“Futebol é momento”: trabalho de Mattos não pode depender da Libertadores

Alexandre MattosTítulo brasileiro incontestável. O maior patrocínio. A maior renda. O maior programa de sócio-torcedor. O melhor estádio. O melhor elenco. Finanças em dia.

Tudo conspirava a favor do Palmeiras no início de 2017, a não ser por um fato, que está longe de ser apenas um detalhe: Cuca, o comandante do ênea, estava de saída para um período de apoio à família. Isso já havia sido acordado entre Cuca e Alexandre Mattos antes de sua chegada, em abril de 2016. Mattos apostou que, com a futura conquista do Brasileiro, Cuca mudaria de ideia. Perdeu e teve que refazer o plano para 2017, contratando Eduardo Baptista.

Vamos voltar um pouco mais no tempo: a inoperância de Marcelo Oliveira na virada de 2015 para 2016 mereceu duras críticas, já que era o momento do então treinador planejar e executar a evolução do time campeão da Copa do Brasil. Marcelo dormiu sobre os louros da conquista e jogou a Libertadores de 2016 pelo ralo, o que culminou com sua demissão.

Um time chega à maturação no segundo ano de trabalho de um técnico. O Palmeiras perdeu a chance de atingir esse estágio em 2016 e também em 2017. Com Cuca se tornando uma carta fora do baralho, Mattos teve que virar a página e iniciar um novo projeto, do zero. Eduardo Baptista não tem o perfil nem um pouco parecido com o de Cuca, apontam alguns críticos. Mas a bem da verdade, ninguém é parecido com Cuca, nem o Cuquinha.

Apêndice: a montagem do elenco

Alexandre Mattos é criticado pela forma com que montou o elenco para a temporada de 2017. Por ser uma análise razoavelmente extensa, disponibilizamos um texto em separado que serve de apoio ao tema principal. Consulte a análise completa das movimentações do elenco neste link.

O uso do dinheiro

Mattos e BorjaMattos não conseguiu evitar a rejeição de boa parte da mídia por ser o artífice de um projeto que envolve cifras extraordinárias. Mesmo desprezado pelo Governo Federal (via Caixa) e pela RGT, que em momento algum valorizaram a força da camisa do Palmeiras, o clube conseguiu recursos para sanar suas finanças e ter o maior orçamento do futebol brasileiro. E usa tais recursos de forma agressiva, como deve fazer um bom competidor.

Essa agressividade é uma ameaça real a todos os outros clubes – assim, a mídia dita imparcial, mas hipocritamente clubista, trata de distorcer os fatos e vilanizar o Palmeiras, usando Mattos como personificação do inimigo, aproveitando ainda que há alas da política interna do clube que também têm interesse em enfraquecê-lo, vazando informações com esse intuito. Até o ano passado, tal vilanização era projetada em Paulo Nobre.

Mattos tinha um orçamento e o usou para montar um elenco muito, muito forte. E parte dos contratados são investimentos de longo prazo, para serem nossos titulares em 2019 ou 2020. A intensa movimentação no mercado, que aparentemente é sua marca registrada, foram necessárias nestes três anos em que montou nossos elencos – cada ano com sua característica própria. A tendência é que em 2018, finalmente mantendo o treinador, o projeto seja apenas aperfeiçoado, com uma ou outra contratação pontual, sem medo de investir quantias vultosas em poucos, mas ótimos reforços.

O aparente tiro n’água dado com Borja não pode ser analisado de forma isolada. O colombiano, como qualquer jogador, faz parte de um grande pacote, uma espécie de balança que envolve todas as compras e todas as vendas. Um eventual prejuízo com Borja, a ser realizado apenas quando se souber o preço de sua venda, é facilmente neutralizado com um ou dois “Vitor Hugos”. E a coleção de sucessos comerciais de Mattos é muito maior que a de equívocos.

