Podcast: Periscazzo (09/06/2017)

Mais um Periscazzo foi ao ar nesta sexta-feira. Falamos sobre as escolhas que Cuca tem feito para armar o time, e sobre o suposto interesse sobre Richarlison, do Fluminense.

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Cultura da mesquinhez ameaça a profissionalização do futebol

O mau momento do time em campo, já em meados de junho, preocupa demais a torcida do Palmeiras. Campeão brasileiro, o time se reforçou muito bem na janela de verão e abriu o ano como o maior candidato a papa-títulos do país. As duas mudanças no comando técnico, no entanto, atrasaram demais a evolução do grupo, que ainda sofre com desfalques: além das lesões, Cuca tem que lidar com as convocações para seleções e com a necessidade de poupar jogadores diante da brutalidade do calendário.

Tendo o desentrosamento como obstáculo e com pouco tempo para promover treinamentos táticos, o rendimento do time está muito longe do sonhado pela torcida e temido pela imprensa. Com isso, a pressão cresce, trazendo a necessidade de se arrumar um culpado.

O clube atravessa um momento político de retrocesso, depois de quatro anos de avanço intenso em todas as áreas – resultado da filosofia implantada por um presidente que tinha lastro para se impor diante da carcomida política palestrina. O atual presidente poderia ter se apoiado na estrutura que o alçou ao cargo, mas circunstancialmente as relações ruíram, abrindo caminho para que uma velha raposa voltasse ao comando, mesmo sem cargo executivo – e trazendo com ela as mesmas ideias que nos relegaram ao segundo ou terceiro plano do futebol brasileiro por muitos anos.

Na cabeça dessa liderança, profissionalização é desperdício de recursos – pelo menos, o discurso é esse. Tendo toda a sua rede de poder edificada sobre práticas de compadrio, defende que os antigos associados do clube têm toda a condição de desempenhar funções que, diante da competitividade brutal do futebol de hoje, exigem alto grau de especialização. A blindagem à Academia de Futebol foi escangalhada e os vazamentos de informações voltaram a ser rotina.

Cultura da mesquinhez

Alexandre Mattos
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Em muitas corporações a cultura da mesquinhez prevalece. Quem chega cheio de ideias e boas intenções e começa a mostrar serviço, logo desperta a resistência dos mais antigos que imaginam que a posição que um dia conquistaram deve ser eterna. Se você conhece um lugar assim, saiba que no Palmeiras é pior. Desde que chegou, Alexandre Mattos, um profissional jovem, com jeito de falar e de se vestir peculiares, que dirige um carrão igual aos dos jogadores, incomodou bastante – mas os resultados em campo o tornaram um alvo difícil de derrubar – sobretudo quando o presidente era quem dava a palavra final.

Em menos de seis meses, muita coisa mudou: o atual presidente nem de longe consegue ter a solidez do antecessor e cede às mais variadas pressões, de todos os lados; o time passa por um momento ruim e as análises da imprensa, quase sempre muito pobres e baseadas em resultados, concluem que o elenco do Palmeiras não é forte – ou, pelo menos, “não tão forte como se imaginava”, dando mais munição a quem defende a demissão de Mattos, que definitivamente foi colocado na linha de tiro.

Sempre tem que haver um culpado

Para os padrões brasileiros, o elenco do Palmeiras não é forte; é fortíssimo. Mas quando os resultados passam a rarear, os jogadores que até janeiro eram sensacionais, hoje são “comuns” ou até “ruins”. A necessidade de se achar culpados faz com que as evidentes dificuldades para se acertar o time, já mencionadas acima, sejam reduzidas a uma suposta ruindade dos jogadores, “culpados”; e a uma suposta incapacidade do diretor de futebol que montou o elenco, mais “culpado” ainda. “Culpas” extremamente convenientes para quem está puxando as cordinhas e manipulando as marionetes.

Nossos problemas

Além da já mencionada violência do ritmo de jogos e da necessidade de alterar o time constantemente num momento de atraso na evolução do time em relação ao calendário, nosso elenco, de fato, tem falhas. A mais gritante neste momento é o segundo centroavante. Começamos o ano com Barrios, Alecsandro e a perspectiva de ter Borja, que se confirmou – mas a inesperada liberação dos dois primeiros para Grêmio e Coritiba obriga Cuca a recorrer a Willian Bigode. Fica cada vez mais evidente que isto não vai funcionar e que precisamos de uma reposição para quando o colombiano não estiver disponível.

