MEMÓRIA: A ‘quase’ venda de Marcos para o Arsenal em 2003

Por Thell de Castro

Palmeiras2003A situação do Palmeiras era crítica em 2003. O time disputaria a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, tínhamos poucas estrelas no elenco, levamos uma surra do Vitória em casa na Copa do Brasil, entre outros vexames.

Para desespero da torcida palmeirense, no dia 22 de janeiro de 2003, a Folha trouxe na capa do caderno de esportes, em letras garrafais: “Por US$ 4 mi, Palmeiras cede Marcos ao Arsenal”, anunciando a venda do santo ao time inglês. Trechos da matéria:

“O goleiro Marcos embarcou ontem para Londres para acertar sua transferência por 2,5 milhões de libras (US$ 4 milhões) para o Arsenal, time que conta com outro pentacampeão, Gilberto Silva.

 Desde o meio de 2001, Marcos assumiu o gol da seleção sonhando com a ida para o futebol europeu. A negociação, porém, só veio agora, após a desastrosa campanha do Palmeiras no Brasileiro 2002 – acabou rebaixado.

 Essa informação não escapou à imprensa britânica. “Depois da impressionante atuação na Copa do Mundo, Marcos sofreu um retrocesso com o descenso do seu time, o Palmeiras”, descreveu o serviço on-line da rede BBC.

 Oficialmente, o Arsenal não comenta o caso. Por seu lado, o Palmeiras divulgou um comunicado dizendo que o jogador foi liberado para viajar e negociar com “um clube inglês” e “com a condição de retorno para São Paulo até no máximo sexta-feira”.

 Marcos vai ficar dois dias em Londres conversando com os dirigentes do Arsenal para acertar um contrato de quatro anos. Ele quer se apresentar de vez no segundo semestre. Porém o clube, que tem dois goleiros reservas contundidos, quer o jogador lá.

 “Preciso de um tempo para arrumar minhas coisas e me acertar com meus pais e meu filho”, argumenta. Sua mãe, Dona Antônia, já aceita trocar a pacata Oriente (cidade natal de Marcos, a 465 km a noroeste de São Paulo) por Londres. “Vou e depois convenço meu marido a ir também, afinal, Londres não é o fim do mundo”.

 O goleiro de 29 anos quer se despedir do time jogando o Paulista, a Copa do Brasil e o Brasileiro. Depois terá a missão de substituir David Seaman, titular do gol do Arsenal e da seleção inglesa. Mesmo com a pretensão do goleiro de 39 anos de jogar mais uma temporada, todos dão como certa sua aposentadoria no meio do ano.

 Revelado no Palmeiras, Marcos começou como reserva de Velloso e se firmou no time titular no fim de 1998. Seu maior feito foi a conquista da Taça Libertadores 99, defendendo pênaltis, o que lhe valeu o apelido de “São Marcos”.

O jogador tinha contrato até julho de 2004 com o Palmeiras, mas sua transferência deve lhe render US$ 400 mil (10% da transação).

 O temor palmeirense é que Marcos repita agora o que fez no fim de 2002, quando chegou a pedir para não jogar e depois se contundiu – atualmente, está lesionado. A venda de Marcos foi anunciada um dia após a saída oficial do lateral Arce”.

MarcosNa mesma página da matéria, uma curiosidade daquelas que o Palmeiras era campeão em gerar naqueles tempos: o time anunciou a contratação do atacante Carlos Castro, 32 anos, que jogava no Necaxa, do México. “O clube informou que o colombiano foi indicado pelo técnico Jair Picerni”, dizia o texto.

Na Folha do dia seguinte, ao contrário da manchete arrebatadora em letras garrafais, uma pequena nota dizia que existia um impasse na contratação do goleiro.

“Marcos não deve cumprir a promessa de se reapresentar na sexta-feira ao Palmeiras. Segundo seu empresário, Claudio Guadagno, ainda há um impasse para a assinatura. O goleiro visitou instalações do clube e conversou com dirigentes. A imprensa inglesa saudou sua ida. “Seaman treme com Marcos voando para Londres” foi a manchete do diário londrino Guardian.