O all in na Libertadores

O jogador Borja, da SE Palmeiras, disputa bola com o jogador Bianchi, do C Atlético Tucumán, durante partida válida pela fase de grupos, da Copa Libertadores, no Estádio Monumental José Fierro.
César Greco / Ag.Palmeiras

De forma simplista, definiu-se que o Palmeiras abriu mão do Brasileirão para ganhar as copas. A eliminação da Copa do Brasil, atrelada à derrota em Guayaquil dá uma perspectiva de fracasso total em caso de eliminação da Libertadores. Tal perspectiva é equivocada. A estratégia do Palmeiras não é para uma temporada. O ano de 2017 foi muito prejudicado em seu início, a despeito de tantas condições positivas elencadas no início do texto. Para piorar, um desempenho atípico do principal rival coloca uma lente de aumento em todas as decepções do ano.

O Palmeiras em momento algum abrir mão do Brasileirão deliberadamente; escalar times alternativos em partidas que antecedem decisões pelas copas foram soluções que deveriam ser suficientes para não perder esses pontos diante da força do elenco – mais uma vez, o atraso no desenvolvimento do time fez com que esses preciosos pontos nos escapassem. Mesmo assim, fechamos o turno com 32 pontos, apenas 4 abaixo do considerado suficiente para uma campanha campeã – de novo é preciso destacar que o desempenho irreal do rival tornou o planejamento insuficiente, e é isto que força o clube a dar o chamado all in na Libertadores. Mas o mundo não acaba em dezembro e os investimentos feitos em 2017 seguirão sendo muito úteis em 2018.

Sempre de olho

Cuca conversa com Maurício Galiotte e Alexandre Mattos
César Greco / Ag.Palmeiras

Alexandre Mattos não está acima do bem e do mal. Ele pode e deve ser avaliado a cada passo que dê, diante da importância de sua função.

Mattos apostou errado que manteria Cuca ao final de 2016. Mas sem essa aposta, não teríamos sequer conquistado o ênea.

A lateral esquerda se tornou, de fato, um enorme problema. Difícil, mas não impossível, de ser detectado no início do ano.

Felipe Melo foi uma aposta errada; seu histórico apontava para uma boa chance de problemas, embora sua qualidade técnica e seu perfil guerreiro dentro de campo fossem tentadores para quem tem na Libertadores o principal objetivo da temporada. Deu errado, mas a correção de rota foi rápida e veio antes até da dispensa, com Bruno Henrique.

Borja custou muito dinheiro para ter um desempenho tão abaixo do esperado. No campo, com atraso, Deyverson chegou para compensar o problema, e o tempo ainda dirá o tamanho do prejuízo (ou do lucro) financeiro. Talvez Mattos tenha entrado de forma amadora no oba-oba da torcida e da imprensa em cima do colombiano, talvez pudesse ter detectado que ele teria tantas dificuldades. Não se tem notícias, no entanto, de nenhuma sugestão concreta de como essa tendência seria de fato detectada. E nem se questiona isso, afinal, “ele é quem ganha rios de dinheiro e tem obrigação de saber isso”.

Futebol não é momento

Alexandre Mattos
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Ser o diretor de futebol do Palmeiras, com o maior orçamento do futebol brasileiro, desperta a vigilância permanente dos olhos da imprensa, da torcida e de diretores e conselheiros. Estar nessa função por três anos é mergulhar num coquetel difícil de ser resumido em poucas linhas, dado que a tendência no futebol é sempre analisar o todo pelo instante. Detratores ficam à espreita do fracasso para bombardear o profissional, apoiados numa frase que, de forma incrível, ainda persiste no futebol brasileiro: “futebol é momento”.

Para qualquer planejador, essa verdade é a maior mentira do mundo. Por exemplo: o Palmeiras perdeu para o Atlético-PR, com o time reserva, para aumentar as chances de se classificar na Libertadores. Há quem diga que a derrota, pelo placar mínimo num jogo equilibrado, decreta que o “elenco forte” é uma falácia – mais uma vez, visando minar o planejamento do elenco.