As laterais também seguem sendo problemas; temos três opções para cada lado, contando os meio-campistas que podem ser deslocados sem maiores problemas (Jean e Michel Bastos), mas até agora nenhum encaixou – e mais da metade dos times da série A gostaria de ter qualquer um deles. O problema parece muito mais coletivo do que de qualidade individual. O time não está encaixando e precisa de tempo – artigo de luxo no futebol.

Covardia típica

Alexandre Mattos cometeu erros na montagem deste elenco – talvez não no planejamento, mas na execução. E tem que ser cobrado por isso. A rota precisa de correção – e isso passa pela contratação de um bom centroavante, pra começar, e não pela demissão de Mattos, como querem os velhos políticos do clube.

Aproveitar-se de mau momento do time para fritar o profissional mais capacitado do mercado, mas que não é infalível, é de uma covardia típica. A desfaçatez desses inimigos íntimos passa por criticar o fato do clube manter cerca de 80 atletas sob contrato, contando os emprestados – algo perfeitamente comum na administração de elencos. Quando selecionam os jornalistas amigos para aumentar a temperatura do óleo, esquecem-se, convenientemente, que há não muito tempo atrás existia uma estrutura chamada Palmeiras B e que dezenas de atletas encostados faziam suas rotinas em Guarulhos em meio a animados torneios de bobinho.

Nossa torcida não pode servir de massa de manobra e participar dessa fritura. O momento é de aflição pelos maus resultados, mas temos que confiar nos melhores profissionais do mercado que estão à nossa disposição. Cuca e Mattos estão vendo o que está acontecendo e não estão sentados. Se tiverem a confiança e o apoio da torcida, vai ficar mais difícil para que as forças retrógradas do clube tenham êxito em seus planos de bom-e-baratizar o time mais uma vez.

Mas bem que o presidente podia ajudar um pouco.

Elenco forte ≠ time forte

Por Renato Sansão*

O título pode parecer contraditório, mas passa a fazer sentido quando saímos da teoria do papel e partimos para a prática dos gramados. Ter um elenco forte, equilibrado e competitivo não significa necessariamente ter um onze forte pelo simples motivo de que o time que sai jogando precisa se conhecer bem e ter mais química que Walter White e Jesse Pinkman juntos.

Breaking BadExplico: a montagem do elenco prevê um planejamento macro. Para jogar quatro ou cinco torneios no ano em alto nível é preciso construir um plantel que preveja, entre outros fatores, inevitáveis contusões, desgastes físicos e convocações para seleções. Ter três goleiros de confiança, cinco zagueiros seguros, ao menos dois laterais de cada lado que apoiem e fechem a jogada de fundo adversária, três ou quatro volantes com poder de marcação e saída de bola, dois ou três meias criativos, três ou quatro atacantes decisivos e dois centroavantes de área que têm como característica principal colocar a bola pra dentro é fundamental – e pouquíssimos elencos do país contam com essa diversidade que alia os fatores quantitativo e qualitativo.

Salvo raros problemas que o Palmeiras enfrenta por questões de idade ou venda recente de um grande número de jogadores da mesma posição – que precisam ser sanadas – não enfrentamos grandes problemas em termos de elenco. Só para usar nossos arquirrivais como exemplo: o reserva do Pablo é o Pedro Henrique ou o Vílson. O reserva do Thiago Mendes é o Wesley. O reserva do Jadson é o Giovanni Augusto. O reserva do Cueva é o Thomaz Wilstermann. O reserva do Jô é o Kazim.

Temos em nosso banco atletas que jogariam tranquilamente como titulares na maioria das equipes que disputam a série A do Brasileirão. Pensando nos reservas de hoje (amanhã tudo pode mudar), Jaílson, Juninho, Luan, Egídio, Felipe Melo, Rafael Veiga, Michel Bastos e Borja seriam anunciados com pompa em outras agremiações que se encontram em nossa frente da tabela. E é aí, amigos corcovados, que pretendo chegar: por que isso acontece? Seria o peso do manto alviverde? As forças sombrias que insistem em tumultuar o ambiente e puxar o Palmeiras pra baixo? Por que raios os jogadores saem daqui e passam a brilhar intensamente em outros times, meu Deus, por quê?

