Artigo: Aprimorando as Discussões sobre Patrocínio de Futebol

por Douglas Monaco*

Palmeiras e Crefisa anunciam contrato de patrocínioNas últimas semanas, a relação entre Palmeiras e CrefisaFAM tem gerado dois pólos de discussão na imprensa em geral: a questão do Fair Play Financeiro – que foi tema deste post do Verdazzo – e a recente “reformatação” da parceria, algo que, segundo o que se tem lido e ouvido, foi impulsionado por uma intervenção da Receita Federal do Brasil.

O fato é que, desde seu início em janeiro de 2015, a parceria é assunto frequente em programas esportivos e análises pela internet. Trata-se de comentários que, pretensamente, estão discutindo o tema “patrocínio do futebol”.

O problema é que tais discussões têm gerado muito blablablá e quase nada de conclusivo. No dizer de um saudoso e ilustríssimo PALESTRINO: “muito calor e pouca luz”, expressão comum nas, sempre aclaradoras, análises de Joelmir Beting ao longo de sua carreira.

Aproveitando o gancho das últimas semanas, o artigo anexo relata resultados de um estudo sobre patrocínio de futebol publicado em 2016 numa revista científica especializada em gestão esportiva. Os resultados são contraintuitivos e baseiam-se numa amostra de sete das maiores ligas europeias por um período de seis anos.

Muito mais do que enfatizar os resultados do estudo, o artigo visa propor mais rigor, mais formalismo e mais objetividade nas discussões sobre patrocínio de futebol. A esperança é que, aprimorando-se as análises, as conclusões sejam mais confiáveis e mais úteis.

Clique aqui para fazer o download do artigo completo.

*Douglas Monaco é leitor e padrinho do Verdazzo.

Este artigo foi publicado simultaneamente em inglês no único site possível com esse fim: Anything Palmeiras.

Rompimento entre Crefisa e Mustafá Contursi redesenha o panorama político do Palmeiras

Lamacchia, Mustafá e Leila PereiraLeila Pereira, presidente da Crefisa, patrocinadora e conselheira do Palmeiras, declarou em entrevista publicada hoje na Folha de S.Paulo algo que já circulava à boca pequena pelas alamedas: rompeu relações com Mustafá Contursi após o episódio de revenda de ingressos que veio à tona há algumas semanas.

A empresária, segundo o acordo de patrocínio, tem direito a uma cota de ingressos a cada jogo do Palmeiras no Allianz Parque, e repassava 70 deles a Mustafá como cortesia, num gesto político para que ele distribuísse entre sua base política. Mustafá foi o responsável pela manobra que deu a Leila a condição estatutária para poder concorrer ao cargo de conselheira.

Segundo acusações de uma intermediária, no entanto, os ingressos dados a Mustafá eram revendidos, caracterizando cambismo numa operação que pode ter movimentado mais de R$ 500 mil numa temporada – a revelação teria desapontado demais a conselheira, que assim decidiu por se afastar de seu criador político.

O movimento redesenha o cenário político do clube. Mustafá tinha em Leila um grande ponto de apoio para revitalizar suas bases políticas, cada vez mais carcomidas pelos minutos de silêncio. Foi por causa do apoio de Leila que o velho cacique conseguiu atrair novos apoiadores – entre eles um grupo que historicamente sempre foi seu inimigo: desde o ano passado, a UVB passou a rezar pela cartilha do homem que amaldiçoou por mais de uma década. Com esta reviravolta, o grupo tende a acompanhar o poder financeiro de Leila Pereira e abandonar Mustafá.

Mauricio Galliote e Leila PereiraMaurício Galiotte, que estava isolado politicamente, ganhou uma sobrevida importante com o episódio. Os dois passaram a disputar um cabo-de-guerra para ter Leila como aliada após Mustafá romper com o atual presidente por não atender a suas pressões para demitir Alexandre Mattos – com todas as vantagens para Mustafá.

