Caro presidente,

Estamos todos devastados pelo que aconteceu na tarde de domingo no Allianz Parque. Sua entrevista cheia de raiva e indignação na zona mista transpareceu uma pequena porção do que os milhões e milhões de palmeirenses espalhados pelo mundo estavam sentindo.

A expressão “paulistinha” que você usou na entrevista foi infeliz, mas perfeitamente compreensível diante do momento. Sua gestão tem sido marcada por muito mais acertos do que erros; o trabalho iniciado há quatro anos vem sendo mantido e ampliado e nos tornamos um clube que vai protagonizar o futebol brasileiro por vários anos, mantidas as diretrizes. Tudo isso fez nascer em todos nós uma expectativa enorme por uma conquista, que infelizmente não veio por uma atuação vergonhosa da arbitragem que certamente lhe causou, como a todos nós, muita raiva e frustração.

O Palmeiras está pagando por seus pecados. No imaginário da torcida, há quem diga que é uma grande orquestração da RGT, nos punindo por termos ousado desafiá-la ao fechar com o Esporte Interativo para a transmissão do Brasileirão em TV fechada. Há quem ache essa teoria conspiratória um tanto exagerada e que a coisa é muito mais simples, resumindo-se ao mero jogo de influências barato entre SCCP e FPF/CBF.

Eu não sei o que é, presidente. Só sei que não podemos nos esquecer que a arbitragem nos roubou no primeiro jogo da final, ao marcar impedimento inexistente de Borja e Willian, que partiam livre rumo ao gol. Nem que na partida do turno, um pênalti foi marcado com um atraso incrível e Jailson ainda foi expulso. E não vamos nos esquecer da operação dupla de que fomos vítima no ano passado, comandada por Héber e Daronco, que nos tirou a chance de conquistar o Brasileiro – que foi parar na mão deles também.

Quanto títulos eles ainda vão conquistar, mesmo com o Palmeiras sendo um time tão forte, tão estruturado, tão correto, tão planejado, tão competitivo, só porque têm a ajuda das arbitragens e seja lá de quem a controla?

Vivemos hoje um panorama que nem nos nossos sonhos mais otimistas do início de 2013 estaríamos vivendo agora. Mas esse cenário positivo não se converte em conquistas, presidente.

Nossa torcida é valente. É resiliente. Enverga, mas não quebra; está em nossa essência. Tentaram nos destruir em 1942 e resistimos. Enfrentamos um jejum de 17 anos e resistimos. Caímos para a série B duas vezes e resistimos. Não será agora que deixaremos de seguir amando e apoiando o Palmeiras, sustentando dois terços de nosso orçamento ao pagar religiosamente o Avanti e comprando os caros ingressos do Allianz Parque, além de camisas, produtos oficiais e tudo o mais.

Mas precisamos nos sentir amparados. Não nos agrada nem um pouco saber que somos sistematicamente roubados, e que amanhã o que vai acontecer é que nossos jogadores vão simplesmente treinar para enfrentar o Boca. Precisamos de mais – nós, torcedores, e os próprios jogadores. Precisamos sentir respaldo nos bastidores. Precisamos ter a sensação de que se jogarmos bola, podemos vencer.

O que vem acontecendo nos últimos meses nos deixa a sensação de sermos apenas o bobão que paga as contas e é passado para trás. Nossa renda significa mais de um terço da arrecadação total do campeonato e bancou, inclusive, o prêmio que o SCCP vai embolsar pelo título. Nossas contas e impostos estão todos em dia; o deles, não. E a taça vai pra eles.

Presidente, nós, aqui da arquibancada, não sabemos como funcionam os bastidores do futebol, mas temos certeza que você sabe. Não precisamos de uma entrevista com socos na mesa. Não precisamos de pirotecnia. Precisamos que o que precisa ser feito, seja feito. Precisamos de respaldo, precisamos nos sentir seguros. Com esse sentimento, todo ano será um novo 1942 e resistiremos. Mas se nos sentirmos desprotegidos, aí não tem resiliência que agüente.