Começo pela última pergunta: isso não é verdade. Salvo Victor Luís, regular no regular Botafogo e Lucas Barrios, que teve praticamente 12 meses entre contusões sérias e recondicionamento físico – além da sagrada sombra de Gabriel Jesus – não vejo nossos ex-atletas fazendo grandes coisas em outros times. Para ficar em exemplos mais recentes: Rafael Marques estreou no Cruzeiro (onde Robinho é reserva) com a mesma bola que saiu do Palmeiras; Cleiton Xavier patina no Vitória; Alecsandro já andou perdendo pênalti decisivo pelo Coxa; Lucas segue em má fase no Fluminense; Gabriel é um Thiago Santos com menos presença física na volância gambá; Leandro Pereira não se firmou nem no Sport; Matheus Sales é reserva do Bahia – onde Allione + Régis fazem bons jogos na Fonte Nova contra adversários locais – o jogador mais decisivo do time é o desconhecido Zé Rafael.

Amores de ex e teorias conspiratórias de vestiários à parte, vamos ao ponto crítico do Palmeiras. Mesmo com tantas opções à disposição (o que paradoxalmente acaba sendo um problema pelo excesso de expectativa e cobranças), Cuca ainda não encontrou o time ideal para seu estilo vertical e insano de jogo. Podem puxar a ficha de todos os seus últimos times: nosso treinador gosta de contar com jogadores que aliem versatilidade, velocidade e uma disposição física fora do normal. Por isso a insistência/confiança em caras como Thiago Santos, Tchê Tchê, Dudu, Roger Guedes, Willian Bigode e até Erik.

Jogadores valiosos como Felipe Melo, Michel Bastos, Borja e Guerra, principalmente o último, podem até estar em campo e terem boas jornadas. Mas não cumprem os pré-requisitos básicos do Cucabol. O problema atual é que, se Guerra emula e até supera Cleiton Xavier, o mesmo não acontece com os outros atletas que chegaram em 2017 e se tornaram “responsáveis” por sermos considerados por muitos o melhor elenco do país. Recuperando a entrevista que Cuca deu quando falava exclusivamente de time, Gabriel Jesus e Moisés não têm substitutos à altura, Jean, Tchê Tchê, Roger Guedes e Dudu caíram muito tecnicamente e Zé Roberto conta os dias para sua sonhada e merecida aposentadoria. Nesse sentido, não é de se espantar que times que fizeram um primeiro semestre mais sólido estejam mais encaixados que nós.

O que o palmeirense espera ver daqui pra frente não é um clone do campeão brasileiro de 2016, mas o time de 2017 que ainda não foi encontrado. As laterais e a volância seguem com disputa de posição abertas, os atacantes pelas beiradas seguem isolados e o único centroavante de ofício claramente sentiu o ritmo de jogo e o fato de que precisa ser um atleta mais completo do que vem se mostrando até aqui.

Talvez seja o momento de aproveitar tantas boas opções na zaga e arriscar um 3-5-2/3-6-1. Talvez precisemos ir ao mercado buscar dois ou três jogadores para brigar pela titularidade, e não serem apenas mais peças do lego que compõe o elenco. E talvez Cuca, o atual campeão do Brasil, precise passar por cima de algumas superstições e rever seus conceitos para, jogo após jogo, encontrar a química e extrair o melhor do que tem em mãos – como outros treinadores muito menos assistidos e afortunados vêm fazendo.

*  Renato Sansão é padrinho do Verdazzo desde 1982 e nas horas vagas emula Jesse Pinkman 


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Podcast: Periscazzo (05/06/2017)

Mais um Periscazzo foi ao ar nesta segunda-feira. Falamos sobre o jogo contra o Galo, sobre Felipe Melo e, claro, sobre o VALDAS.

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Não tá mais lá dentro

A torcida se reencontrou com o time ontem à tarde no Allianz Parque; mais de 34 mil torcedores viram o time comandado por Cuca dar bons sinais de evolução, embora ainda longe de atingir o patamar que todos desejamos. De qualquer forma, foi um jogo agradável e cheio de alternativas, com várias chances de gol.