O Palmeiras viverá na noite desta quarta-feira um jogo fundamental para as pretensões do time em 2017. Em caso de sucesso, o time segue muito forte rumo à conquista idealizada no início do ano. Em caso de derrota, seja amanhã, seja nas fases posteriores, o ano não é perdido: passará apenas a ser um ano lamentavelmente sem conquistas, o que são coisas diferentes. Planejamento não é mais um conceito que se encerra ano após ano; é um processo contínuo.

Eventualmente sem a Libertadores, um 2017 sem conquistas será a base de um 2018 em que, novamente, o Verdão entrará muito forte em todas as disputas, graças a uma enorme conjunção de fatores que envolvem o que hoje é a gigantesca Sociedade Esportiva Palmeiras – e um dos mais importantes deles é a atuação deste gigantesco Alexandre Mattos, que entre acertos e erros, é o profissional mais competente do mercado na função. Sorte nossa de tê-lo trabalhando pelo Verdão. Isso enquanto não conseguem derrubá-lo.


O Verdazzo é patrocinado pela torcida do Palmeiras.

Aqui, o link para se tornar um padrinho deste site: https://www.padrim.com.br/verdazzo

Ainda sem identidade, Palmeiras paga o preço do sabático de Cuca

Mattos e Cuca
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras vai a Recife com nada menos que onze desfalques, entre lesionados, suspensos e jogadores que fazem recuperação física. Cuca será obrigado a modificar bastante o time que empatou contra o Flamengo e, mais do que nunca, recorrer a seu “vasto e qualificado” elenco para jogar de forma competitiva contra o Sport, na Arena Pernambuco. O time de Luxa está em ótima fase, vem de uma goleada sobre o lanterna e será um dos jogos mais difíceis do campeonato.

Logo na sequência, o time vai a Belo Horizonte decidir a vaga nas semifinais da Copa do Brasil. Diante de imposições do regulamento, o Palmeiras voltará a perder vários jogadores, poderá contar com a volta de outros tantos, e mais uma vez terá que modificar bastante a escalação.

Pelo Brasileirão

Fabiano, Thiago Martins, Michel Bastos, Felipe Melo, Moisés, Tchê Tchê, Arouca, Guerra, Willian Bigode, Borja e Dudu estão fora do jogo contra o Sport. Jean tende a voltar ao time – não se sabe se na lateral ou no meio. Como Mayke vem subindo de produção, o camisa 2 pode jogar no meio. Zé Roberto, que seria outra opção para jogar como volante, pode também continuar na armação ou voltar para a lateral, onde jogou o segundo tempo na última partida. Raphael Veiga e Egídio estão de prontidão. No ataque, tudo indica que o trio será comporto por Roger Guedes, Deyverson e Keno – até porque, a única alternativa entre os que sobraram é Erik.

O rascunho do time que deve entrar em campo contra o Sport: Jailson; Mayke (Jean), Mina, Edu Dracena e Egídio (Zé Roberto ou Juninho); Jean (Bruno Henrique) e Thiago Santos; Roger Guedes, Zé Roberto (Raphael Veiga) e Keno; Deyverson (Erik).

Pela Copa do Brasil

Para a partida em Belo Horizonte, Cuca ganhará seis reforços, mas perderá outros cinco atletas. Felipe Melo e Guerra, que ficaram na capital paulista fazendo trabalhos físicos, juntam-se à delegação. Suspensos no Brasileirão, Michel Bastos, Tchê Tchê, Dudu e Borja voltam a ficar à disposição.

Os cinco jogadores que não podem jogar a competição, seja por já terem atuado em outros times, seja por terem chegado após o término das inscrições, são Mayke, Luan, Juninho, Bruno Henrique e Deyverson.

Assim, o rascunho do time que precisa vencer o Cruzeiro é Jailson; Jean, Mina, Edu Dracena e Michel Bastos (Egídio); Felipe Melo (Thiago Santos) e Tchê Tchê; Roger Guedes, Guerra e Dudu; Borja.

