Brasileirão 2018 – planejamento de pontos: segundo quartil

O Palmeiras volta à disputa do Brasileirão, e o Verdazzo atualiza o acompanhamento da projeção de pontos, construída antes do início do campeonato.

Devido à Copa do Mundo, o primeiro quartil acabou um pouco espichado, com 12 jogos. A projeção de pontos apontava a conquista de 23 pontos antes da parada para a Copa, sempre visando a contagem final de 77 pontos – esse número baseia-se no fato que desde 2006, quando o campeonato passou a ter este formato, nenhum vice-campeão ultrapassou a marca de 72 pontos. Chegar a 77, diante desse histórico, dá alguma margem de segurança.

Brasileirão 2018O Palmeiras iniciou o campeonato dentro da previsão, empatando fora contra o Botafogo e vencendo o Inter. O tropeço contra a Chape (roubado) foi compensado pela boa vitória em Curitiba.

Depois de dois resultados dentro do previsto, novo tropeço: contra o Sport, em casa – algo compensado com a ótima partida em Porto Alegre. O Verdão caminhava para chegar ao fim do quartil dentro do planejamento, quando os tropeços finais contra Ceará e Flamengo nos deixaram a quatro pontos da meta.

Ajustes no segundo quartil

Brasileirão 2018Esses maus resultados na reta final do quartil obrigam o Palmeiras a fazer uma campanha espetacular nos sete jogos deste segundo quartil; a previsão inicial de 5V 1E 1D precisa ser ajustada para cima. Com seis vitórias e um empate, o Verdão ficará a apenas um ponto da meta do turno, de 39 pontos. Uma campanha perfeita, de sete vitórias, nos leva a uma folga de dois pontos.

Olhando apenas para os números, a meta é ousada e difícil, muito improvável estatisticamente. Mas a tabela permite sonhar, já que todos os jogos são perfeitamente “ganháveis”. O que complica ainda mais a tarefa são os três jogos de mata-mata encravados na trajetória – a ida ao Paraguai, pela Libertadores, e os dois confrontos contra o Bahia pela Copa do Brasil.

Cenário incerto

Gustavo Scarpa
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A previsão está muito mais sujeita a complicações porque o cenário pós-Copa é tradicionalmente muito nebuloso. Além das mudanças nos elencos, os times tendem a usar a intertemporada para experimentar mudanças táticas; muito do que se viu até junho deixa de ser referência para o resto da temporada.

O Palmeiras perdeu Keno, mas ganhou Gustavo Scarpa, que já volta com status de titular. O jeito de jogar do time deve mudar, sobretudo fora de casa, quando tivemos grandes resultados. Por outro lado, a presença de meias que se movimentem mais horizontalmente tende a ajudar o futebol de Lucas Lima, o que reforça a esperança de uma grande campanha.

O Flamengo desponta como o principal concorrente, mas já vimos o quanto a tabela foi marotamente direcionada para que eles (junto com o SCCP, que não aproveitou) abrissem vantagem no começo do campeonato. A tabela deles no segundo quartil é bem mais complicada, jogadores importantes deixaram a Gávea e a tendência é que a distância diminua nas próximas rodadas.

Esperança é o que nos move, sempre. Os 77 pontos projetados visam um resultado seguro, mas nada impede que 75 ou 74 pontos não sejam suficientes para a conquista. Por outro lado, o Flamengo (ou outro concorrente) pode fazer uma grande campanha e elevar o patamar da disputa. A nós, resta fazer o papel de sempre: apoiar, apoiar e apoiar, para que no final do ano, independentemente do resultado das copas, possamos encerrar o ano com mais uma grande conquista levantando o decacampeonato.


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Regulamentação do uso de redes sociais pelos atletas: já passou da hora

Dudu InstagramEm sua conta no Instagram, ontem, Dudu manifestou-se aparentando uma certa resignação. A imagem ao lado reproduz a postagem: “Feliz ou não, é a lei da vida. Seguir em frente com a cabeça erguida. Superando tudo que está por vir”.

Pouco depois, O atacante retirou o trecho “Feliz ou não, é a lei da vida”, mas já era tarde. Centenas de torcedores manifestaram toda sua indignação e intolerância para com o atleta, como se ele houvesse desrespeitado o Palmeiras.

Dudu teve uma proposta financeira muito alta da China e quis sair. Talvez as críticas desmedidas e raivosas de alguns torcedores em outros episódios de tensão tenham pesado em seu desejo; talvez tenha sido só a grana mesmo. Mas a diretoria do Palmeiras, após vender Keno, não abriu mão do camisa 7 para não prejudicar ainda mais o projeto esportivo de 2018 e manobrou para que Dudu permanecesse no clube pelo menos até o fim deste ano – seu contrato vai até 2022.

