Roger não resiste à máquina de moer e deixa o comando do Palmeiras

Roger Machado
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Roger Machado foi demitido no início da madrugada desta quinta-feira, após a derrota para o Fluminense no Maracanã. Após um primeiro tempo muito bom, o time caiu inexplicavelmente de rendimento e o treinador queimou a terceira substituição de forma totalmente equivocada, deixando o time estéril aos 25 minutos do segundo tempo. Foi a gota d’água para que a direção do Palmeiras o dispensasse.

A medida é desesperada e tem cheiro político. Em ano eleitoral, seria um desastre para o presidente Mauricio Galiotte fechar o primeiro mandato, tendo herdado um time campeão e completamente sanado financeiramente, sem um título.

Nosso elenco mostrou extrema lealdade ao treinador, cumprindo suas determinações e correndo até a última gota de suor, mas a falta de confiança em suas decisões possivelmente determinava a apatia que dominava o time em campo. Isso é um sinal de alerta que não pode ser simplesmente desprezado, tanto quanto sua questionável capacidade de leitura de jogo.

Cobrar evolução e corrigir os erros, acompanhando o dia-a-dia do time de perto seria a atitude que se espera de uma diretoria. Mas entre respeitar o próprio planejamento e tentar ganhar um título na base do vamo-que-vamo, o desespero falou mais alto.

A decisão, aliás, escancara que o comando palmeirense já não fala a mesma língua. Na terça-feira à noite, Alexandre Mattos saiu-se com esta declaração em entrevista à FOX Sports: “É dando calma para ele, blindando ele. Temos confiança total no trabalho, os números são bons”.

“Máquina de moer treinadores”

Roger Machado foi mais uma vítima da máquina de moer treinadores que é o Palmeiras. Montou um plano de jogo, cuja assimilação ainda estava em curso pelos jogadores. Perdeu jogadores importantes e não teve tempo para readaptar o sistema.

A direção, que o deixou sem um centroavante reserva desde o início do ano, fez o que reza a cartilha do cartola brasileiro: demitiu o treinador, que tinha 68% de aproveitamento.

Desta forma, o clube segue sem emplacar um treinador com uma sequência maior que 53 jogos desde que Gilson Kleina, com 106 partidas, foi demitido em maio de 2014.

Treinador Período J %
Gilson Kleina Gilson Kleina set/12 a mai/14 106 60,06%
Ricardo Gareca Ricardo Gareca jul/14 a ago/14 13 33,33%
Dorival Júnior Dorival Júnior set/14 a dez/14 20 38,33%
Oswaldo de Oliveira jan/15 a jun/15 31 62,37%
Marcelo Oliveira Marcelo Oliveira jun/15 a mar/16 52 53,21%
Cuca Cuca mar/16 a dez/16 53* 63,52%
Eduardo Baptista Eduardo Baptista jan/17 a mai/17 23 66,67%
Cuca Cuca mai/17 a out/17 34 53,92%
Alberto Valentim Alberto Valentim out/17 a dez/17 11** 57,58%
Roger Machado Roger Machado jan/18 a jul/18 44 68,18%
*contando duas partidas em que Valentim e Cuquinha comandaram o time
**contando apenas o período como técnico efetivado

E agora?

Alexandre Mattos e Mauricio GaliotteA chance do próximo treinador do Palmeiras, seja quem ele for, de ser campeão este ano, existe, já que o elenco segue sendo muito bom, apesar de algumas lacunas que seguem sem reposição. No futebol brasileiro, dá para ser campeão aos trancos e barrancos.

Roger também tinha chances de reverter o panorama, afinal, deveria receber Borja de volta em alguns dias e ainda estava reconstruindo o modelo ofensivo após a perda fundamental de Keno, mas perdeu a corrida contra o calendário eleitoral. O novo treinador chegará sem ter a presença de Keno na cabeça. Vai herdar um trabalho de mais de 68% de aproveitamento e deve adaptá-lo a seu estilo pessoal, o que resultará, pelo menos este ano, num time sem qualquer identidade que reza por um bom encaixe.