O episódio dos ingressos, no entanto, virou o jogo. Maurício, até outro dia cercado apenas por alguns poucos e leais conselheiros, volta a ter força política, já que a Crefisa trará consigo uma série de bajuladores que finalmente veem alguém por quem vale a pena abandonar Mustafá.

Leila Pereira vai conseguindo se embrenhar na política do clube apoiada por seu poderio financeiro. Na mesma entrevista, deixou claríssimas suas intenções de concorrer à presidência do clube na eleição de novembro de 2022 – isso se os vários episódios desgastantes que ainda estão por vir não a demoverem dessa ambição. A cada imbróglio Leila tem condições de provar um pouco mais do que existe de pior na natureza humana. A política do Palmeiras não é para iniciantes.

Rascunho da eleição do ano que vem

Paulo Nobre e Mauricio GaliotteEm novembro de 2018 teremos novas eleições para a presidência do clube e Maurício Galiotte, com o suporte da Crefisa, voltou a ser um nome forte para concorrer à reeleição. Mustafá Contursi, acuado, volta a conviver com o mesmo problema que já o incomoda há alguns anos: seu grupo de apoiadores é formado apenas por puxa-sacos, cada vez mais ultrapassados e incapazes de gerir sequer uma banca de jornal – foi isso que o fez apelar para Arnaldo Tirone em 2011. E foi isso que o fez topar uma aliança com Paulo Nobre em 2013.

Maurício Galiotte tem o apoio de Leila Pereira, que nutre ódio mortal por Paulo Nobre, o que é recíproco. Os resultados esportivos de 2018 terão um peso importante. Se o Palmeiras voltar a conquistar troféus, a reeleição é quase certa e talvez Nobre nem saia de seu bunker político e continue a correr rally pelo mundo. Em caso de mais turbulência, a disputa pode ocorrer, e deve ser acirrada.

Tudo o que esperamos é que essas pessoas pratiquem Política, com “P” maiúsculo, de Palmeiras. Podem continuar se odiando, ou podem se reconciliar, isso realmente não importa – desde que a disputa seja leal, o profissionalismo continue prevalecendo e o time siga com o protagonismo que já exerce há três temporadas. Com Maurício, Leila, ou Paulo, seja quem estiver à frente do clube.


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Conselho deve escrever amanhã mais uma página vergonhosa na História do Palmeiras

Lamacchia, Mustafá e Leila PereiraO Conselho Deliberativo escreverá na noite desta segunda-feira mais uma página que tem tudo para ser vergonhosa na História do clube.  Se as projeções se confirmarem, a candidatura de Leila Pereira, autorizada após uma canetada que se baseou numa memória obscura do ex-presidente Mustafá Contursi, não será impugnada e a dona da Crefisa, patrocinadora do futebol profissional, poderá seguir sua caminhada rumo à presidência do clube.

Como é sabido, Leila Pereira admitiu em entrevista ao jornal Diário de São Paulo, em 2015, que havia ficado sócia há poucos anos e negou ter planos políticos no clube. Repentinamente, lançou sua candidatura, na chapa de Mustafá. Investiu bastante na campanha, com montagem de comitê na rua Palestra e jantares com Uber pago para quem quisesse. Diante de tanta popularidade, recebeu uma votação expressiva, a maior da História, e carregou consigo mais oito ou dez conselheiros que não se elegeriam não fosse o quociente eleitoral que a chapa conseguiu graças ao peso de sua eleição. O chamado efeito Tiririca.

Para que sua candidatura obedecesse ao que determina o estatuto do clube, o tempo de associação de Leila ao clube foi acrescido de quase 20 anos – segundo uma lembrança de Mustafá, ele havia concedido o título de sócia benemérita a Leila em 1996, quando era presidente, embora não haja nenhum documento atestando o fato.