O preço do sabático

Como se pode ver, são times muito diferentes entre si, em três partidas consecutivas. Cuca, sob pressão constante, tem que extrair o melhor do elenco a cada jogo, tendo (re)assumido o comando do time há menos de três meses e com jogadores com pouco ou nenhum tempo em campo, o que dificulta demais a tarefa de dar identidade e padrão ao time – quanto mais de desenvolver variações táticas consistentes.

Todas essa situações são consequência do período sabático que Cuca tirou nos primeiros meses do ano – condição já prevista antes mesmo de sua primeira chegada. Cuca não comandou a renovação de parte do elenco no começo do ano e nosso elenco foi reforçado com peças a pedido de Eduardo Baptista, e nem todas se encaixam exatamente no modelo que Cuca, que também não deixava claro quando voltaria ao mercado de treinadores.

Diante da evolução lenta do trabalho de Eduardo Baptista e o fim das férias de Cuca, Alexandre Mattos teve que agir rápido, para não ter o risco de vê-lo assumir compromisso com um de nossos concorrentes – e tanto Flamengo, quanto Santos, Grêmio e Atlético-MG estavam vivendo períodos de instabilidade e seus técnicos balançavam.

Com a volta de Cuca, novos jogadores tiveram que ser contratados – inelegíveis para a Copa do Brasil. Todos ainda buscam a adaptação ao elenco, em pleno mês de julho, com o time já dentro dos funis das copas. Cuca declarou esta semana ter “90% do time ideal definido”, mas o que vemos em campo parece ainda bem longe disto. O Verdão ainda busca sua identidade técnica em 2017, enquanto nossos principais concorrentes já fazem ajustes finos.

O Palmeiras deveria estar vivendo um ano de plenitude, exercendo a superioridade técnica do elenco, que por sua vez traduz a excelência administrativo-financeira que o clube atingiu. Mas a interrupção do trabalho, que durou quatro meses, comprometeu todo o ano – o time segue disputando os campeonatos, mas com muito mais dificuldades do que se imaginava. Tem dois placares para reverter e em ambos a situação não é simples. No Brasileiro, até estaria no bolo, apenas um pouco abaixo do aceitável, não fosse a campanha fora da curva de nosso rival – justo eles.

O Palmeiras tem totais condições de ter sucesso ainda este ano, mesmo com todos esses problemas. Mas o ano de 2017, seja qual for o resultado em dezembro, será uma ilustração perfeita de que no futebol, nem com um clube rico e organizado, nem com todo o cuidado no planejamento, é possível se ter a certeza de conquistas ou de um ano tranquilo.

Que o raciocínio sirva para 2018: mais uma vez entraremos organizados, saudáveis financeiramente e desta vez com o mesmo técnico. Em tese, muito mais favoritos e com muito mais chances que este ano. Mas mesmo sem outro período sabático em vista, vai saber que imprevistos o destino nos reserva.

E agora, José?

Cuca errou na escalação para o jogo de ontem contra o Cruzeiro, no Allianz Parque. Ao escalar Edu Dracena e Zé Roberto juntos, deixou o lado esquerdo muito lento. E isso já era pedra cantada, conforme se pode ler no pré-jogo. Mas há algumas razões que podem tê-lo induzido a cometer esse erro.

Jean não tinha condições físicas. Sem poder contar com Arouca, Felipe Melo e Bruno Henrique, única alternativa para a volância, ao lado de Tchê Tchê, era Gabriel Furtado. O menino, de 17 anos, foi muito bem no jogo-treino contra o São Caetano e no primeiro tempo em Campinas, mas talvez Cuca não tenha sentido confiança para lançá-lo num jogo de tamanha envergadura. Thiago Santos foi para o jogo com sabe-se lá quanto % de sua condição física e o primeiro e terceiro gols do Cruzeiro saíram em jogadas de velocidade aproveitando um enorme vazio no meio-campo.