No mercado, técnicos consagrados e amados pela torcida como Vanderlei Luxemburgo e Felipão disputam o espaço com Abel Braga e os emergentes Zé Ricardo e Jair Ventura. Outros técnicos do mercado sul-americano correm por fora e podem surpreender. A diretoria, perdida, provavelmente não tem a menor ideia do que fazer com o projeto técnico em curso. Pelo andar da carruagem, nosso próximo treinador tende a ser demitido no máximo em abril, execrado pela torcida.


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A torcida do Palmeiras parece o Neymar

PorcoO Palmeiras venceu ontem e segue na caça à liderança do Brasileirão. A vitória quebrou algumas escritas recentes. Apesar de ser um grande freguês do Palmeiras, o Galo vinha de uma sequência inédita de 13 jogos, sete anos sem derrota para o Verdão. E o golaço de falta de Bruno Henrique foi o primeiro em três séculos em jogos “oficiais” – para a imprensa, o gol no amistoso na Costa Rica não contava.

Após três empates decepcionantes – mesmo sendo dois fora de casa e um contra o líder do campeonato – o Verdão chegou ao terceiro gol no último lance do jogo contra o Atlético Mineiro e levou a torcida a um estado de êxtase.

Pelo menos é o que poderia ter acontecido.

Mas o clima na torcida na arquibancada, nas redes e nos grupos era de descompasso total. Não foi nada diferente do que se vê nas derrotas. O claro desequilíbrio do time em campo, que remete à real possibilidade de terminar a temporada sem título algum, causa chiliques inacreditáveis na torcida. Num dos grupos de mensagens alguém acertou a mosca: “a torcida do Palmeiras parece o Neymar”.

Semelhança total

NeymarProvavelmente a tirada saiu espontaneamente, referindo-se apenas à tendência de exagerar nas reações de ambos. Mas se ampliarmos a comparação, tudo encaixa.

A torcida do Palmeiras sempre foi especial, diferenciada, e muitas vezes decidiu jogos, como Neymar; está na primeira prateleira. Assim como o camisa 10 da CBF, a torcida do Palmeiras viu-se rapidamente diante do estrelato total: líder de bilheteria e arrecadação e um dos maiores planos de sócio-torcedor.

A casa também mudou: saiu a humilde e já surrada, mas cheia de decência, casa de dois quartos, para uma suntuosa, moderna, ampla e iluminada nova residência. Os ganhos financeiros do menino Ney também cresceram bastante – os do Palmeiras, nem tanto, mas para a torcida, inflamada pelos reportes venenosos da imprensa, acredita torcer para o time do Tio Patinhas – na verdade, é só um bom patrocínio de camisa (que está virando outra coisa, mas isto é assunto para outro dia).

A chegada ao topo completa o cenário. As conquistas da Copa do Brasil de 2015 e do Brasileiro de 2016 deram a falsa impressão aos palmeirenses de que todo ano seria ano de conquista. Neymar foi alçado ao posto de estrela máxima do esporte brasileiro, paparicado, desfila com namorada global e atingiu a aura de invencível.

Não é bem assim

Neymar e CavaniOfuscado por uma estrela muito maior no Barcelona, Neymar decidiu ir a Paris, onde outros ótimos jogadores supostamente trabalhariam para que ele brilhasse sozinho. Não contava com a personalidade de Cavani e com estouro de Mbappé. Neymar teve dificuldades em lidar com a concorrência, o que o levou a chiliques e a reações absurdamente exageradas durante os jogos na Rússia, virando piada em todo o mundo. Seu rosto quando leva uma pancada parece o de quem levou uma facada – assim como a torcida do Palmeiras, diante da possibilidade de não erguer um troféu ao final de uma temporada.