Respeitosamente,

Conrado Cacace
www.verdazzo.com.br

O início do Paulistão de 1993 e a chegada de Edmundo ao Palmeiras

Por Thell de Castro

Depois de fechar o contrato de cogestão com a Parmalat e passar a nadar em dinheiro para grandes contratações, o Palmeiras montou um supertime em 1993 e iniciou o ano como favorito para as competições que disputaria. Mas ainda tinha que vencer a desconfiança da mídia, em virtude de que, nem sempre, o que é um esquadrão no papel vira um campeão em campo.

Após falar em Taffarel e Renato Gaúcho, entre outros, o Palmeiras contratou Edmundo, do Vasco, e nomes como Roberto Carlos, jovem relevação do União São João; Edilson, meia-atacante do Guarani; o zagueiro Antônio Carlos, do Albacete, da Espanha, entre outros.

A Folha de S. Paulo de 24 de janeiro de 1993 trouxe um guia sobre o Campeonato Paulista de 1993. Vou retratar aqui como time do Palmeiras foi visto para a competição e também alguns dias após a estreia. A primeira matéria é “Desafio às superpotências marca início do Paulistão”. No subtítulo: “SPFC mantém time campeão do mundo e Palmeiras investe US$ 5,2 mi; SCCP enfrenta o Bragantino no principal jogo do primeiro domingo”.

De cara, o Campeonato Paulista de 93 parece ser um segundo round da luta entre as duas superpotências do futebol brasileiro, o SPFC e o Palmeiras. O primeiro, vencedor do primeiro round, em 92, manteve a equipe campeã do mundo e sonha com um título inédito: o tricampeonato paulista. O segundo, vice em 92, quer a vingança e armou um megatime de US$ 7 milhões, US$ 5,2 mi só em 93.

Diante de SPFC e Palmeiras, com seus 14 jogadores de seleção e um punhado de promessas, os outros 28 times surgem como os índios de um faroeste. Só por SPFC e Palmeiras, esta edição tem tudo para ser a melhor em anos; mas há o ‘plus’ do desafio aos coadjuvantes. Se estes resolverem lutar pelo Oscar, será um evento seguramente antológico.

Na mesma edição especial, na página 2, um acontecimento histórico para nós. A nota, sem grande destaque, é “Edmundo quer um troféu”.

Repare que, naquela época, ninguém falava muito em SCCP e Santos. O primeiro estava em uma fase ruim depois do Brasileiro de 1990; o segundo, então, vivia uma draga desde os anos 1980. O grande adversário era o SPFC. Mas, como sabemos, a final daquele ano foi entre Palmeiras e SCCP. Melhor, impossível.

Em “Telê mantém time; Otacílio vai montar nova equipe”, o duelo tático de Palmeiras e SPFC.

Os técnicos dos grandes clubes da Capital travam, a partir de hoje, uma batalha tática. Telê Santana, do SPFC, Otacílio Gonçalves, do Palmeiras, e Nelsinho, do SCCP, enfrentam desafios diversos.

Otacílio Gonçalves segue por um terreno mais desconhecido. Com o time reforçado por seis contratações, o técnico terá a missão de montar a equipe com diversas estrelas que atuam na mesma função. Disposto a tirar Mazinho da lateral e escalá-lo no meio campo, Otacílio terá que acertar a função tática de Edílson, Zinho, Edmundo e César Sampaio. Devem ir para a reserva Jean Carlo e Daniel.

O desafio do técnico palmeirense é conseguir o entrosamento ideal para que Evair não fique sozinho na frente. As melhores alternativas são as descidas pelas pontas de Zinho e Edmundo.

Edmundo, Zinho e EvairNa página 5, uma matéria somente para os investimentos palmeirenses: “Parmalat investe para enfrentar SPFC”.

Entre os vários objetivos traçados pela Parmalat para este ano, um se destaca: a conquista do campeonato paulista pelo Palmeiras. Para atingir o objetivo, o time tem como principal rival o SPFC, campeão paulista, sul-americano e mundial interclubes.

A equipe investiu cerca de US$ 5,2 milhões nesta temporada em contratações. Somados aos US$ 1,8 milhão injetado no ano passado, a Parmalat gastou o que pretendia investir na contratação de Diego Maradona. Enquanto o título não é conquistado, a empresa apresentou um crescimento de 20% nas vendas, depois de assinar o acordo com o Palmeiras.

