Felipão, Deyverson, Borja e a dificuldade da torcida em lidar com frustrações

Deyverson
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

Deyverson entrou nos noticiários, de novo. Desta vez, por publicar dois vídeos, o segundo desmentindo o primeiro, que por sua vez desmentia a coletiva de Felipão na véspera. Isto é Deyverson.

As idas e vindas deste rápido caso do final de semana precisam ser bem interpretadas. Mas para isso, é preciso de mais informações que qualquer um do lado de fora da Academia de Futebol tenha. Por isso, é muito mais justo manter a cautela antes de iniciarem mais um linchamento virtual.

Deyverson começou, Felipão acabou entrando de gaiato, Borja inevitavelmente entra na discussão, mas o principal personagem de toda a repercussão, de forma quase metafísica, é a própria torcida e suas reações inacreditáveis nas redes sociais.

Vamos tentar desmembrar o caso com muita calma nas linhas a seguir.

Felipão bancou? Mesmo?

Felipão

Após o clássico contra o Santos, Felipão informou a permanência de Deyverson. Segundo o treinador, após uma conversa com o atleta, ele disse que preferia ficar, e o treinador, diante da decisão tomada, disse ter ficado satisfeito.

Evidentemente o negócio não saiu por falta de acordo entre o clube chinês e o atleta – seja pelas bases financeiras, seja pela própria vontade de Deyverson em não deixar o país para partir para um a cultura totalmente diversa da nossa, ou por não pretender mais deixar o Brasil. Só ele sabe.

Qualquer que tenha sido a razão para o negócio melar, Felipão não tem nenhuma participação nisso, a não ser pela tal conversa, na qual Deyverson teria lhe perguntado se ele queria sua saída. Ora, é claro que o treinador vai dizer que não quer, porque as duas coisas ainda podiam acontecer, e em caso de permanência, seria melhor preservar o relacionamento – foi o que ele fez, como faz com todos os atletas.

Parte da torcida, no entanto, parece ter invertido a ordem das coisas e atribuído a Felipão a permanência do jogador, como se o negócio de mais de R$ 50 milhões tivesse sido abortado por interferência dele. E tome Felipão linchado virtualmente. “Culpa dele!”, bradam.

Não tem conserto

Deyverson
Reprodução

Infelizmente o negócio não saiu. Conforme já explanado neste post, o ciclo de Deyverson no Palmeiras parece ter se esgotado, e este episódio apenas reforça a conclusão.

No primeiro vídeo que circulou ontem, exaustivamente compartilhado nas redes sociais e nos grupos de whatsapp, Deyverson dirige-se a um grupo chamado por ele de “D16” – provavelmente um grupo de fãs ou algo dedicado a sua carreira e/ou personalidade. Nele, informa que estaria deixando o Palmeiras, e em tom de despedida, mandou um #partiuchina.

Poucas horas depois, um novo vídeo surgiu, desmentindo tudo e explicando que era apenas uma brincadeira interna. Deyverson diz que gosta do Palmeiras e que não é para ninguém “se preocupar”, que ele vai ficar no clube.

Um dia depois do técnico informar publicamente a permanência, o camisa 16 deu um nó na internet e causou um pandemônio. E tome Deyverson linchado virtualmente, porque estaria “fazendo os torcedores de palhaços”.

Não é para tanto

Deyverson
Reuters

Já sabemos que o chip de Deyverson não funciona. Uma arte como essa é bem menos grave do que muita coisa que ele já fez. Se de fato ele fez o primeiro vídeo apenas para trollar um grupo específico, achando apenas que iria, poucos minutos depois, gritar um RÁÁÁÁÁ e tudo iria ficar bem… isto é Deyverson!

Não surpreende que ele não tenha pensado dois movimentos à frente, prevendo que alguém vazaria rapidamente o vídeo, que, além de ter uma fake news bombástica, ainda desmentia a entrevista do chefe na véspera. Ou alguém ainda espera que Deyverson tenha esse nível de maturidade?

O problema é que nossa torcida é tão madura quanto o camisa 16.

O sujeito quer que Deyverson vá embora. Um belo domingo, ele mesmo “diz” que vai. A comemoração é imensa, chega até a superar a frustração do empate na véspera – afinal, o fim-de-semana não foi tão ruim. Nem precisa esperar o clube anunciar oficialmente, afinal, saiu da boca do próprio jogador, não é verdade?