Com o patrocínio sem a certeza de renovação e precisando do apoio de Mustafá para conseguir governabilidade, o presidente Maurício Galiotte ficou com a faca no pescoço e autorizou a candidatura mesmo sem a documentação apropriada. Dias depois da homologação, a Crefisa anunciou a permanência do patrocínio.

Vários associados, entretanto, entraram com o pedido de impugnação da candidatura, o que será julgado na noite desta segunda-feira. A principal batalha deve ser pela forma de votação: voto aberto no microfone, ou na urna. Por transparência, a comunidade palmeirense exige voto aberto. Se os conselheiros tiverem mesmo a coragem de compactuar com essa mácula a nosso estatuto, que tenham também a hombridade de terem seus nomes expostos pela eternidade.

Presidência do Conselho

Na sequência acontecerá uma nova reunião, já com os novos conselheiros eleitos exercendo seus direitos de voto pela primeira vez, com a missão de eleger o presidente do Conselho Deliberativo. O favorito é Seraphim Del Grande, fundador da UVB, aliada de Mustafá.

Vice-presidente do clube na década de 90, Seraphim foi traído por Mustafá, que não permitiu que ele fosse o candidato a presidente após seus dois primeiros mandatos, permanecendo no cargo após uma sequência de manobras políticas e de alterações no estatuto. Seraphim então fundou a UVB, cuja bandeira principal sempre foi fazer oposição a Mustafá. Hoje, o grupo se curva ao velho cardeal.

Concorrem com Seraphim dois candidatos: José Apparecido, da Confraria Palestrina, e Sylvio Mukai, da UVB. Mukai é inexpressivo e sua candidatura serve apenas para escamotear a subserviência da UVB a Mustafá. Como Seraphim não precisará dos votos da legenda para se eleger, Mukai foi lançado. Já Apparecido, do grupo Confraria Palestrina, representa os anseios de renovação no Conselho, que precisa de alguém livre de amarras para comandar os ritos das reuniões.

Também será escolhido o vice-presidente: Concorrem o mustafista Carlos Faedo, o UVBista Tarso Gouveia e Guilherme Pereira, da Chapa Palestra. Este último, pelos mesmos motivos que o Verdazzo declara apoio a José Apparecido à presidência, é merecedor de toda nossa torcida – e ao contrário da eleição principal, as cartas para o vice-presidente não estão tão marcadas e pode haver surpresa.

Acordões

Acordos feitos entre as principais lideranças políticas do clube indicam que o mandato de Leila Pereira não corre perigo algum e que a chapa de Mustafá manterá todos os seus recém-eleitos. Seraphim Del Grande deve ser facilmente eleito. A noite desta segunda-feira tem tudo para ser uma das mais vergonhosas da História do clube.

Resta a esperança de que os votos sejam abertos, e que quem optar por subscrever a vergonhosa candidatura, forjada por uma conveniente lembrança, tenha seu nome exposto a toda a comunidade palmeirense.

O que significa a renovação do contrato entre Palmeiras e Crefisa

Mauricio Galliote e Leila Pereira
César Greco / Ag. Palmeiras / Divulgação

Palmeiras e Crefisa anunciaram no início desta tarde a renovação do contrato de patrocínio na camisa do clube por mais duas temporadas. O valor do investimento passa dos atuais R$ 66 milhões para R$ 72 milhões em 2017 e R$ 78 milhões em 2018, mais as despesas relativas a Barrios, que entre luvas e salários chegam perto de R$ 1 milhão por mês, enquanto o atleta permanecer vinculado ao Palmeiras.

No anúncio, feito em conjunto pelo presidente do clube Maurício Galiotte e pela presidente da Crefisa, Leila Pereira, foi mencionado ainda que haverá bônus pagos ao clube pela patrocinadora em caso de conquista em qualquer campeonato que o time profissional do Palmeiras entrar em 2017 e 2018, e deixou em aberto a possibilidade de ajudas pontuais em oportunidades de mercado – algo semelhante ao que foi feito nas contratações de Guerra e na aquisição de 100% dos direitos econômicos de Dudu, por exemplo – tudo em troca de propriedades de marketing que proporcionam enorme retorno institucional para as empresas, como pontuou Leila em seu discurso, na contramão de quem maldosamente caracteriza a relação com um mecenato. A empresária também aproveitou para fazer campanha para o Conselho Deliberativo do clube. As eleições acontecem no próximo sábado. Veja abaixo o vídeo completo com a coletiva.