Cuca pode ter imaginado que Robinho e Thiago Neves não representavam ameaças velozes para o lado esquerdo que ele montou, ainda mais com a proteção por seu homem de confiança. De fato, em tese, não eram. Mas na hora de fazer a cobertura no lance do primeiro gol, Zé Roberto não conseguiu acompanhar a linha de Diogo Barbosa pelo meio e o cruzamento por baixo encontrou Thiago Neves livre. E não foi a primeira vez nesta temporada que levamos um gol em cima de sua falta de explosão.

José Roberto da Silva Júnior tem um lugar cativo na galeria de ídolos do Palmeiras. Sua presença foi fundamental na retomada da grandeza do clube a partir de 2015, desde sua histórica preleção antes do primeiro jogo da temporada. Com liderança e excelência técnica, foi o símbolo do primeiro título de uma nova era do Palmeiras. No Brasileirão de 2016, protagonizou um lance histórico, contra o próprio Cruzeiro, em Araraquara, que também foi um dos símbolos da conquista. Por tudo isso, merece todo o respeito na reta final de sua carreira. Cuca precisa usá-lo em ocasiões específicas, em partidas que sua experiência no meio-campo seja bem-vinda. Se insistir em usá-lo como lateral, pode acabar esmaecendo o brilho de sua passagem pelo Palmeiras.

Na direita, mais problemas

Fabiano foi substituído aos 31 minutos logo após o terceiro gol do Cruzeiro, após levar um facão de Alisson. A jogada foi em velocidade e é muito difícil de marcar quando sai bem encaixada. Já no primeiro gol, nenhuma responsabilidade; ele estava na área ofensiva buscando o cabeceio num escanteio e havia cobertura. A vaia de grau 8 na escala Wesley que recaiu sobre ele provavelmente foi efeito da frustração coletiva de ver o time tomar de 3 com meia hora de jogo – mas ele não estava bem de qualquer forma.

Circunstâncias

Se parece definitivo que não podemos mais usar Zé Roberto na esquerda, a alternativa imediata a ele é Egídio. Com mais de dois anos de clube, o camisa 6 jamais passou segurança enquanto defensor; ontem, diante da postura avassaladora do Palmeiras no ataque no segundo tempo, saiu-se bem. Mas sabemos que ele não é uma alternativa confiável.

Para o Brasileiro e a Libertadores, Juninho surge como opção para fazer a lateral esquerda, mas é uma solução do tipo “cobertor curto” – seu desempenho no apoio é deficiente. Para a Copa do Brasil, Michel Bastos poderia ser a solução, embora não tenha apreço em atuar na posição em que surgiu para o futebol. Ontem, Michel estava fora de combate.

Já na direita, sem poder contar com Mayke e Jean, só foi possível usar Tchê Tchê ontem porque o time abriu mão de um volante diante da necessidade de atacar – e mesmo assim, arriscando ficar sem volantes porque Thiago Santos estava amarelado.

Em resumo: no início do ano, julgou-se que os laterais que encerraram o ano passado seriam suficientes para os desafios de 2017: Jean, Fabiano, Zé Roberto e Egídio – com Tchê Tchê e Michel Bastos fazendo as terceiras opções. Hoje, concluímos que a avaliação foi equivocada.

Mattos já se mexeu, trazendo Mayke e Juninho, que também não são soluções completas, mas é com eles que vamos até o fim do ano, sem poder usá-los na Copa do Brasil. De qualquer forma, diante de tantas circunstâncias negativas, não deixa de ser notável o remédio que Cuca conseguiu administrar ontem ao time para chegar ao empate, mexendo em quase todas as posições com apenas três substituições.

Vazamento

Não deixa de ser notável também o fato de que Cuca foi surpreendido pela postura tática do Cruzeiro. Outro jogo em que ele teve dificuldades no primeiro tempo foi contra o SPFC, no Morumbi. Em ambos, um ponto em comum: a escalação vazou bem antes do jogo começar. Ontem, por volta de 17h, a imprensa já tinha a informação – e provavelmente Mano Menezes também, assim como Rogério Ceni algumas semanas atrás.