Ora, se Deyverson não serve para o Palmeiras exatamente porque não é confiável, de quem é a culpa pela frustração pela reviravolta após o segundo vídeo? Do Deyverson ou de quem preferiu enganar a si próprio?

Lidar com frustrações

A dificuldade da torcida em lidar com frustrações é assustadora. O episódio Deyverson é apenas mais um em que parte da torcida do Palmeiras, num reflexo do que é a sociedade atual, demonstra toda sua falta de maturidade.

Borja vive uma fase péssima. Vem errando gols facílimos de forma incrível. Mas no sábado, após a chuva que caiu nos minutos iniciais, a bola e o gramado ficaram mais lisos e tudo ficou mais difícil, para todos. Alguns erros de domínio foram notados. Mas só Borja foi vaiado quando a bola lhe escapou, antes dos 20 minutos de jogo.

É claro que o colombiano pensa, na hora, “por que só comigo?”, e perde ainda mais confiança. Nossa torcida, em vez de apoiar quem está em campo para fazer nossos gols, prefere vaiá-lo. Dez ou quinze minutos depois, Borja perdeu um gol feito. Será que se ele não tivesse recebido aquela vaia antes, não teria tido mais confiança e a bola não teria entrado?

Vaiar o Borja agora não adianta nada. Não estamos em janela de transferência. Apenas alguns jogadores estão disponíveis – um deles, Alexandre Pato, ironicamente, um dos maiores ícones da indolência que tantos estão querendo enxergar em Borja. Ironicamente, um dos jogadores da mesma posição de Deyverson, que todos querem que saia.

Borja parece não estar à altura do Palmeiras neste momento; circulam por aí vídeos editados com seus piores gols perdidos. Ora, é claro que numa seleção de momentos ruins, o Borja, o Fred, o Ibra, assim como o Gioino ou o Enílton – qualquer um – vai parecer o pior atacante do mundo, da mesma forma que se pegarmos uma seleção de seus golaços, todo mundo vai querer ter esse cara no time.

Borja

Borja é as duas coisas. Temos que fazer a nossa parte e tentar fazê-lo voltar a ser o matador letal que foi no Atlético Nacional – ou, pelo menos, aquele que foi artilheiro da Libertadores e do paulista em 2018, que fez gol em Itaquera na primeira final, entre outros grandes momentos com nossa camisa.

Nossa torcida tem que ser mais madura, no estádio e nas redes sociais. Tem que ser menos imediatista, menos resultadista, e tentar enxergar o quadro sob uma perspectiva mais ampla.

Arthur Cabral é a terceira opção para a função no elenco e, neste momento, é apenas uma esperança. Afinal, se vendermos o Deyverson e o Borja neste momento, quem serão nossos centroavantes mesmo? Tudo o que Borja precisa, agora, é de apoio. Não por ele, mas pelo Palmeiras.

Pedir “fora este, fora aquele” é apenas uma solução imediata para a frustração do momento. Não foi por causa de Felipão que Deyverson não saiu. Deyverson-saiu-é-mentira-não-saiu-mais, é apenas um pouco mais do que Deyverson já mostrou ser. Ter o Borja da melhor forma possível, neste momento, é melhor que não tê-lo.

Que tal tentar amadurecer um pouco antes de mais um linchamento virtual?


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A torcida do Palmeiras parece o Neymar

PorcoO Palmeiras venceu ontem e segue na caça à liderança do Brasileirão. A vitória quebrou algumas escritas recentes. Apesar de ser um grande freguês do Palmeiras, o Galo vinha de uma sequência inédita de 13 jogos, sete anos sem derrota para o Verdão. E o golaço de falta de Bruno Henrique foi o primeiro em três séculos em jogos “oficiais” – para a imprensa, o gol no amistoso na Costa Rica não contava.

Após três empates decepcionantes – mesmo sendo dois fora de casa e um contra o líder do campeonato – o Verdão chegou ao terceiro gol no último lance do jogo contra o Atlético Mineiro e levou a torcida a um estado de êxtase.

Pelo menos é o que poderia ter acontecido.