Neymar é um jogador extra-classe, absurdamente talentoso. Mas precisa entender que não é invencível, que no esporte existem as vitórias e as derrotas; do outro lado existem adversários que também se esforçam muito para chegar à vitória. Como na Copa do Mundo, onde existem sete ou oito seleções que podem brigar pelo título, no cenário brasileiro há muito mais concorrentes aos principais títulos. Nos campeonatos europeus apenas dois ou três clubes se revezam no alto do pódio, sempre com mais de 80 pontos, muitas vezes passando de 90. Um clube brasileiro dificilmente terá a mesma frequência de conquistas da Juventus, do Real Madrid, do Barcelona ou do Bayern. Nossa torcida precisa entender isso melhor e lidar com mais dignidade com uma ou duas temporadas sem conquistas.

Problemas evidentes

O Palmeiras atual tem problemas claríssimos em seu plano de jogo. O desempenho final fica abaixo do que a escalação sugere. Roger Machado está evoluindo de forma mais lenta do que gostaríamos e parece ter problemas de leitura nos jogos.

Mesmo assim, o time está a sete pontos do líder, com 24 rodadas pela frente e uma tabela favorável até o fim do turno. Nas duas copas, está bem posicionado nas chaves e ninguém diria que não é time para chegar pelo menos às semifinais – até lá, muitos acertos ainda podem ser feitos. Talvez não vençamos nada, mas temos chances bem interessantes. Nada justifica o ambiente tóxico visto ontem no Allianz Parque e nas redes sociais.

Objetivo maior

BeicinhoO objetivo maior do Palmeiras não deve ser simplesmente se posicionar entre sete ou oito clubes para tentar ganhar um campeonato por ano. O Palmeiras precisa buscar se destacar de vez no futebol brasileiro, se tornando um dos times a revezar com apenas mais um ou dois na supremacia doméstica e até continental. Para isso, antes de tudo, precisa consolidar sua identidade de jogo, tendo em seus quadros uma figura, um diretor de bola, que se torne a cara do futebol palmeirense e a quem o técnico – seja quem for – precisa se reportar. É nessa direção que a torcida tem que pressionar.

Um projeto de futebol bem sucedido não precisa necessariamente ter títulos logo nos primeiros anos. O Palmeiras recomeçou do zero em 2015 e os dois troféus levantados no Allianz Parque foram resultado de tiros bem dados, não de um planejamento a longo prazo. O crescimento sofreu rupturas graves com as constantes trocas de técnico, o que atrasou ainda mais o sucesso.

Roger Machado, assim como Eduardo Baptista, tem muito potencial teórico, e ainda tem a vantagem de ter sido um atleta vencedor. Quanto mais permanecer no comando do clube, mais chance terá de fazer uma leitura melhor do jogo e de tomar melhores decisões, no tempo certo – e mais importante: de criar a identidade do time.

Messi e Cristiano RonaldoTrazer outro treinador agora não é garantia de nada, é apenas desespero. Os títulos não virão se a torcida fizer carinha de Neymar e xingar muito nas redes sociais exigindo cabeças. E mesmo que troque-se o técnico e um título venha, em mais um golpe de sorte, a implantação de um projeto de identidade vai sofrer mais um atraso – e o ano que vem mais uma vez dependerá de tiros certeiros.

Nossa torcida precisa ser madura, como éramos há algumas décadas, mesmo em tempos de anos e anos sem títulos. Aprendemos a perder, depois aprendemos a ganhar. Ser Neymar deve ser bom. Mas ser Messi ou Cristiano Ronaldo deve ser muito melhor.


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Trabalhando a decepção: os ajustes que Roger precisa fazer

Lucas Lima
Cesar greco/Ag.Palmeiras

A partida de ontem à noite contra o Santos decepcionou a torcida e a porção bipolar fatalista, que é bastante barulhenta, já decretou o fim do ano. Com esse técnico não iremos a lugar algum, manda esses mercenários embora, pra jogar no meu Verdão tem que ter raça e vontade. Aquelas coisas de sempre.