 No dia 24 de janeiro, nova reportagem do jornal, na capa do caderno de esportes, mas sem o mesmo destaque da manchete principal de dois dias atrás. “Marcos é esperado no Palmeiras, mas não pelo técnico do Arsenal”.

 O goleiro Marcos, titular da seleção na Copa, é esperado hoje no Palmeiras, e não no Arsenal. A negociação do jogador com o clube inglês não foi definida. O técnico do Arsenal, Arséne Wenger, disse em entrevista ao site oficial do time que Marcos é só uma opção e que nada está acertado. (…)

 Quando saiu do Brasil, o ídolo palmeirense planejava defender o time do Parque Antarctica até o meio do ano, juntando-se ao Arsenal apenas em junho. O valor da transação entre os clubes seria, na verdade, um pouco inferior a US$ 4 milhões (US$ 3,8 milhões), mas esse não seria o problema. A questão é que o Arsenal não está certo da aquisição do goleiro do penta – quer um jogador que possa atuar desde já e por muito tempo no clube. (…)

 Marcos, que não joga há quase três meses, já admite se apresentar agora ao clube londrino. (…) Quando Marcos embarcou, a negociação parecia certa. O empresário Cláudio Guadagno, o ex-diretor palmeirense Marcos Bagatella e o executivo Dick Law viajaram com ele para a Inglaterra”.

Folha - Marcos
Reprodução – Folha de S.Paulo

No sábado, dia 25, véspera da estreia do time no Paulistão contra o Mogi Mirim, a Folha destacou na terceira página do caderno de esportes: “Marcos fica no Brasil até o meio do ano”.

“Saí daqui jogador do Palmeiras e voltei jogador do Palmeiras”. Marcos está de volta mesmo ao time do Parque Antarctica. O goleiro se apresentou ontem ao clube após a sua viagem de negócios à Inglaterra, onde planejava acertar contrato com o Arsenal, treinou com os seus companheiros em uma tarde chuvosa e disse em uma coletiva que fica pelo menos até o meio do ano no Palmeiras.

 “Acho que todo jogador de linha pensa em se destacar e ir para a Europa. Goleiro quase não tem mercado lá. Então nem pensava em me transferir. Fui pego de surpresa com tudo isso. Tenho muita coisa para resolver aqui e não teria como ir agora”, disse, Marcos, sobre a negociação frustrada.

Estadão - Marcos
Reprodução – O Estado de S.Paulo

Após essa reportagem, o burburinho diminuiu e foi sumindo da mídia. No dia 1º de fevereiro, uma pequena nota no jornal disse que Marcos ainda estaria negociando com o time inglês, que havia contratado o goleiro francês Warmuz.

Para sorte do torcedor palmeirense, Marcos ficou. Foi um dos líderes do time na Série B, ganhou o Paulista de 2008 e passou por tudo que aconteceu nesses anos sem arranhar sua imagem de ídolo.

Teve problemas, lesões, ficou fora de muitos jogos, vimos ainda Sérgio, Diego Cavalieri, Bruno e Deola jogarem em seu lugar, mas continuou no elenco, se salvando em meio a vários jogadores que, nitidamente, não tinham comprometimento com o clube, até se despedir dos gramados, em dezembro de 2012.

Enfim, enorme azar do Arsenal e grande sorte nossa que você ficou. Obrigado, São Marcos, por tudo o que fez por nós.

Marcos


Thell de Castro é palmeirense, jornalista e editor do site TV História

Após cinco rodadas, panorama do futebol brasileiro sugere um 2018 verde

PalmeirasA torcida do Verdão está em lua-de-mel com o time. A nuvem negra que parecia ter estacionado sobre o clube no ano passado rapidamente se dissipou com o início dos trabalhos de Roger Machado. O time evolui de forma muito interessante em campo e os resultados apareceram muito rápido.

No Campeonato Paulista, o Palmeiras é o líder absoluto após cinco rodadas, com 100% de aproveitamento. Tem o melhor ataque e a melhor defesa. Individualmente, nossos atletas lideram quase todas as estatísticas do campeonato.