A mensagem de Dudu não foi negativa, muito menos desrespeitosa ao Palmeiras. Foi um desabafo pessoal, de quem queria algo mas teve que se resignar com um desfecho diferente. Parece que alguns torcedores não sabem conviver com esse tipo de manifestação e se sentem ofendidos com o fato de existir no mundo um atleta que prefere não estar no Palmeiras, por algum motivo. Parece que os jogadores são obrigados a amar o Palmeiras como se fossem os próprios torcedores. É muito melindre.

O dia seguinte: feliz!

Hoje Dudu chegou à Academia de Futebol para o treino da manhã e não aparentava nenhuma negatividade, como se pode ver abaixo, na sequência de tweets dos setoristas Thiago Ferri, do Lance, e Rodrigo Fragoso, do Esporte Interativo:

Dudu parece focado no trabalho, feliz, e possivelmente segue tendo em vista uma transferência ao final da temporada. Isso não impede que o atleta tenha um bom desempenho até o final do ano; o tom de resignação de sua mensagem transparece exatamente isso.

Podia ter evitado

Dudu
Djalma Vassão/Gazeta press

O inferno das redes sociais já condenou Dudu. Sabemos, no entanto, que esses chiliques são efêmeros e duram, se tanto, duas semanas – a não ser que o jogador demonstre apatia em campo e/ou tenha mais episódios de destempero que remetam à manifestação de ontem. Neste caso, a sementinha plantada no Instagram tende a virar uma árvore de frutos bem amargos. Dudu será vaiado e perseguido – e se o time desgraçadamente acabar eliminado de forma precoce de alguma competição, será prudente evitar até visitas a supermercados e agências bancárias.

Talvez Dudu tenha tentado passar uma mensagem de positividade, com foco na maturidade em aceitar uma situação que não considerava a melhor para si, mas que aceitou pelo bem do grupo, para cumprir uma palavra empenhada. Talvez ele estivesse tentando mostrar que sabe levantar a cabeça e seguir em frente. Sabe-se lá qual o foco principal da mensagem. Mas em tempos de absoluta intolerância e falta de raciocínio, a postagem se mostrou um desastre. Se bem assessorado, ele podia ter evitado.

O uso de redes sociais por parte de jogadores não pode ser comparado aos de pessoas comuns. Atletas profissionais são figuras públicas e representam o clube que os pagam. Em casos extremos algumas declarações podem até condenar uma temporada inteira – como pode ter acontecido com o “áudio vazado” de Felipe Melo no ano passado.

Enquanto os clubes não regulamentarem o uso das redes sociais por parte dos atletas que mantêm sob contrato, terão que conviver com a tensão permanente de terem que desarmar uma bomba-surpresa. Se essa regulamentação for redigida de forma criteriosa, contemplando apenas os assuntos sensíveis, e for muito bem explicada e assimilada pelos jogadores sem deixar a impressão de ser um mero instrumento repressivo e ditatorial, todos têm a ganhar, principalmente os próprios atletas.


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Periscazzo (16/07/2018)

Palmeiras entra no aquecimento final das turbinas para a segunda parte da temporada, enquanto Dudu fala mais uma besteira nas redes sociais.

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O que o Palmeiras pode aprender com a Copa

FrançaA Copa do Mundo acabou e os olhares se voltam novamente ao futebol doméstico. Depois de cinco semanas de recesso, como acontece a cada quatro anos, os principais clubes voltam às disputas do Brasileirão, da Copa do Brasil e da Libertadores, dando um choque de realidade às torcidas. A diferença que se notará ao assistir aos primeiros jogos de clubes em relação ao que nossos olhos se acostumaram a ver nos últimos 30 dias chegará a doer.

Um Mundial sempre deixa lições. Uma das mais antigas de todas é que o futebol é uma grande alegoria da sociedade e do mundo. Talvez a maior lição desta Copa é que, tal e qual no mundo, não se pode dividir as coisas de forma tão tacanhamente binária. Futebol não é só jeito x força, não é só experiência x juventude, não é só obediência tática x criatividade.

A última binariedade do futebol que vem sendo discutida ao longo dos últimos dez anos é a importância da posse de bola. A Espanha, a partir de 2008, apoiada pelo desempenho fenomenal do Barcelona, consagrou o tiki-taka – a troca de passes envolvente, não raro precedida por uma introdução longa e paciente em busca do melhor cenário para o bote. A conquista de dois campeonatos europeus e da Copa de 2010 entre eles parecia não deixar dúvida sobre esse caminho.

Até que José Mourinho empurrou a tradicional retranca a níveis mais elevados. Seu desafio era parar a máquina de passes dos espanhóis, fazer com que a busca pelo espaço para a finalização passasse de incessante para infinita – e para isso resolveu estacionar um ônibus na pequena área: duas linhas, normalmente de quatro jogadores, absolutamente compactas e quase intransponíveis, composta não só por marcadores implacáveis, mas também por craques de bola que, ao recuperar a posse, armariam na velocidade da luz um bote vertical, mortal. Teve sucesso na Internazionale, conquistando tudo no mesmo ano em que o tiki-taka levantava sua Copa do Mundo.