Mas o clima na torcida na arquibancada, nas redes e nos grupos era de descompasso total. Não foi nada diferente do que se vê nas derrotas. O claro desequilíbrio do time em campo, que remete à real possibilidade de terminar a temporada sem título algum, causa chiliques inacreditáveis na torcida. Num dos grupos de mensagens alguém acertou a mosca: “a torcida do Palmeiras parece o Neymar”.

Semelhança total

NeymarProvavelmente a tirada saiu espontaneamente, referindo-se apenas à tendência de exagerar nas reações de ambos. Mas se ampliarmos a comparação, tudo encaixa.

A torcida do Palmeiras sempre foi especial, diferenciada, e muitas vezes decidiu jogos, como Neymar; está na primeira prateleira. Assim como o camisa 10 da CBF, a torcida do Palmeiras viu-se rapidamente diante do estrelato total: líder de bilheteria e arrecadação e um dos maiores planos de sócio-torcedor.

A casa também mudou: saiu a humilde e já surrada, mas cheia de decência, casa de dois quartos, para uma suntuosa, moderna, ampla e iluminada nova residência. Os ganhos financeiros do menino Ney também cresceram bastante – os do Palmeiras, nem tanto, mas para a torcida, inflamada pelos reportes venenosos da imprensa, acredita torcer para o time do Tio Patinhas – na verdade, é só um bom patrocínio de camisa (que está virando outra coisa, mas isto é assunto para outro dia).

A chegada ao topo completa o cenário. As conquistas da Copa do Brasil de 2015 e do Brasileiro de 2016 deram a falsa impressão aos palmeirenses de que todo ano seria ano de conquista. Neymar foi alçado ao posto de estrela máxima do esporte brasileiro, paparicado, desfila com namorada global e atingiu a aura de invencível.

Não é bem assim

Neymar e CavaniOfuscado por uma estrela muito maior no Barcelona, Neymar decidiu ir a Paris, onde outros ótimos jogadores supostamente trabalhariam para que ele brilhasse sozinho. Não contava com a personalidade de Cavani e com estouro de Mbappé. Neymar teve dificuldades em lidar com a concorrência, o que o levou a chiliques e a reações absurdamente exageradas durante os jogos na Rússia, virando piada em todo o mundo. Seu rosto quando leva uma pancada parece o de quem levou uma facada – assim como a torcida do Palmeiras, diante da possibilidade de não erguer um troféu ao final de uma temporada.

Neymar é um jogador extra-classe, absurdamente talentoso. Mas precisa entender que não é invencível, que no esporte existem as vitórias e as derrotas; do outro lado existem adversários que também se esforçam muito para chegar à vitória. Como na Copa do Mundo, onde existem sete ou oito seleções que podem brigar pelo título, no cenário brasileiro há muito mais concorrentes aos principais títulos. Nos campeonatos europeus apenas dois ou três clubes se revezam no alto do pódio, sempre com mais de 80 pontos, muitas vezes passando de 90. Um clube brasileiro dificilmente terá a mesma frequência de conquistas da Juventus, do Real Madrid, do Barcelona ou do Bayern. Nossa torcida precisa entender isso melhor e lidar com mais dignidade com uma ou duas temporadas sem conquistas.

Problemas evidentes

O Palmeiras atual tem problemas claríssimos em seu plano de jogo. O desempenho final fica abaixo do que a escalação sugere. Roger Machado está evoluindo de forma mais lenta do que gostaríamos e parece ter problemas de leitura nos jogos.

Mesmo assim, o time está a sete pontos do líder, com 24 rodadas pela frente e uma tabela favorável até o fim do turno. Nas duas copas, está bem posicionado nas chaves e ninguém diria que não é time para chegar pelo menos às semifinais – até lá, muitos acertos ainda podem ser feitos. Talvez não vençamos nada, mas temos chances bem interessantes. Nada justifica o ambiente tóxico visto ontem no Allianz Parque e nas redes sociais.

Objetivo maior

BeicinhoO objetivo maior do Palmeiras não deve ser simplesmente se posicionar entre sete ou oito clubes para tentar ganhar um campeonato por ano. O Palmeiras precisa buscar se destacar de vez no futebol brasileiro, se tornando um dos times a revezar com apenas mais um ou dois na supremacia doméstica e até continental. Para isso, antes de tudo, precisa consolidar sua identidade de jogo, tendo em seus quadros uma figura, um diretor de bola, que se torne a cara do futebol palmeirense e a quem o técnico – seja quem for – precisa se reportar. É nessa direção que a torcida tem que pressionar.

