O ano de 1996 na História do Palmeiras
Os percalços de 1995 fizeram com que a diretoria acelerasse o planejamento da temporada seguinte, medida inédita na época. Além de trocar o treinador em novembro, dispensando Carlos Alberto Silva e trazendo de volta Vanderlei Luxemburgo, a diretoria se adiantou a todos e, em outubro, trouxe Djalminha e Luizão, do Guarani, que só poderiam estrear em 1996.
Ambientados, os dois ex-bugrinos ganharam a companhia do lateral Júnior, dos zagueiros Sandro e Cláudio e do atacante Elivélton, carrasco do time no estadual do ano anterior. As saídas mais sentidas de 1995 – Edmundo, Roberto Carlos, Antônio Carlos e Edílson, além do vácuo de Evair, que não havia sido preenchido, estavam finalmente repostas. A saída de Mancuso não preocupou, pois Amaral e Flávio Conceição tinham amadurecido o suficiente. E Sérgio, que queria jogar mas ficava à sombra de Velloso, deixou o clube para a ascensão do jovem Marcos.
A pré-temporada em Serra Negra começou com um 10 a 0 na seleção da cidade – mas ninguém imaginava que o placar fosse um indicativo do que estava por vir. O time foi para o nordeste jogar a Copa Euro-América, e depois de golear o Borussia Dortmund por 6 a 1, ganhou a taça ao empatar com o Flamengo com um gol de Rivaldo aos 45 do segundo tempo.
Após duas rodadas no estadual, o Palmeiras já tinha 13 gols marcados, após golear Ferroviária (6 a 1) e Novorizontino (7 a 1). Um empate em 0 a 0 com o União São João foi o marco para a maior sequência de vitórias da História do Palmeiras: após o empate em Araras, foram 23 vitórias seguidas.
O show durou 81 dias, de 11 de fevereiro a 1 de maio. O ataque com Djalminha, Rivaldo, Müller e Luizão encaixou de forma única. Elivélton entrava frequentemente no time e também fez parte da magia. Entre amistosos, estadual e fases iniciais da Copa do Brasil, o Palmeiras marcou 98 gols nesse período – média superior a quatro por jogo. Os destaques foram as goleadas por 8 a 0 no Botafogo de Ribeirão e no Sergipe; 6 a 0 no América e no Santos; 5 a 0 no União São João e no Atlético-MG e 5 a 1 sobre Ferroviária e Juventus.
O Palmeiras conquistou o primeiro turno invicto e se conquistasse também o segundo turno evitaria o quadrangular final. As paridas contra o Paraná, pelas quartas-de-final da Copa do Brasil, foram difíceis e tiraram o foco do estadual por um momento – foi quando vieram dois tropeços: empate no Derby e a única derrota da campanha, 0 a 1 para o Guarani. Apesar das dificuldades, o time avançou para as semifinais contra o Grêmio, enquanto a conquista antecipada do estadual se aproximava.
Na primeira partida da semifinal, o Palmeiras venceu em casa por 3 a 1, encaminhando a classificação. No final de semana, veio a coroação da maior campanha de todos os tempos em um campeonato paulista: ao vencer o Santos por 2 a 0, o Verdão conquistou também o segundo turno e levantou o troféu num Palestra Italia abarrotado. Foram 30 jogos, com 27 vitórias, 2 empates e uma derrota; 102 gols marcados e apenas 19 sofridos.
Veio então a segunda partida das semifinais da copa do Brasil, no Olímpico. Palmeiras e Grêmio já haviam construído uma grande rivalidade no ano anterior, depois do histórico confronto pela Libertadores. Felipão colocou fogo no estádio, a seu estilo, e o time gaúcho veio para arrancar a classificação na marra. Cláudio abriu o placar aos 12 do segundo tempo para o Verdão e a tampa do caixão parecia fechada, mas Jardel empatou aos 12 e Zé Alcino virou aos 33. O Olímpico fervia e Jardel fez o terceiro de cabeça pouco depois, o que levaria a disputa para os pênaltis, mas o bandeirinha anulou o gol, acusando impedimento muito reclamado pelos gaúchos. O Verdão segurou o placar e avançou às finais – ao final do jogo, o pau quebrou no gramado e até Luxemburgo entrou na briga.
Após as batalhas contra o Grêmio, a diretoria fracassou em segurar Müller no clube. O contrato do atleta terminou exatamente após a segunda partida das semifinais e o SPFC o tirou do Palmeiras, numa espécie de vingança pela operação com Cafu no ano anterior. Müller alega que pediu um aumento no novo contrato em reconhecimento ao bom futebol, e que a diretoria não concedeu, por isso saiu.
O Palmeiras, mesmo assim, era superior ao Cruzeiro e arrancou um bom empate no Mineirão, na partida de ida. Na volta, Luizão abriu o placar no Palestra mais uma vez lotado, mas Roberto Gaúcho empatou ainda no primeiro tempo. Com muita luta, o time mineiro equilibrou o jogo e chegou à vitória num gol de Marcelo Ramos, após falha de Velloso. A decepção da perda do título, em casa, refletiria nos meses seguintes. Após as saídas de Rivaldo e Amaral, a química atingida no primeiro semestre jamais seria reencontrada.
O time viajou à China para arrecadar mais alguns trocados para Mustafá Contursi e então começou a campanha pelo título brasileiro. Reforços chegaram: Leandro Ávila e Leonardo foram contratados e o colombiano Freddy Rincón foi readquirido junto ao Real Madrid. Pouco depois, vieram Rogério e Viola. Mesmo já sem a superioridade flagrante vista no início do ano, o Palmeiras fazia uma boa campanha, liderando a fase de classificação, invicto.
Veio a disputa da Taca Conmebol, um mata-mata com 16 clubes. Jogando com o time reserva, o time acabou goleado pelo Bragantino por 5 a 1 na primeira partida. Após vencer o SPFC pelo brasileiro, o Palmeiras ficou perto de reverter o quadro, vencendo por 3 a 0 na partida de volta – faltou um gol. Restava o Brasileirão.
Na ponta da tabela numa fase onde oito avançariam, o time tirou o pé nos últimos jogos, e acabou em terceiro lugar na classificação, o que o colocou de novo frente a frente contra o Grêmio, sexto. Na primeira partida, no sul, Luizão abriu o placar para o Palmeiras mas o Grêmio empatou com Emerson aos 8 do segundo tempo. Leandro Ávila foi expulso e o time de Felipão imprimiu uma forte pressão, marcando mais dois gols e trazendo uma boa vantagem para o Morumbi.
No jogo da volta, em mais um jogo extremamente nervoso, o Palmeiras abriu o placar com Elivélton, mas o Grêmio, feliponicamente, segurou o placar e avançou – o time gaúcho se sagraria campeão brasileiro ao fim do ano. O modo como Luiz Felipe Scolari conduzia seus times para vencer as partidas seria incorporado ao DNA palmeirense algum tempo depois, mas nós mal imaginávamos…