Diego Simeone reproduziu a estratégia à sua maneira num Atlético bem menos estrelado, mas tão eficiente quanto, e reforçou o aparente sucesso da fórmula. Estava armado o embate, que, está claro agora, era vazio. A Copa de 2014 tentou mostrar, mas não deixou claro, o que a Copa de 2018 finalmente escancarou: assim como na vida, não existe uma fórmula clara para o sucesso no futebol atual, tão cheio de nuances e fatores aleatórios. Não existe um conceito perfeito calcado numa binariedade, mas sim uma combinação de técnicas, e basta que uma delas não seja perfeita para que o projeto caia por terra durante algo tão aleatório quanto um jogo de futebol eliminatório.

Conhecimento e técnicas

Griezmann e De BruyneEste Mundial pareceu enterrar a discussão em torno da posse de bola. A França, campeã, teve menos posse de bola em quatro de seus sete jogos. Já a Bélgica, tida por muitos observadores como o futebol mais bem jogado da competição, só teve menos posse de bola em dois jogos, mesmo contando com ataques rápidos e verticais comandados por De Bruyne e Hazard. Fica difícil estabelecer a dependência entre posse e resultado, ainda mais levando-se em conta que o comportamento das seleções entre ter a bola ou não ter mudou conforme as marchas dos placares.

A conclusão é que não basta ter a bola ou saber não tê-la, algo transformado em frase de efeito por Tite com seu “saber sofrer” que encantou a  tantos jornalistas. O mais importante de tudo é ser eficiente dentro da proposta que cada jogo oferece. Seja esperando o adversário, seja propondo o jogo, a eficiência nos passes e nas conclusões é quem manda. A tática nunca foi a protagonista absoluta; a qualidade técnica dos jogadores voltou a ser um grande diferencial, com um ingrediente que precisa ser cada vez mais valorizado: o controle emocional. Tudo isso se atinge com a aquisição de conhecimento e desenvolvimento de técnicas.

Aplicando os conceitos aos clubes

Centro de ExcelênciaSe eu fosse o presidente do Palmeiras, direcionaria o desempenho do elenco principal e sobretudo da base visando o desenvolvimento máximo de fundamentos. Errar menos passes para não ser surpreendido em contra-ataques e ser preciso e letal nas conclusões, já que as chances de gol se tornam cada vez mais raras, requer treinamento incansável, com técnicas cada vez mais modernas que os profissionais da área seguem aprimorando. A França está longe de ser a equipe que mais finalizou a gol. Mas quando o fez, teve um aproveitamento incrível.

O equilíbrio emocional, é cada vez mais evidente, é parte fundamental dessa base. O Brasil poderia ter passado pela Bélgica, pela Inglaterra e pela França, mas os atletas pareciam frágeis demais emocionalmente. Nervos descontrolados atrapalham o raciocínio e a execução dos movimentos. A pressão acontece por vários motivos, desde a formação inadequada, passando pela exposição desnecessária – causada muitas vezes pelos staffs dos próprios atletas, em busca de contratos suplementares de publicidade.

E para completar o tripé, a tática continua valendo, e muito. Saber ler o adversário, prever seus movimentos, ter um elenco completo à disposição, com jogadores de todas as características, possibilita a um treinador preparar a melhor estratégia para cada jogo – e para isso, precisa ter um elenco na mão: conhecer exatamente o que cada jogador pode oferecer e como pode utilizá-lo. E é necessário tempo suficiente para atingir essa compreensão e fazer os jogadores entenderem cada modelo de plano de jogo – tudo isso em paralelo a ensaios exaustivos para desenvolver um arsenal de jogadas de bola parada, na defesa e no ataque. Daí o mantra de não mandar um técnico embora na primeira sequência ruim de resultados.

Alemanha 2014Com esse leque de valores, baseado em conhecimento e desenvolvimento de técnicas, a Alemanha conquistou a Copa no Brasil quase sem sustos, no auge de um projeto absurdamente bem estruturado usando todos esses conceitos, enquanto o mundo discutia a posse de bola. A Alemanha falhou em 2018 na reposição das peças; os jogadores que colocaram o mundo no bolso em 2014 perderam o brilho – mas a essência do projeto permanece, com Joachin Löw mantido no comando, em busca de uma nova geração.

É essa essência que os clubes, que têm muito mais condições de montar trabalho consistentes que as seleções, precisam buscar. Com jogadores muito bons tecnicamente, equilibrados emocionalmente, sobre uma concepção tática que não se prende a apenas um modelo, mas que consegue se adaptar ao adversário, a chance de sucesso se multiplica.

No futebol brasileiro, que ainda vive no século 20, quem sair da binariedade e fizer isso primeiro terá vários anos de supremacia, até ser copiado. Não basta estrutura física, algo que já temos. É preciso um projeto de futebol completo, como o da Alemanha, que começou em 2006 e teve seu pico em 2014, que foi emulado pela França em 2018, contou com uma geração talentosíssima e é a grande campeã do mundo.


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