Um projeto de futebol bem sucedido não precisa necessariamente ter títulos logo nos primeiros anos. O Palmeiras recomeçou do zero em 2015 e os dois troféus levantados no Allianz Parque foram resultado de tiros bem dados, não de um planejamento a longo prazo. O crescimento sofreu rupturas graves com as constantes trocas de técnico, o que atrasou ainda mais o sucesso.

Roger Machado, assim como Eduardo Baptista, tem muito potencial teórico, e ainda tem a vantagem de ter sido um atleta vencedor. Quanto mais permanecer no comando do clube, mais chance terá de fazer uma leitura melhor do jogo e de tomar melhores decisões, no tempo certo – e mais importante: de criar a identidade do time.

Messi e Cristiano RonaldoTrazer outro treinador agora não é garantia de nada, é apenas desespero. Os títulos não virão se a torcida fizer carinha de Neymar e xingar muito nas redes sociais exigindo cabeças. E mesmo que troque-se o técnico e um título venha, em mais um golpe de sorte, a implantação de um projeto de identidade vai sofrer mais um atraso – e o ano que vem mais uma vez dependerá de tiros certeiros.

Nossa torcida precisa ser madura, como éramos há algumas décadas, mesmo em tempos de anos e anos sem títulos. Aprendemos a perder, depois aprendemos a ganhar. Ser Neymar deve ser bom. Mas ser Messi ou Cristiano Ronaldo deve ser muito melhor.


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A ditadura da zoeira e o desejo de vaiar

TorcidaNuma dessas conversas de whatsapp no domingo, um palmeirense fez o relato: “ainda durante o jogo, uma menina do meu lado disse que ia ficar até o fim do jogo, para vaiar, porque eles estavam merecendo”.

A menina talvez não estivesse errada. Afinal, se existe um momento para as vaias, é exatamente após o jogo, não antes ou durante. E o termômetro para as vaias é extremamente pessoal, cada um tem o seu e esse direito é inalienável.

No meu termômetro, as vaias não eram merecidas. Ao contrário do que viram muitos torcedores – a maioria, ao que parece – não vejo nesse elenco um “time sem alma”. Vi jogadores correndo, suando, dando carrinho, brigando por todas as bolas. Vi um Palmeiras perdendo gols incríveis e um Sport extremamente preciso, colocando nas redes três dos quatro lances de perigo que criaram. Mas claro, cada um vê o jogo de um jeito.

Perder assim faz parte do futebol e é necessário a todo esportista – quem pratica e quem assiste – saber encarar esse tipo de derrota. É lugar comum: “futebol é o esporte em que o mais fraco tem mais chances de vencer o mais forte, e por isso é que é tão apaixonante”. Parece que essa paixão só funciona na torcida do Palmeiras quando o mais fraco somos nós.

Amendoim, com orgulho

TorcidaO que mais chama atenção na frase da menina é o desejo de vaiar. A certo ponto da partida, ela já estava decidida sobre o que fazer quando soasse o apito final. Algo que, para mim, não traduz exatamente o conceito de vaia que aprendi ao longo de quase 40 anos frequentando estádios: algo que surge no momento, que vem da alma e exatamente por isso é que é um direito inalienável.

No velho Palestra, gostava de ficar na curvinha que ligava as descobertas à ferradura ao final do jogo, perto da saída para o túnel do Palmeiras. Já consegui até pegar uma camisa de jogador numa dessas. Mas queria mesmo é ver bem de perto as expressões dos jogadores ao fim do jogo – era ali que eu julgava quem merecia e quem não merecia vestir nossa camisa, e eventualmente vaiava e gritava muito contra aqueles que aparentavam indiferença.

A vaia premeditada é um fenômeno moderno, talvez ligado ao comportamento de consumidor que nota-se no estádio nas arenas modernas. Menos mal quando a pessoa ainda tem a inteligência de esperar pelo fim do jogo – pior ainda são os que ficam esbravejando durante as partidas, no sentido exatamente contrário do conceito de torcida: que está ali para apoiar, para jogar junto, para empurrar e fazer pressão no adversário. Uma burrice que chega a doer.