Maurício Galiotte
César Greco / Ag.Palmeiras

Cuca até brincou coma situação depois do clássico, sugerindo que o SPFC poderia ter algum espião nos prédios que ficam a mais de 300m da Academia de Futebol. Na verdade, era um recado claro à direção, alertando que esses vazamentos estão atrapalhando o time. Deu certo; o ambiente voltou a ficar relativamente blindado e, com a escalação protegida, o time conseguiu envolver os adversários nos últimos jogos. Ontem, no entanto, essa proteção falhou. Alguém deu com a língua nos dentes e tomamos um baile no primeiro tempo que poderia ter sido fatal.

Enquanto pessoas alheias ao futebol tiverem acesso a informações cujo segredo é fundamental para um bom desempenho em campo, todo o esforço dos jogadores e comissão técnica acabam ficando em segundo plano. A confidencialidade da escalação e o fim dos vazamentos, que já foi tema de uma cobrança formal do grupo Fanfulla (não respondida pelo presidente), seguem sendo uma realidade distante da Academia de Futebol.

Cultura da mesquinhez ameaça a profissionalização do futebol

O mau momento do time em campo, já em meados de junho, preocupa demais a torcida do Palmeiras. Campeão brasileiro, o time se reforçou muito bem na janela de verão e abriu o ano como o maior candidato a papa-títulos do país. As duas mudanças no comando técnico, no entanto, atrasaram demais a evolução do grupo, que ainda sofre com desfalques: além das lesões, Cuca tem que lidar com as convocações para seleções e com a necessidade de poupar jogadores diante da brutalidade do calendário.

Tendo o desentrosamento como obstáculo e com pouco tempo para promover treinamentos táticos, o rendimento do time está muito longe do sonhado pela torcida e temido pela imprensa. Com isso, a pressão cresce, trazendo a necessidade de se arrumar um culpado.

O clube atravessa um momento político de retrocesso, depois de quatro anos de avanço intenso em todas as áreas – resultado da filosofia implantada por um presidente que tinha lastro para se impor diante da carcomida política palestrina. O atual presidente poderia ter se apoiado na estrutura que o alçou ao cargo, mas circunstancialmente as relações ruíram, abrindo caminho para que uma velha raposa voltasse ao comando, mesmo sem cargo executivo – e trazendo com ela as mesmas ideias que nos relegaram ao segundo ou terceiro plano do futebol brasileiro por muitos anos.

Na cabeça dessa liderança, profissionalização é desperdício de recursos – pelo menos, o discurso é esse. Tendo toda a sua rede de poder edificada sobre práticas de compadrio, defende que os antigos associados do clube têm toda a condição de desempenhar funções que, diante da competitividade brutal do futebol de hoje, exigem alto grau de especialização. A blindagem à Academia de Futebol foi escangalhada e os vazamentos de informações voltaram a ser rotina.

Cultura da mesquinhez

Alexandre Mattos
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Em muitas corporações a cultura da mesquinhez prevalece. Quem chega cheio de ideias e boas intenções e começa a mostrar serviço, logo desperta a resistência dos mais antigos que imaginam que a posição que um dia conquistaram deve ser eterna. Se você conhece um lugar assim, saiba que no Palmeiras é pior. Desde que chegou, Alexandre Mattos, um profissional jovem, com jeito de falar e de se vestir peculiares, que dirige um carrão igual aos dos jogadores, incomodou bastante – mas os resultados em campo o tornaram um alvo difícil de derrubar – sobretudo quando o presidente era quem dava a palavra final.