“O SPFC compete contra uma grande empresa”, analisou o presidente do clube, José Eduardo Mesquita Pimenta. No final do ano passado, antes de o Palmeiras perder o título para o SPFC, a Parmalat acertou a contratação do zagueiro Antônio Carlos, do Albacete espanhol, por US$ 1,5 milhão, e o lateral esquerdo Roberto Carlos, do União São João, por US$ 500 mil.

Enquanto o SPFC acertava a permanência de Raí por mais seis meses, a Parmalat investia em mais contratações. Depois de dois insucessos (Ricardo Rocha e Gerônimo), a empresa partiu para mais uma contratação de impacto: o meia Edmundo, do Vasco.

Com a demora do acerto, a Parmalat acertou outros três negócios. Contratou por empréstimo os pontas Marquinhos e Naná, do Andradina, por US$ 30 mil cada, e o meia Edílson, do Guarani, por US$ 1,3 milhão. Edmundo foi oficialmente contratado na sexta passada, por US$ 1,85 milhão. “Com ele, paramos durante um tempo de fazer negócios”, disse José Carlos Brunoro, diretor de esportes da empresa.

Edmundo é o sexto jogador da equipe que faz parte das convocações da seleção brasileira – os outros são Antônio Carlos, Roberto Carlos, César Sampaio, Evair e Zinho.

Na segunda, dia 25 de janeiro de 1993, além da derrota do SCCP na estreia para o Bragantino por 1 a 0, a Folha destacava na capa do caderno de esportes a contratação de Edmundo.

O meia Edmundo, 21, apresentou-se ao Palmeiras decidido a impressionar. O jogador despertou também a maior recepção entre os novos contratados: cerca de 100 pessoas esperaram por ele na tarde de sábado.

Inicialmente impressionado, Edmundo logo tentou desfazer dois conceitos que acompanham sua carreira: a fama de jogador temperamental e uma certa arrogância ao seu declarar sempre vencedor em todo time em que joga. Mas, à medida em que procurava derrubar a fama, Edmundo só conseguiu fortalecê-la, para alegria dos torcedores que o cercavam.

Destaque para a resposta para a pergunta “você acredita que o Palmeiras já consegue atingir o mesmo nível técnico do SPFC?”

– “É difícil ainda dizer isso. Na teoria, sim. Boa parte da seleção brasileira está agora no Palmeiras e no SPFC. Mas sei que vamos chegar na frente do São Paulo nesse ano. A equipe é excelente e já podemos nos preocupar com a comemoração na avenida Paulista”. Dito e feito!

Na quarta, dia 27 de janeiro, o Palmeiras estrearia contra o Marília, às 20h30, no Palestra Itália.

O time não decepcionou. Para 27.516 pagantes, com renda de Cr$ 1.506.465.000,00, e Edmundo Lima Filho como árbitro, o time saiu perdendo, mas buscou a virada ainda no primeiro tempo e venceu por 2 a 1 jogando com Veloso, João Luís (Maurílio), Antônio Carlos, Edinho Baiano e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho, Edmundo (Jean Carlo) e Zinho; Edílson e Evair. O Marília perdeu com Júlio César; Amauri, Miranda (que foi expulso aos quatro minutos do primeiro tempo), Cavalcanti e Ailton; Tozin, Edilson, Guilherme e Nei (Cássio); Catatau e Vladimir (Paulo César), técnico José Carlos Serrão. Catatau fez aos 2 minutos, enquanto Evair marcou aos 23 e César Sampaio fez o segundo aos 26.

Dessa forma, iniciamos nossa trajetória vitoriosa no Campeonato Paulista de 1993, que culminou no jogo de 12 de junho, quando vencemos o SCCP por 4 a 0 e fomos campeões após 16 anos sem conquistas.


Thell de Castro é palmeirense, jornalista e editor do site TV História

Periscazzo (06/04/2018)

Faltam apenas dois dias para o Derby final do Paulistão. Tudo sobre a semana e sobre a expectativa para o grande jogo.