Você já conhece o tipo: diz, durante a semana, orgulhoso: “Comprei o ingresso bem atrás do banco do técnico, só pra ficar gritando na orelha dele!” – há 20 anos, Felipão batizou esse pessoal de “turma do amendoim”, numa tentativa de fazê-los se tocarem. Funcionou ao contrário: eles assumiram a pecha com orgulho. Enchem a boca para dizer que se jogador não quer pressão, deveria jogar em time pequeno, que “aqui é Palmeiras”, essas baboseiras que, no fundo, só servem para justificar seus desejos patológicos de vaiar.

Ditadura da zoeira

XingandoUma das coisas mais interessantes desse novo comportamento, sobretudo nos últimos dois anos, é constatar que o grau de revolta de nossa torcida é diretamente proporcional ao resultado conquistado pelo SCCP. A volta da rivalidade extrema, que ganhou contornos de ódio mortal diante da forma com que eles nos roubaram os dois últimos campeonatos, faz com que o resultado deles influencie diretamente sobre o que o palmeirense acha do nosso time.

Este tipo de ocorrência ficou muito claro ontem: em pleno domingo-pós-derrota-para-o-Sport-em-casa, a cornetagem rolava solta nas redes sociais, áreas de comentários e whatsapp. O SCCP estava vencendo e era necessário desviar dos perdigotos que saíam da tela do celular, tamanha a revolta. Foi só o Inter virar o jogo que as críticas amainaram e já tinha gente vendo o copo meio cheio de novo.

A importância que nossa torcida está dando para a eterna competição com o SCCP beira a esquizofrenia; é emburrecedora. O medo de “ser zoado” na segunda-feira faz com que a raiva emane de forma descontrolada. Se perdemos e eles ganharam, o mundo acaba porque a zoeira vai ser forte – afinal, ela não tem limites.

Na era dos memes, a tal da zoeira está impondo uma ditadura em que, mais do que nunca, o que importa são os resultados; se o time perdeu, precisam ser xingados para aliviar a frustração de estar sendo zoado. E a justificativa é sempre a mesma: o time não tem alma, falta raça, o técnico é burro e com ele não vamos a lugar nenhum, aquelas coisas de sempre. Poucos tentam realmente falam de futebol.

E se você tenta enxergar o trabalho num espectro a longo prazo, no sentido de dar tempo para que seja criada uma identidade de jogo, relativizando os defeitos, exercitando a paciência e controlando suas frustrações, você é um passador de pano, ou não tem vergonha de perder jogos fáceis, ou mesmo não sabe o que é ser palmeirense.

Tá chato, muito chato.


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Fogo amigo sobre Dudu pede nova intervenção da diretoria do Palmeiras

TJD-SPTribunais, Federação, arbitragens, concorrentes, imprensa… é pancada de todo lado. O Palmeiras chama atenção pelo sucesso administrativo financeiro e pelo forte elenco que conseguiu reunir para a disputa das últimas temporadas – e paga por isso.

Nosso elenco tem jogadores suspensos com extremo rigor pelos tribunais – no ano passado, Alecsandro chegou a ser suspenso preventivamente por um doping que depois foi provado que não existiu. Até tribunais trabalhistas estão nos prejudicando: Gustavo Scarpa, um dos maiores destaques do elenco, está impedido de exercer sua profissão por mesquinharia de um pequeno clube da zona sul do Rio, combinado com um suspeito tráfico de influência.

A imprensa, com desfaçatez, bate forte, distorcendo fatos e emitindo opiniões enviesadas escondida sob o manto da imparcialidade, manipulando a opinião das torcidas em geral e dos próprios palmeirenses.

Mesmo assim, o Palmeiras chega competitivo em todos os torneios – mas tem parado nas arbitragens, seja por atuação dentro ou fora das quatro linhas. Os dois últimos campeonatos erguidos pelo inimigo, ex-rival, tiveram de forma inequívoca a indispensável interferência dos homens do apito e de seus chefes.

Isso basta? Parece que não. Agora tem fogo amigo na jogada. Mais uma vez, uma parcela de nossa torcida resolveu atrapalhar ainda mais o clube, numa reação raivosa que combina a rasura intelectual manipulada por jornalistas desonestos, com a frustração de não conquistar os títulos, somada ao fato de ver a ORCRIM de Itaquera os conquistando.