Mas é inegável que o time ainda precisa de ajustes. Algo não encaixa. A mesma razão que nos fez perder pontos preciosos contra o Ceará, há 40 dias, afetou nosso time na noite passada no Pacaembu e sofremos um empate dolorido. É frustrante perceber que em cinco semanas aspectos táticos e técnicos foram aprimorados, mas algo permanece nos tirando pontos.

Nossos jogadores são muito bons. Eles sabem o que fazer diante da proposta do comandante e têm muita vontade – basta perceber que quando o time precisa do gol, é um tormento para o goleiro adversário: ontem, chegamos à abertura do placar com apenas seis minutos e criamos pelo menos três chances claras de gol após sofrermos o empate. Contra o Ceará, tínhamos 2 a 0 com menos de 20 minutos, mas acabamos levando o 2 a 2 quase nos acréscimos.

Nossa transição ofensiva precisa de um jogador mais veloz – a formação de ontem com Scarpa, Lucas Lima e Hyoran deixou isso claro e a volta de Dudu tende a corrigir o problema. A recomposição defensiva fica muito prejudicada quando os dois laterais apoiam ao mesmo tempo, outra situação evidenciada neste empate. São pequenos ajustes que tendem a ser feitos rapidamente, sem maiores dificuldades.

O que está errado afinal?

Weverton
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras confia tanto em seu sistema defensivo que despreza as possibilidades de gols fortuitos, como o que aconteceu ontem. O Santos jamais penetraria em nossa defesa na forma que a partida se desenrolava. Mesmo a bola aérea, que causou algum desconforto no primeiro tempo, parecia neutralizada no segundo, com os laterais mais postados e evitando as possibilidades de cruzamentos, matando o problema na raiz. Mas uma falta arrumada pela arbitragem no bico da área somada a uma bola de fliperama na área determinou o empate.

Um gol de vantagem não resolve nada. Mesmo uma defesa absolutamente sólida não está imune ao imponderável – imaginem a nossa, que jamais se converteu num ônibus estacionado na pequena área e ainda não é exatamente intransponível.

Empatando ou perdendo, o Palmeiras precisa assumir riscos e atacar – essa parte, está fazendo muito bem. O que não se vê é o controle do ritmo do jogo com um gol à frente no placar. O time pode gastar o tempo com a bola no pé, se quiser, mas para isso precisa garantir que o adversário se mantenha longe de nossa área sem a bola; meio-campistas com boa capacidade de marcação ajudam muito nesse ponto – por exemplo, Jean.

Uma opção melhor ainda é dar a bola para o adversário e se armar para o contra-ataque, com pontas velozes que façam com que o adversário a não se lance tanto à frente; ontem, a opção óbvia seria Artur. Ao mesmo tempo que manteria o adversário não tão perto de seu goleiro, ainda teria boas chances de matar o jogo.

Roger Machado não fez nem uma coisa, nem outra. Só após tomar o empate, o treinador colocou Jean no Hyoran, precisando de gol. Demorou mais dez minutos para colocar Artur, que participou de duas jogadas agudas no pouquíssimo tempo que esteve em campo. Errou no ‘quando’ e no ‘como’, e isso aconteceu porque está errando no ‘o que’.

Então agora é ‘fora Roger’?

Roger Machado
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Claro que não. Qualquer treinador que comece o trabalho agora não vencerá o Brasileiro e só terá chances de conquistar algum título este ano num mata-mata, na base do vamo-que-vamo, como nossa Copa do Brasil em 2012 ou a Croácia na Copa do Mundo– derrotada na final. É muito mais fácil Roger corrigir seus erros e aproveitar toda a base tática montada desde o início do ano do que recomeçar um trabalho do zero com outro treinador, que também terá seus defeitos e entrará rapidamente na alça de mira da porção dramática da torcida. Com o outro, seja quem for, também não iremos a lugar algum.

