Felipão, Deyverson, Borja e a dificuldade da torcida em lidar com frustrações

Deyverson
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

Deyverson entrou nos noticiários, de novo. Desta vez, por publicar dois vídeos, o segundo desmentindo o primeiro, que por sua vez desmentia a coletiva de Felipão na véspera. Isto é Deyverson.

As idas e vindas deste rápido caso do final de semana precisam ser bem interpretadas. Mas para isso, é preciso de mais informações que qualquer um do lado de fora da Academia de Futebol tenha. Por isso, é muito mais justo manter a cautela antes de iniciarem mais um linchamento virtual.

Deyverson começou, Felipão acabou entrando de gaiato, Borja inevitavelmente entra na discussão, mas o principal personagem de toda a repercussão, de forma quase metafísica, é a própria torcida e suas reações inacreditáveis nas redes sociais.

Vamos tentar desmembrar o caso com muita calma nas linhas a seguir.

Felipão bancou? Mesmo?

Felipão

Após o clássico contra o Santos, Felipão informou a permanência de Deyverson. Segundo o treinador, após uma conversa com o atleta, ele disse que preferia ficar, e o treinador, diante da decisão tomada, disse ter ficado satisfeito.

Evidentemente o negócio não saiu por falta de acordo entre o clube chinês e o atleta – seja pelas bases financeiras, seja pela própria vontade de Deyverson em não deixar o país para partir para um a cultura totalmente diversa da nossa, ou por não pretender mais deixar o Brasil. Só ele sabe.

Qualquer que tenha sido a razão para o negócio melar, Felipão não tem nenhuma participação nisso, a não ser pela tal conversa, na qual Deyverson teria lhe perguntado se ele queria sua saída. Ora, é claro que o treinador vai dizer que não quer, porque as duas coisas ainda podiam acontecer, e em caso de permanência, seria melhor preservar o relacionamento – foi o que ele fez, como faz com todos os atletas.

Parte da torcida, no entanto, parece ter invertido a ordem das coisas e atribuído a Felipão a permanência do jogador, como se o negócio de mais de R$ 50 milhões tivesse sido abortado por interferência dele. E tome Felipão linchado virtualmente. “Culpa dele!”, bradam.

Não tem conserto

Deyverson
Reprodução

Infelizmente o negócio não saiu. Conforme já explanado neste post, o ciclo de Deyverson no Palmeiras parece ter se esgotado, e este episódio apenas reforça a conclusão.

No primeiro vídeo que circulou ontem, exaustivamente compartilhado nas redes sociais e nos grupos de whatsapp, Deyverson dirige-se a um grupo chamado por ele de “D16” – provavelmente um grupo de fãs ou algo dedicado a sua carreira e/ou personalidade. Nele, informa que estaria deixando o Palmeiras, e em tom de despedida, mandou um #partiuchina.

Poucas horas depois, um novo vídeo surgiu, desmentindo tudo e explicando que era apenas uma brincadeira interna. Deyverson diz que gosta do Palmeiras e que não é para ninguém “se preocupar”, que ele vai ficar no clube.

Um dia depois do técnico informar publicamente a permanência, o camisa 16 deu um nó na internet e causou um pandemônio. E tome Deyverson linchado virtualmente, porque estaria “fazendo os torcedores de palhaços”.

Não é para tanto

Deyverson
Reuters

Já sabemos que o chip de Deyverson não funciona. Uma arte como essa é bem menos grave do que muita coisa que ele já fez. Se de fato ele fez o primeiro vídeo apenas para trollar um grupo específico, achando apenas que iria, poucos minutos depois, gritar um RÁÁÁÁÁ e tudo iria ficar bem… isto é Deyverson!

Não surpreende que ele não tenha pensado dois movimentos à frente, prevendo que alguém vazaria rapidamente o vídeo, que, além de ter uma fake news bombástica, ainda desmentia a entrevista do chefe na véspera. Ou alguém ainda espera que Deyverson tenha esse nível de maturidade?

O problema é que nossa torcida é tão madura quanto o camisa 16.

O sujeito quer que Deyverson vá embora. Um belo domingo, ele mesmo “diz” que vai. A comemoração é imensa, chega até a superar a frustração do empate na véspera – afinal, o fim-de-semana não foi tão ruim. Nem precisa esperar o clube anunciar oficialmente, afinal, saiu da boca do próprio jogador, não é verdade?