Os recursos da Crefisa são muito importantes para o Palmeiras. Os valores anunciados podem representar até 20% do orçamento do clube. Peças fundamentais do elenco puderam ser adquiridas com o auxílio da empresa, e não há nada de errado ou imoral nisso.

O futebol é profissional desde 1933 e desde então monta times mais fortes quem tem mais dinheiro; o Palmeiras tem se destacado em todas as frentes de captação de recursos: além do patrocínio da Crefisa na camisa e em outras propriedades, a arrecadação com o plano de sócio-torcedor, com a venda de ingressos,com a venda de camisas e artigos do clube e a negociação com o Esporte Interativo renderam ao Palmeiras valores que nenhum outro clube alcançou, nem os queridinhos da mídia. Tudo isto atrelado a um planejamento e a uma gestão financeira impecável fazem do Palmeiras a grande potência econômica do país. O resto é choro de maus jornalistas e das outras torcidas.

O aporte feito pela Crefisa, no entanto, não pode servir de passaporte para a política do clube. Qualquer palmeirense pode se aventurar na trilha à presidência: primeiro é necessário ficar sócio, depois de oito anos pode se candidatar ao Conselho, e se vencer pode então fazer seu primeiro mandato, ao final do qual terá condições de ser candidato à presidência.

Leila afirmou não ter tempo para ser presidente do Palmeiras no anúncio de hoje, mas não disse que não quer. Na eleição de novembro de 2022 (na de 2020 ela não terá completado o primeiro mandato) Leila pode perfeitamente ter arrumado tempo e mudar de ideia em relação ao que disse hoje. E não há quem circule pelo clube hoje que diga que ela não alimenta esse sonho; a fama e popularidade que atrelar seu nome ao do Palmeiras lhe parece ser muito prazerosa – ela mesma menciona esse fenômeno numa de suas falas.

Quem está aparentemente pavimentando o caminho de Leila é Mustafá Contursi, de olho exclusivamente nos votos que a patrocinadora trará para sua chapa. Em dezembro, ela mencionou que seu marido, José Roberto Lamacchia, não seria candidato. Mustafá, ao perceber que a candidatura de sua Tiririca corria risco de impugnação, recomendou que o marido fosse também candidato, uma manobra de quem conhece os meandros da política do clube como a palma de sua mão – ou até melhor. Coisa de quem só está pensando em ampliar seu poder, abalado com a ascensão de Paulo Nobre depois de uma gestão tão vitoriosa.

Quem dorme com cobra amanhece picado. Leila está sendo usada por Mustafá e parece não se importar com isso. Quando menos esperar, em meio à sua escalada no clube, será contrariada. E se não tiver desenvolvido uma musculatura política que lhe dê força para contra-atacar – algo bem pouco provável em tão pouco tempo, a não ser que literalmente compre esse apoio – terá seu tapete puxado. Mustafá já fez isso várias vezes e muito, muito provavelmente fará de novo.

E quando isso acontecer, nada indica que ela não reagirá de forma igual ou pior que no ano passado, quando simplesmente deixou de pagar as parcelas do patrocínio quando se sentiu contrariada por Paulo Nobre nos affairs que os dois tiveram no decorrer da relação, a despeito do que o contrato determinava. Os valores atrasados foram pagos a posteriori, depois que as arestas foram aparadas. Mas não é nada recomendável correr esse tipo de risco. E é nesse buraco que o Palmeiras está se enfiando ao dar corda para a caminhada de Leila na política do clube.