Além do que vem acontecendo dentro de campo, o que vem chamando atenção nas partidas disputadas em nosso estádio são as intervenções do locutor oficial, Marcos Costi – e não pela criatividade e empolgação que sempre o caracterizaram – muito ao contrário. O que se nota, já há duas partidas, é que Costi está muito mais contido, formal. Quase fúnebre.

Marcos Costi
www.facebook.com/forzapalestrina / Arquivo Pessoal

O tom sepulcral sempre foi uma das marcas registradas do locutor na hora de listar a escalação do time adversário. Era divertidíssimo ouvi-lo divulgar os jogadores do visitante como quem lê uma lista de soldados mortos na guerra, para logo em seguida emendar com um sonoro e animado “e agora, o maior campeão do Brasil; vamos para a escalação da… SOCIEDAAAAADEEE ESPORTIVAAAAA PAAAAAALMEIRAAAS!!!” A locução é marcante a ponto de fazer com que a palavra “Sociedade”, ouvida em qualquer contexto no dia-a-dia, dispare um gatilho no cérebro que emende com “Esportiva Palmeiras” – no ritmo do locutor, claro. Um bug mental delicioso.

A marca registrada de Costi, claro, é no anúncio dos gols: após a explosão da torcida, vem o já famoso TÁÁÁÁÁ LÁÁ DENTROOOO… FOI ELE, CAMISA SETE… DUUUUUUDUUUUUU!!! Se para nós, adultos, seu trabalho provoca esse tipo de efeito, imaginem nas crianças que sonham acordadas no estádio e o quanto elas podem repetir a narração brincando em casa, no jogo de botão (ainda fazem isso?) ou mesmo na escola, infernizando os amiguinhos que torcem para os rivais.

Intervenções históricas

Algumas intervenções de Costi ficaram para a história, como “Na minha casa, mando eu”, cunhada durante a campanha da conquista da Copa do Brasil em 2015 e que virou a camiseta do título. Durante a campanha do Brasileirão de 2016, quando o SCCP marcou um gol no Flamengo, nosso concorrente direto pelo título, anunciou: “Cheirinho no ar! No Maracanã, visitante um, Flamengo zero!”.

A provocação ao Flamengo se repetiu ao final do jogo contra o Inter, pela Copa do Brasil, há três semanas – a eliminação do time carioca se deu de forma surpreendente, com dois gols em jogos diferentes acontecendo nos minutos finais. O anúncio do resultado se deu novamente com a introdução “Cheirinho no ar”, para delírio de nossa torcida.

Frieza

Depois disso, no jogo contra o Tucumán, e novamente ontem, o tom de Costi foi sereno. Frio. O jogo inteiro foi uma enorme escalação do Atlético. O repentino “profissionalismo extremo”, sem mais informações,  nos permite especular que só pode ter acontecido alguma coisa – uma orientação vinda “de cima”, seja da WTorre ou da diretoria do Palmeiras, para que abaixasse o tom – o que, se confirmado, seria uma tremenda bola fora.

Diante de tantos “não pode” que estão tirando boa parte da graça da experiência de ir a um estádio de futebol, esperamos que Marcos Costi receba um e-mail nos próximos dias dizendo que “pode”. Se uma ou outra intervenção provocou alguma saia justa ou incomodou a alguém, que isso seja equacionado e que se façam as regrinhas. Mas deixem a emoção de um locutor que tem a percepção exata da alma palestrina num estádio ser amplificada pelo sistema de som do Allianz Parque e invadir o imaginário das crianças – e dos adultos também.

Fim do “Deitado Eternamente”

A nota positiva dos bastidores do jogo vem da volta da execução obrigatória do Hino Nacional na versão instrumental, apenas em sua primeira parte, como em todos os estádios do país que já ignoravam a tal lei que só o Allianz Parque queria obedecer.

Tem leis que “pegam”, e leis que “não pegam”. Essa não pegou, e nem podia pegar. Além de esfriar demais os jogadores após o aquecimento, o Hino executado com a versão cantada inibia a nossa versão. Ontem, foi PALMEIRAS, MEU PALMEIRAS na veia. Ótima mudança.