A estrutura proporcionada à equipe é fantástica; e sempre melhorando – ontem foi divulgada uma nova parceria com uma empresa que vai fornecer mais tecnologia para o departamento de análise de desempenho. Nosso treinador pode se dar ao luxo de abrir mão de atletas como Moisés e Edu Dracena, que precisam de mais atenção no preparo físico no início de temporada, porque tem outros atletas no elenco que suprem suas ausências.

O que aumenta ainda mais o otimismo é olhar para os possíveis adversários pelo Brasil e ver que todos têm problemas – alguns muito sérios. Vamos dar uma rápida olhada, superficial, nas outras grandes camisas do futebol brasileiro:

Fluminense Perdeu todos os seus principais atletas, não teve nenhuma reposição à altura e mais uma vez recorre à base e a gringos que falam espanhol de procedência duvidosa.

BotafogoAcordou do sonho de 2017 e voltou à realidade: um time sem nenhuma qualidade, agora treinado pelo ex-auxiliar do ex-auxiliar. O raio não caiu no mesmo lugar de novo e o trabalho é fraco.

InternacionalAinda se recupera do trauma da Série B com um time cujo maior astro é o eterno D’Alessandro e a esperança de gols alterna entre Damião e Pottker.

SPFCTroca de jogadores como quem troca de lingérie. A diretoria se esconde atrás de ex-ídolos, o time não tem identidade alguma e mesmo com ingressos baratos o Morumbi voltou a ficar vazio.

Atlético-MGA administração das trocas no elenco nesta janela foi muito duvidosa. Perdeu totalmente a pré-temporada ao apostar em Oswaldo para demití-lo no começo de fevereiro. Está muito atrasado.

SantosDepois de três anos, a base do time foi desmontada. Bruno Henrique tem uma lesão séria no olho e a esperança é num moleque que se preocupa mais com as sobrancelhas do que com jogar bola.

VascoFaz um começo de temporada consistente – mas a qualidade do elenco e o pesadelo eterno na política interna não permitem sonhos muito altos.

SCCPPerderam os dois jogadores mais importantes do time e não conseguiram reposição. Situação financeira segue dramática e o presidente recém-eleito é suspeito de fraudar o processo.

GrêmioAinda não começou a temporada, vem jogando com o time B enquanto os titulares descansam do final de ano puxado. Luta para manter Arthur e Luan, pilares da conquista da América. Se perdê-los, cai muitos degraus.

FlamengoMudou pouco em relação ao ano passado mas parece ter poucas ambições – os bons resultados no risível Campeonato Carioca tiram o foco da inércia do comando. A falta de estádio próprio segue sangrando os cofres do clube.

CruzeiroDe todos os adversários, é o que tem mostrado o melhor futebol. Mas a administração financeira, segundo relatos, é uma bomba-relógio. E ainda por cima tem o Egídio como titular.

Vamos com calma…

É claro que alguns desses clubes também tem muitos pontos fortes, sobretudo os que foram posicionados mais abaixo na lista. E nós também temos nossos problemas que ainda precisam ser resolvidos.

Sabemos que no futebol as coisas mudam muito rápido. Às vezes, basta um fato novo para desencadear uma cadeia de eventos negativos difícil de reverter. E o inverso, para os adversários, também é verdadeiro.

E, mais importante que tudo, sabemos que futebol se resolve lá dentro do campo.

Mas que as coisas parecem estar muito favoráveis a um ano plenamente verde, isso parece. Se você fosse um torcedor de outro time e fosse apontar superficialmente os pontos fracos do Palmeiras, como fizemos acima, eles provavelmente não existiriam.

Conhecemos nossos problemas porque acompanhamos o Palmeiras de perto. É perfeitamente possível pontuar que eles são mais administráveis do que os de qualquer outro clube mencionado. Após as cinco rodadas iniciais, sem subir no salto, podemos nos dar o direito de sonhar alto com 2018.

Bom carnaval a todos.


