Futebol, carreira e o Palmeiras: Abel Ferreira no Roda Viva

Futebol, carreira e o Palmeiras: Abel Ferreira no Roda Viva.
Divulgação

Técnico quatro vezes campeão pelo Palmeiras, Abel Ferreira foi o entrevistado do programa da TV Cultura na noite de segunda-feira

Personagem central do Palmeiras nos últimos 18 meses, seja pela forma que comanda a equipe, pelos títulos, pelas vitórias ou pela forma que se comunica, o técnico Abel Ferreira foi o convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira. Por quase duas horas, Abel falou sobre diversos assuntos.

De início, nosso treinador comentou sobre uma possível renovação de contrato com o clube e logo afirmou: “A minha decisão está tomada, mas vou avisar primeiro os meus jogadores, que são minha família aqui”, e depois prosseguiu falando sobre o quão será determinante a presença de sua família no Brasil para ele continuar.

“É impossível (ficar mais alguns anos sem a família). Ou eu vou ou eles vêm. O Palmeiras quer muito, e gosto muito do Palmeiras. Não sou palmeirense desde pequeno, mas quando cheguei aqui tudo se encaixou, os valores, os princípios e os torcedores. Há muita identificação. Falei com a minha esposa e disse: ‘Só fico se tu vieres, senão não fico’”.

No Palmeiras desde outubro de 2020 e técnico de equipes profissionais há pouco mais de cinco anos, o comandante revelou também que não pretende estender por muito mais tempo sua carreira como treinador.

“Treinador de futebol tem que entender de tudo, tem que ser igual um [médico] clínico geral. No Sporting B eu e os diretores partilhávamos sobre tudo […] Não pretendo ser técnico por mais de 4 ou 5 anos. O futebol é muito intenso. Minha mulher diz que não, mas penso assim”, revelou Abel, que também comentou sobre seu final de carreira como jogador e o início no banco de reservas.

“Tive uma lesão no joelho e estava com 30 anos. Ali eu fiquei ‘sem chão’ e parecia que o futebol tinha acabado para mim. Enquanto eu jogava, eu terminei a faculdade de Educação Física e tirei minhas licenças para ser treinador. E depois veio o convite para ser técnico do Sub-19 do Sporting. Aquilo foi como mágica. Sou muito melhor treinador do que fui como jogador”.

Assuntos referente à tática também foram abordados. Tido como retranqueiro por parte da mídia tradicional, Abel pontuou que “atacar bem e defender bem é uma arte e os jogadores tem que saber”; afirmou que entende a imprensa e discorreu sobre o Mundial de Clubes contra o Chelsea e o primeiro gol contra o Flamengo, na final da Libertadores 2021.

Futebol, carreira e o Palmeiras: Abel Ferreira no Roda Viva.
Reprodução

“Futebol é mais do que as quatro linhas. O Chelsea tem o melhor treinador do mundo e jogadores de seleção. É importante ter a humildade para reconhecer que seu adversário é melhor que minha equipe tecnicamente. Eles são melhores nesse aspecto, mas não na parte tática, na mental e na física. Só perdemos o jogo em um pênalti que foi sem querer”.

“[Sobre a partida contra o Flamengo] já desenhei jogadas que resultaram em gols e títulos, e também já fiz jogadas que não deram em nada. Nós sabíamos que o Arrascaeta não acompanharia o Mayke e o Filipe Luís ia ter dúvidas se iria no Mayke ou no Dudu. Disse isso aos jogadores, mas foram eles que fizeram acontecer. Isso, porém, não me faz ser o melhor treinador do mundo”, finalizou.

Confira outros assuntos respondidos por Abel Ferreira:

  • Comportamento à beira do gramado:

“Tenho que dizer que às vezes tenho vergonha daquilo que vejo. A minha maior crítica é minha esposa. Há pouco tempo, o Luan Silva e o Menino viram o jogo ao lado da minha esposa. Eles chegaram primeiro ao gramado e disseram: “Professor, se prepare”. Fui expulso porque chutei a garrafa. Tenho de melhorar isso. Tenho noção. Sou uma pessoa extremamente calma fora, gosto de ler, dormir, gosto de ficar em casa. Mas ali transforma”.

  • Patrick de Paula:

“Todos nós já tivemos 17 anos, 18 anos, viemos de baixo, ouvia tudo o que o outro dizia para aprender, mas às vezes quando chegamos a um status, não queremos mais ouvir da mesma maneira. O Guardiola sempre usa o exemplo do Phil Foden. O Patrick foi perdendo espaço. A minha função é escolher e só podem jogar 11+5. Chegaram Jailson e Atuesta e ficamos com seis médios. Ele [o Patrick de Paula] é um grande jogador, foi uma grande contratação que o Botafogo fez e um grande negócio que o Palmeiras fez por 50%. Foi bom para todas as partes, na minha opinião”.

  • Luiz Felipe Scolari:

“Ele gosta de mim, por isso que disse isso [que Abel é o maior treinador da História do Palmeiras]. Temos uma relação muito boa, já do tempo de Portugal. Foi uma pessoa espetacular comigo. Fui convocado para seleção com ele. Percebi que a seleção conseguia ter aquele ambiente e entrosamento muito por causa dele. Ele conseguiu unir um país em torno da seleção”.

  • Futebol brasileiro:

“O futebol brasileiro tem um potencial tremendo para ser muito melhor e vou fazer o que puder para ajudar. Aqui há grandes estádios, jogadores. Os núcleos de saúde e performance daqui são melhores do que os da Europa. Mas tem outras coisas que precisam melhorar, como os gramados. Também não digo para acabar com os estaduais, mas pode diminuir. Isso só irá acontecer quando as federações, os clubes e as televisões se juntarem. O Palmeiras quer lutar por um interesse comum, mas aqui cada um quer defender seu quadradinho. Quando todos entenderem que o futebol é um produto para todos, vamos tornar melhor para todos. Isso que falta”.

  • Gostos pessoais e o Brasil:

“Literatura brasileira não leio muito, não. Gosto de ouvir alguns filósofos, como Mário Cortella, Karnal e Pondé. Sei que eles escreveram um livro. Lá em Portugal, escutava axé, depois curti pagode e hoje em dia prefiro escutar bossa nova. O Brasil é um continente, são vários países dentro de um, os hábitos são diferentes. É um país com uma potência enorme e os brasileiros são muito criativos. É preciso um pouco mais de força e um pouquinho mais de educação”.

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