Ora, se Deyverson não serve para o Palmeiras exatamente porque não é confiável, de quem é a culpa pela frustração pela reviravolta após o segundo vídeo? Do Deyverson ou de quem preferiu enganar a si próprio?

Lidar com frustrações

A dificuldade da torcida em lidar com frustrações é assustadora. O episódio Deyverson é apenas mais um em que parte da torcida do Palmeiras, num reflexo do que é a sociedade atual, demonstra toda sua falta de maturidade.

Borja vive uma fase péssima. Vem errando gols facílimos de forma incrível. Mas no sábado, após a chuva que caiu nos minutos iniciais, a bola e o gramado ficaram mais lisos e tudo ficou mais difícil, para todos. Alguns erros de domínio foram notados. Mas só Borja foi vaiado quando a bola lhe escapou, antes dos 20 minutos de jogo.

É claro que o colombiano pensa, na hora, “por que só comigo?”, e perde ainda mais confiança. Nossa torcida, em vez de apoiar quem está em campo para fazer nossos gols, prefere vaiá-lo. Dez ou quinze minutos depois, Borja perdeu um gol feito. Será que se ele não tivesse recebido aquela vaia antes, não teria tido mais confiança e a bola não teria entrado?

Vaiar o Borja agora não adianta nada. Não estamos em janela de transferência. Apenas alguns jogadores estão disponíveis – um deles, Alexandre Pato, ironicamente, um dos maiores ícones da indolência que tantos estão querendo enxergar em Borja. Ironicamente, um dos jogadores da mesma posição de Deyverson, que todos querem que saia.

Borja parece não estar à altura do Palmeiras neste momento; circulam por aí vídeos editados com seus piores gols perdidos. Ora, é claro que numa seleção de momentos ruins, o Borja, o Fred, o Ibra, assim como o Gioino ou o Enílton – qualquer um – vai parecer o pior atacante do mundo, da mesma forma que se pegarmos uma seleção de seus golaços, todo mundo vai querer ter esse cara no time.

Borja

Borja é as duas coisas. Temos que fazer a nossa parte e tentar fazê-lo voltar a ser o matador letal que foi no Atlético Nacional – ou, pelo menos, aquele que foi artilheiro da Libertadores e do paulista em 2018, que fez gol em Itaquera na primeira final, entre outros grandes momentos com nossa camisa.

Nossa torcida tem que ser mais madura, no estádio e nas redes sociais. Tem que ser menos imediatista, menos resultadista, e tentar enxergar o quadro sob uma perspectiva mais ampla.

Arthur Cabral é a terceira opção para a função no elenco e, neste momento, é apenas uma esperança. Afinal, se vendermos o Deyverson e o Borja neste momento, quem serão nossos centroavantes mesmo? Tudo o que Borja precisa, agora, é de apoio. Não por ele, mas pelo Palmeiras.

Pedir “fora este, fora aquele” é apenas uma solução imediata para a frustração do momento. Não foi por causa de Felipão que Deyverson não saiu. Deyverson-saiu-é-mentira-não-saiu-mais, é apenas um pouco mais do que Deyverson já mostrou ser. Ter o Borja da melhor forma possível, neste momento, é melhor que não tê-lo.

Que tal tentar amadurecer um pouco antes de mais um linchamento virtual?


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Após lesões, Felipão precisa usar a imaginação e ser criativo. Conseguirá?

Felipe Pires
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A lesão de Felipe Pires, constatada pouco depois de Gustavo Scarpa também ter um entorse confirmado, deixa Felipão com ainda menos opções para montar o time para a sequência do campeonato paulista.

Com Deyverson suspenso até a penúltima rodada da fase de classificação, Felipão precisará a recorrer a Borja em todos os jogos, desgastando fisicamente o colombiano – a não ser que improvise alguém na função.

Dudu é outro que vem sendo escalado constantemente, e parece pouco provável que Felipão resolva abrir mão de seu futebol para poupá-lo justo agora.

Veja abaixo o mapa da situação atual do elenco do Palmeiras:

As opções disponíveis

Ricardo Goulart
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Felipão tem neste momento apenas sete jogadores para escolher quem serão os quatro da linha ofensiva. Sua preferência notória por um jogador de velocidade aponta para Carlos Eduardo, que assim pode ganhar novas chances de se redimir perante a torcida. Por outro lado, novas atuações melancólicas, a esta altura bem mais prováveis diante de sua evidente falta de confiança, podem encurtar sua passagem pelo clube e gerar um enorme problema para Alexandre Mattos.