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Periscazzo (07/02/2018)

A vitória sobre o Santos, os torcedores-consumidores que processam o Palmeiras, e a maturidade de Felipe Melo. Com direito a crise de tosse.

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Consumidores, voltem para seus barzinhos na Vila Olímpia

Santos 0x1 Palmeiras
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Chegou ao conhecimento público nesta quarta-feira a notícia de que três torcedores que compareceram ao Allianz Parque para assistir ao jogo entre Palmeiras x Santos, válido pelo Campeonato Brasileiro, estão processando a WTorre, o Palmeiras e a CBF. Eles pedem, além do ressarcimento do valor dos ingressos, a quantia de R$ 20 mil cada um. O motivo? Água caindo sobre suas cadeiras.

Naquela noite, chovia demais na capital paulista e um rápido apagão aconteceu no estádio antes da partida começar – o único registrado em mais de três anos de atividade do Allianz Parque.

A drenagem não aguentou e gramado ficou encharcado, fazendo com que o jogo de bola pelo chão do Palmeiras fosse prejudicado. O Santos acabou vencendo por 1 a 0.

Os torcedores têm razão de ficar chateados. Afinal, pagaram caro (dois ingressos de R$ 100, meia-entrada, e um de R$ 200) e tinham o direito de permanecerem secos. Mas vamos com calma.

Tá chovendo no meu assento, e agora?

Fosso Palestra
George de Barros

Ao longo dos anos, cansamos de tomar hectolitros de chuva em jogos no velho Palestra e continuamos a tomar em vários estádios do país. Agora, temos a primazia de ter a cobertura do Allianz Parque para nos livrar desse incômodo – a não ser que você seja o azarado que está bem debaixo de uma goteira que a WTorre deixou se criar.

Nessa situação, há várias coisas a se fazer. A primeira delas é chamar um steward e tentar arrumar outro lugar, antes que o jogo comece. Você arruma outro lugar, que pode ser melhor ou pior que o que você comprou. Mas assiste ao jogo, seco.

Às vezes a equipe de apoio não é eficiente e não resolve o problema. Ou a goteira pode começar durante o jogo. Você realmente não está com sorte. Resta a você tentar chegar mais para o lado para não se molhar. Ou procurar outro lugar por sua conta – muitas vezes a solução é a escada. É chato, mas o que importa mesmo é apoiar o Palmeiras.

Com o fim do jogo, você pode simplesmente dar uma torcida na sua camisa encharcada e ir para casa, lamentando a derrota e a má sorte de pegar bem o lugar “premiado”. Ou pode ir na Ouvidoria do estádio e registrar formalmente reclamação, ou fazer uma queixa no Reclame Aqui – e quem sabe até ganhar um mimo do clube mais tarde. Mas pode também ir além e exigir seus direitos, processando a WTorre, que é a responsável pela manutenção do estádio.

Nessa última opção, o advogado vai lhe dizer que o acionado será a WTorre, mas que a CBF e o Palmeiras serão “solidários”, ou sei lá qual o melhor termo jurídico para definir terceiras partes que, por algum motivo, podem dividir a responsabilidade com o requerido principal.

É nesse momento que os torcedores mostram do que são feitos. Um consumidor, um sujeito feito de nada, diz ao advogado: “sem problemas”.

Já um palmeirense legítimo, de sangue verde, que tem o “P” tatuado na alma, se levanta, coloca o dedo na cara do advogado e diz claramente: “não tô nem aí pra WTorre e pra CBF, mas se for para processar o Palmeiras, não tem ação”.

Não se trata de direito

Torcida Allianz ParqueNessas discussões, sempre aparece alguém com o viés legal, ponderando que os caras “têm o direito” de procurar a Justiça caso tenham se sentido prejudicados. Mas é claro que têm o direito. Não é isso que está sendo discutido.

Os novos estádios atraíram um novo público ao estádio, e nem é preciso frequentá-los para constatar isso: basta verificar os números do crescimento da média de público. E entre esses novos frequentadores, temos os “consumidores”, que chegaram cheios de direitos. Exigem, inclusive, espetáculo em campo. EXIGEM.