Roger precisa ajustar suas nuances táticas (‘como’) a uma estratégia de jogo (‘o que’) menos reativa (‘quando’) após abrir o placar. É preciso dar confiança ao time para abrir vantagem maior no marcador. Nossos jogadores parecem muito focados em obedecer a tática do treinador, e isso é bom. O problema é que a estratégia despreza o imponderável. Os jogadores sentem esse perigo e perdem a confiança e daí vem a impressão de um time impotente. Afinal, mesmo um ônibus estacionado pode ter uma janela quebrada pelo imponderável.


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Nem comecem: Roger Machado não é o “Guardiola brasileiro”

Lucas Lima e Pedrão
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A porção da imprensa que cobre o dia-a-dia do Palmeiras parece maravilhada com os novos treinamentos implantados por Roger Machado nesta pré-temporada. Num misto de curiosidade e admiração, os comentários e relatos têm sido marcados por completo derretimento. Houve quem comparasse seus métodos com os usados por Guardiola nos maiores clubes da Europa.

O treino de ontem, em que os jogadores ocuparam apenas metade do gramado e tinham como objetivo entrar em áreas delimitadas com a bola dominada, fez os olhos dos repórteres brilharem. Mereceu até post especial do repórter Rodrigo Fragoso, com direito a animação. Confira aqui.

Mas nada tá bom?

Borja e Thiago Santos
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Normalmente reclamamos que a imprensa tende a ver tudo negativo em nosso time, e estamos cobertos de razão nisso. Agora que eles estão nos elogiando, vamos reclamar também?

Claro que não se trata disso. Os setoristas têm mais é que relatar o que estão vendo, é para isso que estão lá – e se a comissão técnica permite que eles observem, é porque não vê prejuízo na divulgação dessas atividades.

Os métodos de Roger são os mesmos que ele já usou, por exemplo, no Atlético, no ano passado. Conseguiu um bom rendimento, mas não o suficiente para que completasse a temporada no cargo. O que não significa nada em relação aos métodos, por si só, serem determinantes para ganhar ou perder jogos.

Os jogadores parecem aprovar as novidades, mas suas avaliações também não são grande parâmetro, já que parece pouco provável que um comandado teça críticas publicamente ao novo comandante logo na primeira semana de trabalho. O fato é que não temos elementos para avaliar esses métodos ainda; são apenas novidades.

Sai pra lá, salto alto

Roger Machado
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A maior preocupação com esse hype em torno das novidades é a nossa torcida subir no salto e  cair novamente na armadilha do “entreguem as taças”. Roger não é o Guardiola brasileiro, o Palmeiras não é a primeira força, e seria muito bom se o elenco trabalhasse da forma mais resguardada possível. Temos muita curiosidade para saber o que acontece nos treinos, mas o ideal seria que as informações chegassem em doses moderadas, apenas o suficiente para manter o vínculo entre time e torcida ativo e a expectativa pelo início da temporada cada vez mais alta.

O “treino revolucionário” de Roger é, propositalmente, uma espécie de realidade ampliada, onde os jogadores precisam pensar muito mais rápido, correr muito mais e executar os movimentos com muito mais precisão. É um treino que aguça as qualidades dos atletas, mas não reproduz as situações exatas de jogo. É muito mais físico/técnico, e nada tático. Merece crédito por ser uma inovação.

Aparentemente, o Palmeiras está se protegendo ao fechar parte dos treinamentos. Parece óbvio que os treinos táticos, da forma como todos estão acostumados, devem estar sendo feitos nos períodos em que a imprensa não tem acesso. E por mais que seja esse o objeto maior de nossa maior curiosidade, é melhor mesmo que ninguém saiba o que Roger está armando. Vamos ter uma ideia no campo, daqui a uma semana, contra o Santo André.


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Roger Machado é o técnico a ser demitido pelo Palmeiras em 2018

Roger MachadoO título, claro, é uma provocação. No decorrer desta rápida leitura vocês entenderão o porquê.