Dudu pode ser esse jogador veloz, liberando o flanco oposto para outro jogador com mais cadência – pode ser Zé Rafael, Raphael Veiga ou mesmo Ricardo Goulart. Dois deles podem ser escalados ao mesmo tempo: alguém pode jogar por dentro se Lucas Lima for sacado do time. Goulart pode até jogar como nove.

Felizmente, mesmo com várias baixas, as opções restantes são de alta qualidade e Felipão pode, com alguma criatividade, imaginar um Palmeiras mais agressivo no ataque, com posse de bola e envolvendo o adversário.

Resta saber se o general está disposto a exercitar essa criatividade ou se seguirá preso a conceitos simples e previsíveis. O recado ele já deu: quem manda é ele.

O papel da torcida

Ferroviária 0x0 Palmeiras
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Vamos seguir torcendo para que nosso treinador repita o sucesso de 2018 – mas vai precisar de algo mais que uma defesa (muito) bem armada e ligações rápidas na vertical, como foi o segundo turno do Brasileirão do ano passado e vem sendo neste início de ano.

Apoiar quem entra em campo, independentemente das preferências pessoais, também parece ser mais inteligente do que mandar nosso jogador TNC com a bola rolando, como lamentavelmente aconteceu ontem em Araraquara.

Borja não é o centroavante dos sonhos de ninguém e vive uma inegável má fase. Perdeu um gol feito no Pacaembu, na semana passada, e voltou a perder chances claras ontem, no interior – o que explica a falta de paciência da torcida, mas não a justifica.

Centroavante vive de gols, diz o chavão. Borja terá várias chances de fazer as pazes com as redes e com o grosso da torcida. Com a bola entrando, 90% da torcida esquecerá destas chances perdidas e a vida vai seguir.

Precisamos de Borja inteiro e confiante, ao menos nesta fase do campeonato, enquanto Arthur Cabral, que de repente virou o melhor centroavante do mundo mesmo sem jogar, não puder ser escalado pela limitação imposta pelo regulamento. Vamos Miguel! VAMOS PALMEIRAS!


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Depois de cinco partidas, como está a prancheta de Felipão?

Felipão
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Foram apenas cinco jogos até agora. A tabela foi marotamente montada pela FPF para que o Derby fosse disputado com os times ainda em estágios iniciais de desenvolvimento e assim diminuir a diferença entre as equipes – mesmo assim, a superioridade do Palmeiras foi flagrante. O placar desfavorável, no entanto, produto de ineficiência nas finalizações, acelera a discussão sobre os caminhos que o time está tomando para a temporada.

Felipão e Paulo Turra até agora insistiram em apenas um modelo de ataque. Um dos volantes, normalmente Bruno Henrique, eventualmente preenche os espaços dando opção de passe, mas ainda de forma bem mais tímida que em 2018. Os laterais apoiam com muita parcimônia. Isso faz com que quase todo o poderia ofensivo fique a cargo dos quatro homens de frente.

O posicionamento dessas peças foi invariavelmente com um meia central, normalmente Lucas Lima, que precisa fazer o pêndulo para se aproximar dos companheiros, exigindo-lhe um esforço extra. Dudu fica de um lado, ora indo pra cima do lateral, ora afunilando e se tornando mais uma opção de passe. Do outro lado, Felipe Pires e Carlos Eduardo agridem o lateral adversário de forma mais aguda, cada um com sua característica: o segundo é mais rabiscador, o primeiro é mais veloz.

Diante deste primeiro pacote de partidas, permanecem como opções táticas Gustavo Scarpa, Zé Rafael, Raphael Veiga, Ricardo Goulart, Guerra e Hyoran.

O modelo em uso

Este modelo pode ser muito útil em uma série de partidas, em cenários bastante frequentes. Quando o Palmeiras estiver em vantagem no placar, em situações onde o adversário é obrigado a ceder espaços, o desenho proposto pela comissão técnica é o mais indicado para matar o jogo, usando a velocidade pelos flancos.

Quando o Palmeiras enfrenta esquemas mais fechados, como o que se desenhou no último Derby, esse sistema ainda pode funcionar, mas apenas nas jogadas de bola aérea. A penetração por baixo, seja por dentro, seja pelas extremas, fica seriamente prejudicada com uma manobra simples do adversário: marcar o meia central com intensidade.