Se a participação da Crefisa se limitasse meramente ao apoio financeiro em troca das exposições que as propriedades de marketing do clube lhe darão, seria o melhor dos mundos, tudo o que esperamos de um patrocinador – e foi isso que Leila apregoou em seu discurso. Mas a realidade aponta para outra direção, infelizmente. Leila não tem estofo na política do Palmeiras, que definitivamente não é para iniciantes.

O presidente Mauricio Galiotte passou por cima do estatuto para agradar a Mustafá e ao patrocinador. Garantiu para seu mandato governabilidade política e fôlego financeiro, bastante fôlego. Mas para isso abriu um precedente que pode ter consequências muito sérias e vai ter que carregá-lo pelo resto de sua vida.

No curto prazo, tudo aponta para dois anos bastante auspiciosos no plano esportivo. O Palmeiras montou um timaço e nem os comentaristas mais azedos se atrevem mais a questionar a qualidade de nosso elenco. As conquistas tendem a vir, basta confirmar o favoritismo dentro de campo – algo sempre mais palpável no Brasileirão, que é um torneio de pontos corridos de tiro longo. No mata-mata chegaremos fortes e seremos o time a ser batido, mas sabemos das contingências do futebol e de como os torneios eliminatórios aprontam surpresas. Mesmo assim, com seis torneios de mata-mata por disputar nos próximos dois anos, a chance de beliscar alguns é enorme.

Parte desse favoritismo pode ser creditado a nosso patrocinador, mas não só a ele. Que sua contribuição continue tendo sua contrapartida na exposição da marca das empresas. Que esse aporte não se transforme numa obrigação política, principalmente com uma pessoa que já deu fartas demonstrações de que não gosta de ser contrariada. No Palmeiras, essa é uma tarefa que nem o Eike Batista com peruca conseguiria.

Eleição

Se você acha que Leila Pereira, pelo que vem fazendo pelo clube, merece ser eleita, uma informação: ela JÁ ESTÁ ELEITA, pois precisa de mais ou menos 28 a 30 votos, algo que facilmente vai atingir ainda nas primeiras horas de votação. A agressividade de sua campanha deve lhe dar um retorno de 180 a 200 votos.

Isso significa que o Conselho terá, na aba de Leila, cerca de seis a sete candidatos do Mustafá, velhos associados que não querem nem saber dos jogos de futebol e que têm como única função obedecer ao chefe nas votações do Conselho. Mesmo que o leitor do Verdazzo ache que ela merece, Leila não precisa desse voto. Jamais, em hipótese alguma, deem seus preciosos votos a qualquer candidato dessa chapa cujos números começam com 1.

O Verdazzo recomenda a todos os associados do Palmeiras com direito a voto que exercitem sua cidadania palmeirense apoiando os candidatos do grupo Fanfulla. Palmeirenses que não perdem um jogo, cuja única preocupação ao fazer política no clube é fortalecer mais e mais o futebol. Conheça melhor os candidatos neste link.

Palmeiras-Parmalat: revisitando as características da parceria

* por Douglas Monaco

Antônio Carlos e EdmundoUma questão que, neste começo de 2017, tem chamado atenção do público do esporte em geral e de nós palmeirenses em particular é a aparente iminência de ascensão dos patrocinadores – Crefisa/FAM – a patamares mais elevados de investimento e proeminência no clube.

Um ponto de destaque é a inserção da proprietária das empresas na vida política do clube: tornou-se sócia, tem encaminhada uma candidatura ao Conselho Deliberativo e, segundo se diz, tem plano de eleger-se presidente do clube.

À parte as discussões de legalidade e pertinência do processo, ouvem-se comparações entre este momento presente e a Era Parmalat. As alegações são que o caso atual teria na Parceria com a Parmalat um precedente que o legitimaria.

O objetivo deste texto não é validar ou contestar o momento atual. O propósito é meramente recuperar as características do acordo entre Palmeiras e Parmalat que vigorou entre abril de 1992 e dezembro de 2000. A premissa do exercício é que, tendo-se passado tanto tempo, a lembrança da coisa não é tão viva e as comparações ficam prejudicadas.