São pessoas que vão ao futebol como forma de entretenimento. Pessoas que, em três anos de operação da nova “casa de espetáculos”, ainda não conseguiram entender o que é torcer de verdade por uma camisa como a do Palmeiras. É aquele tipo de cara que aproveita que está numa multidão e desconta todas suas frustrações no atleta que errou um passe ganhando trinta vezes mais do que ele – esse tipo, você que frequenta o Allianz Parque sabe, está muito comum.

São exatamente esses que dizem “sem problemas” para o advogado. É esse tipo de idiotas que devem ser combatidos nas arquibancadas. A cada xingamento ao Tchê Tchê ou ao Bruno Henrique, esses caras têm que ser reprimidos pelos torcedores até entenderem que estão entrando num lugar sagrado, com um código de conduta, e que o valor pago no ingresso não lhes permite subvertê-lo.

Voltem para seus barzinhos na Vila Olímpia

Rei do CamaroteO Palmeiras precisa exigir da WTorre que nunca mais caia uma gota de chuva nos assentos, bem como combater todos os eventuais pontos cegos causados pelas divisórias, seja de grade ou de acrílico.

Mas, muito mais do que isso, o Palmeiras precisa mesmo é de torcedores que o tratem como um dos membros mais queridos da família.

Quando alguém que amamos pisa na bola com a gente, podemos até ficar bem bravos. Ficamos de mal. Mas passa.

Não precisamos nos comportar como gado e aceitar tudo em nome do amor. Se comprarmos ingresso para um lugar com problemas, reclamamos. Tentamos resolver antes do jogo, achamos um lugar aceitável. E bola pra frente.

Os “consumidores” que deram o azar de comprar um assento com goteira preferiram processar o Palmeiras. Eles têm até o direito, mas não podiam. Jamais.

Se for para ser assim, que voltem todos para os barzinhos da Vila Olímpia de onde vieram. Nossa renda e público médios podem até cair um pouco, mas todo mundo que pertence ao estádio de futebol vai se sentir melhor.


ATUALIZAÇÃO: A torcida do Palmeiras investigou e descobriu que os tais torcedores que processaram o clube não eram palmeirenses, e sim rivais infiltrados. Isso anula boa parte da argumentação do post, o que nos deixa de certa forma aliviados: a gourmetização da arquibancada não chegou a esse extremo.

De qualquer forma, fica a reflexão sobre o comportamento de “consumidor” que, inequivocamente, está assolando nossa torcida no estádio – mesmo que o absurdo de processar o próprio time não tenha sido atingido.

Conselho Técnico faz reunião desastrosa e já começou a estragar o Brasileirão

Em reunião realizada ontem na sede da CBF, no Rio de Janeiro, o Conselho Técnico de clubes deliberou sobre três pontos polêmicos acerca do regulamento do Brasileirão de 2018. Em todas as decisões, a escolha foi a mais errada possível.

Em vez de zelarem pela esportividade e pela a lisura da competição, os clubes tomaram decisões que visam apenas o aspecto econômico, além de darem margem a picaretagens e injustiças. Vamos a elas.

Gramado sintético

Gramado Sintético da Arena da Baixada
Agência Estado

Na reunião de 2017, havia sido decidido que o Atlético-PR, único clube da Série A que tem estádio com gramado artificial, teria um ano para replantar o gramado natural e que a partir de 2018 a Arena da Baixada, bem como qualquer outro estádio com jogos pelo Brasileirão, deveria ter gramado natural. A decisão havia sido tomada porque os clubes entenderam que o clube paranaense tinha vantagem técnica ao mandar seus jogos num gramado que altera significativamente a disputa da partida.

O Atlético trabalhou nos bastidores para que os clubes votassem por derrubar esse veto a partir deste ano, usando como argumento a fraca campanha de 2017. Ou seja, de um ano para outro, o gramado deixou de alterar o andamento do jogo porque o Atlético montou um time ruim no ano passado.