Burrice tem limite?

Esses infelizes enxergam os jogadores como seus empregados e se dão o direito de descontar as frustrações de suas vidas provavelmente medíocres naqueles que, em suas limitadas visões, são os responsáveis pelo Palmeiras não estar conquistando todos os títulos, a única forma de se sentirem vencedores na vida. Mal sabem que, se um dia forem patrões de alguém, não deverão tratar os empregados do jeito que estão tratando quem defende as cores do Palmeiras em campo.

A estupidez chega ao ponto dos cidadãos se deslocarem até Buenos Aires, onde o Palmeiras faz um enorme clássico sul-americano contra o Boca Juniors, num dos estádios mais hostis do mundo, para xingar nossos jogadores na porta do hotel. É de se supor que uma pessoa que faz esse tipo de sacrifício para ver aquelas camisas verdes em campo queira que o time ganhe o jogo. Como ele espera que os jogadores deem seu máximo se, em vez de mostrarem seu apoio, o hostilizam em território inimigo? Qual o limite da burrice humana?

Por que o alvo é Dudu?

Dudu
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Dudu, especificamente, tem sido o principal alvo dessa gente, sabe-se lá por quê. No último domingo, ao marcar o gol da vitória do Palmeiras sobre o Inter, nosso capitão não se sentiu à vontade para comemorar efusivamente. Preferiu retornar ao campo de defesa em silêncio, em resposta aos ataques que recebeu no Instagram, onde até imagens de seus filhos pequenos foram alvo de alguns animais. Notem: ele não saiu xingando ou fazendo gestos; apenas se recolheu.

Na “visão” desses torcedores, não basta que o jogador seja bom, que marque o gol da vitória contra um adversário tradicionalmente duro num jogo em que a vitória era essencial. Para eles, o atleta precisa ser humilhado, aceitar e ainda ser um ator, mostrando uma alegria que não está sentindo. Ao ser autêntico, Dudu acaba desafiando seus detratores, que se juntam em bando, ou usam a distância da internet, para exercerem suas autoridades.

Há jogadores que conseguem lidar bem com esse tipo de pressão; outros, nem tanto. Dudu, de fato, mostra uma sensibilidade acima do normal para essas situações, o que é suficiente para que seja classificado como mimado e chorão – a eterna mania das pessoas em dar adjetivos para as pessoas com quem não concordam. Para reforçar seus argumentos, usam seu salário e a faixa de capitão para afirmar que ele merece a perseguição, tem que aguentar calado e só se manifestar, com muita alegria, quando cumpre sua obrigação de fazer os gols das vitórias. Resta saber por que essa perseguição começou – embora não seja muito difícil de imaginar para quem já acompanha futebol há algum tempo.

Mais um problema para a diretoria resolver

Alexandre MattosO clube precisa agir. Em tempos bicudos como os atuais, a blindagem precisa se estender às redes sociais, para proteger os jogadores e suas famílias de ataques deploráveis. Nossos jogadores infelizmente não podem se expor saudavelmente na internet como pessoas normais, sobretudo os que não lidam bem com esses tipos de ataque – que são cinicamente, classificados como meras “críticas” por quem os faz ou apoia.

Seria interessante também fazer um trabalho de mapeamento dos perfis mais hostis e identificar quais, realmente, são de palmeirenses pouco providos de inteligência, e quais são de identidades falsas, criadas sistematicamente com o único objetivo de tumultuar ainda mais nosso ambiente – estratégia que, numa escala muito maior, já ganhou até uma eleição nos Estados Unidos.

Dudu precisa de atenção especial. Um acompanhamento específico, com um bom profissional, para que ele continue crescendo mentalmente e amadurecendo. Quem lembra de seu comportamento em 2015 e o vê hoje percebe facilmente uma grande evolução, mas ainda há muito onde melhorar.

À medida que o mundo vai se tornando mais complexo e sofisticado, a direção de um clube de futebol que pretende se manter como o maior vencedor do país precisa estar atenta às novidades e se adequar a elas. Nossos jogadores precisam também de novas formas de blindagem e apoio, para, acreditem, não sermos vítimas de fogo amigo e podermos focar somente nos ataques externos, que nunca vão cessar. Segue o barco.