Por, além de ser palmeirense, eu ter cumprido uma obrigação acadêmica em 1996[1] escrevendo sobre o “Caso Parmalat”, tenho um registro forte de tudo o que se passou, dai aventurar-me a recuperar as informações da época.

A Parceria

Em linhas gerais, a Parceria teve as seguintes características.

  1. Pelo acordo, a Parmalat pagava ao Palmeiras uma verba regular de patrocínio e, simultaneamente, disponibilizava ao clube jogadores qualificados, sem custo para o clube;
  2. Na venda de jogadores, o Palmeiras tinha direito à “taxa de vitrine”, uma porcentagem sobre o lucro. O número declarado à época era 20%;
  3. As propriedades comerciais básicas cedidas pelo Palmeiras eram ligadas ao futebol e, por um tempo, ao voleyball: estampava-se a marca da empresa isolada no peito da camisa desses dois esportes, o que hoje se chama de patrocínio máster;
  4. Havia também propriedades comerciais sediadas no estádio: a publicidade estática foi, por um bom tempo do contrato, exclusivamente cedida à Parmalat; somente na fase final do contrato, esse espaço foi compartilhado com outras marcas;
  5. O acordo impunha também uma coisa chamada cogestão do futebol: a cogestão impunha decisões colegiadas relativas ao departamento de futebol profissional do clube: a palavra final sobre organização, planejamento, direção e controle do futebol seria sempre dada por dois participantes do clube e dois da Parmalat;
  6. Os números[2] à época eram astronômicos para o mercado brasileiro que, no início do acordo, ainda vivia a fase final da hiperinflação, só debelada em 1994 com a criação da moeda Real
    • O patrocínio regular trazia 750 mil cruzeiros mensais ao Palmeiras: até aí, um número razoável;
    • Mas, as contratações de jogadores eram vultosas: em 1992, Sorato, Cuca, Maurílio, Zinho e Mazinho; em 1993, Roberto Carlos, Antônio Carlos, Edilson, Edmundo e Cléber; em 1994, Rincón, Rivaldo, Alex Alves e Paulo Isidoro; em 1995, Cafu, Mancuso, Muller, Nilson, Djalminha e Luizão; em 1996, Junior, Sandro, Viola e a volta de Rincón; em 1997, Oséas, Euller, Alex, Zinho de volta; em 1998, Arce, Paulo Nunes e Júnior Baiano; em 1999, voltas de César Sampaio e Evair, Asprilla …. A lista é comprida.
    • O custo médio das contratações oscilava entre 1,5 e 3,5 milhões dólares. Zinho e Roberto Carlos custaram perto de 700 mil dólares cada, Antônio Carlos 1,4 milhões, Edilson 1,3 milhões, Edmundo 1,8 milhões, Rivaldo 2,5 milhões, Cafu 3,5 milhões (mais a multa, dada a triangular feita com o Zaragoza da Espanha que o teve por um semestre até ele poder jogar aqui em meados de 1995, algo imposto por cláusula de venda entre SPFC e Zaragoza em dezembro de 1994); Djalminha e Luizão custaram juntos perto de 5,5 milhões, Paulo Nunes pouco mais de 3 milhões, etc.
  7. Os resultados foram marcantes: 3 campeonatos paulistas, 2 brasileiros, 2 Rio-São Paulo, uma Copa do Brasil, uma Copa Mercosul, uma Copa Libertadores; 10 títulos em 8 anos.

Análise e fundamentos teóricos

Mas, além de dados e informações, é importante também recuperar-se o significado do acordo para seus parceiros, i.e., o que ambos ganhavam com a Parceria, que os motivava a manterem-se na mesma.