Lucas Lima, que nesta proposta já tem uma função bastante sacrificada tendo que percorrer o campo lateralmente em todas as jogadas, ao receber uma marcação personalizada acaba sendo anulado.

Com essa marcação, o Palmeiras perde uma peça fundamental para envolver o adversário e precisa recorrer apenas aos chuveirinhos, ou ao talento individual – e de quebra, Lucas Lima acaba sendo culpado pela parte da torcida que assiste aos jogos olhando só a bola, pelo baixo rendimento – algo que, também nas mãos de Felipão, Alex também sofria muito.

Até agora, nota 6

Dudu
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Ofensivamente, os dois jogadores contratados para desempenhar uma função fundamental ficaram devendo. Nem Felipe Pires, nem Carlos Eduardo, conseguiram atuações que chamasse atenção de forma positiva – no Derby, as jogadas de ponta mais produtivas aconteceram quando Dudu inverteu com Carlos Eduardo; a bola chegou à área em condições de finalização mais facilmente e o próprio camisa 37, em função invertida, chegando na área afunilando, perdeu gols incríveis.

Defensivamente, o time ainda mostra alguns problemas na recomposição defensiva; alguns buracos foram notados à frente da zaga mesmo nos jogos contra os pequenos. Aparentemente não é nada crônico, apenas resultado da falta de ritmo de jogo; com o tempo os espaços tendem a ser vedados naturalmente. Tanto que a defesa do Verdão já desponta como uma das mais sólidas do país, mesmo nesta base de jogos ainda tão estreita.

O fato da defesa estar razoavelmente bem encaminhada segue os preceitos básicos do desenvolvimento tático de um time: começar pela defesa. Isso é o que nos dá uma certa esperança de que muita coisa ainda pode ser mostrada por esse time, assim que a comissão técnica tiver tempo livre para implementar novos conceitos. Não é à toa que Felipão reclamou, mais de uma vez, do calendário de partidas neste início de temporada, marcando jogos seguidos em janeiro e na primeira semana de fevereiro, para depois espaçá-los.

Um modelo alternativo

É com uma derrota no Derby que Felipão e Paulo Turra precisam começar a desenvolver um sistema mais indicado para romper retrancas e que valorize mais a posse de bola, um modelo que seja capaz de prevalecer mesmo contra marcações mais severas sobre as peças-chave do time.

Um possível desenho contemplaria a valorização dos laterais no ataque; a escalação de dois meias de beirada com habilidade e chegada ao gol, e a atuação fundamental do segundo volante, que completaria as funções ofensivas ao mesmo tempo que teria a obrigação de recompor rápido quando o time perdesse a bola no ataque. Peças para montar algo neste sentido, Felipão tem de sobra.

Com laterais mais soltos, as triangulações serão facilitadas. O centroavante pode sair mais da área, tanto para os lados, como voltando para a intermediária. Se marcarem o meia central, o meia do lado oposto, mais afunilado, participa da jogada e completa o desenho.

A recomposição defensiva precisa ser feita rapidamente, de acordo com o lado onde estava sendo feito o ataque desarmado. Felipe Melo vai precisar, mais do que nunca, de muita mobilidade para ocupar os espaços. Quem corre pra onde, quem fecha qual espaço, é uma tarefa que vai demandar muita coordenação e ensaio.

Cinco de oitenta

O Palmeiras pode realizar até oitenta partidas oficiais no ano, se chegar às finais de todas as competições. Até agora, apenas cinco jogos foram disputados e não há motivo para grandes preocupações com relação à sequência da temporada.

Estamos diante de apenas um plano de jogo. É claríssima a necessidade de se desenvolver alternativas e a comissão técnica certamente tem planos a serem colocados em prática. Cabe a nós lidar com a ansiedade de ver essas novas propostas em campo, e logo – o campeonato paulista está aí para isso mesmo.

Alguns ajustes no elenco ainda podem ser necessários, mas é cedo bater o martelo neste momento. Discutir dispensas em fevereiro não faz o menor sentido. Seguimos apoiando e confiando em Felipão. Se nós, daqui, conseguimos enxergar vários ajustes que precisam ser feitos, ele certamente também já viu esses e outros que nós ainda nem imaginamos. VAMOS PALMEIRAS!