Em menos de seis meses, muita coisa mudou: o atual presidente nem de longe consegue ter a solidez do antecessor e cede às mais variadas pressões, de todos os lados; o time passa por um momento ruim e as análises da imprensa, quase sempre muito pobres e baseadas em resultados, concluem que o elenco do Palmeiras não é forte – ou, pelo menos, “não tão forte como se imaginava”, dando mais munição a quem defende a demissão de Mattos, que definitivamente foi colocado na linha de tiro.

Sempre tem que haver um culpado

Para os padrões brasileiros, o elenco do Palmeiras não é forte; é fortíssimo. Mas quando os resultados passam a rarear, os jogadores que até janeiro eram sensacionais, hoje são “comuns” ou até “ruins”. A necessidade de se achar culpados faz com que as evidentes dificuldades para se acertar o time, já mencionadas acima, sejam reduzidas a uma suposta ruindade dos jogadores, “culpados”; e a uma suposta incapacidade do diretor de futebol que montou o elenco, mais “culpado” ainda. “Culpas” extremamente convenientes para quem está puxando as cordinhas e manipulando as marionetes.

Nossos problemas

Além da já mencionada violência do ritmo de jogos e da necessidade de alterar o time constantemente num momento de atraso na evolução do time em relação ao calendário, nosso elenco, de fato, tem falhas. A mais gritante neste momento é o segundo centroavante. Começamos o ano com Barrios, Alecsandro e a perspectiva de ter Borja, que se confirmou – mas a inesperada liberação dos dois primeiros para Grêmio e Coritiba obriga Cuca a recorrer a Willian Bigode. Fica cada vez mais evidente que isto não vai funcionar e que precisamos de uma reposição para quando o colombiano não estiver disponível.

As laterais também seguem sendo problemas; temos três opções para cada lado, contando os meio-campistas que podem ser deslocados sem maiores problemas (Jean e Michel Bastos), mas até agora nenhum encaixou – e mais da metade dos times da série A gostaria de ter qualquer um deles. O problema parece muito mais coletivo do que de qualidade individual. O time não está encaixando e precisa de tempo – artigo de luxo no futebol.

Covardia típica

Alexandre Mattos cometeu erros na montagem deste elenco – talvez não no planejamento, mas na execução. E tem que ser cobrado por isso. A rota precisa de correção – e isso passa pela contratação de um bom centroavante, pra começar, e não pela demissão de Mattos, como querem os velhos políticos do clube.

Aproveitar-se de mau momento do time para fritar o profissional mais capacitado do mercado, mas que não é infalível, é de uma covardia típica. A desfaçatez desses inimigos íntimos passa por criticar o fato do clube manter cerca de 80 atletas sob contrato, contando os emprestados – algo perfeitamente comum na administração de elencos. Quando selecionam os jornalistas amigos para aumentar a temperatura do óleo, esquecem-se, convenientemente, que há não muito tempo atrás existia uma estrutura chamada Palmeiras B e que dezenas de atletas encostados faziam suas rotinas em Guarulhos em meio a animados torneios de bobinho.

Nossa torcida não pode servir de massa de manobra e participar dessa fritura. O momento é de aflição pelos maus resultados, mas temos que confiar nos melhores profissionais do mercado que estão à nossa disposição. Cuca e Mattos estão vendo o que está acontecendo e não estão sentados. Se tiverem a confiança e o apoio da torcida, vai ficar mais difícil para que as forças retrógradas do clube tenham êxito em seus planos de bom-e-baratizar o time mais uma vez.

Mas bem que o presidente podia ajudar um pouco.

Palmeiras mexe no elenco e agita mais uma vez o mercado

Juninho e MoisésO Palmeiras segue renovando o elenco para a sequência da temporada. Alexandre Mattos, depois de dispensar Alecsandro para o Coritiba, trouxe do clube paranaense Juninho, zagueiro que joga pelo lado esquerdo e que eventualmente pode fazer a lateral. A contratação chega no momento em que o clube libera Vitor Hugo para a Fiorentina.