Para a Parmalat, o Palmeiras significava:

  1. Visibilidade acelerada: um patrocínio convencional – sem a colocação de jogadores qualificados – traria um grau de exposição significativamente menor do que a atenção incandescente que o acordo produziu à época. A empresa de assessoria de imprensa visitada à época do trabalho relatava que o número de citações de “Parmalat” equivalia a 20 vezes o valor de anúncios pagos nos respectivos órgãos de comunicação.
  2. Posicionamento da marca: o logo Parmalat e seus atributos passaram a ser lidos de maneira qualificada pelo mercado em geral de consumidores e de empresas de comunicação.
  3. Impacto no crescimento geral da empresa: o aumento acentuado da captação de leite e a aquisição de fábricas dentro do país foram viabilizados pela visibilidade acelerada e pelo novo posicionamento da marca Parmalat.
  4. Impacto nas vendas: leite e derivados produzidos pela empresa tiveram crescimento de vendas vertiginoso.
  5. O futebol como centro de lucro: com o tempo, as compras e vendas de jogadores passaram a gerar caixa líquido para a empresa. Segundo se sabia, parte desse caixa líquido era reinvestido na própria Parceria.

Para o Palmeiras, a Parmalat significava

  1. Recurso físico: jogadores com que o clube jamais poderia sonhar à época e eram trazidos pela empresa.
  2. Fonte de renda: a verba de patrocínio mais a taxa de vitrine.
  3. Impacto na arrecadação do clube: bilheteria, quotas de televisão e receitas em geral do futebol foram ampliadas dado o patamar técnico – condizente com sua tradição – que o time pode retomar em consequência da Parceria.
  4. Capacidade gerencial: a experiência da Parmalat em gerir exportes era muito mais qualificada do que o Palmeiras possuía. No âmbito da Parceria, essa competência foi posta à disposição do clube.
  5. Separação do futebol: a Parceria permitiu que a atividade futebol fosse isolada administrativamente das outras atividades do clube SE Palmeiras. Com isso, pode-se reduzir o impacto da atividade política – natural de uma entidade de associados – sobre a gestão do futebol.
  6. Controle por um blockholder: na atividade empresarial em geral, a figura do controlador – blockholder – é vista com fator potencialmente positivo na governança corporativa. Coloquialmente, tal fato é dado pela expressão “o olho do dono é que engorda o porco”. Para o futebol de clubes, essa figura do blockholder não é natural dado que os administradores atuam por mandatos e mesmo a cúpula diretiva máxima não é “dona” do clube. A cogestão permitiu que se emulasse essa situação conferindo às decisões um potencial maior de alinhamento aos propósitos máximos do futebol, i.e., vencer e convencer.

Essa reciprocidade de ganhos entre os parceiros é identificada pela Economia dos Contratos como um quadro de dependência bilateral, situação em que Parceiros, por meio de um contrato, têm condições de extrair ganhos contínuos de um relacionamento sem que incorram numa integração formal entre as partes.

Conclusão

Como se viu na discussão acima, a Parceria Palmeiras-Parmalat marcou-se por uma lista explícita de direitos e obrigações entre as partes, manteve intactos os fundamentos legais de cada parceiro, tinha fundamentos teóricos para existir e teve resultados palpáveis para ambas as partes.

Quaisquer comparações que se queiram fazer com a situação presente envolvendo Palmeiras e Crefisa/Fam têm de levar em conta as características acima listadas.


[1] Entre 1996 e 2000, cursei mestrado strictu-sensu no departamento de administração da FEA-USP. No segundo trimestre de 1996, fui recebido pelo próprio José Carlos Brunoro – executivo da empresa que liderou o processo junto ao clube – no escritório central da Parmalat, então sediada na Vila Olímpia em São Paulo. Nessa conversa, ele esclareceu vários detalhes práticos que, analisados à luz do referencial teórico da disciplina – Economia dos Contratos – possibilitaram o trabalho final.

[2] Números estão citados de memória e estão sujeitos a uma revisão de base documental.

*Douglas Monaco é leitor e padrinho do Verdazzo