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Com rodízio, Palmeiras é o único time brasileiro com maioria de titulares no elenco

Thiago Santos e Felipão
Cesar Greco/Ag Palmeiras

A força e a homogeneidade do elenco do Palmeiras permitiram a Felipão e à comissão técnica instituir algo inédito no Brasil: o rodízio de times. O efeito óbvio, a médio prazo, é uma diminuição na incidência de lesões musculares no time.

De fato, o Palmeiras foi um dos times que menos teve problemas dessa natureza no ano passado – isso porque o rodízio foi implementado em julho, após a queda de Roger Machado. Se o sistema tivesse sido posto em prática desde o início do ano, é de se supor que teríamos tido menos problemas ainda.

E é isso o que esperamos para 2019. Com o rodízio em pleno funcionamento desde o início da temporada, que tem previsão de 70 a 80 jogos, vai ser difícil vermos algum jogador rompendo a marca das 50 partidas. Um índice “europeu”.

Os jogadores se sentem mais confortáveis sabendo que a chance de terem que passar intermináveis semanas fazendo o insuportável trabalho de recuperação física é reduzida. A tensão é menor. O foco no desenvolvimento tático e técnico é mais intenso.

Maioria de titulares: vestiário saudável

Dudu e Moisés
Cesar Greco/Ag Palmeiras

Mas não é só a redução do índice de lesões que faz com que o sistema seja um sucesso. O rodízio intenso de jogadores faz com que o time tenha, na prática, pelo menos 20 titulares. Num elenco de 30 jogadores, os titulares são maioria, ao contrário do modelo tradicional, em que temos 11 “eleitos” e cerca de 22 ou 23 jogadores jogando de forma esporádica – e certamente insatisfeitos.

Aqui, os jogadores já não encaram os colegas exclusivamente como concorrentes. Sob a liderança de Felipão, todos entendem que o rodízio só tem pontos positivos: além do já mencionado risco reduzido de lesões, a forma física dos atletas é superior, o que dá ao time um rendimento acima da média nas partidas – o que reflete em resultados. Todos ganham, sempre.

Os reservas absolutos são minoria e não conseguem estabelecer um núcleo de insatisfeitos – as chamadas igrejinhas. Não se ouve falar em vestiário rachado no Palmeiras há muito tempo.

Resta a essa minoria trabalhar muito para tentar entrar no círculo de titulares, o que aumenta a somatória de atitudes positivas. E é isso o que faz com que o ambiente no vestiário seja tão bom, algo que é frequente notar nas entrevistas de todos os jogadores.

O Palmeiras puxa a fila para depender cada vez menos da sorte

Treino Academia Janeiro/2019
Cesar Greco/Ag Palmeiras

A boleiragem conversa entre si. Um ritmo mais ameno de partidas e a consequente redução do índice de lesões, somado a um clima de trabalho diferenciado, onde o grupo pode focar apenas em conquistar títulos, é o sonho de qualquer atleta.

Junte-se a isso uma capacidade robusta de pagar salários e uma estrutura com o que há de mais avançado em todas as áreas – além de uma equipe de apoio plenamente preparada. E vale lembrar que a fome por conquistas é estimulada pelo modelo de contratos por produtividade, em que os títulos acabam revertendo em bônus gordos para os atletas. Isso se espalha pelo mercado.

Com esse modelo inédito no país, o Palmeiras puxa a fila ao proporcionar esse pacote a seus atletas. É isso que faz do Verdão o maior favorito às conquistas em 2019. E tudo isso só é possível por ter montado um elenco bastante qualificado e homogêneo.

Enquanto outros clubes insistem na velha fórmula de montar um onze titular recheado de medalhões, desprezando a exigência física do calendário e mantendo uma equipe reserva alguns degraus abaixo dos titulares, seguirão lutando contra lesões e tendo dificuldades na administração de vestiário.

Na hora de comparar time com time, posição por posição, nos exercícios botequeiros dos patéticos programas de TV, talvez os adversários fiquem em posição de equilíbrio com os titulares do Palmeiras. Mas seguirão vivendo ao bel-prazer da sorte: torcem para que as lesões não ocorram ou para que o reserva menos qualificado acerte uma sequência improvável de bons jogos; rezam para que aconteça uma química rara num vestiário onde a maioria é reserva e que o clima não se deteriore. De fato, com alguma sorte, pode dar certo. Quem sabe?