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Entres tantas certezas, apenas uma se sustenta: não foi a gritaria na internet

A sensacional vitória no clássico de ontem à noite voltou a encher os palmeirenses de certezas – como acontece em todos os jogos, seja na boa, seja na ruim. As de ontem foram, basicamente, que os xingamentos da torcida depois da derrota para o São Caetano funcionaram e os jogadores entraram com vergonha na cara; correram bastante e por isso venceram – simples assim.

Talvez isso seja uma meia-verdade, se é que isso existe.

Xingando muito no TwitterA atitude dos nossos jogadores foi a que sempre sonhamos e foi determinante para o resultado. O equilíbrio com que o Palmeiras tratou a disciplina tática e a chamada pilha, dosadas na combinação correta, temperadas com a incrível participação dos mais de 34 mil palmeirenses presentes, foi o que matou o SPFC.

A origem dessa mudança de atitude, entretanto, parece muito mais ligada ao significado de cada jogo do que às cobranças nas redes sociais que beiraram a histeria.

E-qui-lí-brio

São poucos os jogadores que conseguem entrar em todas as bolas com vitalidade sem perder a concentração, sem desligar do raciocínio que comanda a fundamental ocupação de espaços.

Nossos jogadores conseguiram imprimir volume nos momentos-chave e souberam diminuir o ritmo quando necessário. O time respondeu, mais uma vez, à necessidade de vencer num jogo grande após um resultado frustrante. O que vimos foi um banho de bola.

Victor Luis vs. SPFC
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

O SPFC foi esmagado na parte mental logo que a bola rolou. O som ensurdecedor da torcida, somado com três ou quatro roubadas de bola surpreendentes logo nos minutos iniciais, minou a confiança dos adversários. A jogada de Dudu entrando na área conduzindo a bola rente à linha de fundo ilustra muito bem a postura de cada time em campo.

Mas não é possível jogar o tempo todo em intensidade máxima. O Verdão, então, soube jogar também nos momentos em que o SPFC tentou colocar a bola no chão e fazer valer sua condição de time grande. O máximo que permitiu foi uma bola na trave, num lance de rara felicidade de Shaylon e Trellez. Neutralizando e cansando o adversário, o Palmeiras voltou à carga e esteve bem mais próximo do terceiro do que o SPFC do primeiro – aliás, chegamos ao terceiro, que a péssima arbitragem nos subtraiu.

Torcida à beira de um ataque de nervos

Em jogos menores, em início de temporada, o time pode se dar ao luxo de fazer experiências. É até necessário. Nesses jogos, como o de segunda-feira, é natural que o foco esteja totalmente na parte tática e zero na intensidade. Ontem, ao contrário, pode ter sido apenas um jogo em que tudo deu certo, mas também pode ser sinal de que esse grupo pode estar atingindo a maturidade (até antes do esperado) ao exibir disciplina tática e pilha em quantidades corretas, nos momentos exatos.

Fabiano vs. São Caetano
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Não podemos ter certeza de nada; o tempo dirá o quanto nosso elenco está evoluindo. A conta da derrota de segunda, é claro, é do treinador – o que não necessariamente é algo ruim. Roger pode ter arriscado os pontos em nome do desenvolvimento de peças que lhe parecem úteis. Ele provavelmente tirou lições importantes daquela partida. E pagou com o preço mais alto possível por essas informações: três pontos.

Transformar a frustração por uma derrota para o São Caetano num movimento de manada para derrubar a comissão técnica, condicionando a sequência do trabalho à vitória no clássico é um erro tão grosseiro quanto recorrente em nossa torcida, sempre à beira de um ataque de nervos. Felizmente a vitória veio, caso contrário estaríamos sujeitos à firmeza da diretoria – e sabe-se lá o quanto estava respaldado o trabalho da comissão técnica até ontem à noite. E não é possível que, em sã consciência, depois de tudo o que aconteceu no ano passado, um palmeirense ainda sustente que trocar de técnico seja sempre a solução.

Por isso, a única certeza que parece mesmo existir é a de que é melhor exercitar a paciência, evitar jogar gasolina em cima de uma pilha em que pode haver um braseiro escondido. O preço a ser pago pode ser bem maior que três pontos na fase de classificação do Paulista.


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