O Palmeiras acertou com Roger Machado para dirigir o time na temporada 2018. A informação é do repórter Tossiro Neto, do portal globoesporte.com, e encerra uma novela que ameaçava se arrastar e atormentar nossa ansiosa torcida.

Muito mais importante que amainar os ânimos entre os palmeirenses, é claro, foi definir o treinador para assim dar um norte nas contratações que devem ser feitas para reforçar o time.

Com o treinador definido, os jogadores a firmarem contrato com o Palmeiras preencherão as necessidades técnicas de acordo com o planejamento tático que Roger vai implantar. Mas isso é pouco, como veremos a seguir.

Perfil do novo treinador

Roger MachadoRoger Machado mostrou em seus dois trabalhos mais relevantes – Grêmio (entre maio de 2015 e setembro de 2016) e Atlético (entre novembro de 2016 e junho de 2017) algumas qualidades interessantes:

  • Treinos curtos e intensos
  • Jogo ofensivo, propositivo
  • Rapidez na recomposição das compactas linhas defensivas e nas saídas para o ataque
  • Amplitude das linhas com a posse de bola, alargando o campo
  • Não se prende a um esquema específico

No Grêmio, em 2015, usou o 4-2-3-1, com Luan jogando com falso 9 – foi o responsável por compreender as características do menino e lançá-lo para o futebol com sucesso. O Grêmio, com um time de moleques comandado por Douglas Pança-de-Cadela, chegou em terceiro lugar no Brasileirão daquele ano.

No Atlético, preferiu o 4-1-4-1, com Rafael Carioca flutuando entre as duas linhas e Danilo, lateral de origem, formando a linha de 4 mais alta junto com Elias, Cazares e Otero – o melhor momento do Atlético na temporada.

Um de seus maiores problemas em ambos os trabalhos, de onde saiu com aproveitamento em torno de 60%, foi a fragilidade defensiva nas bolas aéreas. Para que seu trabalho apoiado em alta intensidade surta efeito, o físico dos atletas é bastante exigido – assim como era com Cuca, por razões diferentes.

Um clube que não sabe o que quer

Alexandre Mattos e Mauricio GaliotteO Palmeiras bateu na porta de Abel Braga, mas acabou ficando com Roger Machado. Perfis tão distintos sobre a mesa mostram que a diretoria está completamente perdida em relação ao que pretende para o Palmeiras no ano. Tudo o que sabe é que trará um treinador competente e que acredita em seu trabalho. A escolha foi boa, mas o clube não sabe bem a razão.

É essa falta de ambição para se criar uma filosofia de trabalho que faz com que, na primeira ou segunda oscilação – e elas virão – o técnico seja o bode expiatório de mais uma crise. Não importará se Roger, que é uma boa escolha, ainda estiver queimando as pestanas em meio ao desenvolvimento tático do time, algo que demanda muitos, muitos meses: se não vencer o Paulista provavelmente será um Eduardo Baptista reloaded: demitido, porque o Palmeiras não o contratou para executar um projeto do clube, e sim um projeto idealizado por ele mesmo que hoje provavelmente está apenas na fase de rascunho.

Por algumas circunstâncias – por exemplo, a conquista do título paulista – talvez sobreviva e chegue até a Copa do Mundo, mas se o time não estiver dando chocolate nos adversários em meados de agosto ou setembro, bastará um tropeço em casa contra um pequeno após uma derrota num clássico e a demissão se consumará.

Fica aqui registrado o desejo profundo para que a “profecia” não se concretize. Que Roger tenha tempo para implantar sua filosofia e respaldo da diretoria para, no mínimo, chegar até o fim do ano, para só então ser reavaliado – não em função de conquistas de títulos, mas do estabelecimento de um padrão convincente de jogo, em busca do tão sonhado resgate da identidade para nosso clube.

Seja bem-vindo, Roger Machado.