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No Scolarismo 2.0, a torcida termina os jogos com a pulsação normal

Mayke vs SPFC
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Verdão passou por cima do SPFC com muita tranquilidade e abriu distância na ponta do Brasileirão. Mesmo que perca a próxima partida e dê tudo errado na secação sobre os principais concorrentes ao título, o Verdão seguirá na liderança – a não ser que o Inter, o único com chances aritméticas de tomar a ponta na próxima rodada, consiga tirar uma diferença de oito gols no saldo.

O que causa certa estranheza nesse time do Palmeiras é a “falta de emoção” nas partidas. Quando Felipão foi anunciado como novo técnico, um estranho otimismo se apossou de nossa torcida. Pouco mais de dois meses depois, o sentimento mostrou-se acertado, mas a maneira com que ele se confirmou, ninguém esperava.

O times de Felipão sempre se mostraram raçudos ao extremo. Chegavam à vantagem normalmente na base da insistência, perto do fim do jogo. Caso chegassem ao placar necessário muito antes do apito final, se retraíam e seguravam o placar com unhas e dentes. O resultado é que todos chegavam ao fim do jogo completamente exauridos – jogadores e torcedores. A sensação de prazer, contudo, era gigantesca.

O que se vê neste time do Palmeiras de 2018 comandado por Felipão, na maioria dos confrontos, é um time que constrói os resultados sem muito esforço e depois controla o jogo como um adulto brincando de lutinha com uma criança –  não raro, aumenta o placar.

Esquema simples e blindagem: concentração total

Deyverson e Felipão
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Felipão conseguiu montar um esquema de jogo extremamente simples, onde zagueiro defende, volante protege, meia faz a criação e atacante finaliza. Não vamos nos esquecer que o time empatou sem gols em sequência com Bahia e América no início dos trabalhos, mas todos entenderam facilmente suas funções e os resultados passaram a aparecer rápido.

Quando atletas de comprovada superioridade técnica sentem confiança num esquema tático, resta lhes proporcionar tranquilidade para performar. A blindagem reimplantada na Academia de Futebol após a chegada de Felipão era o que faltava para os jogadores se manterem focados apenas nas conquistas, sem serem incomodados com a circulação indesejada de pessoas no ambiente de trabalho.

O nível de concentração que os atletas apresentam em campo não só lhes dá a condição de executar bem suas funções, como intimida os adversários, que sentem estar diante de um adversário muito mais forte, mesmo com um esquema tático de simples leitura.

Foi assim que o SPFC, diante de quase 57 mil torcedores, foi vencido com muita autoridade. O Palmeiras deixou atônitos tricolores de todas as gerações, dando-lhes um autêntico choque de realidade.

Ninguém é imbatível

Cruzeiro 1x0 Palmeiras
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Alguém pode fazer o contraponto mencionando a eliminação contra o Cruzeiro. De fato, o Palmeiras não passou nem perto dessa tranquilidade toda no confronto pela semifinal da Copa do Brasil.

Contou a favor do Cruzeiro o fato de ser um dos poucos times que tem em seu elenco jogadores realmente de qualidade. Além disso, tem um treinador que está há muito tempo no cargo e que tem o elenco na mão; o estilo de jogo reativo de Mano Menezes encaixa bem com o de Felipão, desde que saia na frente – foi só o Cruzeiro precisar de um gol, como aconteceu diante do Boca Juniors, que sua superioridade foi por água abaixo.

O gol de Barcos a cinco minutos de jogo, além do roubo de Wagner Reway, foi decisivo para a eliminação do Verdão. Que isso deixe claro: o Palmeiras não é invencível e todos nós sabemos muito bem disso.

Mas a regra geral, sobretudo no Brasileirão, parece mesmo ser as vitórias com autoridade. Um Scolarismo 2.0 onde os jogadores terminam o jogo exaustos diante da seriedade, concentração e coração que deixam em campo; mas os torcedores saem do estádio com a pulsação normal, quase como europeus.

Que nossa torcida não confunda essa tranquilidade com soberba. Assim como o Cruzeiro, Boca, Grêmio e River são times de qualidade técnica muito superior ao SPFC. Se tomarmos um gol no início dos confrontos que ainda estão por vir na Libertadores, talvez tenhamos as mesmas dificuldades que tivemos na Copa do Brasil. A sorte é que, para essas situações,  ainda temos na manga o Scolarismo 1.0, o original, aquele que chega aos resultados nos minutos finais e que deixa os cardiologistas cada vez mais ricos. E convenhamos, que torna as conquistas muito mais saborosas.


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