Em mais uma operação com o Cruzeiro, Rafael Marques rumará para Belo Horizonte, em definitivo. Em troca, por empréstimo até o final de 2018, o Palmeiras contará com o lateral direito Mayke, de 24 anos.

Zaga projetada

Vitor Hugo chegou ao clube no início de 2015 e foi um dos grandes zagueiros que passaram pela história recente do clube. Marcou 13 gols em 131 jogos com a camisa do Palmeiras. Teve o início de sua passagem marcado por uma falha num Derby, que custou uma derrota no Allianz Parque. Para muitos jogadores, isso significaria o fim de qualquer chance de vingar no Palmeiras.

Com personalidade, Vitor Hugo deu a volta por cima, conquistou a confiança da torcida e foi fundamental para as conquistas da Copa do Brasil de 2015 e do Brasileirão de 2016. Formou com Mina uma das duplas de zaga mais sólidas do futebol brasileiro neste século. Suas cambalhotas nas comemorações dos gols viraram sua marca registrada.

Juninho vinha chamando a atenção do Palmeiras desde o final de 2015, e finalmente a negociação se concretizou. Tem técnica e muita força física. A capacidade de jogar também como lateral pesou muito na opção.

Mina tem viagem marcada para a Europa após a Copa do Mundo; Edu Dracena está com 35 anos e Vitor Hugo acaba de deixar o clube. Com Juninho (22) e Luan (24), mais Antônio Carlos (24) e Thiago Martins (22), que se recupera de lesão, o futuro da zaga do Palmeiras parece estar desenhado por alguns bons anos.

De novo, rolo com o Cruzeiro

A troca de Rafael Marques por Mayke, em princípio, pode parecer desvantajosa para o Palmeiras, afinal, o atacante segue para Minas em definitivo e o lateral virá por empréstimo, até o final de 2018. Mas se vier com o passe fixado a um valor razoável e com prioridade para exercer a compra, pode ter sido um bom negócio devido ao alto salário de DJ Rafa – a diferença de idade dos dois atletas justificaria alguma diferença financeira no saldo final.

O novo lateral voltará a disputar a posição com Fabiano, a exemplo do que ocorreu em Belo Horizonte em 2015. Jean segue como titular, mas pode voltar para o meio-campo, sua posição original, nas partidas em que Cuca optar por dois volantes mais leves – algo bastante comum no ano passado. Essa opção deve ser bastante usada sobretudo enquanto Moisés ainda estiver em recuperação.

Mayke teve atuações de destaque no bicampeonato brasileiro do Cruzeiro, vencendo a Bola de Prata em 2013. Sofreu com lesões em 2015 e 2016 e não vem repetindo as grandes atuações do início da carreira, sendo até perseguido por parte da torcida do Cruzeiro. No Palmeiras, terá a chance de dar a volta por cima.

Como fica o elenco?

Elenco renovadoA chegada de Cuca redefine as posições de Tchê Tchê e Moisés, que saem da linha de 4 e jogarão como volantes. O elenco, com 31 jogadores, está bem mais enxuto que o do ano passado e aparentemente ficou com algumas lacunas.

Só temos Borja como NOVE-NOVE; o colombiano precisa de uma sombra e Cuca pode precisar de uma reposição, sobretudo nos períodos de convocação. Michel Bastos é o único meiocampista do elenco com características de fazer o pêndulo, da ponta para o meio, e vice-versa. Cabem reforços.

Renovação

As saídas de Vitor Hugo e Rafael Marques reduzem para apenas cinco os remanescentes da conquista da Copa do Brasil de 2015, ocorrida há apenas 18 meses. Levantaram aquele troféu Fernando Prass, Egídio, Zé Roberto, Arouca e Dudu. Todos os outros atletas do elenco chegaram a partir de janeiro de 2016. Alexandre Mattos segue impondo seu estilo ao nosso departamento de Futebol. Entre alguns erros e muitos acertos, ele segue renovando o elenco, fazendo bons negócios técnica e financeiramente e mantendo o time muito competitivo.