Assim como o Allianz Parque, a Arena da Baixada tem problemas com o gramado diante da falta de luminosidade causada pela cobertura do estádio. O Palmeiras luta, mas mantém o gramado natural. O Atlético se pendura na regulamentação da FIFA, que permite o uso de grama sintética, desde que dentro de determinadas especificações. O erro, no caso, é muito mais da FIFA, que dá brecha para esse tipo de aberração esportiva. O Atlético apenas se aproveita dessa brecha e conta com a conivência dos outros clubes brasileiros, que poderiam sustentar o veto, mas por algum motivo preferiram ceder..

Mando de campo fora da cidade de origem

Flamengo x Palmeiras, em Brasília
Adalberto Marques/ Agif/Gazeta Press

O estrago continuou quando os representantes dos clubes decidiram revogar a proibição de mandar jogos fora de sua cidade e até mesmo de seu estado de origem. Isso permitirá que clubes com menor poder de arrecadação  tenham oportunidades de levar as partidas para outras praças onde o visitante tende a ter torcida forte, e assim lucrar com a torcida adversária.

Além de provocar claro desequilíbrio técnico gritante no campeonato, a medida visa casuisticamente proteger os times do Rio de Janeiro, que por motivos culturais enfrentam problemas para atrair suas torcidas aos estádios cariocas. Um certo lobby das administrações dos grandes elefantes brancos construídos para a Copa de 2014 também deve ter funcionado, e desta forma veremos muitos jogos em Brasília, Cuiabá, Natal e Manaus.

Para não deixar escancarado, algumas restrições foram impostas:

  • os times só poderão mandar cinco jogos fora de seu estado de origem;
  • o mando fora do estado de origem pode ser vetado pelo visitante;
  • a prática está vetada nas últimas cinco rodadas do campeonato.

Árbitro de vídeo: um sonho adiado

VARO ponto mais importante da reunião, claro, foi a deliberação a respeito da adoção do VAR – o chamado “árbitro de vídeo” – nas partidas do Brasileirão. Por 12 votos contra 7, o VAR foi rejeitado para o Brasileirão 2018. Votaram a favor o Palmeiras, mais Bahia, Botafogo, Chapecoense, Flamengo, Grêmio e Inter. Contra o VAR, votaram SCCP, Santos, Vasco, Fluminense, Cruzeiro, Atlético-MG, América, Sport, Atlético-PR, Paraná, Ceará e Vitória. O SPFC não votou porque é café-com-leite.

A CBF determinou que, caso quisessem adotar o sistema, os clubes é que precisariam arcar com os custos, avaliados em R$ 20 milhões – o que daria R$ 1 milhão por clube para ter o VAR em todas as partidas do campeonato. Essa imposição teria sido a razão para que alguns clubes desistissem de usar o recurso.

Palmeiras x Cruzeiro - gol de Borja anuladoDa forma como tudo aconteceu, a CBF parece pouco ou nada interessada na adoção do VAR. Seria muito interessante ter acesso à planilha de custos estimados para chegar ao valor médio, por partida, de mais de R$ 50 mil para montar uma estrutura de replay e comunicação, composta por profissionais qualificados. Parece bem pouco provável que as cifras sejam tão altas.

E mesmo que sejam, a CBF tem por obrigação usar seus próprios recursos para que seu principal campeonato não seja decidido por erros de arbitragem, como aconteceu no ano passado e outras tantas vezes. Afinal, pra que mesmo a entidade cobra tantas taxas dos clubes e mantém, hoje, mais de R$ 250 milhões em seu caixa? Na prática, o repasse dos custos funcionou como um veto à implementação do sistema.

Gol de mão de JôDe qualquer forma, fica a questão – a qual todos nós já sabemos a resposta: por que o SCCP não quis que o VAR fosse adotado mesmo?

Esperamos que, de uma vez por todas, nossa diretoria esteja muito atenta a tudo isso, e que tome as devidas providências antes do leite ser derramado. Perdemos o campeonato no ano passado, entre outras razões, por conta dessa omissão. Não suportaremos ver isso acontecer de novo, em anos consecutivos.


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