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A batalha dos treinos abertos: o Derby começou muito mais cedo

Maurício GaliotteO Derby decisivo do Paulistão, marcado para domingo, começou na segunda-feira, quando Palmeiras e SCCP divulgaram que fariam treinos abertos para seus torcedores em seus respectivos estádios no sábado pela manhã.

A PM logo se manifestou de forma contrária, informando não ter efetivo suficiente para garantir a ordem em dois eventos ao mesmo tempo com tamanho potencial destrutivo. Com base nesse parecer, o Ministério Público, através do procurador Paulo Castilho, “proibiu” os treinos abertos.

Os clubes deram de ombros. Cientes de que o MP não tem poder para proibir um evento dentro de propriedade particular, bateram o pé e confirmaram os treinos. Começou então uma verdadeira batalha nos bastidores: os dois clubes, cheios de vontade de promover eventos de aproximação com suas torcidas na véspera de uma data tão importante, e o MP, preocupado com os prováveis efeitos devastadores da realização simultânea dos dois treinos – e entendam “devastadores” como quiserem: tanto para a população em si, como para as pretensões políticas dos responsáveis pela segurança pública.

O Palmeiras jogou de forma magistral: usou o SCCP como aliado para confirmarem os treinos e assim colocar o MP nas cordas; não sem ter a certeza de ter protocolado o pedido nos órgãos competentes antes do rival. O MP foi obrigado a aceitar a realização dos treinos e a negociar com os clubes para desmembrar os horários – algo que tem como único critério objetivo para decisão a antiguidade do protocolo. Como o do Palmeiras é mais antigo, sobrou para o SCCP, que não tinha como bater o pé sem se responsabilizar por eventuais incidentes.

Assim, a estratégia do Palmeiras foi perfeita e funcionou apenas por um motivo: conhecia e fez valer seus direitos, seguindo a regra com rapidez, mostrando organização e agilidade. O MP perdeu porque tentou usar um poder que não tinha; Castilho não conseguiu intimidar Mauricio Galiotte e Andrés Sanchez. E o SCCP perdeu porque possivelmente confiou na condição de ser, sempre, o preferido. O Palmeiras, ao sacar o protocolo do bolso e usar a imprensa para tornar pública essa condição, ganhou o jogo.

Primeiro round

Essa batalha, claro, foi apenas o primeiro round do Derby – mas foi vencida pelo Palmeiras com requintes de crueldade. Nossa diretoria manipulou os bastidores com maestria, usando apenas a lei, a estratégia e a organização.

Mas de que valeu essa batalha, afinal?

Para a diretoria do Palmeiras, bastante. Mauricio Galiotte vinha de uma série de episódios em que havia deixado a impressão de fraqueza absoluta nos bastidores, fazendo com que a confiança da torcida, e talvez até de seus comandados, não fosse a ideal. Ao sair como vencedor na questão dos treinos abertos, obrigando o MP e o SCCP a cederem, mostrou uma face diferente que, caso tenha continuidade nos próximos episódios, pode lhe render muitos dividendos políticos, além do mais importante: garantir o respeito ao Palmeiras.

Fazer o treino aberto terá um efeito moral sensacional em nossos jogadores. Uma festa desse quilate no campo onde será realizada a final, na véspera, vindo de dois resultados excepcionais, é tudo o que o time precisa para afirmar a confiança.

Andrés SanchezO mesmo não se pode dizer do efeito que o treino aberto terá no rival, nas circunstâncias que vai acontecer: transparecendo fragilidade por ter sido forçado a alterar o horário, a dois dias de distância da partida, para “apoiar” um time que vem de uma derrota incontestável em casa e precisa do resultado. Tudo isso pode fazer com que o evento seja um tiro no pé, e em vez de dar embalo ao time, acabe criando mais pressão e deflagrando medo nos jogadores.

É claro que o placar de 1 a 0 não garante nada, muito menos essas conjecturas a respeito dos treinos abertos. O Palmeiras precisa entrar em campo no domingo e garantir lá dentro o título paulista. Mas que saímos mais fortalecidos ainda do episódio, não há dúvidas. VAMOS PALMEIRAS!

Periscazzo (02/04/2018)

Toda a repercussão do último Derby, dentro e fora de campo, e também a expectativa pelo jogo da Libertadores.

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